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3.2) Análise comparativa das unidades de conservação, dos atributos topográficos e de infra-estrutura viária e das mudanças na cobertura da

terra [nas escalas] das sub-regiões e municípios da porção central do Vale

do Ribeira paulista

As três sub-regiões, que fazem parte da porção central do Vale do Ribeira (ou simplesmente Vale Central), são representativas da diversidade regional e correspondem, aproximadamente, aos três compartimentos geomorfológicos da região: zona da serra, colinas e várzeas do baixo curso do rio Ribeira de Iguape e litoral. A área dessas três sub- regiões somadas é de aproximadamente 9,7 mil quilômetros quadrados, o que corresponde a 57,3% da área do Vale do Ribeira paulista. A população residente nas três sub-regiões é de 204.616 pessoas, que representa pouco menos de 60% da população do Vale paulista no ano 2000.

Os quatro municípios da sub-região da Serra juntos abrangem 487,8 mil hectares (ha), o que corresponde a 50,5% do território da porção central do Vale do Ribeira. Já os quatro municípios da sub-região do Baixo Ribeira (que abrangem 224 mil ha) e os três municípios da sub-região do Litoral (com 254,7 mil ha) correspondem a, respectivamente, 23,2% e 26,4% do território do Vale Central. Cabe destacar que a área do Litoral abrangida pela imagem inclui apenas parte (56,3%) do território do município de Iguape.

Unidades de Conservação

Existe uma nítida distinção entre as sub-regiões em relação à presença de unidades de conservação (UCs). As sub-regiões da Serra e Litoral possuem grande parte dos seus territórios abrangidos por unidades de conservação, enquanto o Baixo Ribeira possui uma pequena porção do seu território com estas unidades.

A sub-região da Serra possui 402,9 mil ha de unidades de conservação, que correspondem a 82,6% do seu território. O município com maior área de unidades de conservação é Eldorado, com 122 mil ha; e o com maior porcentagem do território coberto por UC é Iporanga, com 95,7%.

Além disso, quase a metade da área das unidades de conservação da sub-região da Serra é de uso indireto, como os parques estaduais, com maiores restrições ao uso da terra, principalmente em relação aos remanescentes da Mata Atlântica. São mais de 200 mil ha

abrangidos por unidades de conservação de uso indireto, que correspondem a 41,2% do território da sub-região da Serra e onde localizam-se os parques estaduais de Jacupiranga, PETAR, Intervales e Carlos Botelho, formando uma das maiores áreas contínuas de Mata Atlântica sob proteção do Brasil.

O município com a maior área de unidades de conservação de uso indireto é Barra do Turvo, com 76,4 mil ha do Parque Estadual de Jacupiranga, que correspondem a 76,1% do território do município. Além de Barra do Turvo, o P. E. Jacupiranga abrange partes dos territórios de mais cinco municípios (Cananéia, Cajati, Jacupiranga, Eldorado e Iporanga), com uma área total de 149 mil ha, sendo o maior parque do Vale do Ribeira. No entanto é um dos parques com maiores problemas e conflitos com a legislação ambiental, como desmatamento e presença de assentamentos humanos, sendo os conflitos mais graves decorrentes das invasões de posseiros advindos, principalmente, do Paraná e que praticam agricultura de subsistência e extrativismo de madeira e palmito (SMA, 1995).

Já a área coberta por unidades de conservação de uso direto na sub-região da Serra é ligeiramente superior à área das de uso indireto, abrangendo 202 mil ha, que correspondem a 41,4% do território da sub-região e são referentes à Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar37. Os municípios com maiores extensões do território dentro da APA são Eldorado, com 84,4 mil ha, e Sete Barras, com 59,8% da sua área dentro da APA (ver tabela 3.1 e mapa 3.9, pp. 133 e 134).

Como foi dito, a sub-região do Baixo Ribeira, por sua vez, tem as menores área e porcentagem do seu território coberto por unidades de conservação entre as três sub-regiões da porção central do Vale do Ribeira.

A área abrangida pelas unidades de conservação no Baixo Ribeira é de 26,1 mil ha, que eqüivalem a 11,6% do território da sub-região. O município de Registro representa o caso extremo da sub-região por não possuir nenhuma unidade de conservação em seu território. O município de Pariquera-Açu tem 6,9% do seu território cobertos pelo parque estadual de Pariquera Abaixo, enquanto Jacupiranga e Cajati possuem, respectivamente, 11,8% e 33,5% dos seus territórios pertencentes ao Parque Estadual de Jacupiranga. Cabe

37 É importante destacar que no interior da APA da Serra do Mar (e de outras APAs) existem áreas com maiores restrições ao uso de recursos naturais do que as demais, que são as chamadas Zonas da Vida Silvestre. Porem, não tivemos acesso a mapas dos limites das ZVS dentro das APAs do Vale do Ribeira.

observar que não existem unidades de conservação de uso direto nos municípios da sub- região do Baixo Ribeira.

A porção da sub-região do Litoral, abrangida pela imagem, possui 58,1% do seu território coberto por unidades de conservação, totalizando uma área de 148 mil ha. Os municípios com maiores porcentagens do território com unidades de conservação são Ilha Comprida, com quase a totalidade do seu território coberta pela APA da Ilha Comprida, e Cananéia, que possui 91,7% da sua área cobertas por unidades de conservação, com destaque para os parques estaduais da Ilha do Cardoso e Jacupiranga e para a APA Cananéia-Iguape-Peruíbe, que é federal.

A porção do município de Iguape, abrangida pela imagem, possui apenas 13,4% da sua área com unidades de conservação, que correspondem à estação ecológica de Chauás e a uma pequena parte da APA Cananéia-Iguape-Peruíbe. No entanto o município de Iguape como um todo tem um percentual bem maior do seu território com unidades de conservação, com destaque para as grandes extensões territoriais da APA Cananéia-Iguape- Peruíbe e da Estação Ecológica da Juréia-Itatins. Porém, como dissemos, não vamos considerar a porção de Iguape fora da imagem nas análises deste terceiro capítulo.

As unidades de conservação de uso indireto cobrem 15,5% do território da sub- região do Litoral abrangida pela imagem (39,4 mil ha), e estão concentradas no município de Cananéia (parques estaduais da Ilha do Cardoso e Jacupiranga). Já as APAs de Cananéia-Iguape-Peruíbe e de Ilha Comprida correspondem a 108,6 mil ha, que eqüivalem a 42,6% da área da sub-região abrangida pela imagem (ver tabela 3.1).

Uma característica peculiar às APAs da sub-região do Litoral é que parte significativa dos seus territórios sobrepõem-se a porções dos perímetros urbanos das sedes dos municípios de Iguape, Cananéia e Ilha Comprida, este último com 100% de área urbana e quase 100% dentro da APA de Ilha Comprida. Esta sobreposição se deve à grande extensão territorial dos perímetros urbanos destes municípios, que abrangem extensas áreas não urbanizadas. Isto cria um mosaico com áreas de proteção ambiental sobrepostas a áreas definidas como urbanas (sejam urbanizadas ou não) em uma região costeira, com grande potencial para conflitos sócio-ambientais.

Tabela 3.1. Presença de unidades de conservação (APAs e UC uso indireto). Municípios e sub-regiões da porção central do Vale do Ribeira

Municípios e sub-regiões Área município (hectares) Área Unidades Conservação (UC) % UC sobre área munic. Área UC uso indireto % UC ind. sobre área munic.

Área APAs % APAs sobre

área munic.

Total (urbano + rural)

Barra do Turvo 100.540,10 79.378,81 78,95 76.456,08 76,05 2.922,73 2,91 Iporanga 115.713,24 110.776,27 95,73 59.050,98 51,03 51.725,29 44,70 Eldorado 165.918,58 122.008,34 73,54 37.618,20 22,67 84.390,14 50,86 Sete Barras 105.595,15 90.727,48 85,92 27.614,43 26,15 63.113,05 59,77 Serra 487.767,07 402.890,91 82,60 200.739,69 41,15 202.151,22 41,44 Cajati 45.551,33 15.238,33 33,45 15.238,33 33,45 0,00 0,00 Jacupiranga 70.980,48 8.366,78 11,79 8.366,78 11,79 0,00 0,00 Pariquera-Acu 35.934,59 2.473,02 6,88 2.473,02 6,88 0,00 0,00 Registro 71.592,67 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Baixo Ribeira 224.059,07 26.078,13 11,64 26.078,13 11,64 0,00 0,00 Cananéia 124.520,30 114.134,82 91,66 37.063,98 29,77 77.070,84 61,89 Iguape 111.330,69 14.919,38 13,40 2.312,91 2,08 12.606,47 11,32 Ilha Comprida 18.890,02 18.890,02 100,00 0,00 0,00 18.890,02 100,00 Litoral 254.741,00 147.944,22 58,08 39.376,89 15,46 108.567,33 42,62 Vale Central 966.567,14 576.913,25 59,69 266.194,71 27,54 310.718,54 32,15 Situação Rural Barra do Turvo 100.378,29 79.378,81 79,08 76.456,08 76,17 2.922,73 2,91 Iporanga 115.476,49 110.776,27 95,93 59.050,98 51,14 51.725,29 44,79 Eldorado 165.071,87 122.008,34 73,91 37.618,20 22,79 84.390,14 51,12 Sete Barras 105.354,36 90.727,48 86,12 27.614,43 26,21 63.113,05 59,91 Serra 486.281,01 402.890,91 82,85 200.739,69 41,28 202.151,22 41,57 Cajati 44.095,91 15.238,33 34,56 15.238,33 34,56 0,00 0,00 Jacupiranga 70.471,70 8.366,78 11,87 8.366,78 11,87 0,00 0,00 Pariquera-Acu 34.512,67 2.473,02 7,17 2.473,02 7,17 0,00 0,00 Registro 64.056,14 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Baixo Ribeira 213.136,41 26.078,13 12,24 26.078,13 12,24 0,00 0,00 Cananéia 107.825,83 106.243,35 98,53 37.063,98 34,37 69.179,37 64,16 Iguape 89.522,69 4.150,61 4,64 2.312,91 2,58 1.837,70 2,05 Litoral 197.348,52 110.393,96 55,94 39.376,89 19,95 71.017,07 35,99 Vale Central 896.765,95 539.362,99 60,15 266.194,71 29,68 273.168,29 30,46

Fonte: Sistema de informação geográfica construído com bases de dados cedidas pelo Instituto Socioambiental e ACT-Indiana University

Topografia

A topografia (elevação e declividade) é um importante condicionante das atividades econômicas e dos assentamentos humanos. No Vale do Ribeira, assim como em outras porções do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, a topografia acidentada (serras do Mar, Paranapiacaba etc.) foi um dos principais fatores que possibilitaram a preservação dos remanescentes de Mata Atlântica.

Na escala dos municípios como unidades de análise, é difícil obter uma medida adequada para a topografia porque a extensão territorial de um município (principalmente os de porte médio ou grande) pode abarcar uma grande variação de elevações e declividades, fazendo com que os valores médios obtidos acabem tendo pouco significado diante da variabilidade da topografia do município, que seria justamente a informação mais relevante para estudos sobre uso e cobertura da terra.

Mesmo com esta limitação, as medidas (variáveis) de topografia, que estamos utilizando, são os valores médios da elevação e declividade dos municípios da porção central do Vale do Ribeira. Como dissemos, estes valores acabam escondendo uma grande diversidade topográfica no interior de cada município. No próximo capítulo, no qual utilizaremos os setores censitários como unidades de análise, as variáveis de topografia serão mais relevantes para a análise.

Comparando os valores de elevação média dos municípios e sub-regiões, observa-se que a sub-região da Serra possui uma elevação média de 395 metros, que chega a 643 metros em Barra do Turvo, 462 metros em Iporanga, 312 metros em Eldorado e 214 metros em Sete Barras. Na sub-região do Baixo Ribeira, a elevação média é de 170 metros, com grande variação entre os seus municípios: 75,9 metros em Registro, 80,6 metros em Pariquera-Açu, 192 metros em Jacupiranga e 355 metros em Cajati. Já na sub-região do Litoral, a elevação média é de 120,6 metros, atingindo 135,5 metros em Cananéia, 123 metros na porção de Iguape abrangida pela imagem e não passando de zero (ou elevação nula) em Ilha Comprida (ver tabela 3.2 e mapa 3.10, pp. 138 e 139).

A declividade é mais relevante do que a elevação para análises das mudanças no uso e cobertura da terra. O Vale do Ribeira é uma região com topografia extremamente

diferenciada, com declividades muito elevadas nas escarpas da Serra de Paranapiacaba e quase nulas no baixo curso do rio Ribeira de Iguape.

Utilizando a medida de que dispomos, que é a declividade média, vamos comparar as sub-regiões e municípios da porção central do Vale do Ribeira. Na sub-região da Serra, como seria de se esperar, as declividades são muito pronunciadas, particularmente nos municípios de Iporanga e Barra do Turvo e na porção norte dos municípios de Eldorado e Sete Barras, que são abrangidos pelas serras de Paranapiacaba e de Jacupiranga. Porém, como a medida que estamos utilizando é a declividade média do território de todo o município, os valores obtidos são relativamente baixos em comparação com a declividade de áreas específicas, como a escarpa de uma serra.

Assim, a declividade média do conjunto do território da sub-região da Serra é de 7 graus, atingindo 10,3 graus em Iporanga, 7 graus em Eldorado, 6,3 graus em Barra do Turvo e 4,1 graus em Sete Barras. Os municípios de Eldorado e Sete Barras apresentam grandes diferenças entre as porções norte e sul dos seus territórios, sendo que a parte norte destes municípios corresponde à Serra de Paranapiacaba, com altas declividades, enquanto a parte sul corresponde ao vale do início do baixo curso do rio Ribeira de Iguape, que apresenta baixas declividades.

Na sub-região do Baixo Ribeira, a declividade média é de 3,6 graus, com apenas 0,96 graus em Registro, 1,4 graus em Pariquera-Açu, 5 graus em Jacupiranga e 7,6 graus em Cajati. Cabe observar que os municípios de Jacupiranga e Cajati, principalmente este último, localizam-se numa área de transição entre a topografia suave de morrotes e vales do baixo curso do Ribeira de Iguape e afluentes e a topografia acidentada da escarpa da Serra de Jacupiranga, que abrange as porções destes municípios cobertas pelo parque estadual de Jacupiranga (ver tabela 3.2 e mapa 3.10).

Já na sub-região do Litoral, a declividade média também é de 3,6 graus e varia de zero grau (nula) em Ilha Comprida a 2,3 graus na porção de Iguape abrangida pela imagem e 5,2 graus em Cananéia. Cabe destacar que Cananéia possui uma expressiva porção do seu território coberta por áreas com montanhas e serras, muitas das quais coincidem com áreas de unidades de conservação, como os parques estaduais da Ilha do Cardoso e Jacupiranga e a APA Cananéia- Iguape-Peruíbe, o que explica a declividade média relativamente elevada em comparação com outros municípios do Litoral e do Baixo Ribeira. Já a porção de

Iguape abrangida pela imagem sobrepõe-se, quase que inteiramente, ao baixo curso do Ribeira de Iguape e seu estuário, com declividades muito baixas, e exclui a parte do município, onde localiza-se a Juréia e a Serra do Itatins, com altas declividades.

Rede Viária

O Vale do Ribeira possui uma malha viária pouco densa para os padrões do estado de São Paulo, apesar de ser cortado por uma das principais rodovias federais do país. Em particular, algumas sub-regiões e municípios do Vale possuem uma rede de estradas bastante rarefeita.

Para se ter uma mensuração da porção do território de cada município, localizada às margens das principais estradas pavimentadas e não pavimentadas, calculamos a porcentagem da área do município localizada às margens de 500 e 1.000 metros de cada um dos lados das estradas principais (ver metodologia no item 3.1).

Os dados revelam que apenas 6,9% e 7,9% dos territórios das sub-regiões da Serra e do Litoral, respectivamente, estão localizados dentro das margens (buffers) de 500 metros de cada um dos lados das estradas principais, o que mostra a baixa densidade da malha viária dos municípios destas sub-regiões. Já o percentual do território da sub-região do Baixo Ribeira, coberto pelos buffers de 500 metros das estradas, é de 17,3%, chegando a 19,1% em Registro e 27% em Pariquera-Açu. Além disso, todos os municípios desta sub- região são atravessados pela BR-116, que é a principal estrada de interligação entre as regiões Sudeste e Sul do Brasil e exerce um grande impacto nos municípios localizados às suas margens.

Considerando as margens de 1 km de cada lado das estradas principais, temos, respectivamente, 13,4% e 15,6% dos territórios das sub-regiões da Serra e do Litoral localizados dentro destas margens. No Baixo Ribeira, este percentual é de 31,2%, chegando a 33% em Registro e 46,2% em Pariquera-Açu. Este alto percentual referente a Pariquera- Açu também se deve à pequena extensão territorial do município (ver tabela 3.2 e mapa 3.10, pp. 138 e 139).

Tabela 3.2. Características topográficas e de infra-estrutura viária. Municípios e sub-regiões da porção central do Vale do Ribeira

Topografia Infra-estrutura viária

Municípios e sub-regiões Elevação Média (metros) Declividade Média (graus) % área dentro buffer 500m estradas % área dentro buffer 1km estradas

Total (urbano + rural)

Barra do Turvo 643,13 6,35 6,34 12,51 Iporanga 462,61 10,26 5,61 11,66 Eldorado 312,82 7,02 6,07 11,62 Sete Barras 214,51 4,07 10,22 18,92 Serra 395,11 7,01 6,92 13,39 Cajati 355,17 7,56 13,78 24,85 Jacupiranga 191,79 4,97 12,72 25,86 Pariquera-Acu 80,63 1,41 26,96 46,22 Registro 75,90 0,96 19,14 33,02 Baixo Ribeira 169,95 3,64 17,27 31,21 Cananéia 135,54 5,20 6,45 12,56 Iguape 123,41 2,27 10,94 21,55 Ilha Comprida 0,00 0,00 0,00 0,23 Litoral 120,62 3,63 7,93 15,58 Vale Central 685,68 14,29 9,58 18,10 Situação Rural Barra do Turvo 643,84 6,35 6,22 12,37 Iporanga 463,33 10,27 5,53 11,51 Eldorado 313,97 7,05 5,75 11,21 Sete Barras 214,76 4,08 10,09 18,74 Serra 395,99 7,03 6,73 13,15 Cajati 363,87 7,77 12,40 23,02 Jacupiranga 192,33 5,00 12,19 25,33 Pariquera-Acu 79,32 1,43 25,80 44,79 Registro 79,38 1,02 15,50 28,22 Baixo Ribeira 175,41 3,80 15,43 28,87 Cananéia 154,12 5,85 6,45 12,43 Iguape 121,52 2,04 8,31 16,65 Litoral 139,34 4,13 7,29 14,35 Vale Central 710,74 14,95 8,92 17,15

Fonte: Sistema de informação geográfica construído com bases de dados cedidas pelo Instituto Socioambiental e ACT-Indiana University

Mudanças na cobertura da terra das sub-regiões e municípios da porção central do Vale do Ribeira

Como vimos no capítulo 2, o Vale do Ribeira possui os maiores remanescentes de Mata Atlântica do Brasil. Porém, à semelhança das características demográficas, sócio- econômicas e topográficas, o Vale é bastante heterogêneo em relação à cobertura florestal remanescente. Embora existam áreas com grandes concentrações de remanescentes florestais, há outras em que a maior parte da floresta já foi removida.

Na porção central do Vale do Ribeira paulista (ano de 1999), a área de remanescentes de Mata Atlântica (que engloba floresta madura e estágios avançados de regeneração florestal) abrange mais de 580 mil ha, sendo que 335,4 mil ha estão localizados na sub-região da Serra (que correspondem a 57,8% da área total de mata atlântica do Vale Central); 142,2 mil ha na sub-região do Litoral abarcada pela imagem (24,5% do total); e 102,8 mil ha na sub-região do Baixo Ribeira, com apenas 17,7% da área total de mata atlântica da porção central do Vale do Ribeira. Os três municípios, com as maiores extensões de remanescentes, são Eldorado, com 121 mil ha; Cananéia, com 89,7 mil ha; e Iporanga, com 89,1 mil ha (ver tabela 3.3 e mapa 3.11, pp. 144 e 145).

Considerando-se a porcentagem da área com cobertura florestal remanescente em relação à área total da sub-região e do município, temos que 68,8% do território da sub- região da Serra são cobertos por remanescentes de mata atlântica, percentual que chega a 77% em Iporanga, 72,9% em Eldorado e pouco superior a 60% em Barra do Turvo e Sete Barras.

Na porção da sub-região do Litoral abrangida pela imagem, 67,2% do território são cobertos por remanescentes florestais, sendo Cananéia o município do Vale do Ribeira com o maior percentual do seu território coberto por mata atlântica (78,8%). Na parte de Iguape abrangida pela imagem, este percentual é de 51,7%, o que não reflete a situação de todo o município, pois as maiores extensões de remanescentes florestais estão na E. E. Juréia- Itatins, que não é abrangida pela imagem. Já o município de Ilha Comprida possui 60% da sua área cobertas por remanescentes de mata atlântica. Além disso, nos três municípios do Litoral, mas principalmente na Ilha Comprida e Cananéia, existem grandes extensões de manguezais, que têm enorme importância ambiental no contexto do Complexo estuarino-

Na sub-região do Baixo Ribeira, a porcentagem do território ocupada por remanescentes de mata atlântica é de 46%, e varia de 35,4% em Registro, 42,3% em Cajati, 49,5% em Pariquera-Açu a 57,4% em Jacupiranga. Porém é preciso ressaltar que, apesar dos percentuais dos territórios dos municípios do Baixo Ribeira cobertos por mata atlântica não serem tão baixos, o grau de fragmentação das florestas localizadas nestes municípios é bastante alto, com a existência de inúmeros pequenos fragmentos cercados por áreas com agricultura ou pastagem. Como se sabe, a fragmentação reduz substancialmente a biodiversidade destes remanescentes. Já em outras áreas do Vale do Ribeira, o grau de fragmentação38 das florestas ainda é relativamente baixo, o que garante a maior preservação da biodiversidade.

Apesar da implementação da política ambiental e da intensificação da fiscalização a partir dos anos de 1980, o Vale do Ribeira tem experimentado taxas de desmatamento relativamente altas nas duas últimas décadas, ainda que se tenha observado uma significativa redução do desmatamento da década de 1980 para a de 199039.

Na porção central do Vale do Ribeira paulista, foram desmatados cerca de 64,1 mil ha entre 1990 e 1999, que correspondem a 6,8% do território da região e a quase 10% da área dos remanescentes florestais existentes em 1990 (ver tabela 3.3, p. 144).

Na sub-região da Serra, 32,4 mil ha foram desmatados entre 1990 e 1999. Apesar da extensão da área desmatada, ela corresponde a apenas 6,7% do território dessa sub-região e a 8,8% da área de remanescentes florestais existentes em 1990. No período 1990-1999, o município da Serra com maior área desmatada foi Eldorado, com 10 mil ha. Já o município com a maior porcentagem do seu território com desmatamento foi Sete Barras (8,7%), que também teve a maior porcentagem de desmatamento em relação à área dos remanescentes florestais existentes em 1990 (12,5%). O município da Serra, com menor área desmatada, foi Barra do Turvo (6,3 mil ha), e o com menor porcentagem do território, com desmatamento, foi Iporanga (5,9%).

38 Existem métricas para medir o grau de fragmentação de classes da cobertura da terra, mas não vamos utilizá-las por não dispormos de software que calculam estas métricas, como o FragStats.

39 Como foi dito, neste trabalho vamos privilegiar a análise dos dados de desmatamento referentes à década de 1990, que possuem uma correspondência temporal com os dados censitários que estamos utilizando, os quais se referem aos anos de 1991 e 2000.

Na parte da sub-região do Litoral abrangida pela imagem, a área desmatada entre 1990 e 1999 foi de 10 mil ha. Apesar de ser muito inferior à área desmatada na sub-região da Serra no mesmo período, deve-se considerar que o território do Litoral (abrangido pela imagem) eqüivale à metade da sub-região da Serra e, além disso, as maiores extensões de floresta em Iguape (localizadas na E. E. Juréia-Itatins) não estão incluídas nos valores referentes ao Litoral. As áreas desmatadas no Litoral correspondem a 4,4% do território