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CAPÍTULO 3 – ESCOLHAS METODOLÓGICAS

3.3. Análise dos dados

3.3.1 Análise de conteúdo

Segundo Laurence Bardin (2009), a análise de conteúdo pode ser definida como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p. 44)

Essa autora entende como comunicação “qualquer veículo de significados de um emissor para um receptor” (BARDIN, 2009, p. 34), podendo utilizar código lingüístico (oral ou escrito), icônico (sinais, grafismos, imagens, fotografias, filmes, etc.) ou outros códigos semióticos (música, objetos diversos, comportamentos, sinais patológicos etc. que tenham significações). Além disso, pode envolver apenas uma pessoa (monólogo), duas pessoas (diálogo) um grupo restrito ou constituir comunicação de massa. No caso desta pesquisa, os dados submetidos à análise de

conteúdo provém de comunicações que utilizaram código lingüístico escrito entre duas pessoas (respostas aos questionários) ou entre um grupo restrito (no caso dos documentos da escola) ou código lingüístico oral entre duas pessoas (entrevistas individuais) ou entre um grupo restrito (dados de observação, entrevistas com dois entrevistados e grupos focais). Os gestos, olhares, expressões e outras manifestações observadas durante as aulas utilizaram códigos semióticos.

Para Bardin (2009), a análise de conteúdo busca realçar um sentido que se encontra em segundo plano, podendo utilizar diversas técnicas complementares de acordo com a natureza do material e com a questão que se procura resolver. Uma das técnicas mais utilizadas, segundo essa autora, é a análise categorial, que permite organizar os dados em categorias. Essa foi a técnica utilizada neste estudo.

Bardin (2009) enumera três etapas principais na análise de conteúdo: a descrição, a inferência e a interpretação. A descrição é a primeira etapa e consiste na enumeração das características do texto, após tratamento da informação contida nas mensagens. A inferência é o processo intermediário, que permite a passagem da descrição à interpretação, realizando deduções lógicas que visam levantar o que os dados podem ensinar após serem tratados. Busca responder dois tipos de problemas: o que levou àquele enunciado ou que conseqüências serão provocadas por tal enunciado. A interpretação, última etapa, é a significação concedida às características do texto (BARDIN, 2009).

Na primeira fase, os dados são organizados para que as inferências possam ser realizadas posteriormente. Lankshear e Knobel (2008) afirmam que essa organização envolve ações como numerar as linhas das entrevistas transcritas, digitar anotações de campo, numerar páginas do caderno de anotações, codificar dados coletados em locais diferentes, etc. e pode auxiliar a identificação de padrões amplos nos dados. Bardin (2009) afirma que deve ser realizada a leitura dos dados para que sejam colhidas impressões sobre esses dados, que, em seguida devem ser codificados. Essa codificação consiste em separar as unidades de significação, que correspondem a segmentos de conteúdo que servirão de base para a categorização e que são chamadas de unidades de registro, podendo ser uma palavra, um tema, um objeto, um personagem, um acontecimento ou um documento. Em alguns casos, é necessário também codificar unidades de contextos, que são segmentos com dimensões que ultrapassam as das unidades de registro para

possibilitar a compreensão dos significados destas últimas. A codificação pode utilizar diversos recursos como marcadores de cor, códigos alfabéticos ou numéricos, marcas simbólicas, sublinhar, etc. (BARDIN, 2009). Lankshear e Knobel (2008) recomendam que os pesquisadores escolham códigos que façam sentido para eles, podendo ser facilmente lembrados. Os códigos utilizados para identificar diferentes instrumentos de coleta de dados e diferentes participantes da pesquisa encontram-se nas “Convenções para este trabalho” apresentadas antes do sumário deste trabalho.

Para realizar a categorização, os elementos constitutivos do texto são classificados inicialmente por diferenciação e depois reagrupados por analogia. Assim, os elementos reunidos em uma categoria possuem alguma característica comum. O critério para a categorização pode ser semântico, como quando as categorias são formadas de acordo com temas; sintático, quando se consideram os verbos e os adjetivos; léxico, considera o sentido das palavras; expressivo como quando se consideram as perturbações da linguagem (BARDIN, 2009). O critério de categorização adotado neste trabalho foi o semântico, originando categorias temáticas.

As categorias podem ser determinadas a priori de acordo com o referencial teórico e com os objetivos do trabalho ou resultarem da classificação analógica e progressiva dos elementos (BARDIN, 2009). Lankshear e Knobel (2008) relataram um exemplo de uma de suas pesquisas em que algumas categorias foram desenvolvidas, antes do início da análise dos dados, com base nas questões de pesquisa e na revisão teórica feita pelos autores e outras se fizeram necessárias à medida que os dados foram analisados, surgindo a partir das falas dos sujeitos pesquisados. Esses autores afirmam que a necessidade de categorias adicionais é freqüente para que os dados sejam completamente analisados. Processo semelhante ao descrito por esses autores ocorreu neste trabalho.

Lankshear e Knobel (2008) apontam que um determinado dado pode pertencer a mais de uma categoria, porém se isto ocorrer com mais de 20% dos dados é um indicativo de que as categorias estão muito genéricas, necessitando de maior especificação. A especificação das categorias é necessária para que as categorias realmente gerem informações que irão auxiliar o pesquisador a encontrar respostas para as suas questões de pesquisa.

Detalhando os processos de codificação e categorização de dados qualitativos, Creswell (2007) cita os passos descritos por Tesh12 (1990) para esses processos: (1) ler cuidadosamente todos os dados e extrair um sentido do todo, tomando notas das idéias; (2) analisar um documento de uma vez; (3) depois de analisar todos os documentos gerados por diversos informantes, fazer uma lista dos tópicos tratados e agrupar os similares; (4) abreviar os tópicos como códigos e escrever estes códigos nos trechos pertinentes dos documentos analisados; (5) encontrar a redação mais descritiva para esses tópicos, transformá-los em categorias e agrupar as categorias relacionadas entre si; (6) colocar os códigos representantes das categorias em ordem alfabética; (7) reunir os dados de cada categoria em um só local e realizar uma análise preliminar; (8) recodificar os dados, caso se considere necessário. Creswell (2007), Lankshear e Knobel (2008) também apontam a utilização de cores como uma maneira de codificar as diferentes categorias e este foi o procedimento adotado neste estudo. Creswell (2007) afirma que as categorias aparecem sob cabeçalhos diferentes nas seções de resultados dos estudos, como feito neste trabalho.

Bardin (2009) descreve diferentes pólos em que as inferências podem se basear: o emissor da mensagem (através da mensagem são inferidas características de seu emissor); o receptor da mensagem (são inferidas informações sobre o público a que ela se destina); a mensagem (são inferidas as significações escondidas nas mensagens como mitos, símbolos e valores); o medium (busca inferir diferenças na assimilação de informações idênticas veiculadas por diferentes meios, como televisão, telefone, carta, etc.). Neste trabalho as inferências centraram-se tanto sobre os emissores quanto nas mensagens em busca das visões dos sujeitos pesquisados sobre a NC e o ensino de conhecimentos científicos.

Sobre a etapa de interpretação dos dados qualitativos, Creswell (2007) entende que, na pesquisa qualitativa, há diferentes formas de realizar essa etapa. Segundo esse autor, pode ocorrer uma interpretação pessoal do pesquisador, a partir de sua cultura, sua história e suas experiências; pode ser gerada a partir de uma comparação resultados com informações presentes na literatura e pode gerar questionamentos ou sugerir ações para reforma e mudança.

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