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4. PERCURSO METODOLÓGICO

4.5. ANÁLISE DOS DADOS

Para análise das entrevistas adotou-se, como técnica, a Análise de Conteúdo (AC). De acordo com Bardin (2009, p.44) a AC se constitui em:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

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Conforme Bauer (2002), mesmo que boa parte das Análises Clássicas de Conteúdo resulte em descrições numéricas de características do texto, a tipologia, a qualidade e a distinção do texto vêm sendo amplamente consideradas, antes mesmo de sua quantificação. Para o autor, a AC faz “uma ponte entre um formalismo estatístico e a análise qualitativa dos materiais (Ibidem, p.190)”. Na presente investigação, o texto a que o autor se refere são os registros obtidos a partir das entrevistas. Esse material passou por algumas etapas de análise até a interpretação final dos seus achados.

Inicialmente cada entrevista em áudio foi transformada em texto, a partir de sua digitação. O passo seguinte foi efetuar uma leitura geral de cada entrevista, denominada de

leitura flutuante, que permite uma impressão geral sobre o material (BARDIN, 2009); o

próximo passo seria tratar o material conforme lembra essa autora, codificando-o. Para essa etapa, cada uma das entrevistas recebeu o código M (de morador), seguido de numeração que variou de 01 a 3857.

Em sequência, o conteúdo das falas de cada um dos sujeitos foi identificado com a letra I e grifado com a cor verde para as frases que mencionavam mudanças/impactos percebidos pelos estudantes, em decorrência da experiência de residir em uma moradia estudantil; a letra C e a cor amarela para as frases relativas às condições que levavam àqueles impactos. Foram considerados apenas os impactos nos quais foi possível localizar, na fala dos estudantes, a(s) condição(ões) responsável(eis) pela mudança, uma vez que o interesse estava voltado para a identificação dos pares de relação impacto-condição.

Segundo Bardin (2009) algumas categorias não são boas. Para garantir a qualidade é necessário que ela apresente: exclusão mútua (cada elemento deve pertencer apenas a uma divisão); homogeneidade (níveis distintos de análise precisam ser separados em análises sucessivas); pertinência (deve estar adaptada ao material de análise escolhido e deve fazer parte do quadro teórico determinado previamente); objetividade e fidelidade (imperativa à padronização para a codificação); produtividade, pois “um conjunto de categorias é produtivo se fornece resultados férteis: férteis em índices de inferências, em hipóteses novas e em dados exatos (Ibidem, p.148)”.

57É preciso lembrar ao leitor que, inicialmente, foram numeradas as 38 entrevistas realizadas. O

descarte das seis, já mencionado no presente texto, somente ocorreu após essa etapa. Desta forma, a numeração do material considerado extrapola o número 32.

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Observou-se durante a categorização que determinadas falas dos entrevistados, à primeira vista, apresentavam-se como conflitantes no que tange à classificação em impacto ou condição: uma determinada situação era apontada como condição, mas em outro momento ou até mesmo na fala de outros entrevistados, aquilo que era dito como condição, agora se apresentava como impacto. Para resolver esse impasse, buscou-se observar os antecedentes, ou seja, que condição ou que condições provocavam algum tipo de mudança. Desse modo, o que aparentemente poderia estar indicando dupla classificação, ou seja, a ausência de exclusão mútua, segundo Bardin (2009), refere-se a situações diferentes e, portanto, tomou-se o cuidado para que um mesmo evento não fosse registrado mais de uma vez. Um exemplo ilustrativo pode ser mostrado a partir da situação “conflito com colegas”. Houve casos em que o entrevistado atribuiu determinadas condições que estariam culminando em conflito com seus colegas (neste caso, fica claro, na fala do sujeito, que ele toma conflito por impacto). Outro entrevistado, por sua vez, revelou conflito com os colegas como a condição para o aumento em seu nível de estresse.

Um segundo cuidado tomado na análise do material se refere ao que se pode chamar de “encadeamento de impactos”: um determinado impacto passa a ser condição para um novo impacto. Diante de tais situações foi assumida apenas a primeira relação estabelecida pelos estudantes.

Finalizando essa etapa, utilizou-se a letra S juntamente com a cor azul, para as sugestões dirigidas às condições de uma moradia considerada pelo estudante como compatível com a formação universitária.

A codificação do material propiciou uma primeira visualização dos três aspectos: impactos, condições e sugestões em cada uma das entrevistas. O passo seguinte foi agrupar os impactos por domínios e as condições voltadas para o ser morador e as relativas à moradia. Essa etapa, denominada de categorização consiste em classificar “os elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos” (BARDIN, 2009, p.145). As categorias pré-definidas para os impactos foram: pessoal, social, acadêmico e saúde dos estudantes. Aos impactos do domínio pessoal foi acrescido o número 1 após a letra I; para o social, o número 2; para o acadêmico, o 3; para a saúde, o número 4. Para as condições, realizou-se uma primeira categorização na qual à letra C, foi acrescida do

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número 1 para as condições relativas ao ser morador e do número 2 para aquelas associadas às moradias.

Em continuidade, buscou-se organizar as categorias de impactos em subcategorias58. Para tanto, utilizou-se como recurso o acréscimo de letras. Os quatro domínios de impactos foram classificados em 13 subcategorias, a saber: Pessoal (I.1.a; I.1.b; I.1.c); Social (I.2.a; I.2.b; I.2.c); Acadêmico (I.3.a; I.3.b; I.3.c; I.3.d); Saúde (I.4.a; I.4.b; I.4.c).

O procedimento de subcategorização também foi necessário para as condições. Para às relativas ao ser morador, foi atribuída uma letra para cada subcategoria, o que permitiu agrupar esse conjunto em cinco subcategorias, com início em C.1.a, e fim, em C.1.e. Para as condições relativas à moradia, constatou-se que era necessário diferenciar os aspectos sociais dos estruturais. Para o primeiro foi utilizada a letra a, enquanto para o segundo, a letra b foi acrescida. Em resumo, as condições associadas à moradia foram categorizadas da seguinte forma: Sociais (C.2.a.1 até C.2.a.4) e Estruturais (C.2.b.1 a C.2.b.3), totalizando sete subcategorias de condições.

Faz-se pertinente relatar que, considerando a ausência de estudos nacionais sobre impactos da experiência de viver em uma moradia estudantil e as condições associadas a estes, que pudessem servir de parâmetro para a organização das categorias de impactos e de condições em subcategorias, adotou-se como referência para categorizações e procedimento de análise de dados quantitativos, a pesquisa desenvolvida por Rodrigues et al (2007) sobre a experiência dos estudantes no Programa Bolsa Trabalho da Unicamp. O estudo teve como objetivo a análise da percepção do estudante sobre sua experiência no referido Programa.

Na descrição dos resultados, com relação à dimensão qualitativa, buscou-se trazer os exemplos de todos os pares de relações encontrados entre os impactos e as condições associadas. Para tanto, o recorte das falas dos entrevistados foi adotado como recurso ilustrativo. Esse material é apresentado em subcategorias para cada um dos domínios de impactos investigados, observando-se sua dimensão valorativa.

Para o tratamento quantitativo dos resultados observou-se a frequência de ocorrência de impactos, a frequência de citações das condições propiciadoras de mudanças e o número de pares da relação impacto-condição. A análise desses resultados se deu a

58 A descrição detalhada das categorias e subcategorias sistematizadas encontra-se no próximo

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partir dos domínios de impactos e suas subcategorias, das condições e suas subcategorias e da relação entre subcategorias de impacto e de condições, atentando-se para a dimensão valorativa dos impactos. As sugestões, por sua vez, foram analisadas qualitativa e quantitativamente a partir dos três conjuntos de domínios identificados.

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