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6. PROJETOS ESTRUTURADORES

6.2. Análise do Fluxo Comercial em Pernambuco

Para a realização da análise do fluxo comercial de Pernambuco com outros estados, utiliza-se como referência Guilhoto et al. (2010), que abrange informações de todos os estados da região Nordeste. Por isso, é interessante analisar a interação que Pernambuco faz com os demais estados da região, principalmente no que tange o fluxo de bens e serviços. Do ponto de vista do desenvolvimento estadual, esse fluxo comercial é válido e fortalece a todos, fazendo com que o crescimento da região seja maior que a soma das partes, como posto por Hirschman (1958, p. 161).

As relações de oferta e de demanda dos fluxos de bens e serviços, apresentadas na Tabela 6.1 a seguir, explicitam no sentido vertical as relações de consumo de cada estado, e as relações de oferta estão dispostos no sentido horizontal.

Tabela 6.1 - Fluxo de bens e serviços interestaduais, em milhões de reais de 2004

AL BA CE MA PB PE PI SE RN RBR* AL 417 90 32 72 614 22 156 19 2.682 BA 566 717 332 337 1.147 202 531 339 29.001 CE 123 692 312 352 732 288 99 650 7.525 MA 24 179 261 38 171 312 17 29 4.283 PB 95 260 365 53 680 35 50 376 2.507 PE 477 1.648 827 211 1.080 138 237 382 7.773 PI 11 71 211 239 13 68 7 13 1.351 SE 98 970 82 37 27 104 20 30 2.562 RN 19 403 279 33 191 151 22 38 3.701 RBR* 5.134 34.171 14.096 8.350 5.474 15.111 3.865 4.083 5.912 *RBR - Resto do Brasil Fonte: Guilhoto et al. (2010)

Analisando a Tabela 6.1, é possível constatar que Pernambuco, embora seja o segundo no ranking dos estados do Nordeste que mais oferecem produtos e serviços para o restante do Brasil, possui ainda uma forte relação de dependência no fluxo de compra, verificado pela superioridade do valor demandado sobre o valor ofertado. Entretanto, esse perfil não é exclusividade do estado de Pernambuco, mas de todos os demais estados da região.

Observando as relações dentro da região, destacam-se os estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, respectivamente nessa ordem, como os que mais movimentam a economia nordestina, influenciando o fluxo comercial de produtos e serviços. Bahia e Pernambuco possuem uma relação mútua de compra e venda e, considerando apenas a relação dentro da região, Pernambuco é o principal comprador dos bens e serviços ofertados pela Bahia, e vice versa. Ademais, a Bahia é o principal vendedor de bens e serviços para Pernambuco, ocorrendo também a contrapartida de Pernambuco para com a Bahia.

Para que se tenha uma relação forte de oferta e demanda entre os estados é preciso, antes de tudo, que haja uma sinergia entre as atividades exercidas por cada uma dessas economias, caso contrário, não haveria interesse no comércio. Esse aspecto também pode ser observado na Tabela 6.2 a seguir, que se refere ao consumo intermediário.

Tabela 6.2 - Fluxo do consumo intermediário, em milhões de reais de 2004

AL BA CE MA PB PE PI SE RN RBR* AL 4.809 235 49 11 32 426 8 64 12 2.011 BA 434 43.619 473 196 186 767 106 261 220 22.509 CE 37 266 12.989 100 133 271 122 32 350 3.957 MA 11 107 136 5.855 14 102 170 7 16 2.913 PB 46 137 255 19 4.042 374 15 26 245 1.469 PE 254 766 442 82 425 15.519 60 98 210 4.826 PI 4 30 109 97 6 36 2.951 2 7 797 SE 50 755 64 20 14 67 11 4.069 20 1.891 RN 6 332 187 9 84 66 9 18 5.598 2.805 RBR* 2.451 19.158 7.178 3.470 2.234 7.824 1.600 1.798 3.119 1.265.236 *RBR - Resto do Brasil Fonte: Guilhoto et al. (2010)

A Tabela 6.2 mostra a relação entre oferta e demanda do fluxo de consumo intermediário que representa o consumo de bens e serviços utilizados como insumos na produção setorial de cada estado e região. Nesse cômputo, não estão incluídas as importações de fora do Brasil, bem como os montantes relacionados com mão-de-obra e custo de capital.

É possível observar como cada estado demanda os itens necessários para sua produção: se advém do próprio estado; se advém dos demais estados da região Nordeste; ou se é comprado do restante do país.

Estabelecendo uma comparação dos números mostrados na Tabela 6.2, o estado da Bahia é o que possui maior autossuficiência, onde 67% dos itens necessários na sua produção são produzidos dentro do seu próprio estado, e Pernambuco o terceiro colocado, com 61%. Ou seja, Pernambuco possui 61% dos bens e serviços intermediários produzidos internamente, 8% trazidos dos demais estados da região Nordeste e 31% do consumo trazidos do restante do Brasil. O percentual do fluxo de consumo intermediário movimentado no próprio estado é um indicador do quão é desenvolvida a cadeia produtiva de Pernambuco.

Essa autossuficiência é importante para determinar a instalação de novas indústrias no estado, uma vez que elas encontrarão boa parte dos insumos necessários dentro do próprio estado em que estão instaladas. Portanto, quanto maior o nível de ligação industrial dentro do próprio estado, mas atrativa poderá se tornar aquela região.

Por outro lado, o percentual das relações de Pernambuco com os demais estados da região Nordeste é baixo, sendo superado pelo fluxo de consumo intermediário com o restante do Brasil. Sendo assim, o desenvolvimento da região como um todo é muito importante, pois esse crescimento beneficiará a todos os estados da região: os efeitos de transbordamento podem estimular os estados vizinhos, produtores de bens e serviços complementares.

A Tabela 6.3 a seguir demonstra as participações das quantidades demandadas pelo consumo das famílias, governo, estoques e constituição bruta de capital que, juntos, formam a demanda final doméstica.

Tabela 6.3 – Fluxo da demanda final doméstica, em milhões de reais de 2004 AL BA CE MA PB PE PI SE RN RBR* AL 11.593 182 41 21 40 188 14 92 7 671 BA 133 69.725 243 136 151 380 96 270 118 6.492 CE 86 426 34.097 212 219 461 166 67 301 3.568 MA 13 72 125 21.010 24 69 142 11 14 1.370 PB 49 123 110 33 13.123 307 21 24 131 1.038 PE 223 881 385 129 655 39.969 78 139 173 2.947 PI 7 41 102 142 8 33 9.421 5 5 555 SE 48 215 19 17 13 37 9 10.132 10 670 RN 13 71 93 25 106 85 13 20 14.323 896 RBR* 2.684 15.013 6.918 4.879 3.240 7.287 2.265 2.285 2.793 1.664.651 *RBR - Resto do Brasil Fonte: Guilhoto et al. (2010)

Comparando em termos de percentuais os resultados da Tabela 6.3 com os da Tabela 6.2, constata-se que o fluxo da demanda final doméstica é maior no próprio estado, ou seja, a maior parte dos produtos consumidos advém do próprio estado, e um menor percentual advém dos demais estados da região. No caso de Pernambuco, 82% do fluxo da demanda final doméstica é obtida no próprio estado, 3% dos demais estados da região e 15% do restante do Brasil.

Analisando as Tabelas 6.2 e 6.3 conjuntamente, é possível verificar que as relações dos estados do Nordeste com o restante do país ainda é muito evidente, incluindo Pernambuco, uma vez que não houve grandes variações verificadas entre os estados analisados.

Diante dos números apresentados, é importante levantar um questionamento sobre as razões pelas quais nem sempre os estados vizinhos nordestinos atendem perfeitamente às necessidades de produção de um estado. Guilhoto et al.. (2010) acreditam que, em parte, esse fato é decorrente das falhas existentes no sistema de infraestrutura de transporte inter-regional que, quando existem, são mal conservadas.