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Capítulo I – Enquadramento Teórico

4. A Avaliação e a Qualidade do Sistema Educativo em Portugal

4.4 Avaliação para a Qualidade do Sistema Educativo em Portugal

De acordo com a investigação em Portugal, ainda surge pouca informação sobre avaliação de práticas, no âmbito mais específico da atuação da equipa. Os estudos remetem para práticas de avaliação, ao nível micro (avaliação das aprendizagens do aluno), e ao nível macro (avaliação das Escolas). Num patamar intermédio, surge a Avaliação do Desempenho Docente, que consiste numa reflexão crítica sobre a sua intervenção e participação na comunidade educativa, mas surge como um ato isolado, individual, tal como menciona Campos (2013, citado em Rodrigues, 2013) "na avaliação durante o exercício profissional, há que distinguir os sistemas em que a avaliação formalizada de cada professor existe como uma medida isolada"(p. 123). Neste ponto, importa perceber como se organizam os tipos de avaliação dinamizados pelo Ministério de Educação. Embora não se verifique uma prática efetiva da avaliação em equipa sobre a qualidade das práticas de inclusão para alunos com PEA, muitos dos fundamentos são transversais entre os diferentes tipos de avaliação. Pacheco (2010, citado em Rodrigues, 2013, p. 43), apresenta, entre outros, três modelos de avaliação definidos por Sanders e Davidons (2003):

i) avaliação centrada nos indicadores, isto é, uma avaliação de conformidade, e que tende a tornar-se norma ao nível dos estudos internacionais, centrados nos resultados;

ii) avaliação centrada na iniciativa local (tanto da escola como dos governos locais); iii) avaliação ad-hoc da escola, da iniciativa de grupos externos à escola, mas pertencentes à comunidade.

Parece-nos importante focar em dois pontos i) e ii), dado que o interesse deste estudo é uma avaliação em equipa "avaliação centrada na iniciativa local" e se útil e

complementar com recurso a instrumentos de avaliação, que apresentam indicadores de qualidade "avaliação centrada nos indicadores".

Seguidamente, parece-nos oportuno apresentar os contributos de alguns autores, citados por De Ketela e Rogiers (1993), que tiveram um papel determinante na problemática da avaliação:

1. TYLER (1942, 1950) desenvolve um modelo de avaliação essencialmente centrado em objetivos; para ele a avaliação consiste principalmente na confrontação entre os desempenhos observados e os objetivos fixados à partida.

2. STUFFLEBEAM (1971, 1980) desenvolve um modelo da avaliação baseado na decisão em situação: a avaliação em educação é o processo que consiste em delimitar, obter e fornecer informação útil para ajuizar das decisões possíveis.

3. CARDINET (1986) alarga a problemática da avaliação, precisando as suas diferentes funções, construindo para cada uma delas um sistema adequado de recolha de informação e propondo instrumentos de regulação adaptados. (p. 45)

Cada autor foca aspectos importantes para avaliação em equipa sobre as práticas para a Inclusão em geral, e especificamente sobre a intervenção. O primeiro autor, refere que existe uma correlação entre o que foi definido à partida e os resultados. Avaliar em equipa é isso mesmo, é analisar, se o que foi proposto, está a surtir efeito no desenvolvimento da criança com PEA ou se há necessidade de reformular. O segundo autor destaca a ideia de que avaliar é essencial para tomar decisões. A equipa ao avaliar está constantemente a refletir sobre os processos educativos, sobre as metodologias, as estratégias, os recursos, de modo a tomar decisões o mais consistentes e coerentes possíveis. Por fim, o terceiro autor refere que a avaliação pode ter o seu caráter flexível com a construção de instrumentos que possam auxiliar e complementar o processo de avaliação, que mais se adeqúe à recolha de informação relevante.

Em Portugal, que tipo de avaliação das Escolas existe? Que organismos são responsáveis por essa avaliação? Qual a finalidade da avaliação?

Importa neste sentido, compreender que a antiga Inspeção Geral da Educação (IGE) tinha o intuito de, através de ações de avaliação, contribuir para a qualidade do sistema educativo. Entre 1993 e 2012 adoptou um caráter diferenciado, que se apresenta seguidamente de forma resumida: avaliação da funcionalidade das escolas; auditoria pedagógica; avaliação das escolas secundárias; avaliação integrada das

escolas; aferição da efetividade da autoavaliação; e por fim, avaliação externa das escolas. (Rodrigues, 2014)

No Decreto-Lei 115-A/98, de 4 de maio, foi atribuída à IGE a função de "prestação de um melhor serviço público de educação, no âmbito de políticas nacionais e internacionais de orientação dos serviços de inspeção e de valorização de atividades de garantia da qualidade educativa, onde se inscreve a avaliação externa". (Rodrigues, 2014, p. 64)

Conforme nos descreve o mesmo autor "Nessa avaliação as equipas inspectivas eram formadas por três ou quatro elementos com perfis de formação diferenciados. A avaliação incidia sobre quatro dimensões estratégicas: a avaliação e os resultados; a organização e a gestão escolar; a educação, o ensino e as aprendizagens; e o clima de escola e o ambiente educativo interno. As equipas contavam com o suporte de roteiros, que definiam as áreas-chave, os campos de observação e os indicadores de desempenho de cada dimensão." (p. 64)

Em 2012, houve necessidade de fundir dois serviços, passando a IGE a estar integrada na Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC). A IGEC "é um serviço central da administração direta do estado dotado de autonomia administrativa, criado pelo Decreto Regulamentar n.º 15/2012, de 27 de janeiro, resultando da fusão da Inspeção Geral da Educação e da Inspeção Geral do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, através do Plano de Redução e Melhoria da Administração Central (PREMAC)". (Rodrigues, 2014, p. 62)

A presença de uma avaliação externa, não vem substituir, nem menorizar a importância da reflexão, da análise crítica dos profissionais de educação, mas sim apoiá-la a exercer essa capacidade de avaliar e decidir de forma mais rigorosa e fundamentada.

Por conseguinte, Guerra (2002) explica que a avaliação não se apresenta como um fim, mas como um meio para melhorar o sistema educativo: "não se avalia por avaliar, ou para avaliar, mas para melhorar a qualidade da nossa prática educativa. Daí a importância de garantir condições que permitam aproveitar a avaliação para alcançar esta finalidade de melhorar. Porque o mais importante, não é avaliar, mas antes pôr a avaliação ao serviço dos valores educativos e das pessoas que deles mais necessitam" (p. 13).