• Nenhum resultado encontrado

Análise do texto: pronunciamento do Ministro Antônio Palocci em cadeia

4 O EXAME DA LINGUAGEM DO EX-MINISTRO PALOCCI – A

4.2 O exame da linguagem do ex-ministro Palocci

4.2.3 Análise do texto: pronunciamento do Ministro Antônio Palocci em cadeia

Como todos sabem, a área econômica é o coração de um país. E quando o coração está forte e sadio, tudo funciona bem. Mas quando não está, as coisas ficam complicadas (PALOCCI FILHO, 2003c, § 2º).

De início faz-se necessário atentar para as características gerais do documento. O pronunciamento em cadeia televisiva e radiofônica (primeira manifestação direta do ex-ministro desde o início de 2003) é dirigido para a população (eleitores) no mês em que o governo Lula completava seis meses de duração. Sua estrutura tipográfica é mais concisa que a dos documentos analisados até aqui: trata-se de apenas dez parágrafos. E possui uma linguagem mais simples – menos técnica – no que diz respeito aos assuntos de economia.

Há seis meses, o presidente Lula assumiu o comando do Brasil. Recebeu um país economicamente frágil e altamente vulnerável. Foi um momento extremamente delicado para a nossa economia. Extremamente delicado! O dólar a quase 4 reais, o crédito externo para as nossas empresas praticamente a zero. E o pior: a inflação voltando a crescer, numa progressão espantosa. O momento não podia ser pior para um governo novo, que chegava com muita vontade de mostrar resultados e dar boas notícias. Fomos obrigados, da noite para o dia, a adiar nossos planos e a tomar medidas duras, amargas, para estancar a crise. Mas mostramos ao mundo que aqui estava um governo sério, responsável, comprometido com a mudança, sim! Mas, uma mudança segura, construída em bases sólidas e, sobretudo, verdadeiras. A pressa e a precipitação, no passado, já levaram o nosso país a grandes prejuízos e a grandes sacrifícios. E isso não queremos que volte a acontecer (PALOCCI FILHO, 2003c, § 3º-4º).

A palavra inflação é utilizada pelo ex-ministro sete vezes ao todo. Crise e

mudança, duas vezes cada uma. O crescimento, tônica dos pronunciamentos

anteriores, aparece apenas três vezes ao longo dos dez parágrafos que compõem o pronunciamento do ex-ministro Palocci. O sentido tomado pelo documento, dessa forma, aponta para a justificativa das ações adotadas pelo governo até o momento do pronunciamento51.

51

Em um outro momento, Palocci assinaria um artigo publicado na revista Época em que, também, à luz do pronunciamento ora examinado, justificava as medidas ortodoxas assumidas pelo governo do tocante à macroeconomia brasileira: ―É preciso, nesse delicado assunto, não tomar a nuvem por Juno. Nosso país está saindo de uma das mais sérias crises dos últimos anos, maior até que a vivida na desvalorização do real, em janeiro de 1999. A credibilidade de nosso país teve de ser resgatada. No plano econômico o Brasil já fez tabelamentos e tablitas, moratórias externa e interna, câmbio fixo ou flutuante, macumba e vodu. Todas essas experiências nos ensinam que a

Outro aspecto relevante da fala é a apresentação das medidas de caráter microeconômico52 (PALOCCI FILHO, 2003c, § 7º-8º) ao grande público, como: a criação de cooperativas de crédito e do crédito popular (com juros de 2% ao mês), a adoção de medidas que facilitariam o acesso à criação de contas bancárias para indivíduos de baixa renda e a redução de tarifas públicas dos combustíveis (gasolina e gás de cozinha).

4.2.4 Análise do texto: pronunciamento do Ministro Antônio Palocci em cadeia de rádio e televisão sobre a retomada do crescimento (vinte e quatro de outubro de 2003)

O pronunciamento que faz o balanço dos nove meses do governo Lula (lançado no mês em que se completava um ano das eleições que levaram o PT ao Governo Federal) apresenta características semelhantes às do anterior. Uma linguagem simples e de fácil compreensão. Analogias entre economia e exemplos do cotidiano para alcançar mais facilmente o público geral. Um texto curto e conciso com dez parágrafos ao todo. Todavia, enquanto o pronunciamento do dia vinte e seis de junho buscaria justificar as tomadas de decisão do governo no tocante a

estabilidade econômica é fruto do esforço sereno e permanente no campo fiscal e monetário. Regras claras, transparentes. Sem mágicas. Colocamos a casa em ordem no câmbio e nas contas do governo, lançamos o programa de reformas previdenciária e tributária e melhoramos sensivelmente as condições de financiamento de nossa economia, com a queda do risco país de 2.400 pontos para cerca de 800 pontos. É preciso consolidar responsavelmente esse quadro‖ (PALOCCI FILHO. In: Revista Época, 2003d, §3º).

52

A respeito da importância de medidas microeconômicas de fomento ao crescimento, o ex-ministro Palocci afirmaria em uma entrevista à revista Veja: ―Pressionar para mexer nos juros básicos, discutir a adequação de uma política fiscal rigorosa ou a necessidade de combater a inflação e mesmo debater a autonomia do Banco Central são questões superadas na maioria dos países. Esses fatores são pressupostos da economia. Ninguém mais discute sua validade ou necessidade. Em viagem ao exterior, quando converso com alguma autoridade econômica sobre superávit primário, austeridade fiscal ou coisa parecida, fico com a impressão de que meu interlocutor não está nem compreendendo aonde quero chegar. Como se eu estivesse levantando um debate pré- histórico. Ninguém mais questiona isso. O mundo discute microcrédito, financiamento. São essas coisas concretas que levam ao crescimento e ao desenvolvimento. O resto é mero pressuposto. Aqui, ainda achamos que política monetária pertence ao campo ideológico, que ter ou não um Banco Central autônomo é uma questão ideológica. Não é nada disso. Há bancos centrais independentes em países capitalistas ou socialistas‖ (PALOCCI FILHO. In: Revista Veja. 2003e. §4º).

economia, a fala do dia vinte quatro de outubro apresentaria as conquistas alcançadas até o momento.

Como todos sabem, no ano passado, a inflação voltou a crescer, causando graves problemas para todos, especialmente para as pessoas mais pobres. A alta de preços corrói os salários, reduzindo muito o poder de compra das famílias até para coisas essenciais, como roupa, comida e transporte. É importante que todos entendam que o controle da inflação é indispensável para nosso país crescer com segurança. Pois bem meus amigos. Hoje, nove meses e 24 dias depois da posse do presidente Lula, e na qualidade de seu ministro responsável pela área econômica, posso dizer a vocês, com absoluta segurança, que vencemos essa batalha (PALOCCI FILHO, 2003f, § 3º-4º).

A ―conquista da estabilidade‖, traduzida por Palocci em seu pronunciamento como o controle da inflação, a baixa dos juros e a estabilidade do dólar (PALOCCI FILHO, 2003f. § 5º-7º) é o tema central da fala. Conforme o ex-ministro, nesse ambiente sadio, tanto empresas quanto a população teriam a oportunidade inédita de ―planejar o seu futuro com mais segurança e tranquilidade‖. Seguindo a argumentação palocciana, a retomada do crescimento – que deveria acontecer nos anos subsequentes – estaria garantida pelo cumprimento das promessas feitas pelo governo quanto da conquista da estabilidade econômica53, conforme é observável na citação a seguir (onde mais uma vez o ex-ministro resgata a chave argumentativa da estabilidade, competitividade e crescimento):

Enfim, meus amigos, o Brasil está pronto agora para voltar a crescer. A partir de agora, como acontece nos países de economia madura e desenvolvida, cada vez mais as empresas vão ganhar por sua competência,

qualidade de serviços e volume de vendas. Este sim é o ambiente saudável

para crescer e desenvolver o Brasil, onde o lucro justo é obtido às custas do investimento e do trabalho. O governo está cumprindo a sua promessa de garantir a estabilidade econômica (PALOCCI FILHO, 2003f, § 9º, grifo meu).

53

Dessa maneira, é observável, no pronunciamento do dia vinte e quatro de outubro de 2003 aqui examinado, a concordância com a argumentação palocciana anterior, como se verifica na passagem a seguir retirada de uma entrevista concedida pelo ex-ministro à revista Veja: ―Veja – Fala-se muito em fase dois da economia. Ela virá? Palocci – Existe a fase dois, mas não existe o plano B. A política econômica é exatamente esta que estamos praticando, e vamos continuar com ela até que, arrumada a casa, entremos na fase dois, que vem a ser a fase do crescimento, do desenvolvimento, da geração de empregos, do aumento da renda. É isso que estamos perseguindo. A fase agora é a de controlar a inflação, reduzir ao máximo a instabilidade, produzir o máximo de credibilidade, arrumar as contas do governo. Isso feito, entraremos na fase dois, de menor aperto monetário. A fase dois é uma decorrência da fase um. O problema é que há setores que querem inverter as coisas. Querem chegar à etapa do desenvolvimento, do crescimento e dos empregos sem o ônus da primeira etapa. É preciso entender que não haverá uma ruptura entre uma fase e a seguinte, não cortaremos uma fita inaugural, não haverá um dia D de passagem para a etapa do desenvolvimento. Ela virá como resultado do sucesso da sociedade brasileira na fase dos ajustes‖ (PALOCCI FILHO. In: Revista Veja, 2003e, §5º).

4.2.5 Análise do texto: entrevista à revista Exame – ―Os pilares não podem mudar‖,