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3. CAMINHO METODOLÓGICO

3.5 Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada através do Discurso do Sujeito Coletivo – DSC, o qual permitiu resgatar um “pensar” ou a representação social de indivíduos ou grupo, por meio de discursos ou trechos de discursos individuais (LEFEVRE e LEFEVRE, 2005).

A partir das transcrições, as entrevistas foram organizadas da seguinte forma:

• Foram extraídas de cada depoimento as diferentes (porém complementares) Expressões-chave (ECH) e suas respectivas Idéias Centrais (IC). Para Lefevre e Lefevre (2005), as expressões chave são transcrições literais de parte dos depoimentos e permitem o resgate do essencial do conteúdo discursivo e as IC são definidas como um nome ou expressão lingüística que revela e descreve da maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível o sentido das afirmações específicas presentes em cada um dos discursos analisados e em cada conjunto homogêneo de ECH, conjunto esse que vai dar origem, posteriormente ao DSC; em seguida, foram identificadas com letras do alfabeto as Idéias Centrais iguais ou equivalentes, as quais foram agregadas discursivamente; finalmente foram montados os DSC, de acordo com as expressões chave identificadas.

Obedecemos para a organização dos dados os passos do DSC descritos por Lefevre e Lefevre (2005), conforme tratamos a seguir:

- No primeiro passo, organizamos o material. As respostas a cada questão norteadora foi transcrita integralmente em um instrumento denominado “Instrumento de Análise de Discurso – (IAD)”. Este instrumento consta de um quadro, apresentando três colunas, a primeira são as Expressões-chave - ECH, a segunda as Idéias Centrais – IC, por último a Ancoragem - AC, definida por Lefevre e Lefevre (2005) como a manifestação lingüística e explícita, caso assim ela apareça, de uma dada teoria, ou ideologia, ou crença que o autor do discurso professa. Em nosso estudo, não apresentamos ancoragens, pois não surgiram nos discursos. As respostas dos sujeitos às respectivas questões foram transcritas para a coluna das Expressões-chave.

- O segundo passo consistiu em identificar e retirar das expressões- chave trechos dos discursos que ganharam status de idéias centrais, ou de ancoragem (quando existirem, em nosso caso não existiu).

- No terceiro passo, identificamos as idéias centrais a partir das expressões-chave, colocando-as na coluna correspondente.

- No quarto passo as idéias centrais foram identificadas, utilizando-se as letras A, B, C... e assim sucessivamente para cada grupo de IC com o mesmo sentido ou equivalente.

- No quinto passo, tratamos de denominar cada um dos agrupamentos de IC, conferindo-lhes uma IC síntese que expressem todas as outras, possibilitando a construção do DSC.

- O sexto e último passo foi a construção do próprio DSC. O mesmo autor refere que o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), enquanto figura metodológica é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular e composto pelas ECHs que tem ICs ou ACs semelhantes.

Ao finalizar a construção do DSC, a sistematização é apresentada como se o discurso de todos fosse o discurso de um, e para isso deve-se selecionar fragmentos da fala, limpando-as das particularidades e, ainda, dos trechos repetidos ou muito semelhantes, escolhendo-se apenas um para compor o DSC.

De acordo com Lefevre e Lefevre (2005, p.19),

Com o DSC, os discursos dos depoimentos não se anulam ou se reduzem a uma categoria comum unificadora já que o que se busca fazer é construir, com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tanto discurso-síntese quantos se julgue necessários para expressar uma dada “figura”, ou seja, um dado pensar ou representação social sobre o fenômeno.

Portanto, a construção dos discursos se dá pela junção de fragmentos de respostas dos entrevistados que são as expressões- chave e se constituem do que é essencial dentro de uma determinada idéia central em torno da qual foi elaborado o discurso. É importante considerarmos que o DSC pode conter alguns ajustes em seu texto, objetivando proporcionar melhor entendimento, procurando preservar a linguagem e o sentido original da fala da cada sujeito (LEFEVRE e LEFEVRE, 2005).

Seguindo as recomendações de Lefevre e Lefevre (2005), trazemos exemplos de fragmentos produzidos pelos atores envolvidos na pesquisa, os depoimentos foram trabalhados, em primeiro momento, separadamente, questão por questão e ator por ator, identificados por letras e números (A1 – Ator 1), e assim sucessivamente, conforme descrevemos em cada passo do processo de análise, e apresentamos a seguir os exemplos 1 e 2, de acordo com as entrevistas (APÊNDICE B).

Exemplo 1: Instrumento de Análise de Discurso (IAD)

1ª questão: Como o senhor(a) define participação? Poderia me explicar o que significa para o senhor(a)?

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS

A1 - Tem várias formas de participação • Participar tem várias formas (A)

A1 - Você pode participar de forma institucional, é aquela participação que você simplesmente é envolvido porque a forma como as coisas são organizadas tem que acontecer, é de pró forma pode assim dizer, você vai porque foi designado para representar a instituição.

o Participação institucional é representar uma instituição (B)

A3 - É encaminhar as demandas, está preocupado com resultados e com a capacitação dos delegados

 É encaminhar as demandas, está preocupado com resultados e com a capacitação dos delegados (C)

A partir das expressões-chave e idéias centrais chegamos a vários temas geradores de significação e a partir desses temas construímos as idéias centrais síntese, como apresentado no exemplo 2.

Exemplo 2 – Temas geradores e idéias centrais síntese para a formulação do Discurso do Sujeito Coletivo - DSC

Primeira questão Temas geradores Idéias centrais síntese para a formulação do DSC

Como o senhor(a) define participação? Poderia me explicar o que significa para o senhor(a)?

Participar é:

• Consciência social;

• Representar a coletividade, etc.

Idéia central síntese do DSC 1

- Participação envolve

consciência social, informação e comunicação em busca de soluções que representem a coletividade. Participar no comitê é: o Representar uma instituição; o É acreditar no que estar envolvido; o É estar à disposição para discutir os problemas, etc.

Idéia central síntese do DSC 2 - Participação no comitê é representar uma instituição, conhecer e discutir a realidade dos recursos hídricos representando o interesse de todos.

 É fundamental para o processo de gestão dos recursos hídricos.

 Propostas para

minimizar, melhorar e buscar soluções, pra toda a área do comitê defendendo interesse da coletividade.

Idéia central síntese do DSC 3 - A participação no comitê gera mudanças, resolução de problemas e conflitos.

Das questões discutidas com os atores, obtivemos seis idéias centrais síntese e foram formulados seis DSC, o material refinado foi suporte para a análise e discussão da pesquisadora utilizando como eixo norteador a política de recursos hídricos, a promoção da saúde e a participação social ancorados na abordagem ecossistêmica em saúde.