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2. O objeto de estudo

6.8 Análise dos dados

Para a garantia de uma leitura da codificação de expressão facial e o reconhecimento da verdadeira emoção livre de viés pessoal, inicialmente a pesquisadora optou por consultar um codificador oficial e habilitado pela FACS, entretanto, descobriu que não havia codificador habilitado no Brasil, e o valor financeiro cobrado por codificadores oficiais e habilitados de outros países era inviável.

A pesquisadora, mediante a inviabilidade financeira de pagamento a um terceiro, decidiu estudar a FACS, adquirindo o sistema completo dos criadores da FACS. Este estudo profundo da codificação facial exigiu intensa dedicação de estudos, o que se estendeu por mais de um ano. Após todo o conhecimento adquirido, a pesquisadora realizou um teste internacional do Paul Ekman Group sobre a aptidão da codificação de movimentos faciais e suas emoções em dezembro de 2014. Depois de aprovada, tornou-se a primeira brasileira a ser uma codificadora facial oficial da FACS (Anexo 3), tornando essa pesquisa viável e garantindo a fidelidade da análise de dados.

ETAPA A: avaliação e codificação das imagens capturadas de manifestações emocionais das parturientes (média de quatro codificações por segundo de imagem), por meio da folha de pontuação (Anexo 4), fundamentada pelo Sistema de Codificação da Ação Facial. Esta folha foi submetida à tradução livre de linguagem do inglês para o português por três professores de inglês com certificação de proficiência desta língua, experiência profissional e pessoal de no mínimo dois anos em países com língua inglesa nativa (Canadá, Estados Unidos da América e Inglaterra) e que rotineiramente exercem a docência na prática diária. A tradução foi considerada efetiva, pois todas foram semelhantes.

ETAPA B: comparação e correção das codificações estabelecidas pelo pesquisador frente às análises comparativas das imagens faciais ao assistir os vídeos, garantindo uma correta interpretação das emoções, por meio do Software FACS Score Checker(56) (Figura 8), o qual permite ao pesquisador referenciar a codificação final de sua imagem em avaliação e comparar essa codificação com uma imagem oferecida pelo banco de dados do software, sendo esta etapa de extrema importância para a veracidade da codificação do pesquisador. Figura 8 – Software FACS Score Checker

Identificação do pesquisador Pontuação final Pontuação inicial Apresentação de imagem para comparação

6.8.1 Análise estatística

O tratamento estatístico pertinente foi realizado sob orientação do Serviço de Estatística da Faculdade de Enfermagem da Unicamp.

As comparações que envolviam as variáveis categóricas com duas categorias com relação às variáveis quantitativas foram realizadas por meio do teste t de Student não- pareado(62), para as variáveis que apresentaram distribuição normal, em cada um dos grupos de comparação, e por meio do teste de Mann-Whitney para as variáveis que não apresentaram distribuição normal. Para as variáveis categóricas com mais de duas categorias foi aplicado o modelo de Anova, para os casos em que o pressuposto de distribuição normal foi atendido, e o teste de Krukal-Wallis para os casos onde tal pressuposto não foi observado.

Para estudar as associações entre duas variáveis categóricas foi aplicado o teste Qui- quadrado(62). Este teste é utilizado quando se pretende verificar a existência de associação entre duas variáveis categóricas. Para os casos em que pelo menos 20% das caselas da tabela de valores esperados apresentavam contagem menor do que cinco foi aplicado o teste exato de Fisher(63).

As correlações entre duas variáveis quantitativas foram estimadas por meio do coeficiente de correlação de Spearman(62). Este coeficiente é não-paramétrico e varia de -1 a 1, cujos valores mais próximos de -1 indicam uma relação negativa ou inversa entre as variáveis, valores próximos a 1 uma relação positiva e valores próximos a 0 indicam ausência de correlação. Cohen (1988) sugere a seguinte classificação do coeficiente de correlação: 0,1 a 0,29 (fraca), 0,30 a 0,49 (moderada) e maior ou igual a 0,50 (forte).

Para verificar a concordância entre as emoções observadas e a verbalização da paciente foi calculado o coeficiente Kappa(64). Este coeficiente é utilizado quando se pretende estimar a concordância nos casos cuja variável em estudo é do tipo categórica.

Landis e Koch (1977)(65) propuseram a seguinte categorização para o coeficiente Kappa:

Coeficiente Kappa Força da concordância menor que zero poor (pobre)

0,00 – 0,20 slight (desprezível) 0,21 – 0,40 fair (suave) 0,41 – 0,60 moderate (moderada) 0,61 – 0,80 substantial (substancial, grande) 0,81 – 1,00 almost perfect (quase perfeita)

7 Resultados

O Grupo Controle foi composto por 46 parturientes, e o Grupo de Intervenção por 54 parturientes, totalizando um n = 95, sendo superior ao solicitado pelo cálculo amostral (14 parturientes por grupo) e de grande valia para os cálculos estatísticos e veracidade dos resultados.

Durante a coleta de dados foram excluídas cinco pacientes pelo critério de descontinuação de intercorrências obstétricas no período expulsivo, com finalização do nascimento por via cesariana.

Somente duas do total de parturientes abordadas se recusaram a participar do estudo, verbalizando desconfiança do uso de sua imagem, mesmo sendo orientadas pela pesquisadora que garantiu o cumprimento de todos os aspectos éticos.

A Tabela 2 mostra as características gerais das participantes e as principais avaliações quantitativas do estudo, segundo as variáveis de iluminância, idade, escolaridade, paridade, cervicodilatação na internação, Apgar de 1º e 5º minuto e a prevalência das seis emoções.

Tabela 2 – Distribuição de variáveis do estudo e a presença de emoções no total de partos, segundo análise quantitativa - São Paulo, 2015.

Variável N Média Desvio-padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo Iluminância 95 599,88 581,51 38,00 42,00 48,00 1180,00 1350,00

Idade 95 26,52 7,48 18,00 19,00 25,00 33,00 43,00

Escolaridade 95 8,82 2,51 2,00 8,00 9,00 11,00 15,00

Gestações prévias 95 2,95 2,22 1,00 1,00 2,00 3,00 12,00

Partos Normais prévios 95 1,42 1,88 0,00 0,00 1,00 2,00 8,00

Abortos prévios 95 0,34 0,74 0,00 0,00 0,00 0,00 5,00

Dilatação cervical internação 95 4,82 1,02 2,00 4,00 5,00 6,00 6,00

Tempo expulsivo 95 16,92 10,58 5,00 7,00 15,00 25,00 51,00 Apgar 1º min 95 8,55 0,71 6,00 8,00 9,00 9,00 9,00 Apgar 5º min 95 9,65 0,50 8,00 9,00 10,00 10,00 10,00 Medo 95 20,40 17,13 0,00 5,00 20,00 35,00 55,00 Alegria 95 24,81 7,81 10,00 20,00 25,00 30,00 41,00 Raiva 95 33,99 18,29 10,00 20,00 30,00 47,00 75,00 Nojo 95 2,97 3,74 0,00 0,00 3,00 5,00 15,00 Tristeza 95 1,91 2,99 0,00 0,00 0,00 5,00 10,00 Surpresa 95 15,62 7,14 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00

As características apresentadas na Tabela 2 evidenciam uma média de idade das participantes de 26,5 anos (dp 7,4), baixo grau de escolaridade, média de 8,8 anos de estudo (dp 2,5), média de paridade de 2,9 gestações (dp 2,2) e um histórico de 1,4 de média dessas gestações serem precedidas de partos normais.

A média de cervicodilatação no momento da internação foi de 4,8 cm, o que demonstra uma adequada prática de internação no que se refere às internações em franco trabalho de parto (TP) de parturientes de risco habitual. Os dados que demonstram dilatação menor que 4 cm se referem às internações para indução do TP por pós-datismo ou por rotura prematura de membranas ovulares (RPMO).

Os resultados de Apgar (média de 8,5 para o 1º minuto e 9,6 para o 5º minuto) são relevantes, no que tange a resultados expressivos de boa vitalidade ao nascimento, sendo a maioria das notas maior que sete em ambos os grupos, o que demostra uma boa adaptação à vida extra uterina.

As emoções mais presentes no período expulsivo de modo geral, em ambos os grupos são medo, alegria e raiva, tendo esta última o maior valor das médias das emoções (33,9%), o que nos leva à conclusão de que, independentemente do grupo avaliado, a emoção raiva se faz presente no parto.

Tabela 3 – Descrição das variáveis qualitativas da amostra – São Paulo, 2015.

Variável N %

Preparo para parto

Não 95 100,0 Aceitação da Gravidez Sim 95 100,0 Raça Branca 23 24,2 Preta 16 16,8 Parda 43 45,2 Amarela 12 12,6 Indígena 1 1,0 Estado Marital Sem companheiro 30 31,5 Com companheiro 65 68,4 Ocitocina Não 59 62,1 Sim 36 37,8

Contato pele a pele

Não 14 14,7

Sim 81 85,2

Na análise dos resultados do total de parturientes, conforme demonstrado na Tabela 3, nenhuma delas recebeu preparo para o parto e todas verbalizaram a aceitação da gestação. A maior parte das participantes (43 = 45,2%) é da raça parda e 65 (68,4%) possuem companheiro.

No que diz respeito à condução do TP com ocitocina sintética, a maior parte não utilizou este medicamento (59 = 62,1%) e a 81 (85,2%) dos nascimentos foram beneficiados com o contato pele a pele.

As diferenças entre os grupos do estudo quanto à presença de emoções (Tabela 4) são significativas e, de acordo com uma análise por meio do teste de Mann-Whitney, as emoções “medo” (p < 0,0001), “nojo” (p = 0,0091) e “tristeza” (p = 0,0060) estiveram mais presentes no GC. Já o GI apresentou mais “alegria” (p < 0,0001) e “raiva” (p < 0,0001). Em contrapartida, a emoção “surpresa” não apresentou significância estatística na comparação entre os grupos.

Tabela 4 – Frequência de emoções entre os grupos controle e intervenção. São Paulo, 2015

Emoção Grupo n Média

Desvio

padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo p-valor* Medo Controle 46 34,33 10,63 0,00 31,00 35,00 40,00 55,00 < 0,0001 Intervenção 49 7,33 10,43 0,00 2,00 5,00 7,00 50,00 Alegria Controle 46 21,70 5,36 10,00 20,00 22,00 25,00 36,00 < 0,0001 Intervenção 49 27,73 8,63 10,00 25,00 30,00 34,00 41,00 Raiva Controle 46 21,50 10,38 10,00 17,00 20,00 25,00 57,00 < 0,0001 Intervenção 49 45,71 16,26 10,00 37,00 45,00 60,00 75,00 Nojo Controle 46 4,13 4,36 0,00 0,00 3,00 6,00 15,00 0,0091 Intervenção 49 1,88 2,66 0,00 0,00 0,00 5,00 9,00 Tristeza Controle 46 2,57 2,81 0,00 0,00 1,00 5,00 7,00 0,0060 Intervenção 49 1,29 3,04 0,00 0,00 0,00 0,00 10,00 Surpresa Controle 46 15,13 7,18 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00 0,4814 Intervenção 49 16,08 7,16 3,00 10,00 17,00 20,00 30,00

*p-valor obtido por meio do teste de Mann-Whitney.

Durante a codificação, observou-se que, em ambos os grupos, as emoções seguem uma linha de aparecimento e concentração. Para melhor avaliar esta distribuição, dividiu-se as codificações e seus resultados em seis tempos sequenciais de alternância das emoções. Porém, parte das parturientes apresentou somente cinco tempos de emoção:

Evolução do expulsivo --- Nascimento Emoção 1 Emoção 2 Emoção 3 Emoção 4 Emoção 5 Emoção6

Avaliando a ordem de aparecimento sequencial (emoções dos tempos 1, 2, 3, 4, 5 e 6) e predominância das emoções durante a evolução do período expulsivo e em comparação entre GC e GI, foi possível analisar o p-valor por meio dos testes Qui-quadrado e exato de Fisher (Tabela 5). Os dados não demonstraram diferenças estatísticas significativas quanto às primeiras emoções capturadas e codificadas nas imagens, apesar de que em números Chegada da parturiente em sala de parto Desligamento da filmadora

absolutos a emoção “medo” esteve mais presente como primeira emoção capturada em ambos os grupos (GC35 = 76,09%; e GI: 30 = 51,22%).

Já com o decorrer do período expulsivo, observou-se diferenças estatísticas significativas com todas as demais emoções, sendo a emoção 2 com 42,86% (21 mulheres) de “surpresa” no GI (p = 0,0277); a emoção 3 com 40,82% (20) de “raiva” em GI (p = 0,0022); a emoção 4 com 48,78% (20 mulheres) de “alegria” e 41,46% (17) de “raiva” em GI (p = 0,0016) e a emoção 5 com 76,19% (16 mulheres) de “alegria” em GI (p = 0,0009). Quando avaliou-se a “alegria” como emoção predominante na emoção 5 do GI e totalmente na emoção 6 em ambos os grupos, houve diferença estatística: todas as parturientes do estudo, independentemente do grupo avaliado, terminaram seus partos com a emoção “alegria”. Tabela 5 – Comparação da sequência de emoções conforme a evolução do expulsivo, de acordo com os grupos controle e intervenção – São Paulo, 2015.

Tempo/Emoção Grupo p-valor Controle Intervenção n % n % Emoção 1 0,1010** Medo 35 76,09 30 61,22 Nojo 5 10,87 7 14,29 Surpresa 1 2,17 8 16,33 Tristeza 5 10,87 4 8,16 Emoção 2 0,0277* Medo 8 17,39 9 18,37 Nojo 11 23,91 6 12,24 Raiva 3 6,52 9 18,37 Surpresa 12 26,09 21 42,86 Tristeza 12 26,09 4 8,16 Emoção 3 0,0022** Alegria 1 2,17 8 16,33 Medo 2 4,35 0 0,00 Nojo 14 30,43 5 10,20 Raiva 13 28,26 20 40,82 Surpresa 10 21,74 15 30,61 Tristeza 6 13,04 1 2,04 Emoção 4 0,0016** Alegria 14 31,11 20 48,78 Nojo 1 2,22 0 0,00 Raiva 12 26,67 17 41,46 Surpresa 18 40,00 3 7,32 Tristeza 0 0,00 1 2,44 Emoção 5 0,0009** Alegria 8 25,81 16 76,19 Raiva 18 58,06 3 14,29 Surpresa 5 16,13 2 9,52 Emoção 6 - Alegria 23 100,00 5 100,00

* p-valor obtido por meio do teste Qui-quadrado. ** p-valor obtido por meio do teste exato de Fisher.

Para visualizar a evolução das emoções durante o expulsivo em cada grupo do estudo, foram elaborados os Gráficos 1 e 2, o que auxilia a interpretação do comportamento das emoções no decorrer do expulsivo em GC e GI.

Gráfico 1 – Distribuição das emoções durante o expulsivo em GC – São Paulo, 2015.

Gráfico 2 – Distribuição das emoções durante o expulsivo em GI – São Paulo, 2015.

Ao analisarmos as manifestações emocionais pelos grupos de estudo quanto ao estado marital das parturientes, conforme demonstrado na Tabela 6, não foi observada diferenças estatísticas significativas. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1 2 3 4 5 6 P or cent ag e m Período

Grupo controle

Alegria Medo Nojo Raiva Surpresa Tristeza 0 20 40 60 80 100 1 2 3 4 5 6 P or cent ag e m Período

Grupo intervenção

Alegria Medo Nojo Raiva Surpresa Tristeza

Tabela 6 – Distribuição das emoções das parturientes segundo estado marital – São Paulo, 2015.

Variável Estado Marital n Média

Desvio-

padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo p-valor Medo Sem companheiro 30 18,87 15,34 0,00 5,00 19,00 32,00 50,00 0,5085*

Com companheiro 65 21,11 17,97 0,00 5,00 25,00 38,00 55,00

Alegria Sem companheiro 30 24,37 8,02 10,00 20,00 23,50 30,00 41,00 0,7087**

Com companheiro 65 25,02 7,76 10,00 20,00 25,00 30,00 41,00

Raiva Sem companheiro 30 36,23 17,95 10,00 23,00 30,00 50,00 74,00 0,3036*

Com companheiro 65 32,95 18,50 10,00 20,00 26,00 45,00 75,00

Nojo Sem companheiro 30 3,00 4,46 0,00 0,00 0,00 5,00 15,00 0,5093*

Com companheiro 65 2,95 3,39 0,00 0,00 3,00 5,00 15,00

Tristeza Sem companheiro 30 1,73 2,66 0,00 0,00 0,00 4,00 10,00 0,9545*

Com companheiro 65 1,98 3,14 0,00 0,00 0,00 5,00 10,00

Surpresa Sem companheiro 30 15,80 6,91 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00 0,8878*

Com companheiro 65 15,54 7,30 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00 * p-valor obtido por meio do teste de Mann-Whitney.

** p-valor obtido por meio do teste t de Student não pareado

Para avaliar as emoções segundo o histórico obstétrico e experiências prévias, são observadas nas Tabelas 7, 8 e 9 as emoções segundo a paridade e o tipo de parto anterior. Contudo, os dados não evidenciaram diferenças do tipo de emoção apresentada no parto atual em relação ao tipo de parto anterior.

Tabela 7 – Distribuição das emoções segundo números de partos normais anteriores – São Paulo, 2015.

Variável PN n Média

Desvio-

padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo p-valor Medo 0 40 20,25 16,59 0,00 5,00 25,00 35,00 50,00 0,9172* 1 25 19,76 18,26 0,00 5,00 18,00 35,00 55,00 ≥ 2 30 21,13 17,45 0,00 5,00 27,50 38,00 46,00 Alegria 0 40 24,78 7,16 10,00 20,00 24,00 30,00 41,00 0,9903** 1 25 24,68 7,94 10,00 21,00 25,00 30,00 36,00 ≥ 2 30 24,97 8,74 10,00 20,00 25,00 30,00 41,00 Raiva 0 40 34,00 18,43 10,00 18,50 28,00 48,50 70,00 0,4194* 1 25 37,44 19,17 10,00 25,00 35,00 50,00 74,00 ≥ 2 30 31,10 17,46 10,00 20,00 27,00 38,00 75,00 Nojo 0 40 2,73 3,68 0,00 0,00 0,00 5,50 15,00 0,8169* 1 25 3,12 3,75 0,00 0,00 3,00 5,00 15,00 ≥ 2 30 3,17 3,92 0,00 0,00 3,00 5,00 15,00 Tristeza 0 40 1,65 2,70 0,00 0,00 0,00 3,50 10,00 0,0674* 1 25 1,04 2,21 0,00 0,00 0,00 0,00 7,00 ≥ 2 30 2,97 3,62 0,00 0,00 0,00 6,00 10,00 Surpresa 0 40 16,10 6,56 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00 0,3992** 1 25 13,96 7,46 3,00 10,00 15,00 17,00 30,00 ≥ 2 30 16,37 7,63 3,00 10,00 17,00 20,00 30,00 * p-valor obtido por meio do teste de Kruskal-Wallis.

Tabela 8 – Distribuição das emoções segundo números de partos cesáreas anteriores – São Paulo, 2015.

Variável PC n Média Desvio-padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo p-valor Medo 0 83 19,99 16,77 0,00 5,00 20,00 35,00 55,00 0,6215* 1 12 23,25 20,05 0,00 2,50 26,00 42,50 50,00 Alegria 0 83 25,02 7,80 10,00 20,00 25,00 30,00 41,00 0,4861** 1 12 23,33 8,04 10,00 18,00 22,50 28,00 41,00 Raiva 0 83 33,87 17,75 10,00 20,00 30,00 47,00 75,00 0,9688* 1 12 34,83 22,62 10,00 16,00 28,00 52,00 74,00 Nojo 0 83 3,01 3,91 0,00 0,00 2,00 5,00 15,00 0,7223* 1 12 2,67 2,31 0,00 0,00 3,50 4,50 6,00 Tristeza 0 83 1,90 2,99 0,00 0,00 0,00 5,00 10,00 0,9100* 1 12 1,92 3,12 0,00 0,00 0,00 4,50 7,00 Surpresa 0 83 15,98 7,21 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00 0,1590* 1 12 13,17 6,44 6,00 8,00 12,50 16,50 27,00 * p-valor obtido por meio do teste de Mann-Whitney.

** p-valor obtido por meio do teste t de Student não pareado.

Tabela 9 – Distribuição das emoções segundo números de partos fórceps anteriores – São Paulo, 2015.

Variável PF N Média

Desvio-

padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo p-valor Medo 0 88 20,01 17,12 0,00 5,00 19,00 35,50 55,00 0,7427* 1 7 25,29 17,87 0,00 0,00 32,00 35,00 45,00 Alegria 0 88 24,76 7,97 10,00 20,00 25,00 30,00 41,00 0,8290** 1 7 25,43 5,83 20,00 21,00 22,00 29,00 36,00 Raiva 0 88 34,30 18,09 10,00 20,00 30,00 47,00 75,00 0,4472* 1 7 30,14 21,93 10,00 10,00 23,00 61,00 61,00 Nojo 0 88 2,99 3,79 0,00 0,00 2,50 5,00 15,00 0,9100* 1 7 2,71 3,25 0,00 0,00 3,00 4,00 9,00 Tristeza 0 88 1,89 3,01 0,00 0,00 0,00 5,00 10,00 0,6975* 1 7 2,14 2,91 0,00 0,00 0,00 5,00 7,00 Surpresa 0 88 15,73 7,04 3,00 10,00 15,00 20,00 30,00 0,5283* 1 7 14,29 8,86 3,00 6,00 15,00 24,00 27,00 * p-valor obtido por meio do teste de Mann-Whitney.

** p-valor obtido por meio do teste t de Student não pareado.

Quando se pensa em condução de TP, sempre se depara com um pensamento comum e usual aos profissionais da área da obstetrícia: de que a infusão de ocitocina sintética acelera o trabalho de parto. Porém, os dados da Tabela 10 mostram a contradição dessa prática rotineira das maternidades e que o seu uso no período expulsivo prolonga o nascimento em quase 6 minutos, tendo relevância estatística de p = 0,0210.

Tabela 10 – Tempo de expulsivo, segundo o uso de ocitocina sintética – São Paulo, 2015.

Variável Ocitocina n Média Desvio-padrão Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo p-valor* Tempo expulsivo Não 59 14,69 9,43 5,00 5,00 10,00 23,00 35,00 0,0210

Sim 36 20,56 11,45 5,00 10,00 22,00 27,50 51,00 * p-valor obtido por meio do teste de Mann-Whitney.

A comparação entre os dados encontrados pelas codificações das emoções com os verbalizados pelas parturientes das emoções sentidas no período expulsivo está na Tabela 11. Nota-se que não são uniformes e que muitas das emoções codificadas não são expressas pelas parturientes, exceto as emoções medo e alegria que foram amplamente codificadas e referenciadas pelas participantes.

Tabela 11 – Comparação das emoções quanto à codificação pela FACS e verbalização das parturientes no período expulsivo – São Paulo, 2015.

Emoção / (FACS) Verbalização Kappa (I.C. 95%) Não Sim Medo Não 9 2 0,37 (0,17; 0,57) Sim 18 66 Alegria Não 0 0 __ Sim 4 91 Raiva Não 0 0 __ Sim 85 10 Nojo Não 45 0 0,06 (-0,01; 0,12) Sim 47 3 Tristeza Não 63 0 0,08 (-0,03; 0,19) Sim 30 2 Surpresa Não 0 0 __ Sim 59 36

8 Discussão

Esta pesquisa buscou estudar a influência da iluminação em sala de parto nas manifestações emocionais das parturientes. Uma vez que não foram encontrados estudos semelhantes, a discussão dos dados foi realizada tendo como referência os principais estudos internacionais sobre codificações de emoções e como cada uma das seis emoções analisadas se organizam em nosso corpo. Além disso, foram procurados estudos de fisiologistas que dissertaram sobre a questão da influência da iluminação nos seres humanos.

Uma dificuldade encontrada foi a constatação de que todos os trabalhos encontrados de avaliação das emoções de mulheres no ciclo gravídico puerperal são de natureza qualitativa, pautados nas verbalizações das mulheres, dificultando, dessa forma, a comparação com o presente estudo(31-65).

Acredita-se que o método utilizado nesta pesquisa foi adequado para alcançar os objetivos propostos. O tamanho amostral sugerido foi superado com o intuito de buscar maior significância estatística ao estudo. Contudo, também foi possível superar esses números devido ao alto número de partos da instituição que acolheu esta pesquisa.

Segundo Michel Odent(48), a mulher precisa desativar seu intelecto e resgatar seu lado primal de condição mamífera para conseguir parir(48). Analisando o contexto desse pesquisador de grande respeito internacional na área de humanização do parto, e verificando os dados dessa pesquisa sobre o grau de escolaridade das parturientes, tentou-se estabelecer as diferenças do tipo de emoção apresentada com o preparo instrucional ao longo da vida de cada uma, considerando previamente a hipótese de que quanto maior o grau de escolaridade mais dificultoso seria o parto, devido à ativação do neocórtex materno da atividade intelectual ser comparada com um maior nível de escolaridade. Porém, os achados do estudo não possuem diferenças estatísticas significativas entre essas relações, mas caracterizam uma média de 8,8 anos de estudos das participantes, evidenciando que o baixo grau de escolaridade entre as mulheres das periferias de grandes metrópoles brasileiras ainda é um desafio social de nosso país.

Considera-se que o tempo médio de expulsivo de 16,9 minutos não é relevante, visto que os partos foram realizados por diferentes profissionais, tendo cada um sua particularidade de encaminhamento da parturiente do pré-parto à sala de parto. Há profissionais que realmente encaminham as parturientes com dilatação total, feto encaixado e presença de puxos involuntários, enquanto que há aqueles que as levam um pouco mais precocemente. Este dado, porém, não pode ser mensurado devido ao fato de a pesquisadora não realizar o acompanhamento dessa evolução cervical e descida fetal. Durante as filmagens, todavia,

pudemos observar que houveram parturientes encaminhadas às salas de partos sem a presença de puxos involuntários, o que ocasionou a solicitação profissional de puxos dirigidos.

Quando o estudo avaliou a presença de emoções sem diferenciar os grupos, foi observado que, de maneira geral, as emoções mais prevalentes no expulsivo foram “medo”, “alegria” e “raiva” (médias: 20,4 ; 24,8 e 33,9% respectivamente).

O “medo”, dentre as seis emoções analisadas, é a emoção mais consolidada cientificamente devido a inúmeros estudos com esse tema(55), provavelmente porque é fácil de despertá-lo com ameaças de danos físicos ou psicológicos e pode-se aprender a sentir medo de quase tudo. Com isso, há estudos qualitativos em que as mulheres verbalizam fortemente o medo da transição que esse momento oferece, do novo papel social de ser mãe, de qualquer coisa dar errado, de morrer, do filho não ser completamente saudável, de não ser capaz de parir, de não ser bem tratada e respeitada e por fim, medo da maior angústia influenciada por nossa cultura brasileira cesarista: o medo da dor(20,30,34,41).

O medo esteve presente em média de 20,4% (n = 95) das parturientes, enquanto que 100% das mulheres verbalizaram não terem recebido preparo ou orientação prévia para o trabalho de parto e parto, o que, infelizmente, caracteriza uma assistência inadequada do pré- natal(13) e favorece a exacerbação dessa emoção no parto. Fato este também complicador ao trabalho dos profissionais que estão conhecendo a paciente nesse momento. Orientar alguém com dor e com todo o medo aflorado nesse momento é muito mais difícil sem um preparo prévio.

Em contraste ao “medo”, a “alegria” é a emoção menos estudada, provavelmente porque quase todas as pesquisas são dedicadas às emoções perturbadoras, que concentram suas preocupações nos problemas e também, provavelmente, porque se dá mais valor na área da saúde ao curativo, ou seja, resolver os problemas, esquecendo-se de evidenciar o que é agradável(55).

Dentre os estudos qualitativos, as mulheres que se tornam mães verbalizam intensa alegria de gerar um filho e ver o quanto o parto, apesar da dor, traz uma recompensa agradável, que é a concretização daquele “sonho de ser mãe” e ainda mais ressaltado pela chegada de um filho saudável, apoio do companheiro e finalmente a formação ou expansão da unidade social chamada família(24,28,30,66).

A emoção “raiva” por sua vez é amplamente estudada em pesquisas com abordagens de transtornos mentais e sobre qualquer tipo de violência. Por outro lado, quando são analisados estudos na área da obstetrícia, encontra-se essa emoção descrita apenas em estudos

qualitativos sobre violência obstétrica, os quais concluem que as parturientes ficaram insatisfeitas com o atendimento recebido no processo de parto(11,16,20,67).

Ekman e Rosemberg(55) afirmam em diversos estudos que a “raiva” controla, castiga e revida. Então como imaginar a “raiva” como a emoção mais presente em todos os partos desse estudo? Pois, como algo tão socialmente exclamado por ser recompensador e alegre como é o parto, pode gerar uma emoção de insatisfação?

Pode-se entender melhor essa tríade de que a raiva controla, castiga e revida(55) por meio de estudos de saúde primal(48,67-69), os quais evidenciaram essa emoção como a emoção mais primal do ser humano, aquela que se perpetua desde os primórdios dos tempos da era dos homens da caverna.

Considerando que a humanidade só existe graças ao evento primal e fisiológico do parto, pois ninguém nasce sem ser por ele, pode-se fazer essa associação de que o parto envolve “raiva”, pois, para uma mulher consentir fisiologicamente que seu filho nasça, ela precisa resgatar seu lado animal, a mamífera que existe em seu corpo, independentemente da sua evolução intelectual. Ou seja, a “raiva”, como emoção primal, controla a fisiologia do parto, uma vez que a “raiva”, devido a sua intensidade, filtra e até mesmo impede o sofrimento de interferências neocorticais(48).

Como castigo, a “raiva” gera dor, a dor das contrações uterinas geradas pela liberação de ocitocina na fisiologia do parto; por sua vez, a “raiva” revida fazendo a mulher expulsar aquela criança. De acordo com estes estudos de emoções e saúde primal, consegue-se entender a “raiva” como o gatilho fundamental para o período expulsivo do trabalho de parto (TP)(48,55).

Quando são analisadas as emoções mais frequentes em cada grupo do estudo, os dados

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