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Análise dos cenários de Planejamento Energético (C_PE), Planejamento Urbano (C_PU)

PARTE IV- APLICAÇÃO DA PROPOSTA E MODELAGEM DA MATRIZ DE

4. Análise dos cenários de Planejamento Energético (C_PE), Planejamento Urbano (C_PU)

Conforme descrito anteriormente, os cenários C_PU e C_PE foram desenvolvidos de acordo com o tipo de estratégias que os compõem. Dessa forma, se a estratégia foi classificada como pertencente ao PE, então o cenário correspondente é o C_PE; se a estratégia foi classificada como de PU, então o cenário é o C_PU. Para diferenciar as estratégias de planejamento urbano e de planejamento energético, os principais resultados esperados da

87 A política de mudanças climáticas teve como base o ano de 2003, em que as emissões por habitante eram de

implementação de cada estratégia foram divididos entre efeitos esperados e efeitos colaterais. Se o resultado pretendido da estratégia teve como efeito esperado a economia de energia (através de EE ou de CE), a redução das emissões de GEE ou o aumento de geração distribuída, a estratégia foi classificada como uma estratégia de política energética e, portanto, alocada ao cenário C_PE. Todos os outros tipos de estratégias foram alocados no cenário de planejamento urbano (C_PU) (veja as hipóteses de cenário no Quadro 11). Por sua vez, o cenário que contempla a integração das estratégias de PE e PU é o cenário C_PEU, que consiste na combinação dos cenários C_PE e C_PU. O objetivo do cenário C_PEU é demonstrar as possíveis sinergias da adoção do PEU para a megacidade de São Paulo.

A Figura 21 e a Tabela 5 apresentam a performance dos cenários mencionados para o consumo final de energia na cidade. A maior redução da demanda de energia estimada foi observada no cenário C_PEU, que diminuiu em 74 PJ o consumo de energia final da cidade em 2030, o que representa uma redução de 12% de demanda de energia quando comparado ao cenário C_REF, também em 2030.

Figura 21 – Evolução do consumo final de energia, por setor e por cenário (2014-2030)

Sobre os cenários C_PU e C_PE (Tabela 5), observou-se que as estratégias de PU resultaram em uma redução de 10% na demanda de energia em 2030, enquanto as estratégias de PE resultam em uma redução de demanda de apenas 2%, quando comparado ao cenário C_REF.

Tabela 5 – Consumo de energia final nos diferentes cenários comparados ao C_REF

Setores

Consumo final de energia em 2030, em comparação ao cenário C_REF (%) C_REF 2014 x C_REF 2030 C_REF x C_PE C_REF x C_PU C_REF x C_PEU Residencial 121% -4% 0% -4% C&S 134% -8% -7% -15% Industrial -15% -9% 0% -9% Prédios públicos 23% -10% 0% -10% Iluminação pública 69% -71% 0% -71% Saneamento 81% -17% -20% -36% Setor energético 584% 0% 0% 0% Mobilidade urbana 61% 2% -15% -13% Transporte aéreo -25% 0% 0% 0% Total 72% -2% -10% -12% Fonte: autora (2019).

As estratégias do planejamento energético (C_PE) apresentaram uma contribuição menor para a redução da demanda de energia em São Paulo. Isto ocorre porque tais estratégias visam, em especial, o setor de edifícios e o consumo de eletricidade, enquanto as estratégias de planejamento urbano do cenário C_PU atuam no setor mais intensivo em energia da cidade, o setor de mobilidade urbana. Além disso, dentro do setor de mobilidade, as estratégias selecionadas buscaram reduzir o uso do modal de transporte individual e motorizado (carros). Tem-se, portanto, como o resultado deste estudo demonstra, consonância com os resultados apontados pela literatura científica sobre a importância do setor de mobilidade urbana na determinação dos padrões de consumo de energia nas cidades (MARINS, 2014; RUPARATHNA et al., 2017). Da mesma forma, incentivar estratégias de mobilidade ativa e de transporte coletivo são políticas importantes e de grande impacto para a economia de energia no âmbito urbano. A Figura 22 mostra a evolução do consumo de recursos de energia entre os cenários, em 2030.

Figura 22 – Fontes de energia demandadas na cidade por cenário (2030)

Fonte: autora (2019)

Assim, no que se relaciona apenas à economia de energia, o grau de sinergias da integração entre as estratégias de PE e PU é baixo. Ainda assim, a maior contribuição deriva das estratégias de PU. No entanto, os resultados são interessantes do ponto de vista do estabelecimento da Política Energética, da forma como é feita atualmente: o PE tradicional não considera o potencial de implementação das estratégias de PU no alcance de metas para economia de energia. Mesmo que, em termos gerais, o cenário do C_PU demonstre maior capacidade de economia, o C_PE teve melhor desempenho no aumento da participação da demanda por RES na cidade. Esse resultado também está relacionado com o setor de mobilidade urbana, uma vez que a estratégia “Sem uso de combustíveis fósseis no transporte coletivo” apresentou o maior impacto para a redução do consumo de fósseis na cidade e o aumento da demanda por RES. Consequentemente, uma das grandes mais-valia da integração (sinergia) entre PE e PU é a possibilidade de alcance de múltiplos resultados e objetivos. Assim, em relação ao consumo de energia RES na cidade (Tabela 6), o cenário C_PEU apresentou a maior inserção na demanda da cidade, em 2030, com 310 PJ (56%), quando comparado aos três outros cenários.

Tabela 6 – Consumo de energia fóssil versus RES por cenário e setor (2030)

Setores Tipo de recurso C_REF C_PE C_PU C_PEU

PJ % PJ % PJ % PJ % Residencial Fóssil 74 60% 72 61% 74 60% 72 61% RES 50 40% 47 39% 50 40% 46 39% C&S Fóssil 33 30% 31 30% 32 30% 29 31% RES 79 70% 72 70% 73 70% 66 69% Industrial Fóssil 19 78% 19 83% 19 78% 19 83% RES 5 22% 4 17% 5 22% 4 17%

Prédios públicos Fóssil 1 25% 1 25% 1 25% 1 25%

RES 3 75% 3 75% 3 75% 3 75% Iluminação pública Fóssil 1 25% 0 25% 1 25% 0 25% RES 3 75% 1 75% 3 75% 1 75% Saneamento Fóssil 3 25% 3 25% 3 25% 2 25% RES 10 75% 8 75% 8 75% 6 75%

Setor elétrico Fóssil 2 96% 2 96% 2 96% 2 96%

RES 0 4% 0 4% 0 4% 0 4%

Mobilidade urbana Fóssil 243 72% 163 47% 215 74% 114 38%

RES 97 28% 183 53% 75 26% 183 62%

Transporte aéreo Fóssil 6 100% 6 100% 6 100% 6 100%

RES 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% Total Fóssil 383 61% 297 48% 352 62% 246 44% RES 247 39% 318 52% 218 38% 310 56% Fóssil + RES 630 100% 615 100% 569 100% 556 100% Fonte: autora (2019).

Ao combinar as estratégias de planejamento urbano com Planejamento Energético (cenário C_PEU), é possível obter melhores resultados do que se atuarmos, separadamente, em cada área. Ou seja, enquanto o cenário C_PE alcança 52% de participação de RES, em 2030, o C_PU alcança 38%; e o cenário que integra as abordagens, o C_PEU, atinge 56%, no mesmo período, e um decrescimento maior da participação dos combustível fósseis do que se considerarmos apenas a implementação de estratégias separadas de PU ou PE (Tabela 6). Abaixo, é apresentada a evolução da geração de energia na cidade (Figura 23).

Figura 23 – Evolução da geração de eletricidade na megacidade de São Paulo de acordo com cada cenário (no ano-base e no ano final)

Fonte: autora (2019).

Os resultados coletados destacam um potencial energético endógeno na cidade de São Paulo inexplorado, atualmente negligenciado pela Política Nacional de Planejamento de Energia. Com a implantação de novas usinas de biodigestores e uma estimativa conservadora para o potencial fotovoltaico em telhados, é possível aumentar a geração de eletricidade da cidade em cerca de 8 TWh e 10TWh (nos cenários C_PE e C_PEU, respectivamente), ao utilizar esses recursos energéticos endógenos, tendo como referência os recursos considerados pelo Quadro 12 e as estratégias apresentadas pelo Quadro 11. Vale ressaltar que o recurso que mais influência no aumento da geração local é o uso dos telhados dos setores residencial e comercial, que possibilitam geração de eletricidade através de painéis fotovoltaicos.

Neste ponto, outro aspecto que merece destaque, diz respeito ao princípio da precaução aplicado à dependência energética. Uma megacidade como São Paulo, tão influente e importante do ponto de vista econômico e social para o resto do país, precisa ser menos dependente de energia e menos vulnerável. Quando a cidade aumenta sua energia endógena e RES, também aumenta sua capacidade de resistir a apagões de energia nacionais ou a falta de outros recursos. Além disso, uma cidade mais autossuficiente pode assegurar a prestação mínima de serviços essenciais no caso de um colapso nacional da energia.

A Tabela 7 apresenta as emissões per capita. As importações de eletricidade consideram as emissões implícitas de GEE correspondentes às emissões nacionais de geração de eletricidade (fator de emissão médio do grid brasileiro). Considerou-se que os menores níveis de emissões de GEE decorrem da integração de estratégias de C_PEU (Tabela 7). Portanto, é possível concluir que, para as cidades que desejam aproveitar plenamente seu potencial de mitigação das mudanças climáticas, a integração de estratégias de planejamento urbano e energético é uma abordagem efetiva.

Tabela 7 – Emissões de GEE por cenário em milhões de toneladas métricas de CO2e

Métricas de

desempenho 2014 C_REF-2030 C_PE- 2030 C_PU- 2030 C_PEU- 2030

Emissões totais 20,7 31,5 25,8 29,0 22,2

tCO2e/habitante 1,80 2,57 2,10 2,36 1,81

Fonte: autora (2019).

Enquanto as emissões nos cenários C_PE e C_PU aumentaram 17% e 31%, respectivamente, quando comparadas aos valores do ano-base (2014), em C_PEU ocorreu aumento de apenas 1%. Em contraponto, quando comparados os resultados de C_REF 2030, o C_PEU atinge redução de 30% das emissões (cerca de 9,4 milhões de tCO2e a menos), enquanto o cenário C_PU apresenta redução de 8% e o C_PE, de 18%. As diferenças nas reduções de emissões de GEE de C_PU e C_PE, embora aparentemente conflitantes com os resultados de economia de energia atingidas pelos mesmos cenários, são explicadas pela alocação das políticas de geração de energia em cada um deles. O potencial de geração de eletricidade fotovoltaico foi considerado como uma medida/estratégia de PE e, portanto, alocada no cenário C_PE, enquanto todas as estratégias de produção de eletricidade endógena com uso do biogás foram alocadas no cenário C_PU (já que tais estratégias foram motivadas pela necessidade de reduzir os fluxos de RSU na cidade).

Por fim, para a área de PEU, o resultado obtido pode ser considerado uma importante contribuição. O estudo demonstra a importância da análise de quantificação de sinergias das estratégias de PU e PE. Isso porque constata-se que políticas que, antes, não seriam priorizadas pelos gestores e planejadores de energia (devido ao menor desempenho dessas estratégias na economia de energia), quando combinadas às estratégias de PU podem potencializar o impacto das estratégias de PE e reduzir as emissões globais de GEE na cidade de São Paulo.

5. Papel das medidas individuais nos indicadores gerais da cidade: