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Análise De Aplicabilidade Do Sistema PBC Em Fundições De Mercado

4 CONTROLE DA PRODUÇÃO

4.5 Análise De Aplicabilidade Do Sistema PBC Em Fundições De Mercado

A partir da análise dos vários sistemas de controle da produção tratados anteriormente e das características principais dos ambientes produtivos complexos, especificamente, no que se refere este trabalho, ao ambiente produtivo das fundições de mercado, acredita-se que o sistema PBC apresente uma alternativa viável, simplificada, a custos acessíveis e adequada ao ambiente produtivo deste setor industrial. Para que se possa justificar esta afirmação, é conveniente uma investigação inicial da origem do sistema PBC.

O sistema PBC foi inicialmente desenvolvido por R. J. Gigli no Reino Unido durante a década de 1930, e usado para regular a produção do caça “Spitfire” durante a segunda guerra mundial. Baseando sua produção em uma série de programas de produção de curto prazo e de períodos idênticos em um único ciclo, pôde apresentar altas taxas de giro de estoques, sendo um dos sistemas de coordenação de ordens pioneiros na aplicação dos conceitos “Just-in-time” (BURBDIGE, 1996).

Para que se possa entender como o sistema PBC pôde proporcionar estes avanços, é importante analisar o contexto no qual foi criado. Nos anos anteriores e também durante a II guerra mundial o Reino Unido sofria uma grande escassez de recursos produtivos, além de trabalhar com datas de entregas apertadíssimas, principalmente em sua indústria bélica. O ambiente de produção do “Spitfire”, por sua vez, possuía elevada complexidade, devido, principalmente, à própria complexidade do produto produzido, além de, naquela época, várias técnicas sofisticadas de produção ainda não estarem disponíveis como, por exemplo, a manufatura flexível, a troca rápida de ferramentas e a organização celular, sem contar que, ainda não existiam recursos computacionais para auxiliar no controle da produção. Este contexto limitou as alternativas disponíveis para se alcançar eficácia nos ambientes de produção ingleses. À revelia das dificuldades existentes, R. J. Gigli, que na época era diretor de uma importante consultoria industrial no Reino Unido, se baseou na utilização de programas de produção de curto prazo, possuindo a mesma duração e sendo emitidos

conjuntamente, para superar os problemas existentes e atender, com eficácia, às necessidades produtivas da indústria bélica inglesa (BURBDIGE, 1996).

Findado a guerra, o ocidente experimentou um grande crescimento de sua economia e uma massificação de sua produção através de uma filosofia produtiva centrada em estoques. Neste novo contexto, as ineficácias dos ambientes produtivos não tinham grandes reflexos, em termos competitivos, em um mercado ávido por consumo, ao mesmo tempo em que trabalhar com escassez de estoques, e de recursos materiais, remetiam à lembrança da guerra. Por outro lado, os sistemas com base em estoques traziam a idéia de fartura e pujança. Estes e também vários outros fatores menores contribuíram para que o ocidente, como um todo, criasse uma filosofia de produção com base em estoques, em contra-senso ao que já se tinha sido alcançado. Enquanto o leste, principalmente o Japão, passava dificuldades gravíssimas com o pós-guerra, absorvendo as filosofias produtivas com base em baixos estoques e ciclos únicos e curtos de produção.

Com a nova realidade competitiva atual, as indústrias ocidentais se viram frente a uma indústria oriental enxuta, rápida e flexível, apresentando uma grande eficácia produtiva, enquanto as indústrias ocidentais, por outro lado, apresentam complexidades e ineficiências demasiadas em seus ambientes produtivos, possuindo, em muitos casos, sérias desvantagens em relação a seus competidores orientais, ainda mais, em um mercado de competição acirrada onde pequenos detalhes fazem diferença. O principal responsável pela eficácia das indústrias orientais foi à adoção de filosofias de produção do tipo “Just-in-time”, através do sistema de controle da produção Kanban. Este fato fez com que as indústrias ocidentais realizassem uma corrida em direção a sistemas de controle da produção deste tipo.

O sistema Kanban é simples e eficaz, por outro lado, possui algumas limitações de aplicação, principalmente em empresas com produção do tipo baixo volume e alta variedade e/ou com dificuldades de diminuição dos tempos de produção e preparo de operações, além de apresentar sérias dificuldades quando se consideram incertezas produtivas. Apesar disto, muito se tem evoluído na adoção de sistemas do tipo Kanban em indústrias, proporcionando a simplicidade e eficácia desejada quando sua aplicação é possível. Por outro lado, o sistema PBC foi pouco difundido e seu potencial continua quase que inexplorado atualmente.

A vantagem do sistema PBC é que, pode-se conseguir a agilidade e eficácia conseguida com sistemas do tipo Kanban, tanto em ambientes produtivos aptos aos sistema Kanban, como também em ambientes nos quais o sistema Kanban não se aplica, devido ao efeito volume/variedade, restrições de produção e/ou incertezas relacionadas. Por fim, o sistema de controle de produção PBC representa uma alternativa de controle da produção eficaz para vários setores industriais.

Considerando particularmente o ambiente produtivo das fundições de mercado, como mostrou o “survey” desenvolvido por FERNANDES & LEITE (2002), os principais interesses destas indústrias quanto a seus fatores de competitividade, são: a qualidade do produto fundido segundo as especificações do cliente, o atendimento dos prazos de entrega estipulados pelo cliente e o rápido atendimento de pedidos urgentes, sendo que, o atendimento dos prazos é o que mais deve ser melhorado.

O sistema de controle da produção PBC poderá vir ao encontro destes objetivos principalmente devido ao fato de:

• O término de todos os trabalhos serem realizados ao mesmo tempo, no final do ciclo, garantindo a determinação de prazos de entrega mais realísticos e, consecutivamente, o atendimento aos prazos fixados;

• O emprego de ciclos curtos de produção permitir a redução do prazo de entrega e a possibilidade de um atendimento mais rápido aos pedidos urgentes, sem causar grandes transtornos aos pedidos já agendados;

• A emissão de ordens de produção ser realizada somente para os itens realmente necessários, mantendo o nível de estoques reduzidos e melhorando, conseqüentemente, a qualidade do produto, devido à redução do manuseamento, transporte e o tempo de armazenagem dos moldes;

• Possuir maior simplicidade, permitindo um controle mais eficaz e com baixo custo; • Apresentar também maior flexibilidade, necessitando de uma menor quantidade de

pedidos firmes para realizar a programação da produção, possibilitando maiores alterações neste programa e permitindo que os pedidos urgentes possam ser programados com maior agilidade;

• A necessidade de uma menor quantidade de pedidos firmes para realizar a programação da produção também colabora para o emprego de métodos sofisticados

para a elaboração da programação da produção e também para a programação de operações;

• Os ciclos curtos de produção facilitam o emprego de estimativas de capacidade das operações e consumo das mesmas pelos itens a produzir, diminuindo o impacto causado pela falta de acuidade destas estimativas e permitindo que soluções simples como intercâmbio de capacidade entre operações, banco de horas, horas-extras, entre outras, possam resolver a maior parte dos problemas decorrentes;

• Os ciclos curtos de produção também facilitam a elaboração da programação de operações, principalmente no ambiente produtivo das fundições de mercado, onde a necessidade de flexibilidade para este tipo de programação é essencial; e,

• O agrupamento das operações produtivas em estágios distintos e ordenados facilita a coordenação entre operações de estágios separados e simplifica a consideração das restrições do ambiente produtivo.

Pode-se avaliar que, tão importante quanto a proposta de um método para a elaboração da programação da produção para fundições de mercado, é a consideração do sistema de controle da produção PBC, pois o mesmo fornece o pilar no qual o método de elaboração da programação da produção se fundamentará. Garantindo também que os esforços da proposta deste trabalho estejam indo ao encontro dos principais interesses das fundições de mercado pesquisadas e fornecendo a base para a operacionalização do controle da produção na realidade deste ambiente industrial, aproximando a proposta deste trabalho à realidade prática destas empresas.

4.6 Conclusão

Tomando por base a literatura existente e também a experiência adquirida em contato com o ambiente de produção das fundições de mercado, é possível perceber a lacuna de aplicação do corpo de conhecimento existente em controle da produção de forma efetiva em ambientes produtivos complexos.

Por outro lado, o extenso corpo de conhecimento disponível em controle da produção fornece a base para resolver problemas que levem em conta as principais características dos ambientes produtivos complexos, de forma que, desde que aplicada

convenientemente, a teoria disponível poderá ser efetivamente aplicada na prática de um ambiente de produção complexo.

Por fim, a análise dos sistemas de controle da produção mais comuns apontam para o sistema PBC como uma alternativa viável para simplificar o controle da produção de uma fundição de mercado, possibilitando uma operacionalização efetiva de seu ambiente de produção.