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4 ABORDAGEM DA (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO ART 290, DA

4.1 O benefício do art 290, da Lei nº 6.015/73

4.1.1 Análise da redação do art 290, da Lei nº 6.015/73

O artigo 290, da Lei nº 6.015/73, apresenta-se, atualmente, do seguinte modo:

Art. 290. Os emolumentos devidos pelos atos relacionados com a primeira aquisição imobiliária para fins residenciais, financiada pelo Sistema Financeiro da Habitação, serão reduzidos em 50% (cinqüenta por cento). (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981)

§ 1º. O registro e a averbação referentes à aquisição da casa própria, em que seja parte cooperativa habitacional ou entidade assemelhada, serão considerados, para efeito de cálculo, de custas e emolumentos, como um ato apenas, não podendo a sua cobrança exceder o limite correspondente a 40% (quarenta por cento) do Maior Valor de Referência. (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981)

§ 2º. Nos demais programas de interesse social, executados pelas Companhias de Habitação Popular – COHABs ou entidades assemelhadas, os emolumentos e as custas devidos pelos atos de aquisição de imóveis e pelos de averbação de construção estarão sujeitos às seguintes limitações: (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981)

a) imóvel de até 60 m² (sessenta metros quadrados) de área construida: 10% (dez por cento) do Maior Valor de Referência; (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981) b) de mais de 60 m² (sessenta metros quadrados) até 70 m² (setenta metros quadrados) de área construída: 15% (quinze por cento) do Maior Valor de Referência; (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981)

c) de mais de 70 m² (setenta metros quadrados) e até 80 m² (oitenta metros quadrados) de área construída: 20% (vinte por cento) do Maior Valor de Referência. (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981)

§ 3º. Os emolumentos devidos pelos atos relativos a financiamento rural serão cobrados de acordo com a legislação federal. (Redação dada pela Lei nº 6.941, de 1981)

§ 4º. As custas e emolumentos devidos aos Cartórios de Notas e de Registro de Imóveis, nos atos relacionados com a aquisição imobiliária para fins residenciais, oriundas de programas e convênios com a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, para a construção de habitações populares destinadas a famílias de baixa renda, pelo sistema de mutirão e autoconstrução orientada, serão reduzidos

ocasionado pela inexistência de qualquer mecanismo de financiamento para aquisição da casa própria.” LIMA, Maurício Godoi Amaral. O Sistema de Financiamento Imobiliário Residencial no Brasil e suas tendências. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis e Atuariais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.

106 A Lei nº 10.169/00 definiu que os Estados e Distrito Federal levassem em conta a natureza pública e o caráter social dos serviços notariais e de registro a serem prestados pelas serventias extrajudiciais. Com isso, é possível vislumbrar que o reconhecimento da natureza jurídica de taxa dos emolumentos apresenta repercussão, também, na necessidade de justiça fiscal da exação, que se consubstancia, nessa oportunidade, através da análise da capacidade contributiva do usuário do serviço.

para vinte por cento da tabela cartorária normal, considerando-se que o imóvel será limitado a até sessenta e nove metros quadrados de área construída, em terreno de até duzentos e cinqüenta metros quadrados. (Incluído pela Lei nº 9.934, de 1999) § 5º. Os cartórios que não cumprirem o disposto no § 4º ficarão sujeitos a multa de até R$ 1.120,00 (um mil, cento e vinte reais) a ser aplicada pelo juiz, com a atualização que se fizer necessária, em caso de desvalorização da moeda. (Incluído pela Lei nº 9.934, de 1999)

A redação do diploma deve ser interpretada em sua literalidade, bastando se ater aos termos consignados na Lei. Isso deflui da lógica existente nos diplomas que excepcionam a regra, como é o caso das isenções, haja vista que sua interpretação deverá sempre se restringir ao que vem presente na Lei, não se admitindo interpretação extensiva107.

No caput do artigo, tem-se que a concessão da redução dos emolumentos em 50% (cinquenta por cento) incidirá sobre os casos em que estiverem presentes três requisitos, sendo: I) a necessidade de ser referente à primeira aquisição imobiliária; II) o imóvel deve ter fim residencial; III) o financiamento deve ser realizado pelas instituições vinculadas ao Sistema Financeiro de Habitação.

Dando continuidade, o §1º estabelece que o registro e a averbação dos atos relacionados a aquisição da casa própria, nos quais intervenham cooperativa habitacional ou

assemelhada, serão considerados como um ato apenas, “para efeito de cálculo, de custas e emolumentos”, “não podendo a sua cobrança exceder o limite correspondente a 40% (quarenta por cento) do Maior Valor de Referência”108.

Ressalta-se, ainda, que embora o dispositivo em apreço se refira à limitação de valores, é possível enxergar que a norma acaba por isentar os valores que venham a ultrapassar a porcentagem limite. Assim, tem-se que a isenção desse parágrafo está relacionado à quantia excedente do valor limite. Algo semelhante ocorre, também, no parágrafo segundo do mesmo artigo, como se verá a seguir.

No §2º, tem-se que “nos demais programas sociais”, ou seja, aqueles casos não contemplados pelo caput e §1º do artigo em comento, “executados pelas Companhias de Habitação Popular – COHABs ou entidades assemelhadas”, haverá limitação, de 10% (dez por cento) a 20% (vinte por cento) do Maior Valor de Referência, na cobrança dos

107 O próprio CTN prevê, expressamente em seu art. 111, I e II, que a interpretação de exclusão do crédito tributário e de outorga de isenção se dará sempre pela literalidade da legislação que instituiu tais benefícios. 108Segundo Melo Jr., o “Maior Valor de Referência” é medida que não existe mais em nosso ordenamento. As grandezas que teriam por base essa unidade estariam dividas em dois grupos: o primeiro que converta a unidade em UFIR, o qual é aplicável nos casos ocorridos até a data de 21 de julho de 2012, dia anterior a entrada em vigor da Lei nº 10.522; e o segundo grupo onde a unidade será convertida nos valores da taxa SELIC, que se inicia a partir do dia 22 de julho de 2012, dia da entrada em vigor da Lei nº 10.522. MELO JÚNIOR, Regnoberto Marques de. Lei de Registros Públicos comentada. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2003, p. 668.

emolumentos e custas devidos nos atos de aquisição e averbação de imóvel, em razão da área do imóvel. Resume Melo Jr109 do seguinte modo:

[...] Os emolumentos, como se dizia, serão fixados somando-se os valores correspondentes, constantes da tabela de emolumentos, corrigindo-os pela SELIC, e, após essa correção, reduzindo-os de dez a vinte por cento, conforme alíneas ‘a’ e ‘c’ deste § 2º [do art. 290, da Lei 6.015/73], que tomam por fundamento o perímetro da área construída

O parágrafo terceiro disciplina que os emolumentos decorrentes dos atos relacionados à aquisição de imóveis rurais financiados pelos programas de habitação serão cobrados em conformidade com a legislação federal110.

Quanto ao § 4º, tem-se que a sua redação disciplina uma redução de 20% (vinte por cento), em razão de dimensões do imóvel, das custas e emolumentos que derivam dos atos relacionados à aquisição de imóveis, com fins também residenciais, advindo de programas ou

convênios dos entes federados, “para a construção de habitação populares pelo sistema de mutirão e autoconstrução”.

A Lei nº 10.188/01, originária da MP nº 1.823-1, de 27 de maio de 1999, instituiu um “Programa de Arrendamento Residencial”111destinado ao “atendimento da necessidade de moradia da população de baixa renda, sob a forma de arrendamento residencial com opção de

compra”. Tratava-se, pois, de uma forma de “programa” para a “construção de habitações populares destinadas a famílias de baixa renda” já prevista no § 4º, do art. 290, da Lei nº

6.015/73.

Nesse contexto, a Lei nº 10.150/00, através de seu art. 35, passou a disciplinar

uma redução de emolumentos em 50% (cinquenta por cento) de “todos os atos de que trata a Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, relacionados” à “Programa de Arrendamento Residencial”. Desse modo, o § 4º, do art. 290, da Lei 6.015/73 fora derrogado tacitamente,

pelo art. 35 da Lei nº 10.150/00, por ter parte de sua matéria regulamentada pelo novel diploma, restando o valor do benefício de redução fixado por esta norma, em detrimento daquela.

109 MELO JÚNIOR, Regnoberto Marques de. Lei de Registros Públicos comentada. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2003, p. 669.

110 Vide Decreto-lei nº 167, de 14 de fevereiro de 1967, Arts. 30 à 38. 111 Vide Lei nº 10.188, de 12 de fevereiro de 2001.

Por fim, o parágrafo quinto112 fixa multa, a ser aplicada pelo juiz corregedor, aos agentes delegatários responsáveis pelas Serventias Extrajudiciais que descumprirem o parágrafo anterior do mesmo artigo, o qual passou a ter o seu valor fixado pelo art. 35, da Lei nº 10.150/00, conforme apresentado.

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