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3.5 METODOLOGIA UTILIZADA NA ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

3.5.2 Análise da conversação

A conversação é a primeira das formas de linguagem a que o ser humano está exposto e provavelmente a única, da qual nunca abdica vida afora. Além de representar o “suporte” para a aquisição da linguagem, a conversação é uma necessidade e a base da interação humana, de acordo com Marcuschi (1991).

Sendo a conversação a prática social mais comum no dia-a-dia dos relacionamentos, constitui o espaço para a construção de identidades sociais no contexto real; entretanto, sua análise e compreensão necessitam de uma coordenação de ações que estão além das habilidades lingüísticas dos falantes e dos ouvintes (BRANDÃO, 2002).

Os ouvintes, que vêem e ouvem, acreditam conhecer o emissor por meio de suas palavras. Mas, buscar compreender o que está contido nas entrelinhas das palavras e gestos é uma tarefa complexa e desafiadora. Pois conversar está muito além das palavras; conversar é permitir fluir as palavras, observando o todo da situação; é interagir e participar; mas é imperativo estar atento às palavras e seus significados.

Já as palavras e os atos, quando vistos e ouvidos não podem ser desfeitos, mas podem ser dialogados; iniciando uma cadeia de indagações e respostas que fogem ao controle e tornam seus resultados inesperados.

Segundo Brandão (2002), a Análise da Conversação iniciou-se nos anos 60 dentro da área da Etnometodologia e da Antropologia Cognitiva baseando-se, sobretudo, nas descrições das estruturas da conversação e seus mecanismos organizadores. Naquela época, todos os aspectos de ação e interação social poderiam ser examinados e descritos em termos de organização estrutural convencionalizada ou institucionalizada, ou seja, de acordo com os padrões pré- existentes.

Na Análise da Conversação, de acordo com Marcuschi (1991), prevalecem as descrições e as interpretações qualitativas, sendo a indução uma de suas características metodológicas. Esse método não representa um processo de estudo anárquico e aleatório, mas altamente organizado e, portanto passível de ser estudado com rigor científico. Na análise, utilizam-se conhecimentos lingüísticos, paralingüísticos e sócio-culturais, os quais devem estar em sincronismo para que a interação seja perfeita.

Na percepção do autor, a análise da conversação ultrapassa a análise de estruturas e atinge os processos cooperativos presentes na atividade conversacional: o problema passa da organização para a interpretação. No entendimento de Orlandi (2001), não obstante que a noção de interpretação seja apresentada como transparente, na realidade são muitas e diferentes suas definições, sendo que na maioria das vezes os teóricos a utilizam como se ela fosse evidente.

A interpretação está presente em toda e qualquer manifestação da linguagem. Não há sentido sem interpretação. “E, como a linguagem tem uma relação necessária com os sentidos e, pois com a interpretação, ela é sempre passível de equívoco. Dito de outro modo, os sentidos não se fecham, não são evidentes, embora pareçam ser” (ORLANDI, 2001, p. 9).

Segundo Koch (2003), o sentido de um texto não se resume apenas na decodificação na mensagem do emissor, mas constitui uma atividade interativa altamente complexa, a qual se realiza com base nos elementos lingüísticos presentes e na forma de organização do texto. Portanto, o sentido de um texto é, construído na interação texto – sujeitos.

Ainda Koch (2003) complementa que o texto compreende um lugar de interação entre sujeitos sociais ativos, os quais desempenham uma atividade sociocomunicativa. Esta atividade compreende, da parte do produtor do texto, um

projeto de dizer; e da parte do leitor/ouvinte, uma participação ativa na construção do sentido, por meio da interpretação do contexto e a partir das pistas e sinalizações que o texto oferece.

Com isso, e também de acordo com Koch (2003) o texto apresenta três perspectivas:

a) Do produtor, o qual procura viabilizar a construção dos possíveis sentidos do texto, por meio de sua organização e da utilização de sinalizações textuais (indícios, articuladores, marcas e pistas);

b) Do texto, onde o produtor determina estrategicamente a melhor forma de sua organização, para que, o mesmo possa oferecer limites de interpretações ao leitor;

c) Do leitor/ouvinte, o qual, interpreta os sentidos do texto, por meio de sua construção lingüística e das sinalizações que o mesmo lhe oferece.

Independente da situação de comunicação, a interpretação de um texto não depende tão somente de sua estrutura textual, mas de uma seleção do contexto adequado à construção do sentido.

3.5.2.1 Articuladores textuais

O encadeamento de segmentos textuais, de qualquer extensão, é determinado, na maioria dos casos, por meio da utilização de recursos lingüísticos denominados como articuladores textuais ou operadores de discurso, os quais são responsáveis pela coesão textual e pelas indicações ou sinalizações destinadas a orientar a construção interacional do sentido Koch (2003).

Já na percepção de Marcuschi (1991), toda a conversação é sempre situada em alguma circunstância ou contexto em que os participantes estão interagindo. Mas, ao realizar a análise da conversação não se faz necessário analisar todas as particularidades, em decorrência de se tornar impraticável quanto a sua operacionalidade.

Com vista aos objetivos do presente trabalho, o pesquisador determinou como primordiais para a análise das entrevistas, os seguintes articuladores textuais descritos por Koch (2003):

1) Articuladores proposicionais:

a) marcadores espaço-temporais: marcadores de tempo. Ex: depois, a primeira vez, etc.

b) indicadores de relações lógico-semânticas: Indicam causalidade, condicionalidade, finalidade ou mediação. Ex: por causa, para, porque, etc.

2) Articuladores enunciativos ou discursivos argumentativo:

a) indicam contrajunção, justificativa, explicação, generalização, comprovação entre outras. Ex: ou, mas, portanto, afinal, aliás, etc. 3) Articuladores meta enunciativos: Comentam de alguma forma, a

própria enunciação.

a) modalizadores epistêmicos: Que assimilam o grau de certeza do locutor com relação ao seu enunciado. Ex: evidentemente, não há como negar, aparentemente, etc.;

b) de caráter deôntico: indica o grau de imperatividade/ facultatividade atribuída ao conteúdo proposicional. Ex: É indispensável, opcionalmente, etc.;

c) atenuadores: Com vista à preservação das faces. Ex: talvez fosse melhor, no meu entender, etc.;

d) metaformulativos: Ex: francamente, honestamente, sinceramente, em síntese, em suma, minha crítica é de que, eis a questão, quero dizer, é interessante lembrar que, etc.

No próximo capítulo são apresentados os resultados do que foi observado e desenvolvido na pesquisa, e a análise e discussão dos dados obtidos.

4 RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados os resultados da pesquisa realizada com onze laboratórios de análises clínicas privados na cidade de Joinville, Santa Catarina, no período compreendido entre 26 de outubro a 27 de novembro de 2006. Os resultados relatados correspondem a recortes do corpo do texto das transcrições das entrevistas e dos questionários realizados que se encontram nos Apêndices C e E, respectivamente. Inicialmente são expostos as informações e dados referentes aos laboratórios de análises clínicas (seção 4.1) para, na seqüência, apresentar os resultados (seção 4.2). Após a apresentação dos dados, são realizadas a análise e discussão dos mesmos (seção 4.3). Os resultados oriundos do estudo dos multicasos são apresentados de modo a atender os objetivos propostos por este trabalho.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS