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CAPÍTULO 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.4 Análise dos dados

Esta pesquisa apresenta um enfoque qualitativo. Assim os dados obtidos por meio das

observações das aulas, entrevistas, grupos focais, e questionários foram analisados por meio da

técnica análise de conteúdo. Já para os documentos oficiais que tratam do Ensino Médio, assim

como, os projetos políticos pedagógicos das escolas pesquisadas, foi utilizada a análise

documental.

A análise de conteúdo (AC) surgiu no século XIV por meio da tentativa de se responder

sobre os significados das mensagens de textos bíblicos, por Francês Bourbon (1888-1892) que

investigou sobre uma parte da bíblia de maneira rigorosa utilizando classificações temáticas e

quantificando-as. Ele inaugurou, assim, a campo da sistematização da análise do conteúdo das

mensagens (FRANCO, 2007).

Esta técnica chega ao Brasil, na década de 1970, marcada por pressupostos positivistas,

ou seja, permeada pelo rigor científico. Desse modo, existia grande esforço métodos que

pudessem validar esta técnica, como a construção de questões objetivas, validação de

questionários e regras para determinar categorias. Diante disso, a AC começou a ser rejeitada

(FRANCO, 2007). No entanto, conforme Godoy (1995b), a necessidade de interpretação dos

dados fez com que a análise qualitativa ganhasse lugar dentro desta técnica. Conforme Moraes

(1999), a AC permite interpretar mensagens e compreender significados em um nível que vai

além de uma leitura comum.

A análise de conteúdo apresenta como ponto de partida a mensagem, que pode ser tanto

verbal, gestual, silenciosa, figurativa ou documental, e, necessariamente apresenta um

significado (FRANCO, 2007). Os dados chegam ao pesquisador em estado bruto e estes

precisam ser trabalhados e processados para facilitar sua compreensão (MORAES, 1999).

Nesta técnica o pesquisador é convidado a compreender as características que estão por

detrás das mensagens tomadas em consideração (GODOY, 1995b). Para esta compreensão

Franco (2007) afirma que a contextualização deve ser o principal requisito a ser utilizado, pois

as mensagens estão necessariamente articuladas às condições contextuais de seus produtores.

A informação puramente descritiva, que não é relacionada a outros fatores tem pequeno valor.

De acordo com Franco (2007), umas das finalidades da AC é fazer inferências, que se

trata de um processo intermediário entre a descrição dos dados (primeira etapa) e a interpretação

(última etapa). E, é nesta etapa que se relacionam os dados e se estabelecem as teorias por meio

da comparação.

Segundo Bardin (1977, p.42), a análise de conteúdo designa:

(...) um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

De acordo com Moraes (1999), a AC é constituída por cinco etapas: a preparação das

informações, o estabelecimento de unidades de análise, a categorização, descrição e por fim a

interpretação. A preparação ou Pré-Análise consiste na fase em que é realizada a organização

dos dados, em que são feitas buscas iniciais objetivando iniciar a sistematização (FRANCO,

2007). Os materiais são codificados com o intuito de identificá-los rapidamente (MORAES,

1999).

Primeiramente, é feita uma leitura “Flutuante”, com o intuito de conhecer os textos;

depois são escolhidos os documentos que serão analisados; em seguida são estabelecidos os

objetivos; e por fim são elaborados os indicadores, que podem ser uma menção explícita de

uma mensagem ou tema. Normalmente quanto mais um determinado tema for explicitado, mais

importância ele tem, desse modo, o indicador corresponde a frequência que certo tema foi

observado (FRANCO, 2007).

Após definidos os objetivos do estudo e conhecido o material a ser analisado o primeiro

desafio do pesquisador é definir as Unidades de Análise (UA) (FRANCO, 2007). Para

estabelecer as UA é preciso reler cuidadosamente os materiais. A natureza destas unidades é

estabelecida pelo próprio pesquisador, e estas podem ser palavras, frases ou temas (MORAES,

1999).

As UA se dividem em Unidades de Registro (UR) e Unidades de Contexto (UC). As

UR serão elaboradas de acordo com as categorias criadas e perfazem a menor parte do conteúdo.

As UC podem ser entendidas como o “pano de fundo” que permite dar significado às UA, e ao

contrário da anterior, é a parte mais abrangente da análise. Estas podem ser explicitadas em

tabelas de caracterização ou conjunto de palavras, o importante é deixar claro o contexto a partir

do qual as UC foram elaboradas (FRANCO, 2007).

Após definidas, as UA devem ser isoladas. É igualmente importante ter em mente que

estas unidades devem representar conjuntos de informações que tenham significado nelas

mesmas, ou seja, precisa ser passíveis de interpretação sem nenhuma outra informação

(MORAES, 1999).

Após definir as UA, define-se as categorias. Esta categorização consiste na classificação

de elementos por meio da diferenciação seguida pelo reagrupamento, com base em suas

analogias. Esta etapa é crucial na AC, e se trata de um processo longo e de difícil realização

que exige do pesquisador tempo e esforço (FRANCO, 2007). Conforme Moraes (1999), é

necessário ter em mente que um grande número de categorias pode dificultar a compreensão.

O objetivo básico da AC é reduzir os dados, e isto exigirá um número reduzido de categorias.

Ainda conforme Moraes (1999), para se estabelecer estas categorias é necessário

obedecer a um conjunto de critérios, quais sejam: exaustividade (possibilitar a inclusão de todas

as UA); homogeneidade (basear-se em apenas uma variável); exclusividade (assegurar que cada

elemento possa ser classificado em apenas uma categoria); e objetividade (deve ser claramente

explicitada).

As categorias podem ser definidas a priori quando se busca uma resposta específica e a

tendência é levar a uma simplificação; ou à posteriori, quando estas emergem do conteúdo das

respostas, vão sendo criadas à medida que surgem nas respostas (FRANCO, 2007). A próxima

etapa corresponde à descrição. Nesta etapa será redigido um texto para cada uma das categorias

estabelecidas, explicando seus significados. Por fim, realiza-se a interpretação dos dados

coletados à luz das categorias criadas.

2.4.2 Análise Documental

No que se refere à análise documental, Lüdke e André (1986) afirmam que esta se

constitui em uma técnica valiosa na utilização da abordagem qualitativa, seja para completar

informações obtidas por outras técnicas, ou para revelar novos aspectos de uma problemática.

O objetivo da análise documental é reunir fatos. Normalmente, os documentos são analisados

já com alguma pergunta ou hipótese específica sobre o que se está procurando. A análise de

documentos envolve a seleção de fatos de documentos, desse modo, as perguntas, hipóteses ou

ideias gerais atuam como dispositivos de seleção dos fatos e dão origem a interpretações. A

avaliação envolve a interpretação de dados e análise de documentos é um dos métodos de

análise de dados que conduz a interpretação (CAULLEY, 1983).

Na presente pesquisa foram feitas as análises sobre os seguintes documentos:

Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCNEM) (BRASIL, 2006), Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) (BRASIL, 2013c), Currículo de

Referência do Estado de Goiás (GOIÁS, 2015) e Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das

escolas I e II. Para a análise destes documentos foram considerados os seguintes aspectos,

considerando as especificidades de cada documento: os objetivos e principais aspectos

destacados nos documentos, competências atribuídas aos professores, competências que os

alunos devem adquirir nesta etapa da educação básica, como são organizadas questões sobre o

currículo e a disciplina de Biologia, e se abordam a problemática ambiental e em quais aspectos.

Sobre o Currículo de Referência, buscou-se verificar os objetivos do documento, como este e a

disciplina de Biologia são organizados e como e em quais séries, períodos e disciplinas o

Cerrado deve ser abordado.