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Como a pesquisa tem uma perspectiva compreensiva, assumi, então, como referencial metodológico para a análise dos dados, a hermenêutica, particularmente a Hermenêutica em Profundidade (HP), ancorada nos pressupostos de Thompson (1995), pois

[...] este referencial coloca em evidência o fato de que o objeto de análise é uma construção simbólica significativa, que exige uma interpretação. Por isso, devemos conceder um papel central ao processo de interpretação, pois somente desse modo poderemos fazer justiça ao caráter distintivo do campo-objeto. Mas as formas simbólicas estão também inseridas em contextos sociais e históricos de diferentes tipos; e sendo construções simbólicas significativas, elas estão estruturadas internamente de várias maneiras (THOMPSON, 1995, p. 350).

Nessa perspectiva de análise, o autor divide o método em três etapas: a) análise sócio-histórica; b) análise formal ou discursiva; e c) interpretação/reinterpretação. Na pesquisa, essa divisão será utilizada e, em cada uma delas, será feita uma etapa do estudo.

Assim, na análise sócio-histórica, foi feito um mapeamento da situação da agricultura familiar e da alimentação escolar no município de Canindé, com o fim de compreender as instituições sociais que têm influência nesse processo. Nesse momento, também foi realizado um levantamento das condições sociais dos sujeitos envolvidos na temática para, assim, elaborar uma análise sócio-histórica das condições do município, para promover a inclusão dos alimentos da agricultura familiar na alimentação escolar. Desse modo, como preconiza Thompson (1995), para essa etapa

A tarefa da primeira fase do enfoque da HP é reconstruir as condições e contextos sócio-históricos de produção, circulação e recepção das formas simbólicas, examinar as regras e convenções, as relações sociais e instituições, e a distribuição de poder, recursos e oportunidades em virtude das quais esses contextos constroem campos diferenciados e socialmente estruturados (p. 369).

Na fase de análise formal ou discursiva, foram realizadas entrevistas com os diferentes sujeitos da pesquisa, levando em consideração aqui também as orientações de Kaufmann (2013). As entrevistas foram abertas e feitas de forma profunda para delimitar a compreensão do fenômeno no Município de Canindé. Assim, as indagações foram analisadas, levando em consideração as ações sociais empreendidas pelos diferentes participantes. Os discursos foram os objetos primordiais para o entendimento dos processos na região. Nesse sentido, Thompson (1995) argumenta que

[...] embora as instâncias do discurso sejam sempre situadas em circunstâncias sócio- históricas particulares, elas também apresentam características e relações estruturais que podem ser analisadas formalmente, com a ajuda de vários métodos do que eu chamei de análise discursiva (p. 371).

Por fim, na terceira etapa foi feita a interpretação/reinterpretação dos dados, com suporte na teoria eleita para a pesquisa e com os achados do campo, sem que haja uma hierarquia de valores. A pesquisa de campo, como já enunciado, balizou todo o processo de categorização das análises, a fim de apreender o fenômeno e apresentar à comunidade possíveis caminhos para a compreensão da problemática. Como nas demais fases, as recomendações de Thompson (1995) foram imprescindíveis para a construção da análise. Assim, o autor defende que

[...] as formas simbólicas que são o objeto de interpretação pelos sujeitos que constituem o mundo sócio Histórico. Ao desenvolver uma interpretação que é mediada pelos métodos do enfoque da HP, estamos reinterpretando um campo pré- interpretado; estamos projetando um significado possível que pode divergir dos significados construídos pelos sujeitos que constituem o mundo sócio-histórico (THOMPSON, 1995, p. 276).

Foi nesse exercício que as categorias de análise do trabalho emergiram. As categorias são os pontos chaves do discurso que mais se repetiram na fala dos entrevistados.

Foi importante confrontá-las com a revisão bibliográfica. Por exemplo, na pesquisa em foco, a frase “depende do gestor” foi utilizada por todos os sujeitos, o que denotava uma insatisfação de todos com a gestão da alimentação escolar no município. Porém, esse gestor também poderia ser o diretor da escola que poderia fazer algo, ou o gestor do sindicato e assim por diante. A partir disso, foi eleita a categoria de análise gestão da alimentação escolar, de modo que todos os discursos que mencionavam isso foram agrupados e foi traçado um raciocínio que conduzisse à discussão.

Foi nessa perspectiva que a triangulação dos dados e a construção da teoria se realizaram, sempre em um movimento de análise e em confronto com o que foi dito pelos interlocutores, pelo que foi escrito pelos cientistas da área e pelo que foi observado pelos pesquisadores em campo.

É preciso considerar, portanto, que todas as conclusões defendidas têm um caráter provisório e só podem ser ponderadas levando em consideração o contexto social, o suporte teórico e os métodos eleitos para o desenvolvimento do estudo.

Nesse sentido, discutimos, no capítulo seguinte, as publicações sobre o PNAE que versam sobre a inclusão do agricultor familiar, bem como a legislação e a política do Estado para esse fim.

3 PNAE E AGRICULTURA FAMILIAR: O DEBATE NAS PRODUÇÕES BRASILEIRAS E A AÇÃO DO ESTADO PARA APROXIMAR O AGRICULTOR DA ESCOLA

3.1 Introdução

Este capítulo tem como objetivos analisar as produções científicas nacionais que versam sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar em conexão com a Agricultura Familiar, discutir a legislação sobre o assunto e apresentar e o material didático oferecido pelo Estado, com o intuito de facilitar o acesso dos agricultores e agricultoras a esse mercado.