1.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
2.3.4 Análise do custo, volume e resultado
A utilização dos custos como ferramenta de auxílio do processo decisório, bem como previsão e planejamento do lucro da organização é de extrema importância. A partir da análise de custo/volume/ lucro é possível analisar as variações ocorridas nas receitas, baseado no volume de vendas e nos custos.
De acordo com Wernke (2001, p.41) “As análises de custo/volume/lucro são modelos que visam demonstrar, de forma gráfica ou matemática, as inter-relações existentes entre as vendas, os custos (fixos ou variáveis), o nível de atividade desenvolvido e o lucro alcançado ou desejado.”.
O estudo da relação custo/volume/lucro permite posicionamentos diante de possíveis cenários a serem enfrentados nas organizações. Por exemplo, com o aumento ou redução do custo, aumento ou redução das vendas, redução ou majoração do preço de venda.
Wernke (2011, p.140) enfatiza que
[...] é pertinente que os gestores de empresas varejistas adotem conceitos técnicos e implementem ferramentas de gestão de custos para melhorar a competividade de suas companhias. Entre os instrumentos gerenciais que podem ser aplicados aos diversos tipos (ou portes) de entidades varejistas encontra-se a Análise Custo/Volume/Lucro (CVL), que consegue ofertas várias informações importantes aos administradores.
Para Vieira; Rossi; Pocai (2003, p.43)
[...] essas ferramentas são muito importantes porque facilitam o entendimento da real situação do empreendimento, demonstrando por meio de números e gráficos as relações entre as vendas, os custos fixos e variáveis, o nível de atividade desenvolvido e o lucro alcançado ou que se deseja alcançar.
Ressalta-se que o custo, preço e volume, são fatores considerados no planejamento e na análise da variação do lucro e com base neles é possível definir a margem de contribuição,
ponto de equilíbrio e margem de segurança. Estes itens proporcionam inúmeros benefícios a organização, permitindo, por exemplo, que a empresa saiba quanto deverá vender, para cobrir seus custos e gerar lucro.
2.3.4.1 Margem de contribuição
Controlar e avaliar o desempenho das organizações tem sido definitivo, no que diz respeito à competitividade. Por consequência, os preços tendem a ser definidos pelo mercado consumidor, dificultado a imposição de preços por parte da empresa. Em decorrência deste processo, cabe analisar se o preço de venda praticado cobre os custos fixos, gerando uma margem de lucro.
Para Berti (2009, p.149) a
[...] margem de contribuição unitária é o volume financeiro com que cada unidade do produto contribui para a empresa pagar o seu custo fixo e formar o seu lucro.[...] A margem de contribuição é, pois, um valor restantes destinado a cobrir custos fixos [...] e ainda formar o lucro desejado.
Bornia (2010, p.55) complementa citando que “A margem de contribuição unitária representa a parcela do preço de venda que resta para a cobertura dos custos e despesas fixos e para a geração do lucro [...]”.
Para Oliveira; Perez Jr. (2005, p.222) a “[...] margem de contribuição é, em outras palavras, a “sobra financeira” de cada produto ou divisão de uma empresa para a recuperação – ou amortização – das despesas e dos custos fixos de uma entidade [...]”.
Estudar a margem de contribuição é primordial para decisões de curto prazo. O estudo adequado permite a redução dos custos, incremento de quantidade de vendas e redução dos preços unitários de venda. Desta forma Oliveira; Perez Jr. (2005, p.222-223) citam que
Essa análise permitirá a obtenção de importantes informações para a tomada de decisão. Exemplos:
a.Quais são os produtos mais lucrativos?
b.Qual é o produto produzido ou serviço prestado que mais contribui para a recuperação das despesas e custos fixos e para o lucro da empresa?
c.Quais são os produtos deficitários? Etc.
Baseando-se nas informações obtidas por meio da análise da margem de contribuição, é possível identificar qual produto deve ter sua venda incrementada, ou eliminada, qual o
percentual de desconto que pode ser concedido aos clientes, sem comprometer a apuração da margem de contribuição.
Wernke (2011, p. 85-86) apresenta algumas vantagens encontradas com a utilização da margem de contribuição
a) Permitem analisar a viabilidade de aceitação de pedidos em condições especiais. Por exemplo: quando nos pedidos de compra dos clientes as negociações são efetuadas com preços e quantidades diferentes dos praticados cotidianamente; b) Auxiliam a administração a decidir que mercadorias devem merecer maior prioridade de divulgação (propagandas, brindes promocionais etc.) ou melhor exposição nas gôndolas ou prateleiras;
c) Identificam quais mercadorias geram resultado negativo, mas que devem ser toleradas pelos benefícios de vendas que possam trazer a outros produtos [...]; d) Facilitam a decisão a respeito de quais segmentos de comercialização devem ser ampliados, restringidos ou até abandonados, pois quanto maior a margem de contribuição total ($) proporcionada, mais interessante se torna a comercialização da mercadoria pela sua capacidade de geração de caixa;
e) Podem ser usadas para avaliar alternativas quanto à reduções de preço, descontos especiais, companhas publicitárias especiais e uso de prêmios para aumentar o volume de vendas. [...]
f) A margem de contribuição auxilia os gerentes a entender a relação entre custos, volume, preços e lucros, fundamentando tecnicamente as decisões de venda no comércio varejista.
A fim de proporcionar um maior entendimento a respeito do cálculo utilizado para obtenção da margem de contribuição, Bornia (2010, p.55) traz a seguinte explanação “A margem de contribuição é o montante da receita diminuída dos custos variáveis. A margem de contribuição unitária, analogamente, é o preço de venda menos os custos variáveis unitários do produto.”.
A margem de contribuição pode ser unitária ou total. Vieira (2011) apresenta as seguintes fórmulas para o cálculo das mesmas.
Quadro 2 – Fórmulas para o cálculo da margem de contribuição unitária e total MCu = PVu – CVu – DVuMCT = MCu x Quantidade Vendida
Onde:
MCu = margem de contribuição unitária; PVu = preço de venda unitário;
CVu = custo variável unitário; DVu = despesa variável unitária; MCT = margem de contribuição total Fonte: adaptado de Vieira (2011, p.39)
Por fim, a margem de contribuição indica o quanto “sobra” da venda de uma mercadoria, deduzindo os custos e despesas variáveis. É de extrema importância para as organizações, sendo utilizado principalmente no processo decisório, onde os gestores se utilizam da mesma para entenderem a relação entre custos, volume, preços e lucros, e fundamentarem as decisões de venda.
2.3.4.2 Ponto de equilíbrio
Utilizado principalmente para indicar o volume de vendas que a empresa precisa ter, sem operar com lucro ou prejuízo, Oliveira; Perez Jr. (2005, p.231) definem o ponto de equilíbrio como “[...] um nível em que as receitas são iguais às despesas e, consequentemente o lucro é igual à zero.”.
Complementar a definição dada por Oliveira; Perez Jr., está o conceito dado por Wernke (2001, p.49) onde “O ponto de equilíbrio representa o nível de vendas em que a empresa opera sem lucro ou prejuízo. Ou seja, o número de unidades vendidas no ponto de equilíbrio é suficiente para a empresa pagar seus custos fixos e variáveis, sem gerar lucro.”.
Dependendo das necessidades da empresa, o ponto de equilíbrio pode ser adaptado. Estas adaptações originam denominações distintas, sendo elas o ponto de equilíbrio contábil, ponto de equilíbrio financeiro e ponto de equilíbrio econômico. (WERNKE, 2011).
Para Bornia (2010, p.63)
A diferença fundamental entre os três pontos de equilíbrio são os custos e despesas fixos a serem considerados em cada caso. No ponto de equilíbrio contábil, são levados em conta todos os custos e despesas contábeis relacionados com o funcionamento da empresa. Já para o ponto de equilíbrio econômico, são também imputados nos custos e despesas fixos considerados todos os custos de oportunidade referentes ao capital próprio, [...]. No caso do ponto de equilíbrio financeiro, os custos considerados são apenas os custos desembolsados, que realmente onerem financeiramente a empresa.
Pela definição dada por Wernke (2001, p.50)
O ponto de equilíbrio contábil em unidade define o numero de produtos (peças, metros, quilos etc.) que deve ser fabricado e vendido para que o resultado seja zero (não haja lucro nem prejuízo). [...] Já o ponto de equilíbrio contábil em valor (PEC valor) representa qual o valor mínimo (em $) que deve ser vendido para que a empresa não prejuízo nem lucro.
O ponto de equilíbrio contábil em unidades e em valor é obtido pelas seguintes fórmulas respectivamente:
Quadro 3 – Fórmula do ponto de equilíbrio contábil em unidades e em valor
PEC un. = Custos fixos ($) Margem de contribuição unitária ($)
PEC valor = Custos fixos ($)
Percentual da margem de contribuição (%)
Fonte: Wernke (2001, p. 50)
Já o ponto de equilíbrio financeiro que segundo Oliveira; Perez Jr. (2005, p.236) compreende o “Nível de produção e vendas em que o saldo de caixa é igual a zero. Representa a quantidade de vendas necessárias para cobrir os gastos desembolsáveis tanto operacionais quanto não operacionais. No PEF, a empresa apresenta prejuízo contábil e saldo de caixa zero.”.
Wernke (2001, p.52) considera ainda, dividas do período argumentando que “Dessa forma, o nível de atividades determinado como ponto de equilíbrio financeiro é suficiente para cobrir todos os custos e despesas variáveis, exceto os custos que não representam saídas de recursos ($) da empresa (a depreciação), e ainda saldar as dividas do período.”.
O ponto de equilíbrio financeiro é obtido pela aplicação da seguinte fórmula:
Quadro 4– Fórmula do ponto de equilíbrio financeiro
PE fin. = Custos fixos ($) – Depreciações ($) + Dívidas do período ($) Margem de contribuição unitária ($)
Fonte: Wernke (2001, p. 52)
O ponto de equilíbrio econômico, conforme Bornia (2010, p. 63) “mostra a rentabilidade real que a atividade escolhida traz, confrontando-a com outras opções de investimento.”.
Wernke (2011, p. 116) enfatiza que “Se sua empresa quer fixar metas de vendas que proporcionem um determinado valor de lucro, o gestor lojista pode utilizar o Ponto de Equilíbrio Econômico para calcular o volume de vendas a ser conseguido.”.
O ponto de equilíbrio econômico diferencia-se das demais fórmulas de ponto de equilíbrio, pois inclui a variável “lucro desejado”, conforme segue demonstrado na fórmula a seguir:
Quadro 5– Fórmula do ponto de equilíbrio econômico
PE econ. = Custos fixos ($) + Lucro desejado ($) Margem de contribuição unitária ($)
Fonte: Wernke (2001, p. 53)
O ponto de equilíbrio é tido como um instrumento de gestão no processo decisório. Ressalta-se como um dos benefícios na sua utilização, o fato de responder de forma rápida, aos principais questionamentos feitos pelos gestores, que buscam saber quantas unidades devem ser vendidas para a obtenção de lucro, qual a influência do desconto nos preços de venda, qual o impacto do aumento dos salários nos resultados da empresa etc.. Mesmo apresentando algumas limitações, constitui-se em fonte de informação indispensável para os gerentes.
2.3.4.3 Margem de Segurança
O terceiro componente de análise custo/volume/lucro é a margem de segurança, que nada mais é do que o faturamento excedente às vendas calculadas no ponto de equilíbrio. No entendimento de Bruni; Famá (2004, p.262) “A margem de segurança consiste na quantia ou índice das vendas que excedem o ponto de equilíbrio da empresa. Representa o quanto as vendas podem cair sem que a empresa incorra em prejuízo, podendo ser expressa em quantidade, valor ou percentual.”.
A margem de segurança representa o volume de vendas que supera as vendas calculadas no ponto de equilíbrio, ou seja, representa o quanto a organização pode deixar de vender, sem que haja prejuízo a ela. (WERNKE, 2001).
Geralmente a margem de segurança é expressa em forma de índice (percentual), já que nesta forma, as informações são mais fáceis de serem utilizadas pela administração. Bornia (2010) explica que
[...] se a margem de segurança for dada em quantidades, a gerência terá que compará-la constantemente com a receita total. Essa comparação é feita automaticamente pelo cálculo da margem de segurança em forma de percentagem, que é simplesmente dividir a margem de segurança quantitativa pelas vendas da empresa.
A seguir apresenta-se a fórmula para o cálculo da margem de segurança em quantidade, em reais ($) e em percentual.
Quadro 6 – Fórmula da margem de segurança
Margem de segurança em quantidade (MSQ) = Vendas Atuais – Ponto de Equilíbrio em Quantidade
Margem de Segurança em $ (MS$) = MSQ x Preço de Venda
Margem de Segurança Percentual = MSQ/ Vendas Atuais
Fonte: Bruni; Famá (2004, p.263)
Quanto maior for à margem de segurança, maiores são as chances de a empresa apresentar bons resultados na sua atividade, permitindo que os gestores possam conhecer o volume que cada organização pode suportar no que se refere a uma redução de vendas, a fim de não apresentarem prejuízo no final do exercício.