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A riqueza contida nos documentos pode ser apreciada com mais acuidade através da análise documental e possibilitou um conhecimento mais profundo do processo de construção e implementação da política, gerando um saber mais concreto acerca das intenções, motivações, opções ideológicas, epistemológicas e políticas dos formuladores. Isso porque

podemos observar no discurso dos documentos os dados implícitos na análise das relações entre as partes, bem como a forma como determinados conceitos foram adotados e articulados na consecução de um texto que informou e guiou determinada opção política, seja na organização pedagógica, curricular ou metodológica que a política educacional orientou.

No emprego de técnicas de análise, buscamos decifrar, em cada parte do texto, o núcleo emergente. Houve um processo de codificação, interpretação e de inferências sobre as informações contidas no documento, desvelando seu conteúdo manifesto e latente. Dentro da análise, procuramos indicadores das orientações epistemológicas e ideológicas do EMP.

A análise dos documentos não dispensou uma profunda contextualização histórica e social, para buscar uma compreensão com mais acuidade acerca das vinculações de tal política a um contexto macro. Tal possibilidade exigiu pensar que uma determinada política educacional não existe de forma isolada, mas faz parte de um contexto de ações e reações do Estado e dos Governos frente ao movimento do real: a realidade, com toda a sua potência metamórfica intrínseca. Segundo Silva, Almeida e Guindani (2009), “a análise qualitativa do conteúdo começa com a ideia de processo, ou contexto social, e vê o autor como um auto- consciente que se dirige a um público em circunstâncias particulares” (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 11). Assim, ao analisar um corpo documental de uma política é exigido do pesquisador uma postura crítica. Também se fez necessária a busca de uma visão holística acerca da forma e do conteúdo da proposição. Isso porque o conhecimento ou a leitura superficial, sem procurar os meandros da formulação que conformam o objeto analisado, não corroboram no esclarecimento do como e do porquê das opções e orientações contidas no emaranhado propositivo das modificações que são organizadas no formato de política educacional, com objetivos, metas, método e organograma específicos. Conforme Silva, Almeida e Guindani (2009, p. 08-09):

É primordial em todas as etapas de uma análise documental que se avalie o contexto histórico no qual foi produzido o documento, o universo sócio-político do autor e daqueles a quem foi destinado, seja qual tenha sido a época em que o texto foi escrito. (...) O pesquisador não pode prescindir de conhecer satisfatoriamente a conjuntura socioeconômico-cultural e política que propiciou a produção de um determinado documento. Tal conhecimento possibilita apreender os esquemas conceituais dos autores, seus argumentos, refutações, reações e, ainda, identificar as pessoas, grupos sociais, locais, fatos aos quais se faz alusão, etc. Pela análise do contexto, o pesquisador se coloca em excelentes condições até para compreender as particularidades da forma de organização (...). (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 08-09).

A captura do real se deu no conhecimento dos fatos relevantes e fundamentais que se impuseram por si mesmos no documento, pela relevância dada, desde a sumarização até profundidade do debate proposto nos capítulos/sessões do documento. Na intersecção

documento/prática de implementação, privilegiou-se a busca da elucidação dos termos e ações da política governamental elegidos como prioritários ou mais relevantes, desencadeadores de ações e reações do governo, atuações de personalidades no processo formativo, influência de publicações oficiais no decorrer do processo de implementação, questões ligadas à política nacional que influenciaram o processo implementativo. A vida da política não está só nos documentos, mas na prática da implementação, que fica registrada na memória dos sujeitos. Acessando as memórias de diferentes atores, dessa maneira, reconstruímos o caminho dos embates, concessões, disputas, acordos, entres diferentes personagens que se envolveram no processo de construção e implantação do EMP. Investigar o fazer e o saber de personagens que produziram o EMP permitiu desenvolver um trabalho de reconstituição da memória desta política educacional.

O documento escrito foi revelador de intenções, de formas de ação e de propostas de ação que foram desenvolvidas, como política educacional em determinado contexto histórico social. Cellard (2008) alerta que o texto escrito de determinado documento organizador de ações humanas constitui uma fonte extremamente preciosa para a pesquisa.

Ele (documento escrito) é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente (CELLARD, 2008, p. 295).

A análise documental permitiu observar os processos de organização e evolução do pensamento e das posições filosóficas de indivíduos e grupos sociais, que enquanto formuladores e propositores de determinada política, escolheram e reuniram conceitos, constructos e conhecimentos para influenciar comportamentos, mentalidades e práticas escolares em determinado ambiente e tempo histórico. Contudo, devemos lembrar que “o texto é abordado a partir do entendimento do contexto da sua produção pelos próprios analistas.” (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 06).

Foi premente contextualizar com especial adequação os conceitos utilizados nos documentos. Foi valioso identificar as referências teóricas nas quais se pautou a política para tratar de determinado assunto. Fez-se isso para identificar as principais influências teóricas que subsidiaram a obra. Foi primordial capturar as relações consubstanciais entre os vínculos e não vínculos dos conceitos reunidos no documento.

Por meio da análise de documentos, identificamos e classificamos as relações existentes entre as informações e os fatos geradores da política educacional com base nas questões e hipóteses da pesquisa. O processo de compreensão das intenções de uma política

educacional exigiu a análise pormenorizada do conteúdo dos documentos escritos, que puderam revelar a intenção primeira da política. A observação inquiridora do conteúdo dos documentos solicitou um olhar científico capaz de desatar os nós que amarraram e que aparentemente pareceram conceber à política objetivos claros, mas guardavam por traz inúmeros fatores e determinantes.

Compreender a escolha de determinados conceitos, a opção epistemológica, ideológica e política por parte dos formuladores foi necessário para poder entender o fenômeno pesquisado na sua integralidade. O questionário da entrevista semiestruturada permitiu abstrair, e fazer forçar a memória dos formuladores para a revelação dos entremeios das proposições, o conteúdo e a forma de implementação da política para além do que ficou registrado nos documentos oficiais.

A partir da exploração dos documentos orientadores da proposta de forma mais profunda que na escrita do projeto de tese, algumas questões de pesquisa, que compuseram o questionário inicial das entrevistas, sofreram pequenas modificações e adequações, uma vez que para o projeto procedemos a uma análise e exploração não aprofundada do documento (RIO GRANDE DO SUL, 2011)

Assim, podemos definir a metodologia como sendo um conjunto de princípios, etapas, instrumentos, regras, procedimentos e orientações empregados na atividade científica com o objetivo de responder inquietações e testar hipóteses. Primeiro elegemos categorias, depois analisamos o material a partir delas. Após, procedemos a sínteses.

Construir categorias de análise não é tarefa fácil. Elas surgem, num primeiro momento, da teoria em que se apóia a investigação. Esse conjunto preliminar de categorias pode ser modificado ao longo do estudo, num processo dinâmico de confronto constante entre empiria e teoria, o que dará gênese a novas concepções e, por conseqüência, novos olhares sobre o objeto e o interesse do investigador. (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 12).

Elegemos técnicas de manuseio dos documentos classificando o material, descrevendo o seu objetivo e elaborando as categorias de análise para que pudessemos analisar o conteúdo e suas relações com o contexto sócio-histórico. A organização e a interpretação dos documentos seguiram os objetivos da investigação proposta, orientada pelo problema de pesquisa. Foi a busca da compreensão do quebra-cabeça invisível que deu origem a política. Assim, a compreensão e categorização do material, desvendando as vinculações do seu conteúdo, levou a estabelecer um conhecimento mais concreto acerca do porquê e do como de determinadas decisões na formulação da política bem como nas mudanças aplicadas ao objetivo inicial dela na consecução da implementação, onde a dialética e a correlação de

forças entre implementadores e sujeitos (comunidades escolares) estabeleceu diálogos, resistências e acordos. Compreender o momento sócio-histórico que influenciou a elaboração da política foi primordial na elaboração das categorias, uma vez que pudemos abstrair daí as principais preocupações sociais daqueles que formulam a política, bem como o ambiente de implementação da proposta, podendo daí inferir sobre um conjunto de elementos que puderam gerar um sistema de resistência, aceitação e também hibrido acerca da relação da forma e do conteúdo da proposição.

A linha última objetivada foi pela apreensão, compreensão e análise dos conectivos existentes entre os conceitos e constructos que conformaram o todo da proposição político- educacional intitulada EMP. Levamos em consideração que “a pesquisa documental recorre a materiais que ainda não receberam tratamento analítico” (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 06), exigiu, portanto, um olhar capaz de desvendar os tipos de vínculos e ligações existentes no conteúdo do material, bem como as intenções implícitas de determinada organização. Os documentos constituíram fonte primária de dados, considerando que não receberam tratamento científico. “As fontes primárias são dados originais, a partir dos quais se tem uma relação direta com os fatos a serem analisados, ou seja, é o pesquisador (a) que analisa” (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 06)).

É impossível transformar um documento; é preciso aceitá-lo tal como ele se apresenta, às vezes, tão incompleto, parcial ou impreciso. No entanto, torna-se, essencial saber compor com algumas fontes documentais, mesmo as mais pobres, pois elas são geralmente as únicas fontes que podem nos esclarecer sobre uma determinada situação. (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 08)

A estratégia de coleta de dados envolveu dois momentos: A) análise documental e B) entrevistas semiestruturadas. A parte “A” subsidiou a tática “B”, uma vez que ajudou na afirmação/revelação das principais categorias que seriam utilizadas na orientação do questionário e do conteúdo que seria incitado à abstração pelas perguntas, de modo que não fossem nem genéricas, nem fechadas demasiadamente para o que o sujeito de pesquisa pudesse revelar a complexidade do seu pensamento, da sua memória e da sua compreensão sobre o fenômeno em investigação. Segundo Silva, Almeida e Guindani (2009):

O documento como fonte de pesquisa pode ser escrito e não escrito, tais como filmes, vídeos, slides, fotografias ou pôsteres. Esses documentos são utilizados como fontes de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para elucidar determinadas questões e servir de prova para outras, de acordo com o interesse do pesquisador (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 05).

Trabalhamos com a sentença de que o documento oficial era tudo aquilo publicado, que levava o “carimbo” da mantenedora, de autoria coletiva ou individual, por sujeitos que

compuseram a gestão da política educacional. Constituíram fontes do objeto deste estudo o Documento Orientador (RIO GRANDE DO SUL, 2011) e o regimento padrão (RIO GRANDE DO SUL, 2012). Para o conhecimento construído acerca do documento, foi necessário buscar saber sobre a identidade daqueles que o produziram e isso implicou diretamente “avaliar melhor a credibilidade do texto, a interpretação que foi dada de alguns fatos, a tomada de posição que transparece de uma descrição, as deformações que puderam sobrevir na reconstituição de um acontecimento.” (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 09). Nessa análise do documento e suas vinculações o interdito da interpretação se fez fundamental. Os fatos constituidores do objeto foram ser mencionados, conforme Silva, Almeida e Guindani (2009), “pois constituem os objetos da pesquisa, mas, por si mesmos, não explicam nada. O investigador deve interpretá-los, sintetizar as informações, determinar tendências e na medida do possível fazer a inferência.” (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 10).

O processo de análise documental tem um desenvolvimento concatenado. Depois de obter um conjunto inicial de categorias, a próxima fase envolve um enriquecimento do sistema mediante um processo divergente, incluindo as seguintes estratégias: aprofundamento, ligação e ampliação. Baseado naquilo que já obteve, o pesquisador volta a examinar o material no intuito de aumentar o seu conhecimento, descobrir novos ângulos e aprofundar a sua visão. Pode também explorar as ligações existentes entre os vários itens, tentando estabelecer relações e associações e passando então a combiná-los, separá-los ou reorganizá-los. Finalmente, o investigador procurará ampliar o campo de informações identificando os elementos emergentes que precisam ser mais aprofundados (LUDKE e ANDRÉ, 1986 apud SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 13).

No campo da análise, objetivou-se compreender o conteúdo, na interpretação do texto, buscando extrair significados e relações entre temas, palavras e ideias, que se sucederam com frequências específicas. Assim, pudemos mensurar com certa razoabilidade a ocorrência relativa de um determinado assunto no documento. Tínhamos em mente que:

(...) um texto contém sentidos e significados, patentes ou ocultos, que podem ser apreendidos por um leitor que interpreta a mensagem contida nele por meio de técnicas sistemáticas apropriadas. A mensagem pode ser apreendida, decompondo- se o conteúdo do documento em fragmentos mais simples, que revelem sutilezas contidas em um texto. (SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 11).

3.3 ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS: O RESGATE DAS MEMÓRIAS DO

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