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Contextualização Das Principais Atividades Envolvidas Com O Controle Da

4 CONTROLE DA PRODUÇÃO

4.2 Contextualização Das Principais Atividades Envolvidas Com O Controle Da

A função do gerenciamento empresarial que trata do controle da produção é a função produção. Considerando o ambiente global de uma empresa, a função produção pode ser representada como uma função principal, possuindo, as empresas, também outras funções interligadas, como a função vendas, a função contábil-financeira, a função desenvolvimento de produtos/serviços, além de outras funções, dependendo da empresa analisada (SLACK et al., 1999) (BONNEY, 2000) (GAITHER & FRAZIER, 2001). É responsabilidade primordial da função produção a elaboração do planejamento e controle da produção (PCP), além da elaboração das estratégias de produção ou planos de produção de longo prazo, projeto do produto, projeto do processo, previsão, planejamento da capacidade, tecnologias de produção, gerenciamento da qualidade, entre outras. Apesar de alguns autores como SIPPER & BULFIN (1998) não realizarem claramente uma separação destas atividades e as atividades do PCP.

Tanto o planejamento da produção quanto o controle da produção envolvem atividades de planejar e controlar. As diferenças fundamentais estão no

horizonte de tempo e grau de detalhe considerado. Assim, o planejamento da produção se envolve com questões de médio prazo, enquanto que no controle da produção tomam-se decisões de curto prazo e detalhadas, para execução de suas atividades. Na figura 4.1 é realizado um esforço no sentido de contextualizar as principais atividades envolvidas com o controle da produção.

FIGURA 4.1: Visão geral do planejamento e controle da produção e do sistema de controle da produção

A operacionalização do controle da produção é realizada em etapas sucessivas, partindo do mais abrangente em direção ao mais particular. Entretanto, é possível que a técnica ou metodologia utilizada para operacionalizar o controle da produção possa realizar varias destas etapas concomitantemente.

Planejamento Estratégico Contabilidade ... Finanças Compras Engenharia / Projetos Marketing Recursos Humanos Função Produção Sistema Produção Saíd as En tr ad as Realimentação Fronteiras Previsão Projeto do Produto ... Planejamento de Capacidade de longo prazo Planejamento Estratégico Prod. Qualidade Planejamento das Tecnologias de Produção Projeto do Processo Planejamento e Controle da Produção Função Produção Controle Planejamento ... Planejamento da capacidade de

médio prazo Planejamento agregado ... Planejamento mestre da Produção Programação da Produção Programação de operações Controle de Estoques Sistema de Controle da Produção Programaçà Da Produção Da Produção Ordering

Quanto à programação mestre da produção, seu principal objetivo, é criar um plano de produção de curto prazo, desagregado, que reflita os planos de produção de médio prazo, assim como os pedidos firmes e compromissos de produção já definidos. Para isto, este plano deve considerar a quantidade e quando cada produto será produzido, além dos estoques existentes, restrições de capacidade de produção, disponibilidade de material e “leadtime” de cada item componente (SIPPER & BULFIN, 1997).

Já a etapa de “ordering”, principal interesse de estudo deste trabalho, tem o objetivo de atender à programação mestre da produção, caso exista, de forma efetiva, tomando por base a necessidade de produção de cada produto final e suas listas de materiais, definindo as quantidades e datas de fabricação/requisição/compra para cada item componente, podendo considerar os estoques e/ou o fluxo de materiais, e considerando principalmente as restrições do ambiente produtivo, emitindo as ordens de produção necessárias, para cada item componente, para atender ao objetivo inicial.

O termo “ordering” (abordado em BURBIDGE (1981, 1996)) foi traduzido por ZACARELLI (1987) como “emissão de ordens”. Porém este termo limita o verdadeiro escopo da etapa de “ordering”. Uma tradução melhor é a de FERNANDES (2002): Coordenação de ordens de compras e de produção. Este autor classifica os sistemas de coordenação de ordens em: i) sistemas de pedido controlado; ii) sistemas de fluxo programado; iii) sistemas controlados pelo nível de estoque; iv) sistemas híbridos. Como na proposta deste trabalho será considerado um sistema de fluxo programado, o sistema PBC, considerar-se-á neste trabalho “ordering” como sendo a programação da produção. Dada a importância fundamental dos “ordering systems” para o controle da produção, os mesmos serão tratados por “sistemas de controle da produção”. Na próxima seção será feito um rápido resumo de alguns deles.

Por fim, a programação de operações é responsável por alocar todos os recursos produtivos, ao longo do tempo, com o intuito de realizar tarefas para se alcançar um determinado objetivo e obedecendo a um conjunto de restrições produtivas (MACCARTHY & LIU, 1993) (CÂNDIDO, 1997) (GUPTA, 2002). A literatura internacional utiliza comumente o termo “scheduling” para a programação de operações, o que pode levar a uma tradução equivocada do termo para a literatura nacional como frisado por FERNANDES (1991). Como define CONWAY et al. (1967)

o termo seqüenciamento e “scheduling” não são sinônimos. Seqüenciamento continuam os autores, é a ordenação das tarefas em uma única máquina e “scheduling” é o seqüenciamento simultâneo e sincronizado em várias máquinas. Visando evitar divergências, este trabalho prefere empregar o termo programação de operações.

4.3 – Visão geral de alguns “Ordering Systems”

Atualmente existem vários tipos de sistemas de controle da produção aplicáveis, dependendo das características particulares de cada ambiente produtivo. A análise detalhada do ambiente de produção e dos sistemas de controle da produção disponíveis cria direcionadores para a aplicação efetiva destes sistemas. É importante ressaltar que a escolha adequada de um sistema deste tipo, de acordo com um ambiente produtivo em particular, poderá simplificar a operacionalização de sua produção.

A seguir os principais sistemas de controle da produção atualmente disponíveis serão descritos resumidamente:

• Sistema de programação por contrato ou sistema grande projeto: este tipo de sistema é aplicável a um ambiente produtivo onde se produz produtos complexos feitos de acordo com projetos especiais, geralmente sob encomenda. Na operacionalização deste sistema deverá ser programada desde as operações de projeto inicial do produto, até mesmo as operações envolvidas com sua produção. É importante ressaltar que a maioria dos projetos são inéditos e envolvem a realização de estimativas sobre as durações das operações produtivas. Exemplos da operacionalização de sistemas grande projeto podem ser encontrados em SIPPER & BULFIN (1997), NAHMIAS (2001), BUFFA & SARIN (1987), GAITHER & FRAZIER (2001) e TUBINO (1987);

• Sistema de alocação de carga por encomenda: sistemas deste tipo são aplicáveis em ambientes produtivos nos quais produtos especiais ou inéditos são produzidos sob encomenda. A principal diferença com o sistema anterior reside na complexidade dos produtos produzidos, se referindo, neste caso, a produtos mais simples. Uma das grandes dificuldades existentes em sistemas deste tipo é a determinação de prazos de entrega, uma vez que os produtos a serem fabricados podem ser inéditos, é necessária a realização de estimativas de durações das operações produtivas, o que

nem sempre é possível, por falta de informações ou, até mesmo, desconhecimento de técnicas adequadas para realizá-las;

• Sistema de estoque controlado: estes sistemas são aplicáveis quando se regula o ambiente produtivo pelos níveis de estoques, garantindo o suprimento, tanto de produtos acabados, como de itens componentes e matérias primas, por meio da manutenção de estoques destes itens. Eventualmente emprega-se o cálculo do lote econômico para a determinação da quantidade a ser produzida ou comprada. Maiores detalhes sobre sistemas de estoques controlados assim como as nuances envolvidas com os mesmos poderá ser encontrado em SIPPER & BULFIN (1997), NAHMIAS (2001), BUFFA & SARIN (1987), GAITHER & FRAZIER (2001), TUBINO (1987) e JOHNSON & MONTGOMERY (1974).

• Sistema de planejamento das necessidades de materiais, também conhecido como sistema MRP: este sistema é principalmente aplicável à produção de produtos ou itens componentes, de acordo com um programa mestre de produção. Diferentemente dos sistemas de estoques controlados, estes têm por base o controle do fluxo de produção por meio do planejamento mestre da produção e do lote de produção para cada componente. A determinação das datas de término previstas é realizada com base nas informações sobre a lista de materiais dos produtos e também de seus processos de produção. Para isto, é realizada uma série exaustiva de cálculos considerando um grande número de informações do processo produtivo. Neste tipo de sistema, a programação da produção e operações, muitas vezes, pode inviabilizar o programa mestre de produção, por falta de capacidade produtiva, necessitando elaborá-lo novamente. A consideração, em conjunto, da programação mestre da produção e da programação da produção e operações ficou conhecida como sistema de planejamento dos recursos de produção ou MRP II, existindo atualmente vários fornecedores comerciais de ferramentas computacionais para a implantação deste tipo de sistema. Maiores detalhes sobre os sistemas MRP e MRP II podem ser encontrados em SIPPER & BULFIN (1997), NAHMIAS (2001), BUFFA & SARIN (1987), GAITHER & FRAZIER (2001), TUBINO (1987), CORRÊA & GIANESI (1993) (1998), FOGARTY (1991);

• O sistema Kanban consiste em um sistema de informação manual que puxa a produção, possuindo como principal vantagem a facilidade de operacionalização e a

diminuição dos custos de armazenagem. Maiores detalhes sobre este tipo de sistema podem ser encontrados em SIPPER & BULFIN (1997) e GAITHER & FRAZIER (2001);

• O sistema com base na teoria das restrições, também conhecido como sistema OPT (Optimized Production Theory), foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores israelenses, com base em uma série de procedimentos heurísticos. Este sistema é baseado no uso de um sistema computacional, entretanto, o algoritmo que o implementa não está disponível para domínio público. A base do sistema é aumentar o fluxo de produção ao mesmo tempo em que se reduzem os estoques e as despesas operacionais (CORRÊA & GIANESI, 1993). Para aumentar o fluxo, este sistema atua nos recursos tidos como “gargalos” que determinam o ritmo de produção. A partir daí são propostos nove enunciados que atuam sobre os recursos “gargalos” e “não-gargalos”, assim como no dimensionamento dos tamanhos dos lotes de produção e de transporte, balanceamento do fluxo e a consideração conjunta da programação da produção e operações (CORRÊA & GIANESI, 1993). Estes nove enunciados constituem a filosofia do sistema OPT, sendo conhecidos como teoria das restrições (GAITHER & FRAZIER, 2001)(SIPPER & BULFIN, 1997).

Por fim, outro sistema de controle da produção possível de aplicação em um grande número de ambientes produtivos é conhecido como sistema de período padrão ou PBC (Period Batch Control). Este tipo de sistema toma por base a divisão da produção em períodos iguais, ou estágios de produção, e o dimensionamento dos itens a serem produzidos é realizado de forma a atender a capacidade de produção de cada operação em cada estágio produtivo para o período considerado (BURBDIGE, 1981). Como comparação, o sistema MRP visa atender as necessidades previstas de itens a serem produzidos, para isto, calcula o número de períodos necessários, visando produzir estes itens em cada operação. Já no sistema PBC, o dimensionamento dos itens a serem produzidos obedece ao período de tempo único determinado para todas as operações. Esta característica primordial do PBC o classifica como um sistema de ciclo único enquanto o MRP é um sistema multi-ciclo.

A operacionalização de um sistema deste tipo segue as seguintes etapas primordiais, de acordo com BURBDIGE (1981):

• Com base no planejamento mestre da produção é realizada a determinação das necessidades de itens componentes; e,

• A seguir as ordens de fabricação e de compras destes itens componentes, ou seja, a programação da produção, é elaborada de forma balanceada, obedecendo às capacidades produtivas para o período considerado para cada estágio de produção no ciclo.

Neste tipo de sistema a programação da produção é muito importante. Já a programação de operações, em cada estagio do processo produtivo, poderá ser realizada de forma mais conveniente, desde que o período padrão seja obedecido. É importante considerar que a programação de operações em um sistema do tipo PBC tende a ser simplificada, devido à repetição dos ciclos e também ao horizonte de tempo reduzido em cada estágio de produção. Por fim, devido a sua estrutura de ciclo único, um sistema PBC possibilita, geralmente, uma considerável simplificação do ambiente produtivo, podendo ser aplicado tanto em ambientes de produção em série como também em lotes (BURBDIGE, 1996).

Dentre as vantagens da aplicação de um sistema deste tipo, pode-se citar, segundo BURBDIGE (1996):

• Minimização das perdas por obsolescência em virtude de todas as ordens serem emitidas em conjuntos balanceados;

• A emissão de ordens de produção é realizada somente para as peças realmente necessárias, mantendo o nível de materiais em processo reduzido;

• Maior simplicidade, permitindo um controle mais eficaz e com baixo custo;

• Maior flexibilidade, necessitando de uma menor quantidade de pedidos firmes para realizar a programação da produção, permitindo também maiores alterações neste programa;

• As ordens de produção de todos os componentes são emitidas ao mesmo tempo, permitindo que os itens que exigem um preparo similar sejam realizados em seqüência; e

• O sistema permite facilmente a adaptação e/ou hibridização com outros sistemas visando atender a ambientes produtivos específicos.

Em BURBDIGE (1996) poderá ser encontrado maiores detalhes de sistemas deste tipo, assim como sua aplicação em vários tipos de ambientes produtivos.

Por fim, podem-se organizar os principais sistemas de controle da produção da seguinte forma: Dentre os sistemas de fluxo controlado podem-se citar, o sistema MRP, o sistema PBC e o sistema OPT. São sistemas de ciclo único em nível de planejamento os sistemas Kanbam, PBC e OPT, enquanto o sistema PBC também o é em nível de operações. Já na categoria dos sistemas multi-ciclo se enquadra todos os sistemas de estoque base e também o sistema MRP. São sistemas “Just-in-time” os sistemas Kanban e PBC, enquanto os sistemas “Just-in-case” envolvem os sistemas de estoque base e o sistema MRP.

4.4 Análise Dos Fatores Que Podem Adicionar Complexidade À