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Capítulo II Estudo Empírico

3. Técnicas e Instrumentos de Recolha e Análise de Dados

3.3 Análise de conteúdo

Neste ponto, depois de termos aprofundado na literatura conhecimentos sobre o método da entrevista, passamos agora a apresentar algumas ideias fundamentais sobre a análise de conteúdo. Estes dois métodos estão interrelacionados, depois de

se recolher informação através das entrevistas é necessário proceder à análise do seu conteúdo, através do recorte da entrevistas e da categorização dos dados.

Segundo Quivy e Campenhoudt (2013):

O método de entrevistas está sempre associado a um método de análise de conteúdo. Durante as entrevistas trata-se de facto, de fazer aparecer o máximo possível de elementos de informação e de reflexão, que servirão de materiais para uma análise sistemática de conteúdo que corresponda, por seu lado às exigências de explicitação, de estabilidade e de intersubjetividade dos processos. (p. 195)

Bardin (2008) refere no seu livro "L'Analyse structurale: une méthode d'analyse de contenu pour les ciences humaines" que no conjunto de técnicas de análise de conteúdo, a análise por categorias é a mais antiga e a mais usada na prática. Consiste em dividir o texto em unidades mínimas, e por sua vez em categorias através de uma relação analógica, por isso "a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com critérios previamente definidos. ( p. 111)

A autora explica em que consiste a categorização e qual o processo a seguir:

Clarificar elementos em categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. O que vai permitir o seu agrupamento é a parte comum existente entre eles. (...) A categorização é um processo de tipo estruturalista e comporta duas etapas: i) o inventário: isolar elementos; ii) a classificação: repartir os elementos, e portanto procurar ou impor uma certa organização às mensagens (p. 112)

Na continuidade de pensamento da mesma autora, após a decisão do investigador em codificar a informação obtida através das entrevistas, deve construir um sistema de categorias, tal como se consubstancia na seguinte frase "A categorização tem como primeiro objetivo (...) fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos." (Bardin, 2008, pp. 12,13)

Na continuidade de leituras, podemos constatar que a categorização pode empregar dois processos inversos:

i) É fornecido o sistema de categorias e repartem-se da melhor maneira possível os elementos, à medida que vão sendo encontrados. Este é o procedimento por caixa [itálico nosso] de que já falámos, aplicável no caso de organização de material decorrer diretamente dos funcionamentos teórico hipotéticos.

ii) O sistema de categorias não é fornecido, antes resultando da classificação analógica e progressiva dos elementos. Este é o procedimento por milha [itálico nosso]. O título conceptual de cada categoria somente é definido no final da operação. (Bardin, 2008, p. 113)

A ter em conta, de acordo com Bardin (2008), parece-nos importante reter sumariamente que as categorias para que sejam consideradas boas, devem possuir as seguintes qualidades:

i) A exclusão mútua: esta condição estipula que cada elemento não pode existir em mais de uma divisão (...);

ii) A homogeneidade: o princípio de exclusão mútua depende da homogeneidade das categorias. Um único princípio de classificação deve governar a sua organização(...);

iii) A pertinência: uma categoria é considerada pertinente quando está adaptada ao material de análise recolhido, e quando pertence ao quadro teórico definido (...);

iv) A objetividade e a fidelidade: (...) as diferentes partes de um mesmo material, ao qual se aplica a mesma grelha categorial, devem ser codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a várias análises (...);

v) A produtividade: (...) um conjunto de categorias é produtivo se fornece resultados férteis (...). (pp. 113,114)

Neste estudo, após a transcrição das entrevistas, foi necessário proceder à análise de conteúdo. De acordo com a revisão da literatura, os objetivos do estudo, os objetivos das entrevista, e dados recolhidos, definimos primeiramente através do processo dedutivo os temas e categorias. No entanto saberíamos à partida que poderiam surgir outras categorias conforme fôssemos analisando os dados, por este motivo utilizámos também o processo indutivo de modo a aferir as categorias presentes. Neste sentido, a abordagem de análise de conteúdo foi de tipo mista.

Depois de se definir os temas e principais categorias, procedeu-se à transformação das entrevistas em unidades mínimas, segundo Vala (1986) a unidade de registo equivale a uma unidade mínima de significação, que se delimita através do recorte do discurso do entrevistado.

No presente estudo, optou-se como unidades de registo parte de frases, frases ou um conjunto de frases, partindo da entrevista como unidade de contexto. Depois do recorte de cada entrevista em unidades de registo (UR), procedeu-se à descrição dos indicadores (IND.). Em seguida, de acordo com os indicadores formaram-se as subcategorias, que deram origem a novas categorias ou relacionaram-se com categorias já determinadas à partida. Este procedimento foi realizado na primeira entrevista, a mais completa, seguindo-se com o mesmo procedimento com as restantes. Estes conjunto de etapas foram revistas e reformuladas inúmeras vezes até se obter uma classificação adequada, que reforçasse a coesão da classificação quanto à pertinência, objetividade e fidelidade (anexo 10/11).

Todo este processo implicou a contagem das unidades de registo, tal como afirmam os autores Quivy e Campenhoudt (2013) referindo que "os métodos de análise de conteúdo implicam a aplicação de processos técnicos relativamente precisos (como, por exemplo, o cálculo das frequências relativas ou das co-ocorrências dos termos utilizados". (p. 226).

Na análise de conteúdo, procedeu-se à construção de um quadro: um de caráter mais geral, com os temas e categorias - cálculo da frequência absoluta e relativas, em numérico e em percentagem; e um segundo, mais específico, para cada tema com as categorias e subcategorias - frequência absoluta e relativa, em numérico e em percentagem. A análise descritiva de cada tema foi realizada com apoio dos quadros síntese.

Em suma, destacamos Quivy e Campenhoudt (2013) com a seguinte frase "O lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez maior, nomeadamente, porque oferece a possibilidade de tratar de forma metódica informações e testemunhos que apresentam um certo grau de profundidade e complexidade". (p. 227)