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A atividade desempenhada pelas Serventias Extrajudiciais é de grande importância à coletividade. Em seu mister de garantir aos atos jurídicos a publicidade, a autenticidade, a segurança e a eficácia que lhes sejam imprescindíveis, os notários e registradores, auxiliam o Poder Público ao prestar um serviço que poderia a este ser atribuído, não o sendo por expressa redação da Constituição Federal. Os notários e tabeliães se inserem na qualidade de agentes públicos, mais especificamente sob a forma de particulares em colaboração.

Como mecanismo de contraprestação dos serviços desempenhados por estes agentes, o ordenamento jurídico pátrio prevê o recolhimento de emolumentos, os quais serão devidos pelos usuários dos serviços. Os emolumentos extrajudiciais deverão ser convertidos no custeio de todo o serviço prestado ao particular, levando-se em conta, inclusive a remuneração a ser percebida pelo notário ou registrador, responsável pela serventia.

Disciplinado sua fixação e cobrança, a Constituição Federal estabeleceu que cabe à União legislar em normas gerais sobre os emolumentos extrajudiciais, restando aos Estados e Distrito Federal a possibilidade, tão somente, de regulamentar, de modo específico, sobre tais encargos.

Assumido o caráter de contraprestação desse serviço público de delegação obrigatória, os emolumentos extrajudiciais passaram a ser compreendidos como uma forma de tributo, mais especificamente na modalidade de taxas por serviços públicos. É nesse sentido que vêm se manifestando o Supremo Tribunal Federal e grande parte da doutrina.

Desse modo, ao ser atribuído aos emolumentos a natureza jurídica de taxas, os princípios e as limitações a estes impostos serão, também, aplicáveis àqueles. Ao se instituir uma nova cobrança de emolumentos, por exemplo, deverão ser observados os princípios da anterioridade e da noventena para a sua cobrança. Portanto, são cabíveis aos emolumentos institutos legais próprios dos tributos, em especial das taxas, como é o caso da isenção.

A isenção, que deve se dá sempre por lei, é uma forma de exclusão do crédito tributário, por obstar a formação deste ao retirar parte da hipótese de incidência da norma tributante. Segundo o Supremo Tribunal Federal, trata-se de dispensa legal do tributo. Quanto ao instituto das isenções, a Constituição Federal 1988 é clara ao vedar, em seu art. 151, III, a concessão de isenção por ente político diverso daquele responsável por instituir o tributo a ser alvo da medida isentiva, em um fenômeno conhecido por isenção heterônoma dos tributos.

O benefício da redução de emolumentos previsto no art. 290, da Lei nº 6.015/73, configura hipótese de isenção dessa modalidade de exação. O artigo em comento é alvo de críticas ao ser questionado sobre o modo específico como é disciplinado. É válida tal contestação, haja vista que a redação da norma apresenta um campo bem restrito de possibilidades de incidência, o que desvirtua a competência normativa da União em legislar sobre os emolumentos através de normas gerais.

No entanto, questionamento que se torna mais pertinente reside no fato de que tal o diploma poderia estar em dissonância com a vedação à isenção heterônoma prevista na Constituição Federal 1988.

A Lei nº 6.015/73 foi elaborada sob a égide da Constituição Federal de 1967, a qual expressamente previa a possibilidade da concessão de isenção heterônoma. Contudo, com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o instituto da isenção heterônoma tornou-se incompatível com a nova ordem constitucional instituída.

Os diplomas legais que não se amoldaram às novas disposições constitucionais não foram recepcionados pela nova CF. É o caso que se vislumbra no art. 290, da Lei nº 6.015/73, por ser norma federal que vem a versar sobre caso de isenção de exação estadual ou distrital, qual seja os emolumentos.

Embora caiba à União legislar, também, sobre os emolumentos extrajudiciais, tem-se que tal competência se restringe ao estabelecimento de normas gerais, tendo sido, inclusive, já efetivada com a elaboração da Lei nº 10.169/00. A fixação e a regulamentação específica cabem aos Estados e ao Distrito Federal.

Ademais, a União violou a vedação da isenção heterônoma do art. 151, III, da Constituição Federal de 1988. A competência em fixar normas isentivas decorre do binômio

“instituir-isentar”. Assim, como cabe aos Estados e ao Distrito Federal instituírem e fixarem

os emolumentos, só a estes caberiam, também, a regulamentação de normas que concedessem isenções sobre as exações em comento.

A fim de reforçar tal competência dos Estados e do Distrito Federal em legislarem sobre isenções, é oportuno destacar que a norma isentiva é exceção à regra tributária. Sendo, pois, exceção apresenta-se como caso específico. Assim, de igual modo não poderia a União legislar nos termos do art. 290, da Lei nº 6.015/73.

Ressalte-se que o benefício preceituado no epigrafado artigo é louvável, uma vez que fomenta e facilita o acesso da população, em especial a mais carente, à moradia. No

entanto, a União, na nova ordem constitucional estabelecida, não seria mais competente para disciplinar desse modo.

Caberia, pois, aos Estados e ao Distrito Federal, no intuito de garantir a justiça fiscal, também atinente aos tributos, legislarem no sentido apresentado pelo art. 290, da Lei de Registros Públicos. Assim, ter-se-ia conservado o interesse social galgado pela norma; bem restariam obedecidas as disposições constitucionais ora vigentes.

Portanto, tem-se que o art. 290, da Lei nº 6.015/73, não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, haja vista que a União não pode instituir isenção heterônoma, bem como disciplinar sobre os emolumentos de forma específica, como foi o caso da norma em apreço. Assim, para ser possível o estabelecimento do benefício ventilado em tal dispositivo, caberá aos Estado e ao Distrito Federal legislarem nesse sentido.

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