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Análise da Comunidade Noiva do Cordeiro

Capítulo 4 _A Comunidade Noiva do Cordeiro

4.3 Análise da Comunidade Noiva do Cordeiro

Dentre as várias perspectivas de análise sobre a Comunidade Noiva do Cordeiro, a inserção tecnológica, a globalização e as Indústrias Criativas são essenciais para entender os processos de rupturas promovidos por essa sociedade, que não significaram o seu desmantelamento, mas que acabaram por promover a formação de uma comunidade autônoma, com sujeitos autônomos, que se tornaram protagonistas de suas próprias histórias.

A partir da década de 1990, a situação da comunidade começou a mudar, graças à determinação de seus habitantes de quebrar esse ciclo de pobreza e marginalização. Por iniciativa das costureiras da comunidade, uma pequena fábrica de tapetes e lingerie foi criada na comunidade. O caminho transformador da realidade, encontrado para superar a pobreza e o isolamento, foi resultado de uma ação articulada da comunidade, do governo, de empresas e projetos do terceiro setor.

Em 25 de abril de1999, foi realizada a reunião de fundação e posse da primeira diretoria da Associação Comunitária Noivas do Cordeiro (ACNC). 1 Entre os vários

trabalhos da ACNC, o mais significativo foi a implantação do Centro de Informática e Desenvolvimento da Educação Comunitária (CIDEC). Em 2006, em parceria com a Fundação Vale, da empresa Vale do Rio Doce e o Comitê para Democratização da Informática (CDI), a comunidade conseguiu a primeira escola de informática da zona rural do Estado de Minas Gerais que passou a oferecer cursos para outras comunidades, o que provocou o fim das barreiras que separavam a comunidade Noivas Do Cordeiro das comunidades vizinhas. Segundo relato de Doraci “Rosa, (moradora da Comunidade e eleita vereadora do município em 2004) foi lá na VALE pedir a escola de informática eles falaram: ‘Uma escola de informática no meio do mato? ’

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CNPJ: 03. 465.595/0001-49 /Abertura: 25/5/1999 /Natureza: Associação Privada (3999)/Situação Ativa: desde 25/5/1999 /Endereço: Rua Maria Senhorinha De Lima, 05, Zona Rural, Belo Vale, MG, CEP 35473- 000, Brasil.

80 Foto 1: CIDEC - Centro de Inclusão digital aguardando a volta da internet fornecida pelo Ministério das Comunicações.

Fonte:Facebook da Comunidade Noiva do Cordeiro

Segundo André Lemos

Atuando no Brasil e no exterior, a ONG CDI implementa programas educacionais que têm como objetivo transformar a realidade da população menos favorecida ou em situação de exclusão social. Nas Escolas de Informática e Cidadania, desenvolvidas pelo CDI junto a organizações comunitárias ou movimentos associativos, o cidadão recebe treinamento para o uso das novas tecnologias, o que pode lhe trazer uma melhor inserção no mercado de trabalho, bem como uma ampliação do exercício de sua cidadania. O público-alvo das ações do CDI compreende indivíduos de baixa renda e de necessidades especiais, como deficientes físicos e visuais, doentes psiquiátricos, jovens de rua, população indígena, presidiários, etc (2007: 25).

As transformações ocorridas desde as últimas duas décadas do século XX, capitaneadas pelo extraordinário desenvolvimento e difusão das tecnologias de informação e comunicação (TIC), podem também explicar o processo de inclusão pelo qual a Comunidade passou. A partir da convergência tecnológica e econômica das diversas mídias, permitida pela digitalização da informação em suas diferentes formas, - dados, imagem/vídeo, texto e voz – e a sua crescente interatividade, tornou-se possível a provisão e o acesso a uma cada vez mais variada gama de serviços e conteúdos – novas formas e canais de participação, mobilização e ativismo político, ou seja, de ampliação da cidadania. Moraes afirma que

81 A internet tende a firmar-se como um dos meios de comunicação vitais para a

construção da cidadania mundial. A internet constitui uma vida comunitária regulada por interações, e não por decretos, leis e portarias. As comunidades virtuais, desvencilhadas da coincidência histórica entre espaço e tempo fazem valer o salvo conduto para estar em toda a parte sem sair do lugar. Longe de padronizar condutas com base numa “maioria moral” (normas e interdições a serviço das totalidades dominantes), a cibernética apoia-se em regras e valores consensuais estabelecidos pelas células de usuários, respeitando-se a pluralidade de contextos, os projetos societários e, acima de tudo, a liberdade de expressão (Moraes 2004: 65).

A inserção digital foi um importante fator para a inclusão da Comunidade Noiva do Cordeiro, pois significou romper uma barreira cultural, fortalecida pela própria exclusão imposta à Comunidade. O acesso à internet permitiu a sua inserção no mercado e maior visibilidade e valorização, além de promover a possibilidade de pesquisa, intercâmbio e comunicação.

É importante salientar, como afirma André Lemos que

A inclusão digital não deve ser apenas um modelo de ensino técnico, em que alunos aprendem determinados softwares e como navegar na internet. O modelo de inclusão deve compreender e estimular diversas formas de emissão de informação, criando mecanismos para uma maior inserção social e cultural do indivíduo (2007: 41).

Dentro dessa perspectiva, é necessário interligar o capital técnico, cultural, social e intelectual, excluindo uma visão meramente tecnocrática do processo de inclusão. É importante lembrar que o capital técnico é importante, mas não pode ser isolado do projeto totalizante de inclusão.

Em novembro de 1999, as moradoras da Comunidade resolveram unir as máquinas de costura domésticas e começaram a produzir lingeries e depois diversificaram a produção e começaram a produzir tapetes, colchas de retalhos, bolsas e artigos de fuxico. Outra conquista da comunidade foi a possibilidade de comercializar produtos produzidos pelos seus membros. Hoje a confecção possui nove máquinas, quatro industriais, três semi e duas domésticas. O lucro é dividido, gerando renda para dez famílias. Vários cursos foram realizados pelos moradores da Comunidade com o objetivo de criar alternativas de renda. O curso de costura foi desenvolvido pela empresa alemã GTZ (Cooperação Técnica Alemã). 2

2

A GTZ, Cooperação Técnica Alemã, empresa pública de direito privado, foi criada em 1974 com o objetivo de gerenciar os projetos de cooperação técnica. É responsável pela implementação da contribuição alemã, por delegação do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ).

A Cooperação Técnica constitui um instrumento de aprendizagem conjunta, a partir do apoio a iniciativas inovadoras de desenvolvimento empreendidas por instituições e organizações brasileiras. A contribuição

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Todo o material de limpeza da Comunidade é produzido lá, após a ajuda de um químico que proporcionou a formação. Além de serem usados pela Comunidade, os produtos são vendidos na redondeza e têm muita aceitação.

A promoção midiática em torno da Comunidade Noiva do Cordeiro, até então excluída do projeto midiático brasileiro, permitiu a essa Comunidade uma transformação significativa de invisibilizados em visibilizados, de excluídos em incluídos; a mídia acabou por produzir uma espécie de ativismo social midiático que passa a atuar como instâncias que permitem a visibilidade de grupos sociais que até então estavam à margem da sociedade.

A apropriação dos meios de comunicação por parte de Comunidade se transformou em uma aliada para o fim da invisibilidade do grupo. A visibilidade proporcionada pela mídia não deve ser entendida aqui como mero instrumento de midiatização ou uma representação embutida na ideia de espetáculo. O que a Comunidade almeja é o reconhecimento de seus problemas, anseios e visões de mundo, de tal maneira que, junto às várias esferas da sociedade, possam resolver e desenvolver enquanto grupo, passando a traduzir, na realidade uma ideia de pertencimento de grupo.

A mídia e a exteriorização do grupo foram importantes para que as pessoas não somente conheçam a história, mas que também promovam uma reflexão sobre o processo de exclusão. O reconhecimento externo fez a Comunidade não somente reafirmar o seu orgulho, mas contribuiu para que a sociedade os respeitasse e admire.

Ao perguntar a Keila, moradora da Comunidade e filha de D. Delina, em entrevista realizada à investigadora na Comunidade, sobre a importância do reconhecimento da mídia para a Comunidade ela respondeu que “na realidade quando foi feito o documentário em 2008 ela ficou pensando: Gente o que a televisão quer aqui? O que nós temos de importante para mostrar? A nossa vida é tão normal. Na realidade percebemos como a vida das pessoas são mais difíceis. A mídia me mostrou que a minha vida é muito boa ela me fez valorizar mais a Comunidade.”

alemã visa a fortalecer essas iniciativas por tempo limitado, até que os beneficiados alcancem uma situação que lhes permita prescindir do aporte externo. De natureza desenvolvimentista, prioriza iniciativas que permitam que seu público-alvo alcance progresso duradouro, adquira auto-sustentabilidade e melhora da qualidade de vida. Atualmente, cumpre importante papel na região, atuando como catalizadora de outras entidades sociais e impulsionando ações como a criação do Pacto pelo 3º Setor, o Banco de Projetos Sociais do Estado e o Fundo de Investimento Social - FIS, importantes instrumentos de fortalecimento da área social. (FUNDAÇÃO BRASIL CIDADÃO PARA A EDUCAÇÃO, CULTURA E TECNOLOGIA 2004). Internet. Disponível em http://www.brasilcidadao.org.br/parceiros/textos.asp?id=48 (Consultado em 20/01/2015)

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É perceptível, após conhecer a Comunidade, que a inclusão tecnológica acabou se transformando em um instrumento não somente de inclusão, como também de fortalecimento de sua identidade cultural, promovendo a afirmação do grupo, que não apenas se fez reconhecer pelo outro, como também promoveu o próprio reconhecimento através de uma consciência enquanto parte de uma coletividade com valores capazes de construir sua própria história.

A Comunidade se mostra satisfeita, com os efeitos positivos da inclusão promovidos pela visibilidade que a Comunidade alcançou em termos nacionais e mundiais. A inclusão tecnológica acabou por servir como um instrumento de fortalecimento da sua identidade cultural. O que parecia ser apenas um desejo de se fazer conhecer promoveu um processo de ruptura com as antigas formas de exclusão.

Ao ser perguntada se a comunidade de Belo Vale superou o preconceito em relação a elas, Keila afirmou: “Até hoje tem, existe agora um respeito devido a exposição da Comunidade, mas que convenceu que eles estavam errados, não convenceu não. Eles veem que não é, mas falam que é. Ficou aquela coisa, aquela sisma. Quem vem de fora adora a gente, mas quem conhece nós, não gosta de nós. Já veio tanta televisão aqui, que já perdi a conta, mas eles não dão valor, eles não tocam nesse assunto. A vizinhança não vem nos conhecer.”

A análise de Barbero se mostra pertinente na fala de Keila pois, a resistência que os moradores de Belo Vale ainda demonstram em relação à Comunidade confirma que a recepção não é um espaço consensual, os conflitos estão sempre presentes na recepção.“O plural das lógicas do uso não se esgota na diferença social de classes, mas essa diferença articula as outras” (Martín-Barbero 2009: 202).

Para Martín-Barbero (2009), é necessário analisar a recepção através das relações dos receptores com os meios, perceber como os conflitos articulados pela cultura, família, escola, classes sociais e grupos de amigos produzem e reproduzem os significados sociais. Nessa perspectiva, a comunicação assume sentido de práticas sociais. As mensagens são recebidas dentro de um contexto social e histórico específico:

Para abordar as lógicas (no plural) dos usos, devemos começar diferenciando nossa proposta daquela análise denominada “dos usos e gratificações”, já que estamos tratando de retirar o estudo da recepção do espaço limitado por uma comunicação pensada em termos de mensagem que circulam, de efeitos e reações, para re-situar sua problemática no campo da cultura: dos conflitos articulados pela cultura, das

mestiçagens que a tecem e dos anacronismos que a sustentam, e por fim do modo com

que a hegemonia trabalha e as resistências que ela mobiliza, do resgate, portanto dos modos de apropriação e réplica das classes subalternas.

84 O plural das lógicas do uso não se esgota na diferença social de classes, mas essa

diferença articula as outras. Os habitus de classe atravessam os usos da televisão, os modos de ver, e se manifestam-observáveis etnograficamente-na organização do tempo e do espaço cotidianos...”

Não é somente a classe social que fala nos uso, mas também a competência cultural dos diversos grupos que atravessa as classes, pela via da educação formal, com suas distintas modalidades, mas, sobretudo pela via dos usos que configuram etnias, culturas regionais, “dialetos” locais e distintas mestiçagens urbanas em relação àqueles. Competência que vive da memória - narrativa gestual, auditiva - e também dos imaginários atuais que alimentam o sujeito social feminino ou juvenil. O acesso a esses modos de uso passa inevitavelmente por um ver com as pessoas que permita explicitar e confrontar as diversas modalidades e as competências ativadas por aquelas, e pelas

narrativas – histórias de vida – que eles nos contam e dão conta deles.” (2009: 302-303)

É importante salientar que a luta da Comunidade pela afirmação e reconhecimento de sua identidade, construída por meio de sua diferença, e de uma história de vida em meio à pobreza, à exclusão, à opressão e pelo preconceito, foi superada não de fora para dentro, como se a tecnologia tivesse essa capacidade mágica de eliminar todo esse processo, mas pela vontade concreta dessas mulheres em romper com aquela realidade; pode-se afirmar que foi uma conjunção de elementos, que integrados permitiram o início do processo de inclusão.

Uma fala recorrente das moradoras da Comunidade remete à felicidade. A fala de Keila, em entrevista realizada na Comunidade, confirma essa postura: “O que mais tem aqui é o amor e a felicidade. Aqui as pessoas ficam felizes com a sua felicidade. As pessoas lá fora são carentes de amor. Aqui eu sou amada por todas as pessoas, mesmo não sendo o meu sangue. Eu sou dependente desse lugar. Aqui você não tem medo de nada. Aqui você é amado independente de seus defeitos. Eu nem sei por que somos assim? Eu gostaria que as pessoas viessem aqui e levassem o sentimento que nós temos. Quem sai da Comunidade sempre volta. Você está no grupo e você é acolhida.”

Segundo Touraine (1999),

Acabou-se o tempo das morais do dever. Estas dão o lugar, não a uma moral da intenção e da pureza, análoga à das grandes religiões, mas à procura da felicidade. Esta vem sempre acompanhada do prazer, assim como o sujeito só se manifesta no indivíduo; mas não fica reduzida a ele, simplesmente porque essa felicidade não é dada, mas conquistada, conquistada na luta contra aquilo que constantemente a destrói. A construção do sujeito e a sua procura da felicidade aparecem, por isso, tanto na alegria como na tristeza. Na alegria, da maneira mais visível, pois a alegria coletiva é a da ação libertadora e generosa, assim como a alegria pessoal é a da descoberta e dos projetos (1999: 78-79).

(...)

A ação coletiva, assim como a aventura pessoal, cria um espaço de liberdade, de invenção e imaginação: a denúncia das forças mortíferas alimenta a alegria de viver Não é só para responder à pressão dos meios de comunicação que tantos movimentos sociais são ilustrados por cantos e espetáculos, como antigamente por expressões literárias. O espaço da festa e do teatro encoraja e alimenta o espírito de libertação (1999: 79).

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O apelo à dignidade, de si mesmo e do outro, não constitui um universo de valores, mas somente de protestos e de indignação. E, em lugar do sacrifício, surge a solidariedade, pois a fragilidade do sujeito implica na força da sua luta contra aquilo que o ameaça (1999: 80).

A Comunidade Noiva do Cordeiro, através de uma ampla articulação de ações, promoveu programas e projetos, com o objetivo de alcançar, não somente o reconhecimento, mas também a obtenção de renda, como forma de inclusão do grupo. Segundo essa perspectiva de articulação, inúmeras ações envolvendo cultura, educação, transferência de renda, geração de renda, participação política, agiram de forma significativa para alcançar resultados efetivos no processo de inclusão da Comunidade. A visibilidade alcançada por essas ações, bem como a receptividade da Comunidade em receber os grupos que queiram conhecer a sua história foram formas encontradas por essas mulheres para se fazerem ouvidas.

Na construção de sua identidade, as mulheres da Comunidade Noiva do Cordeiro, utilizaram lógicas individuais em função de suas motivações para abandonar o processo de exclusão. A diferença que durante um século foi fonte de sofrimento, hoje é uma marca de sua identidade e afirmação dessa diferença. Essas diferenças ainda provocam na mídia certa estranheza, como é possível verificar, em um site europeu, uma ampla divulgação sobre a Comunidade Noiva do Cordeiro, de maneira deturpada.

Sites britânicos, turcos, tailandeses, norte-americanos, italianos e indianos deturparam a história da Comunidade. Afirmavam a existência de uma comunidade de “600 mulheres exóticas e solteiras”, todas entre “20 e 25 anos”. Segundo a BBC, os textos atraíram inúmeros leitores estrangeiros, chegando ao topo da lista de mais lidas do jornal britânico The Telegraph. Para a agência de notícias BBC, as reportagens foram traduzidas e publicadas fora do contexto. As fotos da reportagem foram retiradas do Facebook da Comunidade de uma festa à fantasia e de uma reportagem feita por uma rede de televisão. (Anexo 3)

A resposta da comunidade veio por meio de sites no Brasil (BBC 2014):3

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O pequeno distrito de Noiva do Cordeiro, a 100 km de Belo Horizonte (Minas Gerais), andou causando frisson na imprensa estrangeira --mas as reportagens não falavam sobre a criação de gado ou a produção artesanal de roupas pela cooperativa local.

Em pelo menos três jornais britânicos, sites de notícias em inglês, além de veículos turcos, tailandeses, norte- americanos, italianos e indianos, o vilarejo foi descrito como terra natal de "600 mulheres exóticas e solteiras", todas entre "20 e 25 anos", que teriam criado uma campanha para atrair homens e reverter a escassez masculina na região.

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Em uma reportagem à revista Época, Rosalee, filha de Dona Delina, afirma que “elas não estão desesperadas e que não sabe como surgiu a lenda das solteiras a procura de marido.” Segundo Élida, moradora da Comunidade “Aqui não recebemos ordens de ninguém”. “Somos mulheres livres.” (Korte 2015: 25)

Os homens de Noiva do Cordeiro não parecem incomodados pela supremacia feminina local. Paulo Fernandes da Silva, de 75 anos, diz que é do tempo em que as mulheres não tinham voz: “Tenho orgulho de ver essa evolução. Antes, as mulheres sofriam por não ter direito à palavra.” (Korte 2015: 25).

Percebendo que a representação política era outro importante passo, lançaram a candidatura de uma vereadora da comunidade. Perceberam que o número de eleitores da comunidade viabilizaria a eleição. Segundo o relato das moradoras, a campanha foi muito violenta. Contam que chegou um carro com homens querendo violentar as mulheres da comunidade. Rosalee Fernandes é quem representa a comunidade na Câmara de vereadores de Belo Vale, única mulher entre os nove vereadores eleitos para a legislatura 2013-2016; ela já tinha sido vereadora na gestão 2005-2008.

Segundo relato de Keila, “foi no momento que nós percebemos que desde 1999, a gente pelejava para conseguir as coisas, que nós queríamos crescer, mas tudo era com muita dificuldade, que a Rosa, tentava buscar um curso aqui e outro ali, mas sempre com muita dificuldade é que nós resolvemos colocar Rosa lá. (Na Câmara de vereadores do município). A vida inteira ela lutou para a coisa acontecer ela vai atrás e não desiste não.”

O projeto cultural é outro elemento de destaque dessa comunidade, que ganha respeito e se afirma como referência multiplicadora de arte na região. Hoje, com 32 artistas

"Cidade no Brasil composta inteiramente por mulheres fez apelo por solteiros (mas só os que querem seguir regras femininas!)", diz manchete do Mail Online

Manchetes como "Habitat de Beldades em Busca de Homens" e "Lugar Exclusivamente Ocupado por Garotas de Extrema Beleza Quer Atrair Maridos" deixaram alguns leitores estrangeiros curiosos --a ponto de chegar ao topo da lista de mais lidas do jornal britânico "The Telegraph".

Um dos jornalistas internacionais por trás das reportagens insistiu no Twitter que seu texto foi baseado em uma entrevista feita por ele em pessoa.

Mas a BBC Brasil conversou com três moradores do povoado, e eles garantiram que as reportagens publicadas no exterior não têm fundamento.

A população de Noiva do Cordeiro, segundo eles, não é composta por "600 solteiras", mas por aproximadamente 300 pessoas, homens e mulheres, em proporção similar.

Elas não têm "entre 20 e 25 anos" --são crianças, adolescentes, mães e idosas. E principalmente: não

há campanha alguma em busca de maridos. http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/08/29/interna_gerais,563566/mulheres-do-distrito-de-noiva-

do-cordeiro-regiao-central-de-minas-sao-alvo-de-boato-internacional.shtmlpostado em 29/08/2014 08:39 / atualizado em 29/08/2014 10:38 Estado de Minas.(Consultado em: 16/10/2014)

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qualificados por oficinas de dança, teatro e música, Noiva do Cordeiro Show, fundado em família, cumpre agenda intensa em projeto itinerante de inclusão social. Uma dupla de música sertaneja também se formou na comunidade, Márcia e Mateus, inclusive com gravação de CDs e shows.

Keila, em entrevista à investigadora afirma: “Nossa cultura surgiu do isolamento, como não tínhamos outra coisa para fazer nas horas de lazer, começamos a fazer teatro e apresentações musicais para o nosso entretenimento.”

A construção de um centro cultural, projeto de Raul Belém Machado e Mariluce

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