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A pesquisa qualitativa empregada nesse estudo adotou como base referencial central os pressupostos de Bardin (1977). Ela foi aplicada sobre os editais de contratação do serviço de desenvolvimento de software que serviram como fontes de evidências (vide Quadro 14). Em conjunto com a técnica de Bardin, também foram utilizadas outras referências complementares (MILES; HUBERMAN, 1994; LAVILLE; DIONNE, 1999; PATTON, 2002).

De acordo com Bardin (1977), a análise de conteúdo pode ser considerada como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos, criteriosos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, e tem como propósito principal o estudo do contexto, ou significado dos conceitos, nas mensagens, bem como caracterizar suas influências sociais e as condições que induziram ou produziram as mensagens. A obtenção das características de uma mensagem por meio de sua comparação com receptores distintos, ou em situações diferentes com os mesmos receptores, também é levada em consideração nesse estilo de análise. Em complemento, a análise de conteúdo é recomendada também para analisar sistemas de significado no nível organizacional (SCOTT, 2001).

Na análise de conteúdo, o ponto de partida é a mensagem, mas devem ser consideradas as condições contextuais de seus produtores, fundamentando-se na concepção crítica e dinâmica da linguagem (PUGLISI; FRANCO, 2005), e normalmente se refere mais à análise de texto, como transcrições de entrevistas, diários ou documentos, do que em notas de campo com base na observação (PATTON, 2002). O autor também considera que a análise de conteúdo seja usada para referir-se à redução de qualquer dado qualitativo e ao esforço de dar sentido ao que toma um volume de material qualitativo e tenta identificar consistências e significados centrais. Esses significados centrais são frequentemente chamados de padrões ou temas. O termo padrão normalmente se refere a um achado descritivo relativo à frequência de ocorrência, enquanto um tema adquire uma forma mais categórica ou de tópico ou de dimensão.

A habilidade na análise de conteúdo envolve uma série de competências, sendo uma delas o reconhecimento de padrões (PATTON, 2002). Mas cabe destacar que a intenção dessa análise é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente recepção), inferência esta que recorre a indicadores, quantitativos ou não (BARDIN, 1977). A análise de conteúdo foi qualitativa, onde a base de investigação são indicadores que não são

frequência, embora capazes de permitir inferência pela sua presença ou ausência, sendo algumas das características dessa técnica de análise a elaboração das deduções específicas sobre um acontecimento ou uma variável de inferência precisa, e não em inferências gerais; e fundamentada na presença do índice (palavra, tema) e não sobre a frequência.

Uma das estratégias que podem ser utilizadas para a análise de conteúdo qualitativa é a chamada emparelhamento (pattern-matching), ou adequação ao padrão, que consiste na associação dos dados empíricos a um modelo de pesquisa – previamente definido na fundamentação teórica realizada pelo pesquisador – com a finalidade de compará-los, ou seja, comparar o modelo teórico de pesquisa com o que foi observado. O sistema de análise que surge do modelo serve tanto como instrumento de classificação em categorias como de análise e interpretação dos conteúdos (LAVILLE; DIONNE, 1999).

Assim, considerando-se os pressupostos de Bardin (1977) e das demais referências complementares, a presente pesquisa qualitativa utilizou a técnica de análise de conteúdo por meio da técnica de análise categorial, adotando como unidade de significação (ou registro) temas, de maneira a estabelecer o critério de categorização semanticamente, e não sintaticamente (agregação de verbos, adjetivos, pronomes, dentre outros) ou lexical (agregação pelo sentido das palavras). Os temas envolveram o recorte de seções completas dos editais de contratação, bem como de cláusulas avulsas, ou mesmo bloco de cláusulas, quando essas encerrassem contexto temático necessário para a consecução da pesquisa.

A categorização dos temas foi realizada a partir de sistema de categorias previamente definido (MILES; HUBERMAN, 1994) e decorre do modelo de pesquisa desenvolvido na fundamentação teórica (vide Figura 12). Esse processo de categorização, onde as unidades de registro são baseadas em um sistema de categorias instituído e oriundo da teoria é reconhecido como procedimentos por caixas (BARDIN, 1977).

A estrutura oferecida pela análise de conteúdo, utilizando os editais de contratação realizados pela APF como fontes de evidências, propiciará as condições para o atingimento dos objetivos dessa pesquisa. Essa estrutura se organiza em torno de três fases: 1) Pré-análise, com a organização do texto e a elaboração de indicadores para a análise; 2) Exploração do material, ou fase de análise, por meio de operações de codificação com base nos critérios estabelecidos; e 3) Tratamento dos resultados, por meio de inferência e interpretação.

Na primeira fase, foram realizadas leituras flutuantes em cada um dos editais, objetivando estabelecer o primeiro contato e familiaridade com o material, sua linguagem e especificidades, facilitando o processo de compreensão do conteúdo. Esse entendimento

favoreceu o reconhecimento dos temas e de sua posterior associação com os elementos do modelo proposto.

Na segunda fase foi realizada a categorização dos temas, dando ênfase ao procedimento por caixas, adotando-se a estratégia de análise de emparelhamento ou adequação ao padrão, sendo adotada como regra de enumeração a presença ou ausência de temas referentes ao sistema de categoria previamente definido. Esse sistema de categorias, originário do modelo de pesquisa, dá suporte a essa etapa, direcionando, mas não limitando, o procedimento de categorização. A terceira fase reservou-se à interpretação dos dados já categorizados, obtendo os insumos necessários para a composição do modelo de elementos institucionais objeto dessa pesquisa.