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Análise Dos Fatores Que Podem Adicionar Complexidade À

4 CONTROLE DA PRODUÇÃO

4.4 Análise Dos Fatores Que Podem Adicionar Complexidade À

Vários são os fatores que podem adicionar complexidade a um ambiente de produção. Por maior que seja o esforço empreendido no sentido de enumerá-los, invariavelmente, não se teria êxito, pois todas e quaisquer particularidades da maioria dos tipos de indústrias de produção deverão ser consideradas, tornando esta tarefa no mínimo inviável. Por outro lado, a consideração das particularidades produtivas que mais comumente adicionam complexidade à operacionalização de um ambiente produtivo, à luz de um ambiente de produção industrial complexo, pode elucidar várias hipóteses e guiar futuros desenvolvimentos no sentido de garantir maior aplicabilidade das técnicas e metodologias de controle da produção em ambientes produtivos complexos. A seguir alguns destes fatores são citados, tomando por base a experiência adquirida com o ambiente de produção das fundições de mercado:

• Grau de repetibilidade. Por ordem de relevância, um dos fatores que comumente adicionam complexidade a um ambiente de produção è o grau de repetibilidade de sua produção. Quanto maior o grau de repetibilidade, mais o ambiente de produção se caracteriza como um ambiente de produção em massa, simplificando consideravelmente o controle da produção, desde a programação mestre da produção até a realização da programação de operações. Por outro lado, uma baixa repetibilidade conduz a um ambiente de difícil gerenciamento, produzindo um elevado número de produtos diferentes. Este ambiente produtivo geralmente é

caracterizado como “Job shop”, exigindo grandes investimentos em controle da produção para se conseguir uma operacionalização efetiva;

• Dificuldade de se realizar previsões de demanda. Este fator é também de considerável importância para um ambiente de produção complexo, pois dificulta a realização de planejamentos de longo e médio prazo (ÖZDAMAR & YAZGAÇ, 1997) (BAYKASOGLU, 2001) (BYRNE & BAKIR, 1999), até mesmo, dependendo do caso, de planejamentos de curto prazo para a realização do controle da produção, adicionando incertezas a estes ambientes;

• Produtos personalizados e/ou sob encomenda. Atualmente, cada vez mais os clientes exigem personalização, dificultando a realização da padronização do ambiente produtivo, aumentando consecutivamente sua desestruturação, contribuindo também com a diminuição da repetibilidade produtiva e adicionando incertezas;

• A variação dos tempos de “setup” com a variação da seqüência de produção, também conhecida como “setups dependentes”;

• Dificuldade na definição dos tempos das operações e do processo de produção. Em alguns ambientes de produção, devido a vários fatores como: produção personalizada, procedimentos rústicos, dificuldade de automação, entre outros, não é possível determinar com precisão os tempos envolvidos em cada operação produtiva ou, até mesmo, as próprias operações de produção necessárias, assim como o fluxo produtivo; e

• Restrições produtivas. É comum encontrar várias restrições produtivas em um ambiente de produção, o próprio limite de capacidade ou de materiais disponíveis é um exemplo. Entretanto, procedimentos simples, geralmente baseados no conhecimento e bom senso do responsável pela produção, permite lidar com restrições mais simplificadas com uma eficiência considerável. Por outro lado, em ambientes complexos, estas restrições produtivas não podem ser solucionadas facilmente e podem causar grande ineficiência produtiva se for solucionada sem tomar por base procedimentos mais sofisticados.

Vários autores têm discorrido sobre a problemática de aplicar os métodos e técnicas de controle da produção existentes em ambientes de produção complexos, envolvendo todos ou alguns dos fatores citados. FERNANDES & MACCARTHY (1999) reclamam por maior aplicabilidade dos desenvolvimentos na área de

planejamento e controle da produção, apontando a lacuna existente entre a teoria e a prática na área, através de várias preposições que procuram explicar este fato, estas preposições são listadas a seguir:

• Muitos problemas em planejamento e controle da produção são demasiados complexos e o grande número de modelos, técnicas, conceitos e ferramentas tornam impossível para um indivíduo conhecer todos os aspectos importantes da área, o que demanda a ação de equipes interdisciplinares;

• Várias pesquisas na área não consideram a programação de operações dentro da estrutura geral do planejamento e controle da produção, não considerando desta forma sua influência na natureza do problema (MACCARTHY & LIU, 1993) (CÂNDIDO, 1997) (GRABOT, BÉRARN & NGUYEN, 1999);

• Grande parte das teorias desenvolvidas em planejamento e controle da produção pela pesquisa operacional não especificam suficientemente o sistema de controle da produção que se aplica;

• Cada vez mais os sistemas produtivos estão produzindo por encomenda em detrimento dos sistemas de produção para estoques;

• Devido à compelxidade matemática envolvida, existem dificuldades em aplicar no planejamento e controle da produção os modelos desenvolvidos em pesquisa operacional;

• Os jornais acadêmicos de planejamento e controle da produção dão maior importância a relações matemáticas complexas do que para soluções aplicáveis na área;

• Teorias de planejamento e controle da produção baseadas em condições operacionais de estado de equilíbrio possuem cada vez menos importância prática, já que hoje o que se prepondera são as mudanças e não os estados de equilíbrio dos sistemas de produção;

• O grande paradoxo da área de planejamento e controle da produção é que os critérios utilizados nas teorias existentes são cada vez mais simplistas em relação aos modernos sistemas de manufatura atuais, mas a matemática utilizada na elaboração da teoria é cada vez mais complexa;

• O elevado nível de soluções particulares e o baixo nível de repetição aumenta a lacuna existente; e

• O grande nível de automação flexível contribui para que mais recursos físicos aumentem a desestruturação do ambiente produtivo.

A natureza dinâmica e complexa dos ambientes produtivos atuais também foi abordada por FUNG et al. (1997), onde os autores salientaram o fato dos sistemas tradicionais de manufatura não apresentarem a agilidade, flexibilidade, capacidade de lidar com incertezas, além da capacidade de se auto-adaptar às mudanças contínuas destes ambientes. Os autores reclamam por maior capacidade de tomada de decisões nos sistemas atuais além da consideração de várias restrições produtivas.

Ainda sobre os fatores que adicionam complexidade em um ambiente produtivo, SÉNÉCHAL (1998) relacionou os seguintes:

• Aumento da flexibilidade dos recursos produtivos. Esta característica exige cada vez mais a realização da programação da produção e programação de operações com uma grande combinação de possibilidades para execução destes programas;

• Organização por células produtivas. O elevado emprego de células de produção tornaram estes grupos produtivos mais independentes e responsáveis por uma grande variedade de produtos, necessitando de um suporte efetivo para realizar suas atividades;

• Aumento da importância da logística. O aumento da importância relacionada com fatores de logística exige a otimização dos fluxos físicos e de informação, assim como a inter-relação entre clientes, empresas e consumidores. Como conseqüência, o ambiente produtivo é pressionado para uma redução dos ciclos de produção, sincronização de atividades e aceleração dos fluxos de materiais e produtos; e,

• Aumento das atividades indiretas, como conseqüência dos fatores anteriores. Existem cada vez mais atividades indiretas que dificultam a alocação dos custos e o relacionamento com a capacidade dos recursos físicos de produção.

Os fatores levantados pelos autores citados não extinguem as possibilidades de caracterização das complexidades envolvidas com a operacionalização dos ambientes produtivos, podendo-se relacionar várias outras dependendo do ambiente de produção considerado. Apesar disto, os fatores relacionados traçam um perfil geral de muitas complexidades envolvidas com a operacionalização dos ambientes produtivos atuais e justifica os esforços no sentido de aumentar a aplicabilidade do corpo de

conhecimento existente visando propor soluções para uma operacionalização efetiva destes tipos de ambientes de produção.