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3. REVISÃO GERAL DA LITERATURA

6.4 Análise descritiva dos constructos

Uma análise descritiva dos dados foi realizada para todos os constructos e os seus itens finais selecionados. Na análise descritiva as crenças comportamentais obtiveram resultados semelhantes quando considerado o método multiplicativo (b x e) e quando utilizado somente a questão da crença (b). Em ambas as análises, verificou-se atitude indireta moderadamente favorável em relação ao comportamento. Os atributos que mais contribuíram para com esta atitude indireta favorável, em ambas as abordagens, foram a percepção de que consumir salada quando se vai a um

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restaurante tipo fast food no almoço terá consequência positiva sobre à saúde e a percepção de que este ato contribuirá para com uma refeição menos calórica. Resultados semelhantes encontraram Cox et al. (1998) no Reino Unido. Os autores verificaram que a percepção de proteção à saúde obteve escore positivo alto para o aumento do consumo de frutas e hortaliças indicando que esta crença contribuiu favoravelmente para a realização do comportamento. Outro item que também esteve relacionado foi o auxílio no controle do peso corporal, contudo sua influência foi menor do que a crença relacionada à saúde.

Verbeke e Pieniak (2006) também notaram à importância da percepção dos benefícios preventivos à saúde em relação ao consumo de hortaliças. Para 57,1% dos indivíduos poloneses e belgas entrevistados o consumo de vegetais frescos esteve associado principalmente à percepção da prevenção à saúde e em razão do sabor destes alimentos, principalmente entre as mulheres. Achados semelhantes encontraram Pawlak e Malinauskas (2008) ao verificarem que para estudantes do sexo masculino consumir 2,5 xícaras de hortaliças diariamente auxiliaria na manutenção da saúde e contribuiria para sua força. Embora estes estudos não analisem o consumo de hortaliças fora de casa, estes resultados demonstram a importância da relação entre o consumo de hortaliças, como a ingestão de saladas, e os benefícios à saúde do indivíduo. Destaca-se ainda que nos últimos anos a preocupação dos consumidores com sua saúde tem aumentado, havendo maior procura por produtos que atendam suas necessidades e que contribuam para com uma alimentação saudável (FIESP; ITAL, 2010).

Em relação à crença normativa também se observou semelhança entre as duas abordagens estudadas: método multiplicativo entre a crença (n) e a motivação para cumprir com o referencial social (m), e a consideração somente da crença (n). Em ambas as análises das crenças normativas os referentes sociais foram poucos influenciadores do comportamento estudado. Em muitas pesquisas os referentes sociais relacionados a comportamentos alimentares saudáveis, frequentemente, são pais, familiares e amigos (PAWLAK; MALINAUSKAS, 2008; BACKMAN et al., 2002), como também observado no nosso estudo. Contudo, profissionais da área de saúde são citados pouco frequentemente e quase não são analisados como referentes sociais em estudos com adolescentes. Profissionais da saúde são citados mais frequentemente em investigações com a população adulta (BENTLEY et al., 2009; BLANCHARD et al., 2009b; VERBEKE; VACKIER, 2005). Ressalta-se que o grupo de referência “profissionais da área de saúde (ex.: médicos e nutricionistas)” apresentou maior média na pesquisa realizada, evidenciando estes grupos como

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possíveis influenciadores do consumo de salada crua quando se vai a um restaurante tipo fast food no almoço.

Ao considerar as crenças de controle, verificaram-se diferenças entre as duas formas de abordagem: crenças de controle (c x p) e crenças de controle (p). Na análise descritiva das crenças de controle pelo método multiplicativo (c x p), observou-se que o preço elevado da salada poderia dificultar o seu consumo quando se vai a um restaurante tipo fast food no almoço. Este resultado pode estar relacionado ao conceito inicial da busca por um preço acessível quando se consome em restaurante tipo fast food. Diferentes estudos mostram que um dos fatores que contribuem para o consumo em fast food é o baixo preço dos alimentos e bebidas comercializados nestes locais (DENNEY-WILSON et al., 2009; DRISKELL; MECKNA; SCALES, 2006; GEREND, 2009; MEDEIROS; SALAY, 2013). Além disso, o preço pode ser visto como uma barreira por algumas pessoas para consumirem alimentos saudáveis, principalmente entre consumidores de baixa renda (POWELL; NGUYEN, 2013; WATERLANDER et al., 2010). Desse modo, estabelecer estratégias de preço para produtos mais saudáveis pode contribuir para com o aumento do consumo desses alimentos (WATERLANDER et al., 2010; LEE-KWAN et al., 2013), inclusive em restaurante tipo

fast food.

Em relação à análise descritiva das crenças de controle (p), os fatores que mais facilitariam a realização do comportamento seria a inclusão da salada crua nos “combos” e a boa aparência da salada. Os combos são características marcantes em restaurantes tipo fast food e fazem parte dos cardápios de diferentes redes de estabelecimentos (YALE RUDD CENTER FOR FOOD POLICY & OBESITY, 2013). Em serviços tipo carry-out, Lee-Kwan et al. (2013) propuseram a inclusão no cardápio de combos com itens saudáveis, considerando que os consumidores tem preferência por combinados no momento da escolha da refeição. Adicionalmente a aparência de um alimento é um fator que pode influenciar a escolha do consumidor desde o momento da seleção do estabelecimento. Sanches e Salay (2011) notaram que para indivíduos do sexo feminino a aparência dos alimentos servidos foi percebida como fator importante para selecionar serviços de alimentação. Além disso, dentre os aspectos sensoriais que influencia a escolha alimentar das pessoas tem-se o aspecto visual, relacionado diretamente com a aparência do alimento (FURST et al., 1996).

Em referência às medidas diretas da TCP, somente dois itens do constructo atitude apresentaram atitude ligeiramente positiva ao comportamento estudado. Estes itens indicaram que

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o consumo de salada crua quando se vai a um restaurante tipo fast food foi considerado ligeiramente bom e ligeiramente necessário. O primeiro refere-se a um atributo afetivo, enquanto o segundo representa um atributo cognitivo. Contudo, ao considerar o constructo atitude, a média entre os estudantes indicou uma atitude pouco favorável à realização do comportamento. Não foram encontrados estudos que analisaram o comportamento de consumo de salada crua fora de casa por meio da TCP. Porém, em pesquisas relacionadas ao consumo de vegetais foram encontrados resultados diferentes (BLANCHARD et al., 2009a; BOGERS et al., 2004; PAWLAK; MALINAUSKAS, 2008). Pawlak e Malinauskas (2008), nos EUA, observaram uma atitude positiva entre estudantes (idade média 14,71 anos) sobre o consumo de 2,5 porções de hortaliças. Neste mesmo país, semelhantemente, Blanchard et al. (2009a) verificaram uma atitude afetiva e uma atitude cognitiva positiva ao consumo de cinco porções de frutas e hortaliças diariamente por estudantes (idade média de 19,8 anos). Estes autores analisaram os itens afetivos e cognitivos das atitudes em constructos distintos.

O constructo norma subjetiva foi levemente desfavorável ao consumo de salada crua quando se vai a um restaurante tipo fast food no almoço. O escore para este constructo foi inferior a 3,0, indicando que de acordo com a percepção dos estudantes seus referentes sociais poderiam ser pouco favoráveis com a realização do comportamento. Resultados semelhantes encontraram Verbeke e Pieniak (2006), ao analisarem o consumo de hortaliças frescas por jovens e adultos na Polônia e da Bélgica. Ao analisarem a norma subjetiva os autores utilizaram uma escala de sete pontos, e obtiveram para este constructo escore médio de 3,21. Contudo, Pawlak e Malinauskas (2008) e Blanchard et al. (2009a), encontraram que esta norma social foi favorável aos comportamentos estudados.

A partir do constructo controle comportamental percebido foi observada autopercepção moderadamente favorável dos estudantes sobre sua capacidade de consumir salada crua quando se vai a um restaurante tipo fast food no almoço (média do escore 3,59). Outras pesquisas sobre o consumo de vegetais também encontraram resultados semelhantes (BLANCHARD et al., 2009a; BOGERS et al., 2004; PAWLAK; MALINAUSKAS, 2008; VERBEKE; PIENIAK, 2006). Esta autopercepção dos estudantes pode estar relacionada com a faixa etária desta população, visto que na adolescência os indivíduos estão buscando sua identidade (ERIKSON, 1963), inclusive em relação à alimentação (STEAD et al., 2011). De acordo com Bandura (1995), as crenças das pessoas sobre sua autoeficácia pode ser desenvolvida por meio de quatro tipos de influências: as

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experiências bem sucedidas e mal sucedidas do indivíduo; experiências vicárias, relacionadas à observação do que outras pessoas fazem; persuasão social, a qual envolve a persuasão verbal e outras influências sociais que podem informar o indivíduo sobre suas capacidades; e seus estados fisiológicos e emocionais (percepção e a interpretação das reações emocionais e físicas sobre a capacidade de realizar um comportamento). Contudo, ainda são escassas as informações sobre o porquê alguns adolescentes apresentam percepção de capacidade sobre alimentação saudável maior do que os outros indivíduos da mesma idade (PEARSON; BALL; CRAWFORD, 2011).

Os estudantes apresentaram baixa intenção em consumir salada crua quando se vai a um restaurante tipo fast food no almoço (escore médio 2,01). Estes resultados diferem de outros estudos que analisaram o consumo de hortaliças (BLANCHARD et al., 2009a; BOGERS et al., 2004; VERBEKE; PIENIAK, 2006). A baixa intenção verificada pode estar associada ao contexto em que o comportamento é realizado “quando se vai a um restaurante tipo fast food”. Estes estabelecimentos são popularmente conhecidos por ofertarem refeições de baixa qualidade nutricional, de alta densidade energética, teores elevados de gorduras saturadas e de sódio (DUNFORD et al., 2010; MOORE et al., 2009; SCHRÖDER; FITO; COVAS, 2007). Dentre as opções mais populares têm-se os sanduíches, batata frita, cebola frita, pizza, refrigerantes, sorvetes, empanados, entre outros. Estes alimentos são de grande preferência por parte dos adolescentes (LOANNOU, 2009), o que pode dificultar a intenção de consumir salada crua nestes estabelecimentos. Além disso, a ideia de que não se vai a um restaurante tipo fast food para comer salada ou alimentos saudáveis ainda é comum entre os adolescentes. Esta afirmação foi comumente citada entre os estudantes durante o processo de coleta de dados. Outro fator que pode estar relacionado é a frequência que se vai a restaurantes tipo fast food. A maioria dos estudantes citou frequentar estes locais de duas a três vezes por mês, frequência relativamente baixa quando comparado com outros estudos, o que pode favorecer o consumo de alimentos menos saudáveis devido à ideia de que se vai pouco a estes locais.

O constructo norma descritiva resultou em escore médio inferior a 2,0, demonstrando que para os jovens seus referentes sociais não consomem salada crua quando vão em fast food no almoço. Ao considerar os itens, as questões relacionadas aos amigos e as pessoas com a mesma idade, apresentaram os escores menores, inferior a 1,70. Estes resultados podem estar relacionados diretamente a idade dos participantes da pesquisa, estudantes com idade média de 15,6 anos. Em

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estudo realizado com adolescentes entre 15 e 17 anos, em Chipre, os jovens relataram que a escolha por alimentos saudáveis não estava associada à imagem de uma pessoa jovem (LOANNOU, 2009). Já o hábito apresentou escore médio inferior a 1,9, caracterizando que o comportamento estudado não é realizado frequentemente entre os estudantes. O baixo interesse dos consumidores em optarem por alimentos mais saudáveis em fast food é observado em diferentes investigações (LARSON et al., 2008; LOANNOU, 2009; WELLARD; GLASSON; CHAPMAN, 2012). Em uma rede de fast food na Austrália, por exemplo, foram analisados os tipos de alimentos comprados pelos consumidores. Verificou-se que do total de refeições completas adquiridas, somente 1% foi considerada saudável (WELLARD; GLASSON; CHAPMAN, 2012).