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Interferência na qualidade, exatidão e precisão do diagnóstico clínico

2.7 IMPORTÂNCIA DAS ANÁLISES CLÍNICAS

2.7.1 Interferência na qualidade, exatidão e precisão do diagnóstico clínico

Barbosa (2003) assinala que muitos fatores podem alterar o resultado de um exame laboratorial e só um bom relacionamento profissional entre o médico e o responsável pelo laboratório de análises clínicas onde o exame foi realizado é que pode dar a melhor solução para o problema, quando ocorrer.

Algumas vezes, os profissionais dos laboratórios são surpreendidos com resultados aparentemente discrepantes e que, apesar de confirmados na mesma amostra, continuam discrepantes, relata Barbosa (2003). O que se observa, em muitos casos, sobretudo em pacientes ambulatoriais, é que ou os dados fornecidos pelo médico são insuficientes ou estão incompletos, o que não ajuda no encaminhamento da averiguação voltada a esclarecer a discrepância observada.

Existe uma lista considerável de drogas que podem causar distúrbios nas investigações bioquímicas e essas alterações podem ser in vitro e in vivo8, cita

Barbosa (2003). As interferências metodológicas das drogas podem ser químicas ou físicas.

Uma droga ou seu metabólito pode interferir com a reação química usada, ressalta Barbosa (2003). É importante observar que a droga pode interferir com um determinado método analítico e não necessariamente com um outro método de análise. Assim, é necessário que a especificidade dos métodos analíticos seja perfeitamente conhecida. Pequenas diferenças na técnica podem ser decisivas no grau de interferência da droga. Isso se aplica, por exemplo, na determinação da creatinina, que pode ser afetada por drogas com ácido ascórbico ou metildopa.

É importante ressaltar que os aprimoramentos obtidos nas metodologias nos últimos anos reduziram consideravelmente essas interferências. As dosagens dos hormônios da tireóide, por exemplo, atualmente realizadas por enzimaimunoensaio, entre outras técnicas, substituiu os exames de iodo com ligação protéica. A determinação da glicose sangüínea foi substituída por métodos enzimáticos que são mais específicos que os métodos colorimétricos, comenta Barbosa (2003).

Este autor ainda afirma que a verificação da presença de glicose e hemoglobina no Exame Simples de Urina é afetada pela presença de ácido ascórbico, por exemplo. Dessa forma, o paciente deve evitar ingerir altas doses de ácido ascórbico vinte e quatro horas antes do exame. O próprio teste do nitrito, que serve para avaliar a bacteriúria, pode também ser afetado pelo uso da mesma droga. Fenômeno idêntico observa-se nas fezes, na pesquisa de sangue oculto, com resultados falso negativos.

Os efeitos biológicos das drogas com influências na interpretação dos resultados laboratoriais podem ser encontrados, segundo Barbosa (2000, p. 28):

a) regularmente, em todas as pessoas que são tratadas com uma certa droga;

b) irregularmente, em poucas pessoas devido a idiossincrasias.

Ainda de acordo com Barbosa (2000), os hormônios sexuais têm, freqüentemente, consideráveis efeitos metabólicos e causam significantes mudanças no padrão das proteínas plasmáticas provocando alteração, traduzida por aumento ou diminuição, em diversos parâmetros bioquímicos. Os contraceptivos orais mudam o metabolismo dos lipídios. No estágio inicial, pode ser mostrado que o

contraceptivo causou um aumento do triglicerídeo sangüíneo, assim como do colesterol. O HDL-colesterol aumenta sob a influência do estrogênio.

São freqüentes os questionamentos sobre os resultados do Exame simples de urina (EAS) e urinocultura. As aparentes discrepâncias são conseqüências de muitos interferentes e as questões são freqüentemente voltadas para alterações nos EAS com culturas negativas, ou vice-versa (BARBOSA, 2000).

Esses comentários têm o propósito de levar a uma questão que se considera importante na relação laboratório de análises clínicas e o médico: como age o médico diante de um resultado aparentemente discrepante? É importante estabelecer um contato com o laboratório e ouvir a opinião e parecer do seu colega farmacêutico e bioquímico? É importante o diálogo entre o médico e o laboratório de análises clínicas? É sabido que o diálogo é extremamente salutar, porque possui vários aspectos importantes, pois como relata Barbosa (2000, p. 28):

a) Deflagra uma relação conflitante entre os dois profissionais e pode evidenciar capacidades na administração desses conflitos;

b) Mobiliza o laboratório de análises clínicas para certificar-se de seus resultados e rastrear as ações desde a coleta até a emissão do laudo; c) Complementam as informações necessárias para ambos com relação a possíveis interferentes pré-analíticos (coletas inadequadas realizadas pelo cliente e/ou tomada da amostra em situação não- conforme por omissão da informação por parte do cliente, instruções erradas quanto à necessidade de jejum, repouso, dietas, suspensão de medicamentos, etc.);

d) Durante os exames laboratoriais podem ser evidenciadas outras patologias associadas à patologia de base e que somente são expressas nos exames laboratoriais, não havendo ainda expressão clínica evidente. Nesses casos, o médico poderá ficar atento para uma nova abordagem com o paciente;

e) Estimula a busca pela qualidade que ambos os profissionais querem alcançar e que tem como beneficiário o paciente;

f) A confirmação das alterações observadas nos exames laboratoriais aguça os profissionais para a busca de explicações que possam elucidar estas alterações.

Considerando que são muitas as possibilidades de alterações nos exames, representadas por interferências pré-analíticas, analíticas e pós-analíticas, o diálogo é uma oportunidade que o profissional do laboratório terá para rever seus métodos e protocolos, constituindo-se em uma excelente oportunidade de reavaliação dos processos. Se assim for, convém assumir que a vulnerabilidade está em ambos os lados porque, ao partir-se da afirmação de que um lado sempre está certo, não vai haver diálogo.

Nem todo o diálogo vai restabelecer, de uma parte ou de outra, a confiança (embora o propósito seja esse). Mas, sem dúvida, constituirá uma excelente oportunidade, porque crescem como profissionais e como pessoas quando ouvem os outros sobre suas limitações. Por fim, vale sempre a pena esse diálogo quando se tem à frente o motivo pelo qual se mobilizam as emoções.