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Da mesma maneira que no item 2.2, vamos analisar a infra-estrutura de saneamento básico dos domicílios das sub-regiões do Vale, distinguindo as situações urbana e rural.

Abastecimento de água

Enquanto, no conjunto das áreas urbanas do estado de São Paulo, o índice de cobertura de abastecimento de água por rede geral é de 97,4% no ano 2000, no Vale do Ribeira este índice é de 91,8%24. Nas sub-regiões, este percentual varia de 85,1% no Juquiá a 98,4% na Serra (ver tabela 2.18).

Surpreendentemente, as áreas urbanas da Serra e do Planalto, que são as sub-regiões mais pobres do Vale, apresentam condições de abastecimento de água melhores do que as áreas urbanas das sub-regiões do Juquiá e Litoral. Não sabemos quais os motivos desta aparente contradição, mas nossa hipótese é que os baixíssimos volumes populacionais das cidades da Serra e do Planalto25 tenham favorecido o atendimento das suas demandas de saneamento básico por parte do poder público.

Por outro lado, as áreas urbanas de alguns municípios das sub-regiões do Juquiá e Litoral possuem condições de abastecimento de água ainda relativamente precárias, como

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Neste item 2.3, estamos excluindo o município de São Lourenço da Serra dos dados referentes ao Vale do Ribeira e não estamos considerando este município em nenhuma das sub-regiões. Entendemos que São Lourenço da Serra possui características muito diferentes dos demais municípios do Vale e, por isso, acabaria distorcendo as comparações entre as sub-regiões. Além disso, o território de S. L. Serra não fazia parte do Vale do Ribeira até 1992, quando foi desmembrado de Itapecerica da Serra, o que comprometeria as comparações dos dados do censo de 2000 com censos anteriores.

25 A população urbana dos municípios da sub-região da Serra varia de 2076 pessoas em Iporanga a 6974 em Eldorado. No Planalto, à exceção de Apiaí, com 16.646 habitantes, as populações urbanas variam de 1006 pessoas em Ribeira a 2174 em Itaóca.

os municípios de Juquitiba e Ilha Comprida, com porcentagens de população urbana atendida pela rede geral de água de respectivamente 69,6% e 74,5%.

Nas áreas rurais, onde o percentual de domicílios abastecidos por rede geral é pequeno, há uma maior diversidade entre as sub-regiões em relação às formas de abastecimento de água, com índices de cobertura das redes de água variando de 9,6% no Litoral a 32,8% no Planalto, ficando as demais sub-regiões com índices em torno de 18%. Já o percentual de domicílios rurais abastecidos por poço ou nascente está num patamar em torno de 75% em todas as sub-regiões, à exceção do Planalto, com 55%. O percentual de domicílios rurais com canalização de água em pelo menos um cômodo é de 62,1% no Litoral, 65,1% no Planalto, 70,7% na Serra, 71,7% no Baixo Ribeira e 79,4% no Juquiá (ver tabela 2.18).

A condição mais precária de abastecimento de água está representada pelos domicílios abastecidos por poço ou nascente e sem canalização de água. O percentual de domicílios rurais nesta situação varia de 17,4%, na sub-região do Juquiá, a 31,2% no Litoral, estando as demais sub-regiões num patamar em torno de 25%.

Tabela 2.18. Distribuição dos domicílios segundo formas de abastecimento de água. Sub-regiões do Vale do Ribeira (ano 2000) (valores em porcentagem) Sub-regiões Canalizada em

pelo menos um cômodo

Rede geral Poço ou nascente (na propriedade) Poço ou nascente (na propriedade) – sem canalização Situação Urbana Planalto 90,99 94,57 3,18 1,65 Serra 98,21 98,42 0,98 0,31 Juquiá 94,35 85,10 13,70 2,53 Baixo Ribeira 96,05 95,30 4,28 1,58 Litoral 96,74 90,14 8,62 1,73 Vale do Ribeira 95,35 91,80 7,22 1,78 Situação Rural Planalto 65,12 32,77 54,96 24,11 Serra 70,73 19,09 73,37 22,84 Juquiá 79,39 18,15 76,31 17,37 Baixo Ribeira 71,66 17,29 77,57 25,06 Litoral 62,07 9,58 75,23 31,19 Vale do Ribeira 72,53 19,88 72,66 22,23

Esgoto Sanitário

Enquanto no conjunto do estado de São Paulo, o percentual de domicílios urbanos atendidos pela rede geral de esgoto é de 85,7%, no Vale este percentual é de apenas 62,7%26. A cobertura é ainda menor nas áreas urbanas das sub-regiões do Juquiá e do Litoral, com respectivamente 47,9% e 51,2%. À semelhança do abastecimento de água, estes baixos percentuais são reflexo da situação de alguns municípios como Juquitiba, na sub-região do Juquiá, e Ilha Comprida, no Litoral, que apresentam índices de cobertura da rede de esgoto de apenas 15,3% e 24% respectivamente. Nas demais sub-regiões, os percentuais de domicílios urbanos ligados à rede esgoto são mais elevados, variando de 68,5%, no Planalto, a 84,9% na Serra27 (ver tabela 2.19).

Já o percentual de domicílios urbanos com tipos precários de esgotamento sanitário (fossa rudimentar, vala, sem banheiro ou que jogam o esgoto diretamente no rio ou mar) é expressivo no Vale como um todo (18,8%) e, particularmente, em algumas sub-regiões. O percentual de domicílios urbanos com tipos precários de esgoto é de 10,4% na Serra e Litoral, 13,4% no Baixo Ribeira, 27,1% no Planalto e de expressivos 31,1% na sub-região do Juquiá.

Nas áreas rurais, é extremamente precária a situação dos domicílios em relação aos tipos de esgoto sanitário. No Vale como um todo, o percentual de domicílios rurais que não têm banheiro ou que jogam o esgoto diretamente no rio ou mar é de 16,6%. Ao nível intra- regional, o percentual de domicílios rurais nestas condições chega a 27,6% na sub-região do Planalto e a 23,2% na Serra. Nas demais sub-regiões, este percentual é de 14% no Litoral, 14,7% no Baixo Ribeira e 9,6% no Juquiá. Já a porcentagem de domicílios rurais que utilizam fossa rudimentar ou vala é de 60,5% no Juquiá, 57,1% no Litoral, 42,2% no Planalto, 45,8% no Baixo Ribeira e 37,4% na Serra (ver tabela 2.19).

Os dados mostram que a situação de precariedade do esgotamento sanitário é difundida entre as áreas rurais de todas as sub-regiões. No entanto, as piores situações são encontradas no Planalto e na Serra, com altas porcentagens de domicílios rurais sem banheiro ou jogando o esgoto diretamente nos rios.

26 Excluindo o município de São Lourenço da Serra.

27 À semelhança do abastecimento de água, nossa hipótese para explicar os altos índices de cobertura da rede de esgoto nas áreas urbanas dos municípios da sub-região da Serra são os baixíssimos volumes populacionais das sedes urbanas destes municípios.

Tabela 2.19. Distribuição dos domicílios segundo tipos de esgotamento sanitário. Sub-regiões do Vale do Ribeira (ano 2000) (valores em porcentagem)

Sub-regiões Rede geral de esgoto ou pluvial (1) Fossa séptica (1) Fossa rudimentar (2) Vala (2) Rio, lago ou mar (2) Não tem banheiro nem sanitário (2) Situação Urbana Planalto 68,46 3,86 12,05 3,99 8,62 2,46 Serra 84,86 4,35 2,27 3,01 4,42 0,74 Juquiá 47,87 20,36 18,47 7,19 4,15 1,29 Baixo Ribeira 72,68 13,13 3,93 5,97 2,90 0,62 Litoral 51,19 38,23 6,03 1,46 1,58 1,35 Vale do Ribeira 62,67 17,91 8,92 5,09 3,70 1,13 Situação Rural Planalto 3,32 25,32 35,52 6,74 11,12 16,50 Serra 6,94 31,52 23,05 14,31 6,92 16,26 Juquiá 3,93 25,19 48,20 12,32 4,55 5,13 Baixo Ribeira 4,55 34,01 28,16 17,59 8,56 6,12 Litoral 3,80 23,17 48,37 8,72 3,64 10,43 Vale do Ribeira 4,55 28,49 36,45 12,92 6,97 9,60

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

(1) Tipos bons ou satisfatórios de esgotamento sanitário (2) Tipos precários de esgotamento sanitário

Disposição do lixo doméstico

Como vimos, o Vale do Ribeira também apresenta um quadro de relativa precariedade quanto à disposição do lixo doméstico, particularmente nas áreas rurais. Para o conjunto da região, o índice de cobertura da coleta de lixo nas áreas urbanas (94,5%) fica um pouco abaixo da média estadual, que é de 98,9% em 2000.

Ao nível intra-regional, as sub-regiões com mais baixos percentuais de coleta de lixo urbano são o Planalto (90,8%) e o Juquiá (91,6%). Nas demais sub-regiões, a porcentagem de lixo coletado nas áreas urbanas é superior a 95%. Vemos, assim, que, nas áreas urbanas do Vale, a qualidade da disposição do lixo doméstico é satisfatória, apesar de estar num patamar um pouco abaixo da média estadual.

As situações de maior precariedade da disposição do lixo doméstico estão nas áreas rurais. Na região como um todo, o percentual de lixo coletado nos domicílios rurais é de 24,3%, metade da média estadual. Entre as sub-regiões, esta porcentagem varia de 30,1%,

no Juquiá, a apenas 11,1% nas áreas rurais do Litoral, sendo que, mesmo no Baixo Ribeira, este percentual não chega a 22% (ver tabela 2.20).

Já o percentual de lixo jogado (em terrenos ou no rio ou mar) chega a 18,5%, nas áreas rurais da Serra, e situa-se em torno de 15% nas sub-regiões do Planalto, Litoral e Baixo Ribeira, ficando em 12,3% no Juquiá. Mas, a maior parte do lixo doméstico produzido nas áreas rurais é queimado, com percentuais acima de 50% em todas as sub- regiões.

Tabela 2.20. Distribuição dos domicílios segundo disposição do lixo doméstico. Sub-regiões do Vale do Ribeira (ano 2000) (valores em porcentagem) Sub-regiões Coletado Queimado

(na propriedade) Enterrado (na propriedade) Jogado Situação Urbana Planalto 90,82 6,62 0,15 2,32 Serra 97,25 1,36 0,19 0,69 Juquiá 91,64 6,07 0,86 1,11 Baixo Ribeira 96,32 3,09 0,13 0,42 Litoral 96,02 2,28 0,65 0,75 Vale do Ribeira 94,52 3,98 0,42 0,88 Situação Rural Planalto 28,87 53,63 2,40 14,89 Serra 17,60 56,21 6,60 18,47 Juquiá 30,13 49,75 6,00 12,27 Baixo Ribeira 21,77 57,50 4,28 15,22 Litoral 11,13 61,85 11,13 15,03 Vale do Ribeira 24,31 54,26 5,43 14,76

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000

Síntese dos resultados da análise intra-regional: as sub-regiões do Vale do Ribeira

Em resumo, a análise intra-regional mostrou que as cinco sub-regiões do Vale do Ribeira paulista são bastante heterogêneas em relação às características demográficas e sócio-econômicas. De um lado, as sub-regiões da Serra e do Planalto apresentam baixos graus de urbanização, pequenos volumes populacionais e baixas taxas de crescimento da população. Por outro, as do Baixo Ribeira e Litoral possuem graus de urbanização elevados no contexto regional. O Baixo Ribeira é a sub-região mais populosa e vinha apresentando as maiores taxas de crescimento demográfico do Vale nas décadas de 1970 e 1980, mas, na década de 1990, cresceu menos do que as sub-regiões do Juquiá e Litoral.

No que se refere à densidade demográfica e distribuição espacial da população, as sub-regiões do Litoral, Planalto e Serra apresentam baixas densidades populacionais e concentram uma pequena parcela da população regional, sendo que as três sub-regiões juntas respondem por pouco mais de um terço da população do Vale do Ribeira paulista. Já as sub-regiões do Baixo Ribeira e Juquiá concentram quase dois terços da população regional e possuem densidades demográficas bem mais elevadas, principalmente o Baixo Ribeira, onde está localizado o centro regional, que é a cidade de Registro.

Como vimos, apesar do predomínio das baixas condições sócio-econômicas em todo o Vale paulista, os níveis de renda e escolaridade são bastante heterogêneos entre as sub-regiões. O Planalto e a Serra apresentam as piores condições, com as maiores porcentagens de chefes de domicílios pobres (ou sem renda) e com baixa escolaridade (ou sem instrução), notadamente nas áreas rurais. Por outro lado, as sub-regiões do Baixo Ribeira e Juquiá apresentam as menores porcentagens de chefes pobres e com baixa escolaridade, ficando o Litoral numa situação intermediária.

Já as condições de saneamento básico não apresentam um padrão tão claro por sub- região, devido à maior diversidade de situações entre os municípios que as compõem. Além disso, como mencionamos, existem enormes diferenças entre as áreas urbanas e rurais.

Curiosamente, as áreas urbanas da Serra e do Planalto, que são as sub-regiões mais pobres, apresentam altos índices de cobertura das redes de abastecimento de água e coleta de esgoto, com índices semelhantes ao Baixo Ribeira, que é a sub-região mais rica e desenvolvida. Já as áreas urbanas das sub-regiões do Juquiá e Litoral apresentam índices relativamente baixos de cobertura das redes de água e esgoto, devido principalmente à situação de algumas sedes de municípios como Juquitiba e Ilha Comprida, que possuem condições relativamente precárias de saneamento básico. Por fim, os índices de cobertura da coleta de lixo são bastante elevados nas áreas urbanas das sub-regiões do Baixo Ribeira, Serra e Litoral, e um pouco mais baixos, mas satisfatórios, nas sub-regiões do Planalto e Juquiá.

Nas áreas rurais, as condições de saneamento são bastante precárias em todo o Vale do Ribeira, mas há uma grande diversidade de situações entre as sub-regiões. Os casos mais críticos encontram-se nas áreas rurais do Planalto, do Litoral e da Serra.