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Análise do texto: discurso do Ministro Antônio Palocci no Seminário

4 O EXAME DA LINGUAGEM DO EX-MINISTRO PALOCCI – A

4.2 O exame da linguagem do ex-ministro Palocci

4.2.9 Análise do texto: discurso do Ministro Antônio Palocci no Seminário

Ao longo dos vinte e dois parágrafos que compõem o documento, fruto da exposição do ex-ministro Palocci no evento que marcaria os quarenta anos da criação do Banco Central, a política monetária brasileira e, em especial, a inflação possuem uma posição central. Na linguagem trazida por Palocci em seu pronunciamento, a implantação do regime de metas de inflação (em 1999) tem um peso institucional positivo. Esse avanço, como outras reformas, adviriam de respostas institucionais ao longo processo inflacionário experimentado no Brasil ―que por tanto tempo corroeu as bases da nossa economia‖61

. Por conseguinte, e indo de encontro ao argumento anterior, o ex-ministro aponta mais uma vez para uma relativa ―autonomia‖ do Banco Central empreendida desde o início do governo Lula, como uma estratégia deliberada na busca de uma maior consolidação da estabilidade monetária:

Reafirmamos a importância de se assegurar o espaço para atuação do Banco Central na utilização dos mecanismos que estão disponíveis para alcançar a meta de inflação. Nesse sentido, a política monetária tem sido complementada pelo forte compromisso do governo com o equilíbrio fiscal, compromisso esse reafirmado periodicamente com o cumprimento, e mesmo em alguns momentos a superação das metas fiscais brasileiras. Durante os dois últimos anos o Banco Central teve autonomia efetiva na gestão da política monetária e os bons resultados obtidos são uma conquista de toda a sociedade. A consolidação do novo desenho institucional, com a consolidação da autonomia operacional do Banco Central ainda depende de maior aprofundamento das discussões e de seu entendimento dentro da própria sociedade […] (PALOCCI FILHO, 2005b, §10º-11º).

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Em outro momento, já ao final de 2005, Palocci refletiria a respeito do bom momento vivido pela economia brasileira no período e argumentaria com cores ortodoxas: ―E por que a nossa economia vai bem? Fundamentalmente, porque a sociedade brasileira, seus governantes, seus líderes políticos e empresariais, nossos trabalhadores e organizações comunitárias, após trinta anos de descontrole inflacionário, fizeram uma escolha preferencial e definitiva pela estabilidade, pela continuidade das políticas de longo prazo, pela responsabilidade fiscal e, em última instância, pela responsabilidade social. O Brasil aprendeu, a um custo muito elevado, como bem sabemos, que não existe um atalho ‗inflacionista‘ para o desenvolvimento. Aliás, aprendeu mais: aprendeu que não existem caminhos milagrosos para o desenvolvimento‖ (PALOCCI FILHO, 2005c, § 5º).

Somadas à consolidação da estabilidade fiscal e monetária, as contas externas expressas tanto na balança comercial favorável quanto nas transações correntes comporiam, conforme Palocci, um momento ímpar na história econômica brasileira. Contudo, as políticas austeras empreendidas pelo governo Lula e capitaneadas por Palocci encontrariam sua justificativa no argumento que equaciona conjuntamente a estabilidade econômica com a ampliação de políticas sociais, em uma fórmula que, ao final, tende a buscar o crescimento econômico62:

O aumento do emprego vem ocorrendo com uma sensível recuperação da renda do trabalhador, muito por conta do sucesso no controle da inflação, que recuou para 7,6% em 2004, ante 12,5% em 2002. Isso propiciou um aumento da massa salarial que, em conjunto com a ampliação do volume de crédito e de seu acesso pelos segmentos mais pobres da população, tem incentivado o consumo de bens pelas famílias. Essa conjugação de fatores foi coroada pelo crescimento de 5,2% do PIB em 2004, a maior taxa desde 1994. E esses resultados, extremamente positivos, aumentam a responsabilidade do governo na sintonia cautelosa dos instrumentos de política econômica, de forma a garantir a qualidade e sustentação desse crescimento por um longo tempo, permitindo, assim, ampliar as políticas voltadas para a redução das desigualdades sociais e regionais (PALOCCI FILHO, 2005b, §20º-21º).

4.2.10 Análise do texto: discurso do Ministro da Fazenda Antônio Palocci no seminário internacional "Bolsa Família: Dois Anos Superando a Fome e a Pobreza no Brasil" (vinte um de outubro de 2005)

Destoando de todos os pronunciamentos, discursos e entrevistas do ex- ministro Palocci até agora examinados na presente dissertação, a fala de vinte um de outubro de 2005, no seminário comemorativo dos dois anos de lançamento do programa Bolsa Família, tem como ponto central a importância do gasto público em políticas sociais e é articulado a partir de dois eixos argumentativos: a) a importância

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Sobre esse assunto, em discurso proferido junto à Federação Brasileira das Associações de Bancos (FEBRABAN), o ex-ministro Palocci reafirmaria as bases da busca pelo crescimento econômico, de bases preponderantemente ortodoxas, especialmente no que diz respeito à política macroeconômica: ―Neste contexto, o crescimento que vivemos hoje pode não ser o mais acelerado no curto prazo, mas é aquele que gera as condições para sua própria continuidade, sem criar desequilíbrios que afetem o crescimento de amanhã. Não sou avesso a críticas ou ao debate de alternativas. É salutar debater sempre se os ritmos e doses das políticas são adequados ou devem ser ajustados. Mas não podemos atropelar um processo de estabilidade duramente construído, principalmente em troca de políticas velhas, testadas e reprovadas pela nossa história econômica‖ (PALOCCI FILHO, 2005c, § 18º).

dos investimentos sociais para o crescimento econômico no longo prazo – sendo que aqui, o ex-ministro opera uma defesa do programa Bolsa Família –; e b) o erro que geralmente se comete ao contrapor equilíbrio fiscal e gastos sociais.

Conforme Palocci, é notável – a partir de pesquisas empíricas voltadas à área do desenvolvimento econômico – a conciliação entre melhores condições sociais, em especial, no que diz respeitos a serviços de saúde e educação da população em geral, e o maior crescimento das economias estudadas63. Ainda segundo o ex- ministro, os esforços fiscais levados em frente pelo governo Lula desde o ano de 2003, somados às reformas microeconômicas voltadas para a melhoria do ambiente de negócios no Brasil, não contraporiam esse diagnóstico favorável às políticas sociais, antes, complementariam o mesmo:

Também temos nos concentrado em medidas voltadas para a melhoria do ambiente de negócios e o aumento da eficiência da economia. A nova lei de falências, as reformas dos códigos de processos, a transformação de impostos cumulativos em impostos sobre valor agregado são exemplos de medidas que têm fortalecido nossa economia. A reforma do sistema de defesa da concorrência, a abertura do mercado de resseguros, o cadastro positivo são novas medidas, atualmente em análise pelo Congresso Nacional, que, tenho certeza, irão ampliar ainda mais a capacidade de crescimento do nosso PIB. Indo além dos objetivos econômicos, a agenda de reformas implementada nos últimos anos também se tem caracterizado por uma clara preocupação com a redução das desigualdades sociais. É nesse contexto que se inserem medidas como a simplificação da abertura de contas bancárias para famílias de baixa renda, o programa de microcrédito e até mesmo medidas de natureza tributária, como a desoneração de PIS e Cofins de produtos da cesta básica. Trata-se de medidas voltadas para a população de baixa renda, mas que têm um claro impacto positivo sobre eficiência e o crescimento econômico (PALOCCI FILHO, 2005d, §8º-9º).

Dessa forma, por suas características, o programa Bolsa Família seria uma singularidade da história brasileira no que toca o assunto de políticas sociais: voltado quase que exclusivamente às camadas mais pobres da população brasileira, o programa conseguiria, a partir de seus requisitos de participação, incrementar o

63 Neste sentido, Palocci afirmaria que: ―Por essa razão, o programa Bolsa Família – que consolidou

e ampliou significativamente o alcance dos diversos programas de transferência de renda – é um marco importante para o Brasil. Esse programa combina uma política compensatória com uma política estrutural de combate à pobreza, ao transferir renda para as famílias de menor poder econômico e ao condicionar esta transferência à frequência escolar das crianças e ao atendimento de padrões mínimos de saúde. Mais de 40% da desigualdade de renda no mercado de trabalho brasileiro estão correlacionados com a desigualdade nos indicadores de escolaridade. Estimular o aumento da escolaridade é o mecanismo mais eficaz para reduzir uma das principais razões estruturais de nossa desigualdade de renda. Além disso, essa transferência melhora o padrão de vida das famílias mais carentes do nosso país‖ (PALOCCI FILHO, 2005d, § 12º).

vínculo das famílias mais carentes com a assistência de saúde e educação pública. E isso, através de indicadores de escolaridade e de acompanhamento médico das crianças de cada núcleo familiar beneficiado.

Seguindo sua linha argumentativa, o ex-ministro aponta que no curto prazo sempre existirão arbitrariedades quando houver a alocação dos recursos do governo entre políticas públicas e a criação de poupança ―necessária para garantir uma trajetória sustentável para a dívida pública‖ (PALOCCI FILHO, 2005d, §16º). Contudo, e ainda conforme as informações contidas no pronunciamento, no médio e no longo prazo o equilíbrio fiscal seria a única garantia sólida para os investimentos em programas sociais.

De nada adianta ampliar as despesas públicas no curto prazo além do nível compatível com a manutenção do equilíbrio fiscal se o custo dessa política for a criação de um ambiente de instabilidade que inviabiliza o crescimento econômico no longo prazo. Ao contrário, a trajetória virtuosa é aquela na qual a gestão consistente das finanças públicas e da política macroeconômica cria condições para o crescimento sustentado da economia e na qual as reformas institucionais e a boa gestão da política social criam condições para que o crescimento seja cada vez mais acelerado. É essa trajetória que viabiliza uma ampliação consistente e estável dos investimentos sociais (PALOCCI FILHO, 2005d, §18º).

Estou seguro de que, no futuro, uma avaliação retrospectiva do atual momento vai identificar em programas como o Bolsa Família um marco não apenas da política social, mas da política de desenvolvimento do Brasil, um país que mostrou que é possível, ou melhor, que é necessário conciliar equilíbrio fiscal e prioridade social, um país que começa a consolidar uma trajetória sustentável de crescimento econômico com justiça social (PALOCCI FILHO, 2005d, §22º).

No decorrer do presente capítulo buscou-se o exame dos pronunciamentos, artigos e entrevistas do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Para tal, foram utilizados como pressupostos metodológicos os postulados elaborados por Sourioux e Lerat (2002). Nesses, a técnica do exame de textos caracteriza-se como um amálgama entre o matematismo da análise de conteúdo e a reflexividade da análise de discurso. O resultado que se esperava obter era, a partir da análise dos documentos estudados, alcançar uma compreensão da linguagem palocciana através de um aspecto conceitual.

Observou-se, por meio do exame dos discursos, artigos e entrevistas do ex- ministro Palocci, um vetor comum a todos eles: a defesa das políticas de estabilidade fiscal e monetária como fiadoras de um crescimento econômico sustentável no longo prazo. Dessa maneira, a linguagem palocciana acusa

ecletismos: um mescla de argumentos liberais e desenvolvimentistas. Contudo, essa se expressa a partir de um comportamento pendular, mas com uma maior predominância de signos classificados como ortodoxos.