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ENTREVISTA COM: ANA e CRISTINA

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE INTRA-CASOS

4.3 Caso 3: Farmácia Alfa

4.3.2 Detalhamento da análise intra-caso – farmácia Alfa

4.3.2.2 Análise com os conjuntos de fatos 1, 3 e

Nos conjuntos de fatos 1, 3 e 4 podemos encontrar exemplos da contribuição da rede de relações das sócias, Taís e Miriam, no entendimento da regulamentação de mercado e sua influência na gestão estratégica da farmácia Alfa. A princípio, no conjunto de dados 1, a rede de contatos de Taís proporcionou-lhe várias oportunidades de atuar e adquirir experiência na área. Inicialmente na produção:

Mas aí eu quando eu saí da Drew eu entrei em contato com o pessoal que eu havia trabalhado... e aí foi uma coincidência, porque a farmacêutica deles tinha tirado licença maternidade. (Taís)

E posteriormente na área de vendas, oportunidade e que lhe abriu uma nova rede de contatos profissionais, que foram valiosos nos primeiros momentos da inauguração da empresa.

“Um amigo farmacêutico me convidou para voltar para a Mistral (1990), mas aí para trabalhar na área de vendas. Era para ganhar menos, mas tinha a chance de ter uma rotina mais normal...” “...O salário era mais baixo, mas tinha a possibilidade de aumentar os ganhos com a comissão. E eu fui.... Eu tinha certeza que eu ia me dar bem em vendas. Sabe quando você tem, assim, certeza... Eu nunca tinha vendido nada, mas eu achava que ia dar certo.

Da mesma maneira que o sistema de relações de Taís, lhe permitiram entrar em contato o segmento de farmácias de manipulação, em particular com de produtos estéreis, ela conheceu suas sócias, Mônica e Eulália, na própria empresa que trabalhava. Conforme relato de Mônica a seguir:

“Nessa época tinha uma terceira sócia, eram três pessoas que trabalhavam juntas.” (Mônica)

Apesar de trabalharem na mesma empresa, Mônica e Taís não tinham um relacionamento muito próximo, como pode ser confirmado pelos depoimentos s seguir:

106 Mônica: Trabalhava, mas em área diferentes dentro da farmácia... Ela trabalhava mais na área de vendas... Eu trabalhava também um pouco na área de vendas e também na parte de desenvolvimento...” (Mônica)

“quando voltei ela disse que tinha falado com a Mônica. Eu pensei... sem nem falar comigo... Mas... eu não conhecia muito a Mônica, mas eu acho que o universo conspira... tinha que ser... Eu queria sair e nem dei importância.” (Taís)

Entretanto, além de trabalharem juntas, elas possuíam outras afinidades, que Filion (1998) chama de relações terciárias, que podem ter colaborado para o entendimento mútuo.

“Sim, no fim sim, porque ela também fez USP,” (Mônica falando sobre Taís)

No conjunto de fatos 3, encontra-se a utilização exemplos de como a rede de relacionamentos foi utilizada para antever e prevenir que a regulamentação, nesse caso um fator externo, viesse a ser uma ameaça incontrolável. Um bom relacionamento, ou ao menos amistoso entre a maioria dos concorrentes do segmento está presente no segmento:

“Eu acho que assim... hoje... hoje está bem tranquilo. Eu conheço a maioria destes meus concorrentes... a maioria dos donos destas farmácias... né... existe como todo bom mercado... existe pessoas confiáveis... pessoas que quando a gente tem algum problema, alguma resolução nova... ou acontece alguma coisa... a gente liga, conversa, fala... e existem pessoas de muito má índole... que não tem... que aí não tem conversa.

As farmácias de produtos estéreis, ao tomarem conhecimento da elaboração de uma regulamentação específica para o setor, no caso a RDC 33, que viria a ser publicada no ano de 2000, uniram-se para fazer uma proposta conjunta de regulamentação, a despeito da associação que representa o setor não estar atenta ao segmento de produtos estéreis:

“Tanto que quando a RDC 33 (RDC 33/2000 – marco regulatório publicado no ano de 2000) ela foi estava para ser feita, né, houve uma reunião de todas as farmácias de estéreis... porque a ANFARMAG que deveria aí estar apoiando e tal... eles nem estavam pensando em colocar uma anexo que regulamentava a área de estéreis.” (Mônica)

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Nesse sentido, a regulamentação, ao menos no caso da farmácia Alfa, espelhou uma realidade já existente no segmento, não vindo a ser uma surpresa e nem exigindo bruscas adaptações da empresa:

“...nós nos reunimos... todo mundo... contratamos uma pessoa para ser o intermediador do grupo, para poder escrever tudo o que tinha que fazer... para nós montarmos de acordo com as necessidades de uma farmácia de estéril... montar as regras que foi... que foi pressionado... então a gente pediu aí sim nós pedimos auxílio à ANFARMAG para que nos ajudasse a levar tudo aquilo para a vigilância sanitária, né para que dentro da RDC 33 que estava em consulta na época...” (Mônica)

O empenho em participar da elaboração da regulamentação, rendeu resultados. Dessa maneira as farmácias do segmento de estéreis direcionaram seus esforços para um diálogo com a agência reguladora, o que ao menos permitiu a todos os participantes do processo, tomar conhecimento das diretrizes gerais da norma que iria ser publicada. Evitando dessa forma uma surpresa completa quando esta fosse publicada.

“Então nós participamos de uma maneira muito forte na confecção do anexo... hoje é o anexo 4 da RDC... nós participamos de uma maneira muito forte na confecção desse anexo... dando sugestão... conversando com a vigilância sanitária e que hoje tá realmente regulamentado. Então existe sim um companheirismo com relação aos nossos concorrentes... principalmente porque nós somos pequenos... todos eles comparando com a indústria somos pequenos e fracos. Se você comparar com a indústria farmacêutica.” (Mônica)

Por fim, no conjunto de fatos 4, pode-se identificar a utilização da rede de relações como uma maneira de continuar se antecipando às exigências regulatórias, e também, como uma forma de direcionar os investimentos voltados para o crescimento futuro da empresa:

“Eu tenho um amigo... colega de turma, que já foi presidente do Conselho (Conselho Regional de Farmácia) que também é consultor, que sempre me ligava, dava umas dicas... Ele falava, ‘Taninha, agora eles vão mudar as regras, agora eles vão pedir isso... E ele dava umas dicas de novas oportunidades... dicas para investimento. E nós.... nós precisávamos de mais espaço, novos equipamentos. E onde nós

108 estávamos era muito pequeno... aí a gente mudou.. A gente mudou sem saber se ia poder abrir ou não, a vigilância tinha que aprovar...” (Taís)