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Papel das medidas individuais nos indicadores gerais da cidade: quantificação das

PARTE IV- APLICAÇÃO DA PROPOSTA E MODELAGEM DA MATRIZ DE

5. Papel das medidas individuais nos indicadores gerais da cidade: quantificação das

Energético Urbano

A análise do impacto de cada estratégia de PEU foi feita a partir da combinação de dados sobre economia de energia e redução de emissões de GEE. Para expor os resultados do modelo de forma didática, eles foram divididos em resultados da demanda e resultados da oferta. No que se refere à demanda os resultados são apresentados em dois níveis: i) apresentação das estratégias que atuam em economia de eletricidade e reduções de emissões (majoritariamente focadas no setor de edifícios, a partir de uma perspectiva mais ampla); e ii) resultados que impactam outros recursos energéticos da cidade e respectivas reduções de emissões. Já com relação aos resultados referentes à oferta são apresentados em termos de melhoria da capacidade de geração de eletricidade local e de emissões de GEE evitadas.

Considerando o setor de edifícios (residencial, C&S, prédios públicos, etc.) a estratégia de maior impacto foi a de criação de “novas áreas verdes”, que apresentou economia de energia elétrica da ordem de 8 PJ – valor equivalente à soma do consumo dos prédios públicos e da iluminação pública em 2014, ano-base. Além disso, deve-se notar que tais economias poderiam ser ainda maiores se as novas áreas verdes estivessem localizadas em áreas mais centrais do que onde foram planejadas. A estratégia também demonstrou maior contribuição para a redução de emissões de GEE. Ainda, é importante destacar, a partir da implementação, o aumento de áreas e superfícies de drenagem e da permeabilidade em uma cidade como São Paulo, que vive constantemente a realidade das cheias e inundações. Tal fato destaca a necessidade de considerar, por parte da gestão pública municipal, metas ambientais, sociais e de energia definidas no planejamento urbano. Mais uma vez, demonstra os feedbacks sinergéticos da implementação de uma estratégia para o alcance de várias metas para mais de uma finalidade de política pública (tal estratégia atua, por exemplo, como medida de adaptação e mitigação de mudanças climáticas, como política de economia de energia e de recursos e como política de saúde pública).

Nesse contexto, a Figura 24 apresenta todas as estratégias orientadas para o setor de edifícios e seus resultados em termos de economia de eletricidade e redução de emissões de GEE. A segunda melhor estratégia foi a de substituição tecnológica “mais ar condicionado eficiente”, levando a 7 PJ de economia de eletricidade e 5.000 tCO2e evitados. Esses resultados estão de acordo com a literatura existente sobre os impactos da substituição de tecnologias

antigas por novas (FENG; WANG, 2017; HEIDARINEJAD et al., 2018). Vale, por fim, citar o potencial da estratégia “iluminação natural” na redução de emissões de GEE, que tem ainda melhor desempenho do que a estratégia “mais iluminação a LED” tem, em termos de economia de eletricidade, e é a terceira melhor em termos de redução potencial das emissões de GEE dentro do setor de edifícios (uma vez que “mais iluminação a LED” considera também o setor iluminação pública). No entanto, esse resultado não é usualmente discutido na literatura, uma vez que a ênfase é colocada, em especial, no potencial das estratégias de eficiência energética (ou seja, substituição tecnológica de lâmpadas)88.

Figura 24 – Impacto das estratégias na economia de eletricidade e de emissão de GEE (k tCO2e.) – Demanda

Fonte: autora (2019).

A Figura 25 apresenta os resultados para todos os outros recursos de energia da cidade; em sua maioria, acusam o setor de mobilidade urbana como principal foco, e são essas as

88 Ver: COELHO, S. et al. Sustainable energy action plans at city level: A Portuguese experience and perception. Journal of Cleaner Production, v. 176, p. 1223–1230, 2018.

estratégias que revelam os maiores resultados em economia de energia e de emissões evitadas de GEE.

Figura 25 – Impacto das estratégias na poupança de energia e nas emissões evitadas de GEE – Demanda com outros recursos energéticos

Fonte: autora (2019).

A estratégia “sem uso de combustíveis fósseis no transporte coletivo” contribuiu com a maior parte da redução das emissões; por outro lado, ela não poupa energia. Espera-se que essa estratégia reduza cerca de 6,5 milhões de tCO2e até 2030; no entanto, também estima-se que ela vai aumentar a demanda de energia em 6 PJ, devido à substituição de veículos a diesel por veículos movidos à etanol, combustível menos eficiente. A maior parte da economia de energia poderia ser obtida com o apoio da transição do transporte individual para os modais de mobilidade ativa e de transporte coletivo (Figura 25). “Mais transporte coletivo” e “mais transporte ativo” foram o segundo e o terceiro lugar em melhor desempenho na redução das emissões de GEE e na economia de energia.

Com relação às estratégias que impactam a oferta, a Tabela 8 apresenta a eletricidade endógena e a geração local obtida em cada um dos cenários. Os cenários C_REF e C_PU

apresentam variação negativa na produção de eletricidade entre 2014 e 2030 (devido ao fim de vida útil das usinas de combustíveis fósseis). Por outro lado, C_PE e C_PEU tiveram aumento na produção de eletricidade no mesmo período. Esse resultado se dá, principalmente, como resultado da estratégia que simula o potencial de implementação de PV em 16,5% dos telhados dos setores de C&S e residencial.

Tabela 8 – Evolução da geração de eletricidade endógena por cenário

Oferta TWh Variação (%) Produçao de eletricidade total 2014 2030 2014-2030 C_REF 3,7 0,4 -89% C_PE 3,7 11,6 215% C_PU 3,7 2,1 -44% C_PEU 3,7 13,3 261% Fonte: autora, 2019.

Por conseguinte, o potencial sinergético da integração entre estratégias de PU e de PE tem um fator potencializador dos resultados maior do que os resultados obtidos quando se implementam as mesmas estratégias, separadamente. Em relação ao potencial de redução das emissões de GEE na geração de energia da cidade, a principal contribuição vem da geração de energia fotovoltaica. Nota-se que a geração local também vai gerar emissões locais (não é o caso do PV). No entanto, o balanço entre as emissões locais de GEE e os valores das emissões associadas às importações de eletricidade da rede apresentam resultado positivo em termos das emissões evitadas (Figura 26).

Figura 26 – Implementação de estratégias à oferta e emissões de GEE evitadas