• Nenhum resultado encontrado

3. CAMINHO METODOLÓGICO

3.2 Contexto do campo de estudo

A pesquisa foi desenvolvida no período de março a outubro de 2008, no contexto da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado, que é composta por vinte e três municípios do sul - leste do Ceará, conforme Figura 03.

Figura 3 – Mapa dos municípios que compõem a Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado.

Fonte: COGERH/CSBHS, 2007

Esta bacia por apresentar uma extensa área de abrangência, foi subdividida em cinco microbacias, sendo a microbacia um (1) composta pelos municípios de: Jardim, Penaforte, Jati, Porteiras e Brejo Santo; a microbacia dois (2): Abaiara, Aurora, Barro, Milagres e Mauriti; a microbacia três (3): Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Caririaçu; microbacia quatro (4): Baixio, Icó, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e Umari; microbacia cinco (5): Cedro, Granjeiro e Várzea Alegre.

Selecionamos para este estudo a microbacia de nº 3, pois esta apresenta o maior número de delegados no comitê da sub bacia hidrográfica, com um total de 20 representantes, além disso os representantes dos poderes público federal e estadual concentram-se em sua maior parte nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte, municípios que fazem parte dessa microbacia, o que justifica nossa escolha por este local de pesquisa.

A Bacia Hidrográfica do Rio Salgado teve seu comitê instituído em 2002 por meio do Decreto nº. 26.603, de 14 de maio de 2002, e instalado em 10 de julho de 2002. Este Comitê é um órgão colegiado, de caráter consultivo e deliberativo, constituído por 50 membros de instituições públicas, privadas, entidades não governamentais, estando estas representadas nos seguintes segmentos: Poder Público Municipal – 10 instituições (20%), Poder Público Estadual e Federal – 10 instituições (20%), Usuários – 15 instituições (30%) e Sociedade Civil – 15 Instituições (30%). O Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Superintendência do Meio Ambiente do Ceará – SEMACE e Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará – SRH têm assentos natos no comitê por serem instituições do poder público que atuam na gestão local dos recursos hídricos e/ou proteção do meio ambiente (MELO, 2008; CEARÁ, 2008).

A organização do Comitê da Sub-Bacia do Salgado se iniciou a partir da mobilização da própria sociedade local, diferentemente dos demais comitês do Estado do Ceará, cuja iniciativa de estimular o processo de organização foi conduzida pela COGERH. A instituição que iniciou este movimento de mobilização para a formação do Comitê da Sub-Bacia do Salgado foi a Fundação Araripe – uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que mobilizou professores e técnicos da Universidade Regional do Cariri – URCA, passando a desenvolver discussões e mobilização nos vinte e três (23) municípios da área de abrangência da Bacia do Rio Salgado com a finalidade de formar delegados para atuação na gestão dos recursos hídricos. Essa iniciativa influenciou sobremaneira a formação desse comitê, contribuindo com o processo de gestão das águas no Cariri cearense (MELO, 2008).

Com o interesse de reunir pessoas e entidades preocupadas com o processo de degradação ambiental da bacia do Salgado, aconteceu o Seminário de Organização e Fortalecimento das Associações de Usuários de

Águas da Bacia do Rio Salgado, realizado em 14 e 15/12/1999, no Crato, promovido pela Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico do Cariri - FUNDETEC, órgão ligado à Universidade Regional do Cariri – URCA, com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Crato e a COGERH. Este evento contou com a participação de 118 representantes de associações de classe, sindicatos, irrigantes, órgãos dos Poderes Públicos Municipais, Estaduais e Federais, fundações e organizações não-governamentais da região. Este Seminário foi considerado o primeiro passo em direção à formação do Comitê (CEARÁ, 2008).

A partir do Seminário, foi organizado um grupo para a estruturação do Comitê da Bacia do Salgado, formando uma Comissão de Representantes que deveria trabalhar conjuntamente com o grupo de Articulação do Comitê da Sub- Bacia do Rio Salgado. Este processo gerou várias reuniões e discussões para as definições metodológicas do processo de formação do Comitê do Salgado.

Como estratégia para facilitar o processo de organização dos usuários, a metodologia adotada foi dividir a Sub-Bacia do Salgado em cinco micros- bacias, englobando os 23 municípios (CEARÁ, 2008).

A Gerência Regional da COGERH realizou contatos individuais e reuniões em cada uma das mocrobacias para um debate sobre os problemas locais. E, a Associação Cristã de Base e a Fundação Araripe se responsabilizaram pela elaboração de uma proposta de trabalho para ser discutida com todas as microbacias, no sentido de organizar o Comitê da Bacia do Salgado (CEARÁ, 2008).

A Fundação Araripe foi contratada pela COGERH para desenvolver o trabalho de mobilização e articulação para formação do Comitê e, em parceria com a Associação Cristã de Base (ACB) e a ONG Juriti, desenvolveu o trabalho intitulado: “Processo de Gestão Participativa dos Recursos Hídricos da bacia do Rio Salgado”, formalizado no âmbito do Programa de Gerenciamento Integrado dos Recursos Hídricos – PROGERIRH no ano de 2001 (CEARÁ, 2008).

A base de mobilização foi a utilização das micro-bacias, com encontros e reuniões com representantes de todos os municípios de cada micro-bacia, objetivando a discussão da proposta de Estatuto do Comitê da Sub-Bacia do rio Salgado e da eleição dos delegados representantes de cada micro-bacia.

Foi realizada a distribuição das 50 vagas do comitê pelas cinco (5) micro- bacias, e dessa forma os delegados representantes de usuários e sociedade civil foram eleitos através de votação e confirmados como membros do comitê, ficando os representantes do poder público municipal, estadual e federal a serem indicados por seus respectivos órgãos (CEARÁ, 2008).

A Reunião de Instalação do Comitê do Salgado foi realizada em outubro de 2002, no município de Crato, sendo eleita a primeira diretoria do comitê. As assembléias são públicas; os membros têm poder de voto; os mandatos de todos os integrantes são de dois anos, podendo seus membros serem reeleitos; todos os membros podem se candidatar aos cargos da diretoria do colegiado que é composta por Presidente, Vice-presidente e Secretário Geral (CEARÁ, 2008; REGIMENTO INTERNO DO COMITÊ, [s.d]).

Conforme o regimento interno do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Salgado, em seu artigo 7º, o comitê será dirigido por uma plenária, uma diretoria e uma secretaria executiva com mandato de dois anos, podendo esta ser reeleita. No artigo 8º fica definido que a diretoria do colegiado é eleita entre os membros do comitê, com mandato coincidente de dois anos, permitida uma recondução por igual período.

Todos os membros eleitos do comitê têm direito à voz e ao voto em suas reuniões, no entanto pode ocorrer a participação, sem direito ao voto, de pessoas físicas ou jurídicas que se identifiquem com os interesses do comitê. O artigo 11º define duas reuniões ordinárias por ano, a cada seis meses, podendo acontecer reuniões extraordinárias sempre que forem necessárias. Porém, é oportuno salientar que o colegiado decidiu realizar quatro reuniões ordinárias por ano, duas a cada semestre, e podem acontecer reuniões extraordinárias sempre que julgarem necessárias.

O Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Salgado estabeleceu como função primordial realizar a gestão das águas pertencentes a sua área territorial, trabalhando de forma planejada, organizando a captação, abastecimento, distribuição, despejo e tratamento da água consumida. No intuito de atingir tal função, o regimento do CSBHS no seu artigo 2º estabeleceu as atribuições do Comitê, que são:

Acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos repassados ao órgão de gerenciamento das bacias para aplicação na sua área de atuação, ou por quem exercer suas atribuições, recebendo informações sobre essa aplicação, devendo comunicar ao Fundo Estadual de Recursos Hídricos, as irregularidades identificadas; propor ao Conselho de Recursos Hídricos do Ceará – CONERH, critérios e normas gerais para outorga de uso dos recursos hídricos e de execução de obras e serviços de oferta hídrica; estimular a proteção e a preservação dos recursos hídricos e do meio ambiente contra ações que possam comprometer o uso múltiplo atual e futuro; discutir e selecionar alternativas de enquadramento dos corpos d’água da bacia hidrográfica, proposto conforme procedimentos estabelecidos na legislação pertinente; aprovar internamente e propor ao Conselho de Recursos Hídricos do Ceará – CONERH, programas e projetos a serem executados com recursos oriundos da cobrança pela utilização de recursos hídricos das bacias hidrográficas, destinados a investimentos; acompanhar a execução da Política de Recursos Hídricos, na área de sua atuação, formulando sugestões e oferecendo subsídios aos órgãos ou entidades que compõe o sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos - SIGERH; aprovar o Plano de Gerenciamento de Recursos Hídricos da bacia; propor, em períodos críticos, a elaboração e implementação de planos emergenciais, possibilitando uma melhor convivência com a situação de escassez; constituir grupos de trabalho, comissões específicas e câmeras técnicas; discutir e aprovar, anualmente, em conjunto com o órgão de gerenciamento das bacias, o plano de operações dos sistemas hídricos da bacia; aprovar plano de utilização, conservação e proteção dos Recursos Hídricos da Sub- Bacia Hidrográfica (REGIMENTO INTERNO DO CSBHS, [s.d], p.1-2).

Conforme Melo (2008), o primeiro grupo gestor do CSBHS no período de 2002 a 2004 foi marcado pela organização do comitê no âmbito do Sistema Estadual e Nacional de Recursos Hídricos, buscando fortalecer os delegados, para que se fizessem presentes as assembléias. Já na segunda gestão 2004a 2008, institui como prioridade:

(...) fortalecimento da estrutura interna e ampliação da participação local dos delegados, bem como na estrutura do sistema estadual; construindo um modelo de organização e publicidade do processo de decisão no âmbito do colegiado e junto aos órgãos estaduais e nacionais da gestão dos recursos hídricos. Pela primeira vez o CBH participou como protagonista na definição dos limites máximo e mínimo para as reuniões de alocação negociada de água nos vales perenizados. Tarefa que até então estava restrita aos técnicos da COGERH (MELO, 2008, p. 11 e 12).

Os comitês podem criar Câmaras Técnicas, que são grupos de trabalho em determinadas áreas que se relacionam com os recursos hídricos, obedecendo aos percentuais dos quatro setores representados (poder público municipal (20%), Poder público estadual e federal (20%), Usuários (30%) e

Sociedade Civil (30%)). Hoje, o Comitê da Sub-Bacia do Salgado apresenta seis câmaras técnicas que se reúnem periodicamente, conforme a necessidade e condizem as demandas às assembléias do comitê. São elas: Câmara técnica de interligação – transposição de bacias do Rio São Francisco; Câmara técnica de pesca aqüicultura continental sustentável da Bacia do Salgado; Câmara técnica do plano de bacia; Câmara técnica de outorga e cobrança da água na Bacia do Salgado; Câmara técnica de águas subterrâneas da bacia do Salgado; e Câmara técnica de meio ambiente e educação ambiental do Salgado (CEARÁ, 2008; MELO, 2008).