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2. ROMANTISMO: UM PERÍODO NOTÁVEL NA LITERATURA BRASILEIRA

3.3 Rubí: uma narrativa em três suportes

3.3.3 Análise de Rubí

Há, então, em Rubí, a presença de várias características do melodrama, destacando-se a moralidade, que percebemos desde o início da história em quadrinhos, quando há uma mensagem da autora ao leitor, que diz:

“Lector,

No esperes encontrar en este relato las dulzuras y encantos que desearías disfrutar en tus ratos de ocio.

Si quieres sentir en tu corazón la misma amargura que una mujer provocó en aquellos que la rodearon, inicia la lectura de esta historia.

A ti, mujer, puede servirte de ejemplo… Y tú, lector, conoce primero el alma que has de amar, antes de caer cautivado por unos labios rojos, por unos ojos fascinantes.

Tu amiga,

Yolanda Vargas Dulché.” (Revista em quadrinhos nº 1)

Nessa mensagem vemos claramente o tom moralista da autora, mostrando que um dos objetivos é transmitir uma lição para os leitores: as mulheres não devem ser como Rubí e os homens devem estar atentos para não se apaixonarem por alguém somente por sua bela aparência. Porém, a própria autora é quem constrói a história e a personagem de maneira a envolver o leitor não somente pela aparência de Rubí, mas por seu carisma, pelas nuances que apresenta, sendo uma vilã muitas vezes compreendida e amada pelo público, apesar de suas ações imorais.

No final da telenovela de 1968 uma mensagem semelhante é apresentada:

A ti, mujer, que has seguido paso a paso el desarrollo de esta historia, que ella te sirva de ejemplo para evitar que tu belleza física desvanezca tu belleza moral. A ti, hombre, que has visto el engaño y la perversidad ocultos bajo la hermosura, no te detengas ante unos labios encendidos y unos ojos fascinantes, conoce primero el alma de la mujer que has de amar. Te lo dice tu amiga Yolanda Vargas Dulché.

Referência no CD anexo: Cena Telenovela 1968

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=589PfePAV_o Acesso em 18 de março de 2020.

É interessante observar que essa mensagem era narrada enquanto cenas de Rubí caminhando, usando biquíni e experimentando uma roupa luxuosa eram exibidas. Então, o

conteúdo oral se contradiz ao que era mostrado no registro visual. Portanto, a mesma ideia foi transportada dos quadrinhos à televisão, com a diferença que nos quadrinhos a mensagem foi prévia à leitura, sendo apresentada antes da primeira cena, na revista número 1, e na telenovela de 1968, foi mostrada após da exibição de toda a história.

Além dessas duas mensagens da autora, temos na telenovela de 2004 uma narração, de uma voz masculina, durante a exibição da primeira cena da trama, que diz:

Esta es Rubí, tan bella como perversa. ¿Qué mujer no desearía ser bella? ¿Qué hombre permanece indiferente ante los encantos de una mujer hermosa? Pero cuidado, a ti, mujer, que te sirva de ejemplo para evitar que la belleza física desvanezca la belleza de tu alma y tú, hombre, conoce primero el alma de la mujer que has de amar.

Referência no CD anexo: Narração primeira cena

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ME3LSYqEuRE Acesso em 18 de março de 2020.

Essa terceira mensagem possui o mesmo tom moralista presente na carta ao leitor e na mensagem ao espectador de Yolanda Vargas Dulché, da história em quadrinhos e da primeira versão da telenovela, expondo ao espectador um exemplo do que não fazer. Destaca a importância da beleza física, mas diz que ela não pode se sobrepor à beleza da alma e que nem os homens nem as mulheres devem supervalorizá-la. Sendo parte da primeira cena da telenovela, a narração serve ao propósito de apresentar a personagem e chamar a atenção do público, gerando curiosidade.

Podemos perceber a semelhança entre as mensagens presentes nas três versões citadas de Rubí e as de Alencar ao escrever Lucíola (1862). Para o autor também era extremamente importante esclarecer perante a sociedade que a personagem era um exemplo de como uma mulher não deveria ser e por isso o seu final foi bastante trágico.

As telenovelas mexicanas, assim como os melodramas de maneira geral, normalmente apresentam tipos9 femininos maniqueístas: ou a mulher é totalmente boa ou totalmente má. Rubí é uma protagonista incomum e esse é um dos fatos que chama atenção não apenas do olhar crítico, mas também dos próprios espectadores. Para Batista Ralle (2002), as telenovelas mexicanas transmitem modelos de família e de mulheres, destacando o maniqueísmo e as soluções previsíveis. No entanto, há personagens que fogem a esses padrões, como Rubí, se mostrando muitas vezes mais realistas ou mais humanas. Ela é bastante diferente de uma

9De acordo com Pallotini e González (2000), há abstração de caracteres, com características físicas, psicológicas

protagonista típica de telenovelas do México, que costumam ser humildes, ingênuas e sofridas, tendo a bondade e o amor como os principais valores.

Segundo a autora, o amor tem um papel central nas telenovelas por ser um sentimento universal e a verdadeira razão do final feliz como resolução da intriga principal. Surge entre os protagonistas como uma espécie de milagre ou acaso, sem uma explicação definida, pressupondo que os dois têm características positivas, inclusive físicas, e estão dispostos a lutar pelo sentimento. O amor também está, muitas vezes, relacionado à ideia de loucura, pois os personagens modificam sua forma de agir, o que não fariam se não estivessem apaixonados.

As telenovelas mais recentes, das primeiras décadas do século XXI, permitem mostrar outros tipos de amor, como o da mulher madura e o homossexual. As promessas e juras sobre eternidade do sentimento amoroso são bastante frequentes, porém nem sempre cumpridas. Já a paixão é confundida com o desejo e relacionada ao pecado e à irresponsabilidade, o que contrasta com a pureza do amor.

Ainda de acordo com a autora, outro sentimento que comumente aparece é o medo: de não ser correspondido; de não suprir às expectativas do amado (o que pode se relacionar às classes sociais); do amor ser interrompido por alguma tragédia ou pela ação de um vilão. O sacrifício costuma estar presente nos relacionamentos dos protagonistas, sendo praticado muitas vezes pelas mocinhas, que sofrem e fazem todo o necessário para viver o romance, como é o caso de Maribel.

De igual maneira, a possessão é estabelecida quando um dos envolvidos no relacionamento acredita que o outro, geralmente a mulher, lhe pertence. É o que Hector demonstra ao se casar com Rubí. Nessas tramas, muitas vezes é a própria mulher que se coloca em posição de posse em relação ao homem, dizendo e demonstrando ser sua. Esse tipo de sentimento evidencia uma relação de proximidade muito grande entre os amantes e inclusive dependência, permitindo os ciúmes. A possessão pode ser uma forma dos vilões exibirem sua conquista, como acontece com Rubí após conseguir se casar com o homem rico que desejava.

Como o destino tem uma importância muito grande nas telenovelas, assim como em outras narrativas melodramáticas, o pressentimento sobre ele e os sonhos relacionados ao futuro adquirem relevância e algumas vezes realmente revelam o que acontecerá na história. No caso de Rubí, na telenovela de 2004, apesar de o destino ter sido implacável ao garantir seu sofrimento como consequência de seus atos, o previsível arrependimento não aconteceu, considerando que ela buscou vingança.