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Capítulo 2 _Estudos Culturais, Mídias, Cultura, Construção do Sujeito, Exclusão e

2.7 A Questão de Gênero

Outro conceito importante é o de gênero. As mulheres não apenas representam a maioria da comunidade, como também foram as principais protagonistas de toda esta história. É possível perceber, também, que são elas que estão na liderança, e em todos os principais projetos da comunidade.

O conceito de gênero é parte do intercâmbio interdisciplinar entre a antropologia e a história, e faz parte das questões expostas e estudadas sobre a história das mulheres, tirando, assim, o véu da invisibilidade das mulheres como sujeitos históricos. Suely Gomes Rosa refere que “o conceito contém um conjunto de configurações do político, saídas das tensões e conflitos, mas também de consentimentos que marcam experiências do dia a dia entre homens e mulheres” (2003: 188).

Pesquisas sobre a história das mulheres se multiplicaram na década de 1970 e 1980, intimamente relacionadas com o movimento feminista. Outra importante mudança no conceito de gênero é o de pensar o masculino em relação ao feminino e vice-versa. Até então, as relações entre masculino e feminino traduziam uma tensão entre algoz e vítima. Para analisar as questões de gênero, outros elementos devem ser incorporados e não devem ser analisados separadamente, pois atuam de forma significativa na legitimação dos sistemas de poder e de subordinação. São eles as diferenças de idade, de cor da pele, de nacionalidade, de culturas, de religiosidades, de situações de pobreza e de riqueza. Essa visão de gênero como relacional representa um avanço, pois as análises consideram o contexto em que homens e mulheres estão inseridos.

A década de 1990 promoveu grandes avanços em relação à questão das desigualdades entre homens e mulheres. Ocorreu uma desvalorização do esquema de subordinação do feminino ao masculino, enfraquecendo, assim, a figura de mulher dominada e vítima. Os velhos estereótipos perderam a sua força devido à evolução advinda da educação e da circulação de novos modelos femininos nos meios de comunicação.

A expressão vem sendo cada vez mais utilizada dentro de uma perspectiva cultural em que homens e mulheres são analisados com base nas suas relações sociais vinculadas às distintas relações de poder. Os que defendem essa interpretação afirmam que homens e

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mulheres são educados para agir e comunicar de forma diferenciada. Esse enfoque acaba por valorizar demasiadamente a diferença, homogeneizando, de certa forma, a cultura feminina.

Como o conceito foi incorporado pelas mais variadas disciplinas do conhecimento, cada uma deu ao conceito a sua especificidade. As diferentes leituras sobre a questão de gênero são analisadas por Cláudia Costa:

-Gênero como uma variável Binária: Por essa perspectiva os pesquisadores “frequentemente buscavam correlações estatísticas entre o gênero e o interlocutor e determinadas características linguísticas com a finalidade de isolar aquelas dimensões da fala que diferenciam a linguagem do homem e da mulher” (1994: 144).

- Gênero como Papéis Dicotomizados: “Alguns teóricos ao invés de compreenderem o homem como opostos e dicotomizados ou como atributos individuais, preferiram enfatizar o caráter social do gênero conceitualizando-o, assim como papéis que os indivíduos assumem na sociedade” (1994:147).

- Gênero como uma Variável Psicológica: Esses teóricos “desenvolveram um instrumento em que as diferenças entre masculinidade e feminilidade constituiriam mais uma questão de grau do que de oposição” (1994: 150).

Costa conclui que “o gênero como força ou orientação psicológica, continuou fundamentando noções tradicionais de masculinidade e feminilidade e terminou por reificar ainda mais esta mesma distinção a que se propunha dissolver” (1994: 152).

- Gênero como Tradução de Sistemas Culturais: Conforme essa análise, as experiências femininas e masculinas, ligadas ao processo de educação, são diferenciadas, levados a agir e comunicar e formas distintas e são ensinados a terem direitos e deveres diferentes. “o discurso sobre 'mundos separados' põe demasiada ênfase na diferença, negligenciando as importantes semelhanças entre os seres humanos” (1994: 155).

- Gênero como Relacional: Para Costa, esse enfoque é considerado “o mais frutífero não só para o estudo da linguagem e gênero, mas das interações sociais como um todo. Seu ponto de partida não é o indivíduo e nem os seus papéis, mas o sistema social de relacionamentos dentro do qual os interlocutores se situam” (1994: 158). A pluralidade desse enfoque permite ampliar as categorias de gênero. Para homossexuais, transexuais e bissexuais “os gêneros passam a ser entendidos como processos também moldados por escolhas individuais e por pressões situacionais, compreensíveis somente no contexto da interação social” (1994: 161).

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Apesar das diferentes análises e de todas as conquistas, numerosos estudos demonstram a persistência de profundas desigualdades entre os gêneros, desigualdade econômica e de acesso aos postos de decisão e poder. Entre os casais, a partilha de tarefas está longe da igualdade. Em relação à participação política, a pouca participação das mulheres ainda é uma evidência.

A temática das desigualdades parece situar-se em um segundo plano em relação à temática de identidade. A construção da identidade e o desenvolvimento pessoal são hoje uma prioridade. A perspectiva atual das mulheres é de recusar os papéis que lhes atribuem, preferindo postular o reconhecimento de sua própria identidade e de suas diferenças.

Várias pesquisas mostram que os estereótipos sexuais, conjunto de traços que caracterizam homens e mulheres, influenciam o nosso modo de pensar. São as chamadas prisões de gênero. Um mesmo comportamento é geralmente julgado diferentemente, conforme seja atribuído a um homem ou a uma mulher. Em uma situação idêntica, será colocado ao homem como “prudente e cuidadoso” e a mulher será qualificada como pouco “corajosa ou tímida”.

Os estudos culturais conduzem à ideia de gênero dentro de uma perspectiva de dualidade masculino e feminino; a importância da pesquisa de gênero permitiu o fortalecimento e a construção de novas bases teóricas para a análise da sociedade, pois numa sociedade em constantes transformações, as discussões de gênero acabam por promover novas produções investigativas, abrindo caminho para uma maior visibilidade das práticas sociais e políticas das mulheres.

O movimento feminista com a perspectiva de análise sobre a variável gênero contribuiu para o desenvolvimento da perspectiva dos estudos culturais. Hall afirma que o feminismo promoveu uma ruptura teórica decisiva:

A intervenção do feminismo foi específica e decisiva para os estudos culturais (bem como para muitos outros projetos teóricos). Introduziu uma ruptura. Reorganizou o campo de maneiras bastante concretas. Primeiro, a proposição da questão do pessoal como político – e suas consequências para a mudança do objeto de estudo nos estudos culturais - foi completamente revolucionário em termos teóricos e práticos. Segundo, a expansão radical da noção de poder, que até então tinha sido fortemente desenvolvida dentro do arcabouço da noção do público, do domínio público, com o resultado de que o termo poder – tão central para a problemática anterior da hegemonia-não pôde ser utilizado da mesma maneira. Terceiro, a centralidade das questões de gênero e sexualidade para a compreensão do próprio poder. Quarto, a abertura de muitas questões que julgávamos ter abolido da área perigosa do subjetivo e do sujeito, colocando essas questões no centro dos estudos culturais como prática teórica. Quinto, a reabertura da “fronteira fechada” entre a teoria social e a teoria do inconsciente- a psicanálise.

Sabe-se que aconteceu, mas não se sabe quando nem onde se deu o primeiro arrombamento do feminino. Uso a metáfora deliberadamente; chegou como um ladrão à noite, invadiu; interrompeu, fez um barulho inconveniente, aproveitou o momento,

64 cagou na mesa dos estudos culturais.O título do volume em que este ataque de surpresa

primeiro se realizou- Women Take Issue –é ilustrativo:pois as mulheres não só tomaram conta do livro publicado naquele ano,como também iniciaram uma querela.Mas quero lhes dizer algo mais sobre o que aconteceu.Dada a importância crescente do trabalho intelectual feminista,bem como dos primórdios do movimento feminista no início da década de 70, muito de nós no Centro – na maioria homens,é claro – pensamos que fosse o momento de introduzir trabalho feminista de qualidade nos estudos culturais.E tentamos realmente atraí-lo, importá-lo, fazendo boas propostas intelectuais feministas de peso.Como seria de se esperar,muitas das mulheres nos estudos culturais não estavam interessadas neste projeto ‘magnâmino. Abríamos a porta aos estudos feministas como bons homens transformados. E, mesmo assim,quando o feminino arrombou a janela,todas as resistências, por mais insuspeitas que fossem, vieram à tona- o poder patriarcal plenamente instalado, que acreditara ter-de desautorizado a si próprio (2008: 196).

Segundo Scott, o conceito de gênero deve ser analisado enquanto relação entre os sexos, o gênero dá significado às distinções entre os sexos. Se existem diferenças biológicas entre os sexos, não são essas diferenças que determinam a desigualdade entre homens e mulheres. Segundo a autora, o conceito de gênero foi desenvolvido no contexto de luta dos movimentos sociais e políticos das décadas de 1960 e 1970. É nesse momento que surge a noção de que os atributos feminino e masculino são legados por meio de discursos e representações sociais e culturais promovendo, assim, diferentes posições do sujeito e de formação de sua identidade. O conceito foi elaborado como forma de rejeição ao determinismo biológico incrustado nos termos sexo e diferença sexual. Scott debruça – se sobre o conceito:

No seu uso mais recente, o “gênero” parece ter aparecido primeiro entre as feministas americanas que queriam insistir no caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição ao determinismo biológico implícito no uso de termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O gênero sublinhava também o aspecto relacional das definições normativas das feminilidades. As que estavam mais preocupadas com o fato de que a produção dos estudos femininos centrava-se sobre as mulheres de forma muito estreita e isolada, utilizaram o termo “gênero” para introduzir uma noção relacional no nosso vocabulário analítico. Segundo esta opinião, as mulheres e os homens eram definidos em termos recíprocos e nenhuma compreensão de qualquer um poderia existir através de estudo inteiramente separado (Scott 1995: 3).

Para Meyer (2003), essa vertente afasta-se daquelas que tratam o corpo como uma entidade biológica universal. O conceito de gênero passa a englobar todas as formas de construção social, cultural e linguística implicadas com os processos que diferenciam mulheres de homens, incluindo aqueles processos que produzem seus corpos, distinguindo- os e separando-os como corpos dotados de sexo, gênero e sexualidade (2003: 16).

Meyer salienta que os gêneros são construções desenvolvidas ao longo da vida, por meio de múltiplos processos, estratégias e práticas culturais estabelecidas, primeiramente,

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pela família e pelas diferentes instâncias sociais como escola, mídia, religião, entre outras nos constituímos como homens e como mulheres, num processo não linear e que nunca está acabado e, como toda a construção social, existem muitas e conflitantes formas de viver o feminino e do masculino. Meyer descreve a complexidade das construções de gênero:

Exatamente porque o conceito de gênero enfatiza essa pluralidade e conflitualidade dos processos pelos quais a cultura constrói e distingue corpos e sujeitos femininos e masculinos, torna-se necessário admitir que isso se expressa pela articulação de gênero com outras “marcas” sociais, tais como classe, raça/etnia, sexualidade, geração, religião, nacionalidade. É necessário admitir também que cada uma dessas articulações produz modificações importantes nas formas pelas quais feminilidades ou as masculinidades são, ou podem ser, vividas e experiência das por grupos diversos, dentro dos mesmos grupos ou, ainda, pelos mesmos indivíduos, em diferentes momentos de sua vida (2003: 17).

Esse conceito de gênero irá promover uma ressignificação das análises que estejam assentadas sobre a ideia reduzida de atributos de mulher e de homem, permitindo a aproximação de uma abordagem mais ampla. A novidade trazida pelo conceito de gênero consiste em pensar o masculino em relação ao feminino e vice-versa e não apenas dentro de uma perspectiva de algoz e vítima/ masculino e feminino.

Scott afirma que:

Ademais, o gênero é igualmente utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biológicas, como aquelas que encontram um denominador comum para várias formas de subordinação no fato de que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma força muscular superior. O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais” – a criação inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres.

O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado Com a proliferação dos estudos do sexo e da sexualidade, o gênero se tornou uma palavra particularmente útil, porque ele oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis atribuídos às mulheres e aos homens. Apesar do fato dos (as) pesquisadores (as) reconhecerem as relações entre o sexo e (o que os sociólogos da família chamaram) “os papéis sexuais”, estes (as) não colocam entre os dois uma relação simples ou direta. O uso do “gênero” coloca a ênfase sobre todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas que não é diretamente determinado pelo sexo nem determina diretamente a sexualidade (1995: 7-8).

Entre as décadas de 1970 e 1980, os estudos acadêmicos ligados à disciplina “História das Mulheres” promoveu um crescente desvendamento de mulheres de outros segmentos sociais como sujeitos históricos e, ao mesmo tempo, expôs a complexidade das

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relações entre a esfera pública e privada. No Brasil, na década de 1990, há uma grande contribuição da história social da cultura para a questão de gênero:

Os estudos sobre práticas e representações sociais têm auxiliado a desvendar a naturalização dos chamados sistemas de dominação, abrindo novas e férteis vertentes analíticas sobre as tensões entre individual e o coletivo, a transgressão e a obediência, os consentimentos. A cada passo, as relações entre o masculino e o feminino seriam percebidos como um objeto de muitos recortes; as esferas públicas e privadas, como um campo uno e entrelaçado de tensões de muitas nuances, de tons, semitons,entrevistos,aqui e ali. Essa história tem, então, um recomeço, marcado por outro patamar de consciência de homens e mulheres, de consciência de gênero (Costa 2003:195).

Divergências e impasses no conceito de gênero ainda permanecem; as análises passam a reconhecer e perceber os desafios metodológicos e teóricos quanto à articulação da história das mulheres à história social e aos movimentos feministas:

Os (as) historiadores (as) feministas utilizaram toda uma série de abordagens nas análises do gênero, mas estas podem ser resumidas em três posições teóricas. A primeira, um esforço inteiramente feminista que tenta explicar as origens do patriarcado. A segunda se situa no seio de uma tradição marxista e procura um compromisso com as críticas feministas. A terceira, fundamentalmente dividida entre o pós-estruturalismo francês e as teorias anglo-americanas das relações de objeto, inspira- se nas várias escolas de psicanálise para explicar a produção e a reprodução da identidade de gênero do sujeito (Scott 1995: 9).

Segundo Scott a categoria de gênero, desenvolvida na década de 1980, foi utilizada como uma estratégia acadêmica para garantir legitimidade e ao mesmo tempo dissociar-se da política ligada ao feminismo. O termo gênero apontaria para uma noção de construção cultural e papéis sociais:

No seu uso recente mais simples, “gênero” é sinônimo de “mulheres”. Livros e artigos de todo o tipo, que tinham como tema a história das mulheres substituíram durante os últimos anos nos seus títulos o termo de “mulheres” pelo termo de “gênero”. Em alguns casos, este uso, ainda que referindo-se vagamente a certos conceitos analíticos, trata realmente da aceitabilidade política desse campo de pesquisa. Nessas circunstâncias, o uso do termo “gênero” visa indicar a erudição e a seriedade de um trabalho porque “gênero” tem uma conotação mais objetiva e neutra do que “mulheres”. O gênero parece integrar-se na terminologia científica das ciências sociais e, por consequência, dissociar-se da política – (pretensamente escandalosa) – do feminismo. Neste uso, o termo gênero não implica necessariamente na tomada de posição sobre a desigualdade ou o poder, nem mesmo designa a parte lesada (e até agora invisível).

Enquanto o termo “história das mulheres” revela a sua posição política ao afirmar (contrariamente às práticas habituais), que as mulheres são sujeitos históricos legítimos, o “gênero” inclui as mulheres sem as nomear, e parece assim não se constituir em uma ameaça crítica. Este uso do “gênero” é um aspecto que a gente poderia chamar de procura de uma legitimidade acadêmica pelos estudos feministas nos anos 1980.

Mas isso é só um aspecto. “Gênero”, como substituto de “mulheres”, é igualmente utilizado para sugerir que a informação a respeito das mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um implica no estudo do outro. Este uso insiste na

67 ideia de que o mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens, que ele é criado

dentro e por esse mundo. Esse uso rejeita a validade interpretativa da ideia das esferas separadas e defende que estudar as mulheres de forma separada perpetua o mito de que uma esfera, a experiência de um sexo, tem muito pouco ou nada a ver com o outro sexo (Scott 1995: 7-8).

Segundo Meyer (2003), a importância dos Estudos Feministas, no âmbito acadêmico, foi o desenvolvimento de discussão de temas antes tidos como secundários, tais como família, sexualidade e trabalho doméstico, até então considerados pouco importantes no cenário teórico. Pode-se perceber também que estudiosas feministas têm desenvolvido trabalhos procurando estabelecer a categoria de gênero com outras categorias. Os estudos e as pesquisas recentes em torno dessa temática procuram articulá-la com outras categorias tais como geração, raça, etnia, classe social, entre outras. A articulação com outras categorias possibilita a proliferação de vários estudos que contribuem com a teorização acerca do conceito e das relações de gênero.

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CAPÍTULO 3

ARTESANATO E INDÚSTRIA CRIATIVA

O artesanato, como atividade econômica de inclusão social, mostrou-se um fator importante para o enriquecimento e fortalecimento da identidade da Comunidade Noiva Do Cordeiro. Segundo pesquisa do IBGE, o artesanato aparece como a principal atividade artística nos municípios e como uma das mais importantes manifestações culturais brasileiras seguidas em boa parte por atividades ligadas à música e à dança (IBGE 2013).

Um dos desafios trazidos, a princípio, pela industrialização e atualmente pela globalização é o de tirar o trabalho artesanal da categoria complemento de renda, subemprego e remuneração média inferior o de todas as outras atividades culturais.

Recuperando o processo histórico do aprendizado e formação do artesão na história brasileira, identificam-se três origens: primeiro, por tradição familiar, a tradição pode estar na família há muitas gerações; segundo, por tradição da comunidade, geralmente associado às tradições culturais que acompanharam a história da comunidade e, em terceiro, a capacitação por freiras, transmitidas principalmente em bordados, crochês e tricô, ensinadas durante anos, na educação das meninas e disseminadas em todo o território brasileiro.

A economia criativa, que segundo Machado “tem sua origem na habilidade, criatividade e talentos individuais que, empregados de forma estratégica, têm potencial para a criação de renda e empregos por meio da geração e exploração da propriedade intelectual (PI)” (2012:92) contribuiu muito para maior desenvolvimento da Comunidade.

Ana Carla Reis (2008) salienta a diferença entre indústrias culturais e indústrias criativas:

Hoje, a “criatividade” é aclamada como o recurso-chave e adquiriu esse status à medida que a terminologia se afastou da ideia de “indústrias culturais,” conforme usada pela primeira vez na França e na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), no final da década de 1970 e, depois, com mais visibilidade internacional, foi utilizada pelo Conselho da Grande Londres (Greater London Council), no começo da década de 1980 (HESMONDHALGH, 2006). Os analistas dessa mudança discursiva chamaram a atenção, entre outras coisas, para o fato de que as “indústrias culturais” incluíam as artes e o patrimônio (inclusive o turismo cultural), e o artesanato (às vezes excluídos da abrangência das indústrias criativas), vistos dentro de uma agenda econômica e de uma de benefícios econômicos e sociais: as artes subsidiadas com ênfase adicional nas práticas das artes aplicadas em campos como

69 a regeneração urbana, a formação de plateia, o desenvolvimento comunitário e afins. A

categoria “tendeu a ser uma concatenação das artes e da mídia estabelecida do setor público, de grande escala ou comercial”, desenvolvidas principalmente para os Estados- nação, em torno das culturas dos mesmos”. (CUNNINGHAM, 2001). A categoria das “indústrias criativas” se cristalizou mais tarde em torno das novas tecnologias e também

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