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3.1 Delineamento da pesquisa

3) A observação não-participante:

3.5 Análise dos dados

Analisar os dados qualitativamente exige que o pesquisador desenvolva competências interpretativas, pois diante dos achados pode haver múltiplas interpretações plausíveis (LINDLOF; TAYLOR, 2002). A análise qualitativa baseia-se fundamentalmente na descrição dos fenômenos observados, utilizando-se para isto de transcrições de entrevistas e de vários tipos de documentos (VIEIRA, 2004). Vieira (2004, p. 17) salienta que “a não-utilização de técnicas estatísticas não significa que as análises qualitativas sejam especulações subjetivas. Esse tipo de análise tem por base conhecimentos teórico-empíricos que permitem atribuir-lhe cientificidade”.

Um estudo qualitativo não é um processo linear, os dados são coletados e analisados simultaneamente, caracterizando-se como uma pesquisa em constante refinamento e reformulação (MERRIAM, 1998). A partir da interpretação dos textos podem-se desenvolver teorias, surgindo a necessidade de coletar novos dados (FLICK, 2004). Por este motivo, em pesquisas qualitativas advoga-se pela simultaneidade e circularidade na coleta e análise de dados (FLICK, 2004).

Nesta pesquisa adotou-se a triangulação metodológica para a análise dos dados, visando uma compreensão em profundidade dos achados (DENZIN; LINCOLN, 2006). Para tanto, foram utilizadas a análise de conteúdo e a análise dramatúrgica. Segundo Stake (2000, p. 443) “a triangulação também serve para esclarecer que os significados são identificados de diferentes maneiras, dependendo de como o fenômeno é visto”.

A análise de conteúdo utilizada nesta pesquisa é de abordagem qualitativa, ainda que possa ser de cunho quantitativo (BARDIN, 2004). A análise de conteúdo “é uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema” (VERGARA, 2006, p. 15). Este tipo de análise é definido por Bardin (2004, p. 37) como:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

A primeira etapa no processo da análise de conteúdo é a definição das unidades de análise, que pode ser uma palavra, expressão, frase, parágrafo ou personagens (BARDIN, 2004). Neste estudo, definiram-se como unidades de análise três professores observados dos cursos de MBA-Executivo em Marketing Estratégico e em Gestão de Negócios da UFPE. Em seguida, escolhe-se o tipo de grade para a análise: aberta, fechada ou mista. A grade escolhida para este estudo foi a fechada, pois, foram definidas preliminarmente as categorias relacionadas aos objetivos da pesquisa, a saber, as estratégias de insinuação e de autopromoção e seus relativos comportamentos, entre outras (VERGARA, 2006). Desta forma, procura-se selecionar as palavras, idéias e padrões de comportamento recorrentes no texto e adequá-los às categorias (BAUER, 2002).

Neste contexto, Bardin (2004) explica que as categorias devem obedecer aos seguintes critérios:

• Ser exaustivas: não permitir que nenhum elemento do texto fique de fora; • Ser mutuamente exclusivas: um mesmo elemento do conteúdo não poderá ser

inserido em duas categorias diferentes;

• Ser objetivas: definidas de maneira acurada, para não levantar dúvidas; • Ser pertinentes: adequadas aos objetivos da pesquisa.

A utilização da análise dramatúrgica simultaneamente à análise de conteúdo, permitiu à pesquisadora identificar os elementos textuais categorizados a partir da

metáfora teatral (GOFFMAN, 1959). Já existem diversos estudos no Brasil que propõem modelos dramatúrgicos para a compreensão dos processos de gerenciamento de impressões nas organizações, entre eles estão o de Mendonça (2004), o de Durão (2005) e o de Correia e Mendonça (2007). Assim como no teatro, a organização usa atores, objetos no ambiente, e outros sinais para criar um certo significado percebido e interpretado pela audiência (SCHREYÖGG; HÖPFL, 2004).

Para Hunt e Benford (1997) a análise dramatúrgica vê os seres humanos como atores sociais, que preocupam-se em desempenhar bem os seus papéis, seguir roteiros e gerenciar impressões para a audiência. Gardner e Avolio (1998) também propõem um modelo no qual visualiza-se como líderes carismáticos utilizam estratégias de GI, para criar e manter impressões positivas sobre eles e sobre a organização a qual pertencem. Analogamente, os professores observados neste estudo também buscaram ser percebidos de forma favorável, a partir de estratégias de GI, como a insinuação e a autopromoção.

Assim, partindo desta visão teatral da organização, analisaram-se as estratégias de insinuação e autopromoção exibidas pelos três professores dos cursos de MBA- Executivo em Marketing Estratégico e em Gestão de Negócios da UFPE, considerados os atores protagonistas (ou principais) do espetáculo (PAVIS, 1999). A identificação das estratégias de insinuação e de autopromoção e seus comportamentos correlatos basearam-se nos dados provenientes das transcrições das entrevistas e nas observações das aulas relatadas no diário de campo e gravadas em áudio.

Os alunos dos supracitados cursos foram entendidos como a audiência (ou platéia), na qual a pesquisadora também buscou coletar dados para posterior análise. Para verificar se os comportamentos de insinuação e autopromoção contribuíam para a formação de impressões positivas do ator (professor) e da organização (MBA-

Executivo/UFPE), se fez necessário analisar não só as transcrições das entrevistas dos alunos como também registrar os seus comportamentos em diários de campo e em gravações em áudio.

As entrevistas realizadas com professores e alunos foram transcritas para serem sistematizadas por meio da análise do conteúdo e da análise dramatúrgica e confrontadas com as observações. É necessário salientar que para cada ator (professor) foram entrevistados dois alunos, no mesmo dia da aula. O anonimato dos alunos foi garantido pela pesquisadora, desta forma os mesmos serão identificados nas transcrições por números, na ordem de aparecimento dos professores.

Na descrição das observações realizadas acerca dos atores protagonistas e da audiência, um recurso textual analítico foi incorporado: a rubrica. A rubrica é uma indicação cênica utilizada no texto teatral, que serve para esclarecer o leitor sobre aspectos que não estão no corpo de texto principal, a qual pode “ser tanto o nome do personagem diante de cada fala, quanto à descrição do personagem, do cenário, do figurino [...] ou, ainda, comentários explicativos relativos ao estado de espírito dos personagens” (VASCONCELLOS, 1987, p. 171). Mendonça (2004) utilizou-se do recurso da rubrica extensivamente em sua tese ao estudar o processo de GI como meio de influência nas organizações, sob uma perspectiva dramatúrgica.

Já a seleção dos documentos apropriados para análise foi feita a partir de alguns critérios: que tais registros fossem adequados ao problema de pesquisa e que o pesquisador pudesse ter acesso aos mesmos (GODOY, 1995b). Estes documentos serviram para uma melhor contextualização da pesquisa e para caracterizar a organização estudada – MBA-Executivo da UFPE – e os professores. Por outro lado, a análise documental constituiu-se de “valiosa técnica de abordagem de dados qualitativos

[...] utilizada para complementar informações obtidas em outras fontes” (GODOY, 1995c).

Enfim, após a construção das grades analíticas, compostas pelas categorias e seus respectivos elementos textuais a partir das orientações da análise de conteúdo, procedeu-se à interpretação dos resultados sob a abordagem da análise dramatúrgica. Inicialmente, cada caso (o professor) foi analisado separadamente, sendo feita posteriormente uma análise comparativa dos casos à luz do referencial teórico (VERGARA, 2006).