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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 6 – MÉTODO

5. Procedimentos de coleta e análise de dados referentes à abordagem qualitativa

5.2. Análise de dados

No que se refere à pesquisa documental, as informações coletadas foram agrupadas em quatro categorias, a saber: “normas gerais” (regulamentos de ampla aplicação no setor público brasileiro, atinentes às licitações públicas); “normas internas” (regulamentos internos à Câmara dos Deputados, referentes às regras de execução das compras e contratações); “história e competências” (dados históricos da organização, concernentes a como se deu a divisão de competências afetas ao processo em estudo), e “outros” (demais dados gerais). A indexação das fontes documentais é apresentada no Quadro 36.

Quadro 36. Indexação das fontes documentais

Categoria Caracterização do material

Normas gerais Legislação e decretos federais que regem as compras de materiais e as contratações de serviços no setor público. Jurisprudência e doutrina correlata. Normas internas Atos da Mesa, portarias, resoluções e manuais da Câmara dos Deputados que adaptam as normas gerais à realidade do órgão.

História e competências

Normativos internos e demais documentos que cuidam da distribuição de competências ao longo do processo de compras e contratações na Câmara dos Deputados, bem como da evolução histórica da estrutura administrativa relacionada ao processo, em especial do Departamento de Material e Patrimônio, órgão central incumbindo da instrução do rito.

Outros

Dados gerais da organização (número de servidores, setores envolvidos no processo em estudo etc.), dados gerais do processo (montantes financeiros envolvidos, número de pleitos por período etc.) e processos de compras e contratações, empregados no estudo visando à melhor compreensão do rito.

Fonte: elaborado pelo autor.

No que diz respeito aos dados primários, optou-se por proceder à análise de conteúdo, assim definida por Bardin (1979, p. 42):

[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

A análise de conteúdo conduzida neste estudo empregou categorias pré-definidas, correspondentes às categorias do modelo teórico de práticas organizacionais adotado. Procurou-se, quando da análise de determinada categoria de prática organizacional, congregar o conteúdo afeto às suas relações com o desempenho do processo de compras de bens e contratações de serviços, bem como com a inovação. Bardin (1979) considera três etapas básicas para o desenvolvimento da análise de conteúdo: a pré-análise, a exploração do

material e o tratamento dos resultados e inferência. O Quadro 37 explicita tais etapas, bem como enumera os procedimentos inerentes efetuados nesta pesquisa:

Quadro 37. Etapas da análise de conteúdo

ETAPA DESCRIÇÃO PROCEDIMENTOS EFETUADOS

Pré-Análise

Organização do material a ser analisado com o intuito de torná- lo operacional e sistematizar as ideias iniciais.

 Transcrição das entrevistas;

 Leitura flutuante das transcrições das entrevistas;

 Delimitação do material a ser analisado – o

corpus de análise.

Exploração do Material

Codificação e agregação dos dados brutos em unidades segmentadas – unidades de registro e unidades de contexto.

 Codificação;

 Classificação dos conteúdos codificados, agrupando-os consoante as categorias de análise cultural de D’Iribarne (1989);

Tratamento dos Resultados e

Inferência

Obtenção de significados diversos (culturais e sociais) baseados nos dados brutos.

 Reflexão direcionada ao conteúdo codificado, por categoria de análise;

 Análise das práticas organizacionais, por categoria de análise, bem como da relação com as práticas de cada categoria com o desempenho e a inovação do processo de compras de bens e contratações de serviços;  Inferências baseadas em conteúdo que transcendeu as categorias do modelo teórico. Fonte: elaborado pelo autor, com base em Bardin (1979).

A transcrição das entrevistas foi realizada manualmente e diretamente pelo pesquisador, sem recorrer-se a eventuais softwares que auxiliassem nesta etapa. Procurou-se, nessa tarefa, observar-se a orientação de Bourdieu (1999) no que concerne à legibilidade do texto transcrito, ou seja, em aliviar-se o texto de redundâncias verbais e de tiques de linguagem, favorecendo a análise ulterior.

A etapa de exploração do material e tratamento dos resultados foram realizadas com subsídio, no que coube, do software ATLAS.ti – versão 7.0. Esse software auxiliou na codificação das entrevistas, indexando trechos de acordo com as categorias de análise constantes do modelo teórico.

As tarefas realizadas no âmbito do ATLAS.ti podem ser assim relacionadas, cronologicamente:

 Criação de uma Unidade Hermenêutica, ou seja, de um arquivo que irá congregar os textos das entrevistas e no qual será realizada a codificação;  Importação dos textos das entrevistas, já transcritos em um editor de texto.

Uma vez importado o arquivo de uma entrevista na unidade hermenêutica criada, esse arquivo recebe a nomenclatura de documento primário;

 Inserção dos códigos, que irão nortear a análise em si. Tendo em vista que, no presente estudo, objetivou-se a adoção do modelo de D’Iribarne (1989), sete códigos foram inseridos, cujas denominações corresponderam às categorias de análise da lógica cultural inerentes a esse modelo;

 Codificação.

Procedeu-se à codificação por dois dos métodos disponíveis nesse programa. Primeiramente, empregou-se o artifício code-by-list, que permite a atribuição de códigos predeterminados a trechos selecionados diretamente pelo pesquisador nas entrevistas.

Em seguida, foi utilizada a ferramenta autocoding, que possibilita a codificação automática da informação, tendo por critérios expressões correlatas inseridas pelo pesquisador relativas a cada uma das categorias.

A opção pelo uso do code-by-list em um primeiro momento deu-se em função de possibilitar uma maior familiarização do pesquisador com o texto das entrevistas, suscitando a identificação de expressões capazes de complementar as inicialmente concebidas para critério de codificação via autocoding. Recorreu-se ao artifício do software de condicionar a codificação automática de cada trecho a uma confirmação prévia e pontual deste autor, o que possibilitou o emprego de expressões idênticas para mais de uma categoria.

O Quadro 38 apresenta os termos empregados, por categoria, para a codificação automática.

Quadro 38. Expressões empregadas para codificação automática no software ATLAS.ti, por

categoria de análise

CATEGORIA EXPRESSÕES EMPREGADAS PARA CODIFICAÇÃO

AUTOMÁTICA

Senso de dever

comprometimento (e variações); direito(s); dever(es); ética (e variações); cumprir (e variações); consciência (e variações); dedicação (e variações);

disciplina (e variações); envolvimento (e variações); colaboração (e variações); motivação (e variações); empenho (e variações).

Relações de autoridade hierárquica(s); nível(is) hierárquico(s); autoridade (e variações); acesso poder; nível(is) organizacional(is); hierarquia; relação(ões) (e variações).

Definição de responsabilidades cinzenta; autoridade (e variações); norma; conduta; regra(s); bagunça. responsabilidade; trabalho; delegar (e variações); indefinição; zona Regulação moderação (e variações); adaptação (e variações); flexível (e variações); mudança; diálogo; conduta; regra(s); norma(s). Recompensas e punições sanção; sanções; punição; punições, penalidade(s); recompensa(s); reconhecimento; elogio; diálogo; caso; disciplina (e variações);

feedback; conduta; prêmio; função.

Percepção de controle variações); limite (e variações); feedback; conduta; regra(s); norma(s). controle (e variações); monitorar (e variações); liberdade; confiança (e Qualidade da cooperação cumplicidade; lealdade (e variações); cortesia (e variações); respeito (e amizade; colega(s); cooperação; confiança (e variações); conflito(s);

CATEGORIA EXPRESSÕES EMPREGADAS PARA CODIFICAÇÃO AUTOMÁTICA

variações); Fonte: Elaborado pelo autor.

As duas codificações (code-by-list e autocoding) foram conduzidas dentro da mesma unidade hermenêutica (ou seja, do mesmo arquivo de análise no ATLAS.ti), a fim de evitar redundâncias de codificação para o mesmo trecho da entrevista, bem como de evidenciar as oportunidades de complementação dos métodos de codificação.

Ao final da codificação, procedeu-se à extração dos trechos selecionados por categoria, sendo exportados em arquivos distintos, facilitando a etapa do tratamento dos resultados e inferência.