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Uma outra forma por nós utilizada na recolha de informação foi a análise documental. De acordo com Merriam (1988), a análise documental assume um papel importante na investigação qualitativa, uma vez que ela é uma das maiores fontes de recolha de dados no estudo de caso. Diz-nos esta autora que a diversa documentação existente “pode ajudar o investigador a descobrir significados, a desenvolver compreensão, e a descobrir ideias relevantes para o problema a investigar” (p. 118). Para Lüdke e André (1986) a análise documental assume grande importância no levantamento de novas questões sobre o fenómeno em estudo.

Uma vez que “toda a sociedade letrada produz uma variedade de material com a intenção de informar, entreter ou persuadir a população” (Kidder, e Judd, 1986, p. 286), deparamo-nos com a necessidade de definir qual o tipo de documentação adequado para o desenvolvimento da investigação, podendo aquela variar de investigação para investigação.

Merriam (1988) refere-se a três tipos de documentação que interessa analisar aquando de uma investigação: (1) registos e arquivos públicos; (2) documentos pessoais; (3) traços físicos. Contudo, diz-nos a autora, “uma investigação pode ela própria criar documentação de acordo com os propósitos da investigação” (p. 109) até porque, segundo a autora, pode dar-se o caso de os documentos não terem sido escritos de acordo com os interesses e objectivos da investigação.

No decorrer do nosso estudo pretendemos ter acesso a documentos que nos permitiram obter informações relevantes para a compreensão do fenómeno a investigar. Destacam-se, de entre outros, os seguintes:

 Actas de reuniões de Conselho de Turma com alunos com NEE;  Actas de reuniões de Conselho Pedagógico;

 Actas de reuniões com o Professor responsável pelos Apoios Educativos;  Acta de outras reuniões cujo assunto a tratar tenha sido ensino especial;

 Actas de reunião de Directores de Turma (turmas com alunos dos de NEE) com Encarregados de Educação destes alunos;

 Processos individuais de alunos com NEE;  Pautas de avaliação de final de período;

 Relatórios de alunos propostos para Apoio Pedagógico Acrescido;  Projecto Educativo de Escola;

 Regulamento Interno de Escola;

 Correspondência relativa a alunos com NEE;

 Legislação sobre ensino especial/Apoios Pedagógicos Acrescidos;

 Panfletos anunciativos de actividades relacionadas com a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais;

 Projectos apresentados e informações acerca dos alunos com NEE;  Outros Projectos que envolvam alunos com NEE.

Perante a complexidade e diversidade dos documentos a analisar, a literatura aponta para a necessidade de o investigador separar o essencial do supérfluo e descobrir o sentido (nem sempre evidente) dos documentos. Gagel (1997) refere que um dos

processos que devemos seguir na selecção e análise de documentos deve ser a investigação hermenêutica (hermeneutic inquiry), onde o investigador se assume como intérprete daquilo que já foi dito por meio da escrita. Como nos lembra Gadamer (1998), “o texto traz um tema à fala, mas quem o consegue é, em última análise, o desempenho do intérprete” (p. 565). Assim, compreender um documento significa sempre saber que:

“Embora se tenha de compreendê-lo em cada caso de uma maneira diferente, continua sendo o mesmo texto que, cada vez, se nos apresenta de modo diferente. (...) Assim, a compreensão não se satisfaz no virtuosismo técnico de um ‘compreender’ tudo o que está escrito. Pelo contrário, numa experiência autêntica, isto é, num encontro com algo que vale como verdade” (Gadamer, 1998, pp. 579-706).

3.4.2.4. Conversas informais

Gostaríamos de referir que, para além das fontes de informação já mencionadas, tivemos e pensamos ter muitas conversas informais, noutros contextos que não apenas o das entrevistas e da observação, com os diversos participantes neste estudo e, com outros, que por motivos que nos foram alheios não quiseram nele participar: com os professores, a psicóloga, os alunos, as auxiliares de acção educativa e com alguns dos pais e encarregados de educação dos alunos com NEE, intérprete de Língua Gestual Portuguesa e responsável pelo ASE.

Estes momentos constituíram-se em importantes oportunidades de cumplicidade, empatia e de alargamento do conhecimento pessoal sobre a forma como cada agente vivênciou e participou no processo, assim como perceber que sentidos e significados marcarão as suas vidas futuras.

3.4.3 Procedimentos

Simpson e Tuson (1995) bem como Merriam (1988) referem que na investigação qualitativa a recolha e análise de dados deve ser feita em simultâneo. Diz-nos a autora que a “análise começa com a primeira entrevista, com a primeira observação, o primeiro documento lido” (p. 119). Por isso, desde o início do estudo que se fez uso de procedimentos analíticos, se definiram caminhos a seguir e se tomaram decisões (Lüdke e André, 1986).

Esta simultaneidade permitiu ao investigador orientar e fundamentar a recolha de dados de forma mais produtiva, ao mesmo tempo que lhe possibilitou o desenvolvimento de uma base de dados relevante e parcimoniosa (Merriam, 1988).

Lofland e Lofland (1984) referem que grande parte do sucesso da investigação qualitativa depende de determinados cuidados que o investigador deve ter no modo como inicia, desenvolve e termina o seu estudo. Assim, o investigador deve:

“Fazer uso de contactos/conhecimentos do terreno de modo a remover possíveis obstáculos típicos do início de uma investigação; Evitar fazer perder tempo aos participantes do estudo com pedido de informação que já é do conhecimento público; Tratar os participantes do estudo com a devida cortesia; Porque a investigação qualitativa pede aos participantes que o investigador tenha acesso às suas vidas, ao seu pensamento e às suas emoções, é também importante esclarecer honestamente os participantes sobre os fins da investigação em curso” (p. 25).

Salvaguardadas as devidas precauções que este tipo de estudo exige, numa primeira fase foram estabelecidos contactos no sentido de obter a colaboração dos intervenientes no processo. Posteriormente, tendo por base a literatura consultada, recolheu-se informação sobre as características gerais consideradas importantes para a delimitação do objecto de estudo. Procurou-se essa informação na documentação existente na escola e junto de organismos directa ou indirectamente relacionados com o assunto do estudo. Procurou-se, igualmente, no decorrer da observação, recolher informação considerada importante e imprescindível quer para a orientação e realização das entrevistas quer para a sua posterior análise.

Depois de elaborados os respectivos guiões das entrevistas e de elucidados os entrevistados sobre os objectivos deste estudo e, consequentemente, das entrevistas, assim como do local e do tempo da realização das mesmas, decidiu-se pela sua gravação em material áudio e audiovisual, bem como pela sua posterior fiel transcrição. As entrevistas com alunos surdos foram posteriormente lidas com a intérprete de língua gestual. Convém referir que a entrevista com a professora responsável pelos Apoios Educativos da escola foi, por opção sua, manuscrita. No final foi-lhe lida a entrevista para garantir que era essa a informação que ela queria fornecer.

Por último, gostaríamos de referir que as observações de sala de aula foram realizadas nos 2º e 3º períodos do ano lectivo de 2000/2001, por pensarmos que nesta altura do ano o tipo de relações existentes entre os participantes do estudo (alunos com e sem NEE e Professores que leccionam alunos com e sem NEE) se encontrava mais definida e solidificada. Esta opção permitiu-nos compreender com mais rigor e clareza, de entre outros, os seguintes aspectos: Interacções professor-aluno; interacções aluno-aluno; linguagem utilizada nessas interacções; qualidade da informação dada aos alunos com e sem NEE; estratégias didáctico-pedagógicas utilizadas na sala de aula;

materiais educativos utilizados; e confronto entre os ideais e as práticas da escola inclusiva.

CAPÍTULO 4