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PROBLEMATIZAÇÃO E METODOLOGIA

3.3. Opções Metodológicas

3.3.1. O estudo de caso

Uma importante característica da investigação qualitativa reside na diversidade de estratégias metodológicas postas ao dispor do investigador. Perante tal diversidade, o investigador terá de fazer opções, sabendo de antemão que, ao fazê-lo, deverá assumir e lidar com as limitações das estratégias que decidiu seguir. Neste sentido, Yin (1994, 2001) considera que, ao escolher a abordagem que pensa ser a mais adequada para o seu estudo, o investigador deve ter consciência das razões pelas quais optou por este caminho e não por outro.

Na base dessa escolha o investigador deve ter em conta os seguintes aspectos: A questão a investigar; o controlo que possui dos acontecimentos e comportamentos humanos; a contemporaneidade do fenómeno (Ruela, 2000; Yin 1994, 2001). Autores como Cohen e Manion (1994), Merriam (1988) e Yin (1994, 2001) defendem que uma das metodologias indicadas para estudar fenómenos revestidos de grande actualidade, inseridos num contexto social complexo, como é o educacional, e que colocam questões do tipo “como” e “porquê”, é o estudo de caso.

Por consideramos ser este o método mais indicado para o estudo da complexidade e importância do fenómeno em estudo, diremos que a nossa investigação assumirá as características principais de um estudo de caso: (a) centrar-se-á nos processos e nas dinâmicas; (b) dependerá de forma decisiva do investigador; (c) proceder-se-á por indução, reformulando no curso do seu desenvolvimento os seus objectivos, problemáticas e instrumentos; (d) basear-se-á em descrição densa, que vai além dos factos e das experiências, apresentando o mais pormenorizadamente possível o contexto, as emoções e as interacções sociais que ligam os diversos participantes entre si (Dezin, 1989; Merriam, 1988; Yin, 1994, 2001).

Gostaríamos de salientar que, pese embora a perspectiva tendencialmente holística que é característica do estudo de caso, não teremos nem poderíamos nunca ter a pretensão de ter estudado e de ter observado o fenómeno no seu todo, ou de ter fixado todas as ocorrências acerca do fenómeno que nos propusemos investigar até porque, convém não esquecer, que o paradigma em que assenta a abordagem qualitativa parte do princípio de que a realidade, para além de caleidoscópica é, na sua essência, mudança e, portanto, um eterno processo em devir e que, por isso mesmo, nunca poderemos esquecer que a ciência não pode ter “como objectivo descrever a realidade tal como ela é” (Caraça, 1975, p. 108). No entanto, globalmente, pensamos obter alguns dados relevantes para a compreensão do problema em causa: A inclusão dos alunos com NEE no ensino regular.

Apesar de algumas limitações reconhecidas pela literatura especializada, o estudo de caso, ao proporcionar meios de investigar unidades sociais de extrema complexidade com inúmeras variáveis importantes para a compreensão do fenómeno, é particularmente adequado para os estudos em Educação (Merriam, 1988). O estudo de caso permite “investigar e analisar intensivamente fenómenos multifacetados que constituem o ciclo de vida de determinada unidade” (Cohen e Manion, 1994, p. 106).

Merriam (1988) considera que o estudo de caso permite um relato rico e holístico do fenómeno. Lüdke e André (1986) dizem-nos que este método exige que o investigador procure descrever a complexidade de um determinado fenómeno focalizando-o como um todo e assuma que não existe uma única realidade. Por isso, é importante que o investigador apresente os diversos pontos de vista dos participantes no estudo, incluindo o seu.

Se aplicarmos ao estudo de caso o princípio epistemológico enunciado por Bachelard (1986) de que “em ciência nada é dado tudo é construído”, diremos que o caso não é dado mas construído ao longo do processo de estudo. Tal pressupõe que ao estudo de caso subjaza a ideia de que se, por um lado, o investigador se deixa, em certo sentido, determinar pelo fenómeno a investigar, por outro, também o fenómeno é determinado e influenciado pelo olhar do investigador. Por isso, é de aceitar como fundamental que ao investigador importa “manter a vista atenta à coisa, através de todos os desvios a que se vê constantemente submetido em virtude das novas ideias que lhe ocorram” (Gadamer, 1998, p. 402). Assim, a compreensão que o estudo de caso nos dá do fenómeno em análise é sempre um projectar, pois, mal apareça um primeiro sentido para o fenómeno a estudar, o investigador como que (pré) figura um sentido do todo.

Neste sentido, e porque compreender é, aqui, sempre um lançar-se para a frente, a compreensão que se quer no estudo de caso consiste, como diria Gadamer (1998),“precisamente na elaboração desse projecto prévio que, obviamente, tem de ir sendo constantemente revisado com base no que se dá conforme se avança na penetração do sentido” (p. 402).

Por isso, o estudo de caso exige a observação detalhada de um contexto, ou de um indivíduo, de fontes documentais ou de um acontecimento específico.

O estudo de caso aponta para vários procedimentos que começam pelo design inicial, pela recolha de dados e pela respectiva análise (Dezin, 1989;Yin, 1994, 2001). Por isso, há que saber o que constitui o caso, como e quando se faz a recolha de dados, o quê e quando observar, quem são os entrevistados, qual a documentação necessária, como se analisam os dados recolhidos. Cohen e Manion (1994) consideram que o estudo de caso se apoia essencialmente nos dados obtidos nas entrevistas, observações e recolha documental, cabendo ao investigador decidir a sua importância para o desenvolvimento e a compreensão do caso em estudo.

Sabendo nós que o foco de interesse no estudo de caso é uma única unidade em análise, no nosso estudo a unidade de análise seleccionada foi a escola, enquanto

comunidade educativa, vendo como ela encara o processo de inclusão de alunos com NEE no ensino regular, nomeadamente compreender que processos essa escola tem para essa inclusão e conhecer como, actualmente, são efectivados, na prática, os princípios orientadores de uma escola de e para todos. Neste trabalho decidiu-se analisar uma escola onde houvesse um número considerável de alunos com NEE e que a sua inclusão fosse considerado um elemento importante.