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Para que a participação seja efetiva, é importante que se discuta sua definição para que este conceito não se torne vazio, Ferreira (1999) refere participação como “ato ou efeito de participar”, vem do latim paerticipatione e a palavra participar significa “fazer saber, informar, anunciar, comunicar, ter ou tomar parte, associar-se pelo pensamento ou pelo sentimento, ter traços em comum”.

Esta conceituação nos faz refletir sobre a participação como algo ativo, como uma necessidade humana universal, como as pessoas participam em suas famílias, suas comunidades, seu trabalho, “participação é o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo” (BORDENAVE, 2007, p. 16). Este mesmo autor relata que a participação possui duas bases complementares que devem caminhar juntas mantendo o equilíbrio: a base afetiva, na qual as pessoas participam por sentirem prazer em fazer as coisas com os outros e uma base instrumental, na qual as pessoas participam porque fazer as coisas com outras pessoas é mais eficaz e eficiente.

Bordenave (2007) fornece um arcabouço analítico para participação em um grupo ou organização ao definir graus e níveis de participação, os graus estratificam a participação a partir do maior ou menor acesso ao controle das decisões por seus membros, conforme Figura 02.

Figura 02 – Graus de participação. Fonte: Bordenave (2007)

A Figura 02 nos faz inferir que o processo de participação pressupõe a divisão equitativa de poderes entre os participantes, o que envolve uma gestão conjunta baseada em co-decisões e co-responsabilização, variando de um menor grau de participação, que é a informação, cujos dirigentes apenas informam os membros da instituição sobre as decisões já tomadas, ascendendo o grau de participação para a consulta facultativa, em que os dirigentes podem, se quiserem e quando quiserem, consultar os demais membros; consulta obrigatória, em que todos devem ser consultados, mas as decisões são tomadas pela direção; a recomendação, quando todos participam elaborando propostas e recomendando medidas, mas a direção pode aceitar ou rejeitar o que foi proposto, chegando a um grau maior de participação com a co-gestão, cujas decisões são tomadas de forma compartilhada, através da co- decisão e colegialidade. Na delegação, existe uma maior autonomia dos participantes e não só do grupo gestor, e a participação de forma plena acontece no nível de auto gestão, no qual o grupo é que determina objetivos e metas e todos participam com igual autoridade (BORDENAVE, 2007).

Os níveis de participação indicam a importância das decisões, sendo o nível 1 a formulação da doutrina e da política da instituição; o nível 2 a determinação de objetivos e estabelecimento de estratégias; o nível 3 a elaboração de planos, programas e projetos; o nível 4 a alocação de recursos e administração destes; o nível 5 a execução das ações; o nível a 6 avaliação dos resultados.

Cabe destacar que a democracia participativa deve promover a ascensão da população a níveis cada vez mais elevados, saindo do nível de

execução para o nível da formulação de política. Nestes níveis, os membros de uma organização, em nosso estudo, o comitê de bacia hidrográfica, podem realizar graus de participação crescentes sob a perspectiva das tomadas de decisões.

Os graus e níveis de participação descritos por Bordenave (2007) demonstra a necessidade de ascensão para outros níveis, o que pressupõe reflexão, crítica e autocrítica, é o que Demo (1993, p. 18) afirma “participação é conquista para significar que é um processo, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo”.

Assevera Demo (1993) que não há participação suficiente, nem acabada, é um processo, se considerarmos acabada poderá vir a regredir. A participação apresenta características de ser meio e fim, porquanto é simultaneamente instrumento e objeto da autopromoção, entendendo que autopromoção é a característica de uma política social centrada nos próprios interessados, estes passam a autogerir ou a co-gerir a satisfação de suas necessidades.

Este mesmo autor aponta além da autopromoção outros objetivos da participação, quais sejam: realização de cidadania, entendida como a qualidade social de uma sociedade organizada em direitos e deveres, além de significar consciência crítica, para perceber as injustiças e os direitos, vislumbrando estratégias de reação em busca de mudanças; implementação de regras democráticas de jogo, como exercício de cidadania, a participação é por si um processo democrático, no qual se aprende a eleger, fazer rodízio na direção das instituições, exigir prestação de contas, tomar decisões conjuntas; controle do poder, considerado como o fenômeno básico da democracia, pois a democracia contribui para a convivência crítica e criativa com o poder, que tem no voto um dos instrumentos de controle, porém o controle mais efetivo de poder é a organização da sociedade civil; negociação, como um sistema sócio político, procurando negociar conflitos e divergências, não significa acabar com as divergências, mas lidar com elas, acomodando-as, de forma a permitir convivência; cultura democrática, considerada o objetivo essencial da participação, passa a ser “uma situação construída e institucionalizada como regra de vida, como valor comum, como modo de ser” (DEMO, 1993, p. 79).

A participação é, portanto, o alicerce da democracia, para tanto é necessário compromisso, envolvimento, esse processo por si fortalece os partícipes para que consigam alcançar os objetivos de participação através da autoconscientização e compreensão dos envolvidos sobre o que estão fazendo parte. Este processo se refere à autonomia dos sujeitos, ou seja, os envolvidos nos processos participativos apresentam maior capacidade de agirem sobre si mesmos e sobre o contexto, conforme objetivos democraticamente estabelecidos (CAMPOS e CAMPOS, 2006; MACHADO, 2007).

A autonomia dos sujeitos depende dele próprio, como também de fatores externos, como a existência de leis que permitam a participação, bem comoo acesso a informação, para que estes possam utilizar os conhecimentos de forma crítica, sendo, portanto, sujeitos de reflexão e ação sobre si mesmo e sobre o seu entorno (CAMPOS e CAMPOS, 2006).

Para que os envolvidos no processo de participação tenham autonomia para deliberar ações que beneficiem o coletivo, é fundamental que estes tenham consciência da realidade em que se inserem, o que faz com que estas pessoas se fortaleçam e sejam empoderadas, para isso é necessário o diálogo e uma relação horizontal entre os membros do grupo (FREIRE, 1998; 1999).

Essa relação dialógica contribui para o empoderamento, termo que vem do inglês empowerment, significa fortalecimento, habilidade de enfrentamento, suporte mútuo. Nesse sentido, à medida que as pessoa participam, se empoderam, e à medida que se empoderam, participam com mais habilidade, promovendo a participação social com o objetivo de obter um maior controle nos problemas da comunidade, atingindo maior eficácia política e maior justiça social (CARVALHO e GASTALDO, 2008).

Autores como Wallerstein e Bernstein (1994), Airhihenbuwa (1994), Labonte (1994) se referem ao empoderamento como a habilidade para as pessoas conseguirem um entendimento e um controle sobre suas forças pessoais, sociais, econômicas e políticas, para poderem agir de modo a melhorar sua situação de vida.

O empoderamento apresenta três níveis: individual ou psicológico, quando se refere à habilidade do indivíduo para tomar decisões e ter controle sobre sua própria vida, este empoderamento individual combina eficiência pessoal e competência, buscando as causas das iniqüidades

sociais; organizacional, quando se refere ao controle democrático, em que cada membro compartilha informação e poder, utilizando-se de processos cooperativos de tomada decisões e de envolvido em aumentar os esforços em direção de uma mesma meta definida; social/comunitário, sendo aquele cujos indivíduos e organizações aplicam suas habilidades e recursos nos esforços coletivos, para encontrar suas respectivas necessidades. Este nível tem a possibilidade de influenciar decisões e mudanças no sistema social mais amplo. É composto de capacidade e ação (WALLERSTEIN e BERNSTEIN, 1994).

Especificamente para este estudo, consideramos pertinente trabalharmos com as diretrizes da própria política nacional e estadual de recursos hídricos, apresentado na página 29, com os conceitos de participação social e empoderamento, apresentado na página 34, bem como com os preceitos da promoção da saúdee da sustentabilidade, e os princípios da abordagem ecossistêmica em saúde. Acreditamos que estes conceitos se imbricam na discussão de nossos resultados, logo, passamos a discorrê-los a seguir.

2.3 Promoção da saúde, sustentabilidade e abordagem ecossistêmica