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Capítulo 2 – Enquadramento normativo: a situação portuguesa

3.3. Técnicas de Recolha e Análise da Informação 1 Entrevista

3.3.2. Análise de Conteúdo

A análise de conteúdo é uma das técnicas de pesquisa mais usadas em Ciências Sociais, tendo surgido nas décadas 20 e 30 do Sec. XX. Por volta dos anos 40-50, Lasswell e Berelson (1954) manifestam intenção de trabalhar com amostras reunidas de maneira sistemática e de validar os procedimentos e os resultados, assim como a fidelidade dessa sistematização. (Bardin, 2008).

Com as diferentes abordagens dos vários investigadores ao longo do século XX, a técnica de análise de conteúdo evolui, ganhando um maior campo de acção e desenhando novas formas de acesso à interpretação dos dados. Assim, em 1952, Berelson (cit in Bardin, 2008, p.20) definia a análise de conteúdo como “uma técnica de investigação que permite a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações”, mas em 1980, Krippendorf (cit in Bardin, 2008) considerava-a como uma técnica que permitia fazer inferências válidas e controladas, a partir das manifestações verbais dos sujeitos.

A análise de conteúdo, segundo Bardin (2008) define-se como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens.” (p.40), tendo por finalidade explicar e sistematizar o conteúdo da mensagem e o significado desse conteúdo, por meio de deduções lógicas e justificadas tendo como o emissor da mensagem, bem como o contexto e os efeitos dessa mesma mensagem. Neste sentido, “a intenção da análise de conteúdo é a própria inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (…), inferência essa que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (Bardin, 2008, p. 40).

Ferreira (2003) reforça essa ideia quando, a partir da abordagem de Bardin (1977), relaciona as possibilidades de uso da análise de conteúdo ir além dos significados óbvios e da leitura simples do real, atribuindo relevância aos comportamentos verbais e não verbais manifestados pelos portadores da mensagem.

Ainda segundo Bardin (2008), o tratamento dos dados é baseado no desmembramento do texto em unidades, descobrindo diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, para um posterior reagrupamento em classes ou categorias. Esta categorização pode ser realizada por procedimentos dedutivos ou indutivos. No primeiro caso, o quadro de categorização é pré-definido a partir do referencial teórico e dos objectivos da investigação; no segundo caso, as categorias

são emergentes ou abertas, organizando-se e reorganizando-se a partir do material em análise até que o quadro de categorização estabilize.

Bardin (2008) refere ainda que a análise de conteúdo se realiza por fases, sendo a primeira a fase da descrição ou preparação do material. Esta fase de pré- análise inclui como etapas principais: a leitura flutuante (primeiras leituras de contacto com os textos), a escolha dos documentos (no caso de documentos já existentes e não produzidos directamente no âmbito da investigação), a formulação das hipóteses e objectivos, a referenciação dos índices e elaboração dos indicadores (a frequência de aparecimento) e a preparação do material.

Na fase de exploração do material, Bardin (2008) estabelece uma primeira etapa de codificação, na qual são elaboradas os recortes em unidades de contexto e em unidades de registo25, seguida da fase de categorização, baseada nos seguintes princípios: exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objectividade, fidelidade e produtividade.

Por fim, temos a interpretação, que permite que os conteúdos recolhidos se constituam em dados quantitativos e/ou análises reflexivas.

Na análise de conteúdo que efectuámos, não foi necessário seleccionar o material, uma vez que os respectivos protocolos foram elaborados para o efeito, pelo que, com a transcrição de todas as entrevistas efectuadas, obtivemos o corpus da análise.

Procedemos numa primeira fase à leitura flutuante, lendo os protocolos das entrevistas, de forma a inteirarmo-nos do seu conteúdo e colocarmos as hipóteses de categorização.

Para esta categorização utilizámos procedimentos indutivos ou emergentes, criando as categorias a partir do material em análise. Contudo, tivemos por base os blocos temáticos do guião, o que permitiu garantir a pertinência da análise em relação aos objectivos do estudo.

Assim, de acordo com os objectivos do estudo e mediante os blocos temáticos criados no guião das entrevistas, procedemos ao recorte da primeira entrevista nas respectivas unidades de registo. Como unidades de registo considerámos fragmentos de texto com significado autónomo, que se podem apresentar como uma frase, uma parte da frase ou um conjunto de frases, correspondendo a uma única unidade de significação.

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De acordo com Bardin (2002), unidade de registo (UR), apesar de poder assumir uma dimensão variável, é a unidade semântica mínima que se liberta do texto, podendo ser uma palavra chave, um tema, objectos, personagens, etc. Já unidade de contexto (UC), é a parte de texto necessária para fazer compreender a unidade de registo

A partir do recorte das unidades de registo foram criados os indicadores, os quais correspondem à redução das unidades de registo em expressões-chave, de modo a podermos agrupar e comparar com o discurso dos restantes entrevistados, tentando mantermo-nos fiéis às ideias originais de cada um dos inquiridos.

Considerámos cada uma das entrevistas como unidade de contexto e a ela recorremos sempre que necessário para clarificar o sentido das unidades de registo, de modo a que a criação de indicadores não se afastasse da intenção do entrevistado.

Como unidade de enumeração utilizámos a unidade de registo.

De acordo com os temas definidos em guião da entrevista, organizámos os indicadores em categorias e subcategorias emergentes, que foram agrupadas consoante a semelhança ou diferença de conteúdo (Carmo e Ferreira, 2008), tendo o cuidado de assegurar os princípios de homogeneidade26 e de exclusão mútua27 estabelecidos por Bardin (2008), de modo a garantir a validade da análise efectuada.

Procedemos assim à operação de recorte das restantes entrevistas em unidades de registo, subcategorias e categorias, integrando-as nos respectivos temas, de acordo blocos temáticos das entrevistas. Esta estrutura permitiu-nos a comparação do discurso dos entrevistados, agrupando-os em conteúdos semelhantes mas com diferentes formas de afirmação. Que resultou na constituição dos indicadores para a grelha de análise das entrevistas. Sempre que se considerou necessário, reformulou- se as subcategorias já criadas.

De modo a efectuarmos uma organização lógica dos temas, categorias e subcategorias, a grelha de análise foi alvo de uma revisão cuidadosa e criteriosa, que resultou numa grelha síntese (Anexo IX), após a codificação e categorização de todas as entrevistas.

No que concerne à fidelidade de categorização, esta foi assegurada por uma repetição de procedimento sobre uma das entrevistas, espaçada no tempo (fidelidade intra-observador) e recorrendo a opiniões externas no que respeita à análise de uma das entrevistas, obtendo-se um índice de concordância aceitável28 (fidelidade inter- observadores).

26 Num mesmo conjunto de categorias só pode existir uma dimensão de análise (Bardin, 2008) 27 Cada indicador não pode ser incluído em mais do que uma categoria (Bardin, 2008)

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