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Análise do texto: ―A rota do desenvolvimento‖ – artigo publicado no jornal

4 O EXAME DA LINGUAGEM DO EX-MINISTRO PALOCCI – A

4.2 O exame da linguagem do ex-ministro Palocci

4.2.7 Análise do texto: ―A rota do desenvolvimento‖ – artigo publicado no jornal

de S. Paulo (vinte e três de julho de 2004)

Primeiramente cabe ressaltar que o texto aqui analisado é assinado em coautoria com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Também faz-se necessário

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Contudo, na mesma entrevista, Palocci reafirma a unidade interna ao governo, conforme é observável na citação a seguir: ―Uma coisa é certa: este governo não tem uma divisão entre monetaristas e desenvolvimentistas. As políticas monetárias e de desenvolvimento estão sendo feitas em conjunto. É natural que existam tensões entre a área econômica e a área política. A área política tem de aprovar reformas no Congresso. Lá, encontra um conjunto de demandas. A área econômica tem de reduzir as demandas, especialmente em tempos de restrição no Orçamento. Foi esse equilíbrio entre a demanda política e a restrição orçamentária que provocou algumas dificuldades. Mas isso nunca dividiu o governo ou fez com que tivéssemos uma corrente monetarista e outra desenvolvimentista. Eu não sou fiscalista, não sou monetarista. Não sou nem economista‖ (PALOCCI FILHO. In: Revista Época, 2004d, §20).

dizer que a política econômica ortodoxa levada em frente pelo governo Lula, logo após a sua posse e ao longo do ano de 2003, não demoraria a criar desconfortos tanto em relação aos setores produtivos que criticavam as altas taxas de juros impostas pelo Banco Central quanto por parte da militância do PT, que observava a contradição entre as bandeiras historicamente defendidas pelo partido em relação à economia e às políticas do governo.

Além dos setores produtivos e da militância partidária, o governo Lula também teve que lidar com divergências internas (conforme abordado no terceiro capítulo da presente dissertação, uma das principais características do Partido dos Trabalhadores sempre foi a sua forte dinâmica interna, expressa em suas correntes políticas). As medidas duras na economia acabariam por criar atritos entre os que queriam restringir o acesso ao Tesouro e aqueles que tentavam alcançá-lo para poder colocar em prática as políticas públicas do primeiro governo Lula59. Assim sendo, explicitamente por essas razões, um artigo publicado e assinado por ambos os ministros mais importantes do primeiro governo Lula em um jornal de grande tiragem em todo o território nacional exige atenção, como tentativa de criação de um consenso político interno ao governo.

Os resultados da política econômica austera levada em frente ao longo de 2003 seriam sentidos apenas no início do ano seguinte. Com um PIB de crescimento modesto (0,5%), o governo Lula sofreria duras críticas tanto da oposição quanto da base aliada. Contudo, o crescimento dos anos posteriores e a redução das taxas de inflação teriam – conforme a linguagem palocciana – na austeridade de 2003 uma sólida fundação. Em boa medida, esse é o vetor do texto por ora examinado, como é observável nas passagens a seguir:

A economia brasileira está crescendo há mais de três trimestres consecutivos e a taxa de investimento já se encontra também em processo de retomada. A produção industrial acumula uma expansão de 6,5% de janeiro a maio último, comparativamente ao mesmo período de 2003, e uma

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Acerca do tema, cabe a leitura de uma passagem contida no livro de memórias do ex-ministro, onde o mesmo explicita a sua relação com o então Ministro da Casa Civil José Dirceu e as diferenças entre os dois cargos ocupados por ambos no que se refere ao tema indicado: ―Zé Dirceu tendia a defender a expansão dos programas e projetos e o relaxamento da política monetária. Nada mais natural e legítimo. Eram ângulos de ação quase opostos entre si e que traziam dificuldades de relacionamento em função da natureza distinta, e às vezes contraditória, das responsabilidades de cada um. Numa analogia bastante simplória, enquanto um precisava impedir a qualquer custo que se chegasse ao cofre, o outro tinha a inglória missão de abri-lo‖ (PALOCCI FILHO, 2007, p. 78).

expansão de 2,8% em 12 meses, segundo o IBGE. A produção de bens de capital, um importante indicador dos investimentos, acumula expansão de 22,5% neste ano e de 13,2% em 12 meses. O desempenho exportador brasileiro tem sido notável, acumulando o volume recorde de US$ 43,3 bilhões no primeiro semestre deste ano e saldo também recorde de US$ 15,05 bilhões no mesmo período. As importações também aumentaram em 25%, comparativamente ao primeiro semestre de 2003. Com isso, a corrente de comércio do país deu um salto de 24,3% do PIB, em 2003, para 26% neste ano, com previsão de fechar 2004 em torno de 26,5%. Em maio último, a conta de transações correntes do país encontrava-se positiva em US$ 6,4 bilhões, no período de 12 meses, o melhor resultado já apurado pelo Banco Central. Com esses números saudáveis no setor externo, o país pôde resistir sem maiores traumas às turbulências recentes no mercado internacional, especialmente à mudança no patamar de preços do petróleo. A política econômica do governo do presidente Lula está produzindo os resultados almejados, retomando o crescimento. Muito há por fazer ainda, mas a rota está dada (PALOCCI FILHO; DIRCEU, 2004, § 3º-5º).

Outro componente característico do texto examinado está contido entre os parágrafos 6º e 7 º. No primeiro, o documento afirma serem a conquista da estabilidade e a retomada do crescimento uma realização de todos: governo, congresso e sociedade. Enquanto que no sétimo parágrafo é aventada a simbiose das correntes econômicas liberal e desenvolvimentista dentro do governo Lula, tendo como principal figura de decisão e articulação o ex-presidente da República:

O desafio dos próximos dois anos e meio de mandato do presidente Lula é prosseguir e aprofundar o caminho do desenvolvimento. Neste governo não existem clivagens do passado, entre "monetaristas" e ―desenvolvimentistas‖ e outras classificações do gênero. Existem debates, visões às vezes diferenciadas, como é natural em qualquer governo; mas existe, sobretudo, ação comum decidida pelo presidente da República. E as ações têm formado um todo consistente (PALOCCI FILHO; DIRCEU, 2004, §7º).

4.2.8 Análise do texto: pronunciamento do Ministro Antônio Palocci em cadeia de rádio e televisão (vinte e oito de fevereiro de 2005)

O tema central do pronunciamento orbita no entorno do saldo positivo das contas externas do país. Conforme o ex-ministro, o comunicado tem como objetivo salientar a não renovação dos compromissos entre o Tesouro Federal e o Fundo Monetário Internacional60. Nas suas palavras, após ―anos dependendo dos

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A respeito do assunto, cabe a leitura de uma passagem das memórias do ex-ministro onde o mesmo comenta o tema: ―O desempenho positivo da balança comercial por anos seguidos mais a

empréstimos do Fundo Monetário Internacional, nosso País, finalmente, tem conseguido equilibrar as suas contas [...], colocando a sua economia em ordem, e não mais precisando da ajuda do FMI‖ (PALOCCI FILHO, 2005a, §1º).

A brevidade do documento (são apenas cinco parágrafos) coloca em evidência a sua pontualidade: a capacidade da economia nacional de voltar a crescer deve-se ao ajuste fiscal empreendido no governo Lula até então. Segundo Palocci:

Como todos sabem, o presidente Lula assumiu o governo em janeiro de 2003 num momento de grave crise econômica. A inflação estava fora do controle, o Brasil estava sem crédito internacional e havia uma descrença sobre a capacidade do governo honrar a sua dívida futura. Nestes dois anos e três meses realizamos um forte ajuste na economia para ampliar a poupança do governo e, com consciência, aumentar a capacidade de honrar os nossos compromissos, externos e internos. Ao mesmo tempo, agimos com firmeza no controle da inflação. Todas essas medidas tiveram ampla repercussão no mundo inteiro, dando confiança e credibilidade ao novo governo do Brasil. E com a credibilidade e a confiança em alta, foi possível voltar a crescer (PALOCCI FILHO, 2005a, §3º).

Dessa maneira, o pronunciamento do ex-ministro Palocci nos primeiros meses de 2005 vem a reafirmar um ciclo que estaria em movimento desde os primeiros dias de governo Lula. As políticas de caráter ortodoxo no campo macroeconômico visariam à estabilidade de contas em primeira instância. Somadas a essas, reformas microeconômicas voltadas para a melhora do ambiente de negócios caracterizariam, grosso modo, a forma de operar da administração Palocci. Assim sendo, o ex-ministro reitera:

O ano de 2004 foi um grande ano para o nosso País: o Brasil cresceu 5,2%, a maior taxa dos últimos 10 anos. A indústria cresceu 8,3%. Produzimos mais de dois milhões de veículos, 42 milhões de celulares, nove milhões de aparelhos de TV. Praticamente todos os números da economia em 2004 foram recordistas. E tudo isso significou uma forte geração de empregos: foram mais de dois milhões de novos empregos com carteira assinada em todo o país nesses últimos dois anos. As nossas exportações, nos últimos doze meses, atingiram o recorde histórico de mais de 100 bilhões de dólares. Mas não podemos esquecer que se conseguimos tudo isso, foi com grande esforço e responsabilidade fiscal. Portanto, o controle do orçamento e dos gastos públicos continuará sendo feito com disciplina e transparência.

redução do risco-país até atingir os níveis mais baixos desde que é mesurado, já como consequência da melhoria das condições macroeconômicas do Brasil, criaram as condições necessárias para o Tesouro Nacional renegociar títulos brasileiros com juros mais baixos e prazos mais longos. Isso permitiu a devolução antecipada dos recursos emprestados pelo FMI e o pré- pagamento das obrigações com os países do Clube de Paris. Em uma inversão histórica de papéis, em meados de 2006 o Brasil passaria de grande devedor à condição de credor de moeda estrangeira‖ (PALOCCI FILHO, 2007, p. 175).

É isso que garantirá a continuidade do equilíbrio econômico necessário para o Brasil crescer (PALOCCI FILHO, 2005a, §4º).

4.2.9 Análise do texto: discurso do Ministro Antônio Palocci no Seminário Banco