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4 ENSINO DE ESCRITA, MEDIAÇÃO DOCENTE E INTERVENÇÃO

4.4 Reescrita do texto – Aula 2

4.4.2 Análise de dados da Aula 2

Em nossa segunda fase, passamos à análise coletiva dos cartazes em que transcrevemos os textos dos alunos, sem claro, expor os nomes de quem os escreveu. A ideia era fazer com que eles vissem de forma clara e objetiva em que precisavam melhorar, em seus textos. Partimos da proposição de perguntas, perguntando qual a opinião deles sobre os textos apresentados. Com base nas respostas e nos silêncios, fomos realizando a intervenção. Focalizamos primeiro a leitura e os sentidos construídos nos textos. Depois, avaliamos se os textos atenderam ao comando presente na questão.

No que concerne ao linguístico, podemos notar o nível de escrita com que as crianças chegaram ao 4º ano: algumas partes sem segmentação entre as palavras, como o “bomdia” e a falta de acentuação gráfica na palavra “voce”, no texto 1; mistura de letras de imprensa e

cursiva nas palavras “aMiGA” e BaNaNa” no texto 2; já no texto 3, notamos que o aluno possui vários problemas de escrita e, com isso, em alguns momentos, não é possível compreender o que ele quis dizer, como na segunda linha “BUE FI TU”. Essas percepções foram se construindo na interação com a turma.

Comecei a comentar sobre os textos que os alunos haviam escrito e discutimos o que era preciso melhorar, em diversos aspectos. Relemos o comando da questão e, juntos, avaliamos se o que fora solicitado, havia sido atendido. Depois de elencarmos alguns pontos, os alunos chegaram à conclusão de que fora atendido em parte. Vimos também que os erros de ortografia eram bem recorrentes e fomos tentando reescrever o texto.

Assim, aproveitamos a oportunidade de reescrita do texto e trabalhamos a ortografia. Ao abordar essas questões com os alunos, buscando fazê-los perceber os problemas no texto, lembramo-nos de uma orientação de Geraldi (2015, p. 99): “ensinar é ensinar o sujeito aprendente a construir respostas, portanto só se pode partir de perguntas”. Assim, foi perguntando sobre o texto, que o diálogo ocorreu. A Figura 1, que segue, retrata a forma como os textos foram apresentados aos alunos na aula de reescrita.

Figuras 1 – Cartazes com textos dos alunos para atividade de reescrita.

A quarta fase da aula consistiu na reescrita coletiva do texto o “diálogo das frutas” sugerido como produção, no diagnóstico. Faz-se necessário elucidar que a reescrita é a terceira etapa de uma atividade de produção textual que “corresponde o momento de análise do que foi escrito [...] para decidir o que fica, o que sai, o que se reformula (ANTUNES, 2003, p. 56) acontece a partir das retificações feitas no texto. Além disso, a reescrita permite a interação com os alunos, por meio da qual é possível conduzi-los a uma reflexão sistemática sobre a escrita. Para relatar esse momento, faremos uso da letra (P) para professora – pesquisadora e (C) para criança.

A primeira ação desta atividade de reescrita foi relê o enunciado da atividade de diagnóstico para relembrar o que foi pedido. Lemos, junto com as crianças, os três cartazes, ajudando-os a perceber que havia muitos problemas nos textos, tais como estruturação dos enunciados, erros ortográficos, pontuação. Em seguida, realizamos a reescrita com a mediação necessária e a participação de todas as crianças, a fim de construirmos um texto narrativo com o diálogo incluso. Observemos um trecho do diálogo com os alunos, no Quadro 6, que segue. Trata-se de um trecho apenas para ilustrar as atividades de mediação, tendo como parâmetro a atividade de fazer perguntas para obter respostas espontâneas ou mediadas.

Quadro 6 – Diálogo estabelecido na Aula 2 em atividade de reescrita de texto

P: C: P: C: P: C: P: C: P: C: P: C:

Gente, esses textos que eu coloquei nos cartazes são produções de vocês. Eu não coloquei nomes para identificar, porque não se faz necessário expor ninguém. Eles servirão apenas para verificarmos o que precisamos melhorar. Os textos foram identificados como texto 1, texto 2 e texto 3. Eu escrevi do mesmo jeito que estava no caderno de produção de texto de vocês. Relembrado o enunciado... Primeira pergunta: Banana e Maçã são o quê?

Frutas!

Onde se vende frutas? No supermercado, feira! Em que sessão?

Na sessão de frutas e verduras.

Ótimo! E agora, o que é diálogo? Alguém sabe? Falar?

Isso. É uma conversa! Era para ser uma conversa entre as frutas. Me digam uma coisa, fruta fala?

Não!

Mas aqui fala.

É por que é uma história. [...]

Fonte: corpus de pesquisa.

Na Figura 2, a seguir, ilustramos como ocorreu o processo de reescrita coletiva. Durante a mediação, P fazia as perguntas e AA respondiam. P ia registrando na lousa. Quando o coletivo definia que o enunciado reescrito estava adequado, os alunos transcreviam para o

caderno de produção. Os três cartazes analisados foram colocados no quadro acima da lousa e, abaixo, escrevemos o que foi dito pela as crianças.

Figura 2 – Atividade de reescrita de texto com os alunos.

Fonte: corpus da pesquisa.

Realizada a reescrita, P leu o texto com os alunos e os questionou sobre o que acharam do texto após a atividade de reescrita. Nesse diálogo, foi possível explicar à turma sobre as etapas que envolvem a escrita de um texto, bem como sobre a marcação de parágrafo por meio do recuo no início da primeira linha e o uso do travessão para marcar o discurso direto em um diálogo. O Quadro 7 contém o texto reescrito.

Quadro 7 – Texto dos alunos após reescrita coletiva.

REESCRITA COLETIVA

ERA UMA VEZ UMA BANANA E UMA MAÇÃ QUE FAZIA ANOS QUE NÃO SE VIAM. SE REENCONTRARAM NA FEIRA E COMEÇARAM A CONVERSAR SOBRE SUAS VIAGENS.

A MAÇÃ FALOU: — SE LEMBRA DAQUELE DIA QUE A GENTE VIAOU PARA O HAVAI? NÓS CONHECEMOS O ABACATE, A PÊRA, O LIMÃO E O COCO.

— SIM, ME LEMBRO DE TUDO. VOCÊ LEMBRA QUE A GENTE BRINCOU ATÉ O DIA ACABAR?

— MEUS AMIGOS CHAMARAM MAIS AMIGOS E NÓS FIZEMOS UMA FESTA DO PIJAMA.

Fonte: corpus da pesquisa.

Ao comparar as duas versões, observamos que houve uma mudança significativa e atribuímos isso ao trabalho de mediação. É interessante ressaltar que os alunos participaram e, ao reescrevermos o texto acrescentaram informações, a realização da festa do pijama. Esse

dado nos indica que o diálogo acionou o conhecimento de mundo dos alunos e eles se valeram dele para ampliar o texto.

A Figura 3 traz uma ilustração do trabalho realizado tomando como fonte o caderno de produção textual de um aluno. Do lado esquerdo, está a primeira versão do “Diálogo das frutas” e, do lado direito, está a reescrita coletiva. Esse exemplo é do excerto 2 já demonstrado.

Figura 3 – Exemplo da reescrita coletiva, no caderno do aluno.

Fonte: corpus da pesquisa.

A partir dessa aula, tivemos uma visão geral de como a turma encontrava-se em termos de leitura e de escrita e, principalmente, sobre qual a concepção dos alunos acerca do texto escrito. A princípio, eles não queriam escrever, ficavam reclamando e dizendo: “Pra que isso professora!”, “Eu não sei fazer!” e outros comentavam “É difícil escrever!”. Mas o que realmente notamos é que um dos maiores problemas não estava no que dizer, eles demonstraram ter muitas ideias, mas no como dizer. Os alunos não se sentiam seguros para mobilizar os conhecimentos linguísticos. Comentavam que era difícil porque não sabiam escrever.

Então, preparamos algumas aulas em que o foco foi a escrita e a leitura de maneira bem objetiva, a fim de ajudá-los um pouco nesse processo, pois não tínhamos como parar sempre os conteúdos da intervenção e do restante das aulas apenas para nos dedicar à questões de língua, se nosso objetivo consiste em favorecer o aprendizado da escrita como atividade criativa. Descreveremos a seguir uma dessas aulas com suas atividades.

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