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CAPÍTULO 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.3 Instrumentos de coleta de dados

2.3.3 Grupo Focal

A pesquisa com grupo focal não é uma prática recente, segundo Gatti (2005), esta

metodologia já era utilizada desde os anos 1920 para pesquisas em marketing. Conforme

Kitzinger; Marková e Kalampalikis (2004) era utilizada durante a segunda guerra mundial,

sendo denominada “entrevista focalizada”. Na década de 1970, seu uso era comum, como forma

de obtenção de informações em diversos estudos, como as pesquisas de mercado, campanhas

eleitorais (GOMES, 2005) e avaliação de materiais diversos, como a aceitação de programas

de TV ou filmes, entre outros (GATTI, 2005). Nas duas últimas décadas houve um crescimento

significativo na utilização desta metodologia (GONDIM, 2003). Desse modo, constata-se que

o grupo focal não é uma novidade nas ciências sociais, e atualmente sua utilização é vista como

uma maneira simples e prática de coletar informações com várias pessoas simultaneamente por

meio da interação entre os participantes (COSTA, 2006).

Um grupo focal é constituído por um grupo de pessoas previamente selecionadas pelos

pesquisadores com o objetivo de discutir e comentar sobre um determinado assunto, que é o

tema da pesquisa, com base em suas experiências pessoais (GOMES, 2005). Esta técnica se

assemelha a entrevistas grupais, no entanto, existem diferenças quanto ao papel do entrevistador

e modo de abordagem, pois o entrevistador se porta de modo mais diretivo e interage com cada

membro do grupo didaticamente. Já o moderador deve apenas facilitar a discussão e sua ênfase

recai sobre a interação dentro do grupo e na formação de opiniões a respeito do tema

(GONDIM, 2003). De acordo com Melo e Araújo (2010), as interações grupais são o foco de

análise do grupo focal.

Morgan (1997) afirma que existem alguns aspectos negativos em relação ao uso desse

procedimento, como, por exemplo, o fato de o grupo ser movido pelo interesse do pesquisador,

desse modo, há certa incerteza sobre a precisão do que os participantes dizem. No entanto, este

não é um problema único de grupos focais, mas das pesquisas qualitativas como um todo. Outro

aspecto negativo, segundo Morgan, é a dependência, que o pesquisador tem, da interação grupal

para a produção dos dados.

Com relação às vantagens, Gatti (2005) cita o fato de permitir o aparecimento de

diversos pontos de vista sobre o mesmo tópico, a compreensão de práticas cotidianas,

comportamentos, atitudes, compreensão de processos de construção da realidade por diferentes

grupos sociais, sendo importante para o conhecimento de percepções, representações, valores,

crenças relacionadas a um determinado assunto e o entendimento sobre como os indivíduos são

influenciados. Possibilita ainda, segundo Paschoal (2004), adquirir uma quantidade apropriada

de informação em um período curto de tempo, é fácil, prática e não exige custos elevados.

Com relação à quantidade de encontros, Abramovay e Castro (2003) apontam que não

se deve definir o número de encontros por fórmulas matemáticas, mas sim pelo esgotamento de

temas. Outro aspecto importante, e que também não se deve levar em consideração a

representatividade estatística, é o tamanho do grupo (GONDIM, 2003). Alguns pesquisadores,

como Gondim (2003), Gatti (2005) e Melo e Araújo (2010), consideram que não se deve

trabalhar com mais de dez pessoas. Gondim (2003) assegura que grupos com mais de dez

participantes são difíceis de controlar, principalmente se o tema for polêmico, e segundo Gatti

(2005), quando é composto por menos de dez é possível abordar as questões com maior

profundidade. A duração da reunião também é um tema variável entre autores. No entanto, Gatti

(2005) afirma que, assim como o número de reuniões, o tempo de duração irá depender da

natureza do problema em questão e da avaliação do pesquisador sobre a quantidade suficiente

de discussão.

O local escolhido para a realização das sessões deve ser neutro para garantir a

privacidade e evitar o constrangimento dos participantes, ser confortável e isento de ruídos

(LERVOLINO e PELICIONI, 2001; PASCHOAL, 2004). Segundo Gatti (2005) e Melo e

Araújo (2010), o mais importante é que o local favoreça a interação entre os participantes,

facilite diferentes formas de registros, e que todos se encontrem face a face.

Durante as sessões é importante que os dados sejam registrados, o que pode ser feito

mediante anotações e gravações em áudio ou em vídeo. Segundo Gatti (2005), as anotações

devem ser realizadas por pessoas já determinadas que não irão interferir no grupo, apenas farão

os registros e o instrumento mais utilizado é a gravação em áudio. Por isso, além do moderador

é igualmente importante a presença de um observador, que irá colaborar no desenvolvimento

da sessão, monitorando equipamentos, observando o tempo e registrando as informações

(PASCHOAL, 2004).

Com relação à composição dos grupos, Gondim (2003) certifica que os participantes

não devem ser escolhidos aleatoriamente, é preciso levar em consideração a potencialidade de

cada participante em contribuir na discussão da temática proposta. Segundo Gatti (2005), é

igualmente importante que estes tenham alguma vivência com o tema, de tal forma que possam

levar para a discussão dados relacionados com suas experiências diárias. Alguns autores

afirmam que se deve atentar para duas características importantes, a homogeneidade e

heterogeneidade. É importante que o grupo como um todo possua características homogêneas

(por homogeneidade, entende-se aqui algum aspecto comum aos participantes que interfira na

percepção do assunto em foco), mas que as pessoas sejam heterogêneas entre si (LERVOLINO

e PELICIONI, 2001; GATTI, 2005).

Segundo Paschoal (2004), cada sessão pode ser dividida em quatro etapas, quais sejam:

inicial, debate, síntese e encerramento. Ao iniciar a sessão, o moderador deve apresentar-se e

também aos outros integrantes da equipe. Expõe os objetivos do grupo, garante o sigilo dos

registros e nomes dos participantes, deixa claro o que espera dos participantes, porque eles

foram escolhidos, explica como a sessão deve funcionar, sua duração e as regras gerais (GATTI,

2005). No entanto, segundo Gomes (2005), deve-se ter certo cuidado, pois neste momento não

é recomendado passar informações detalhadas a respeito da pesquisa. O esclarecimento das

regras no início pode ajudar no desenvolvimento do grupo, entre elas: I) apenas uma pessoa

fala de cada vez; II) não devem ocorrer discussões paralelas; III) ninguém deve dominar ou

monopolizar a discussão; e IV) todos têm o direito de emitir suas opiniões (GONDIM, 2003).

Deve deixar evidente que todas as opiniões ali emitidas são importantes, que não se

busca a homogeneidade de opiniões, e que a divergência será bem aceita, que não existem

respostas certas ou erradas, bom ou mau argumento, não existirão juízos de valores, e que o que

se espera são respostas divergentes. A discussão é completamente aberta, e toda e qualquer

contribuição é importante para a pesquisa (LERVOLINO e PELICIONI, 2001; GATTI, 2005).

O período de debate deve ser dirigido com o auxílio de um roteiro, no intuito de nortear

a discussão (PASCHOAL, 2004). Conforme Gondim (2003), apesar de ser importante construir

um roteiro, este não deve ser confundido com um questionário. Segundo o autor, um bom

roteiro é aquele que permite a fluidez da discussão, de modo que o moderador necessite intervir

o menor número de vezes possível. Como salienta Gatti (2005), o roteiro deve ser utilizado com

flexibilidade, pois algum tópico previsto para ser trabalhado em outro momento possa ser

abordado antecipadamente, e que outro tópico planejado não apresente tanta importância.

De acordo com Gatti (2005), a temática usada no início do debate deve ser interessante

e fácil de debater, de modo a criar uma situação agradável no grupo e no momento adequado o

moderador propõe um tema mais específico para aprofundar a discussão. O moderador deve

informar os participantes quando a sessão estiver acabando e pode sugerir que cada um faça

uma observação final (GATTI, 2005). Neste momento, realiza-se uma síntese do que foi

discutido e se encerra com as recomendações para o próximo grupo e com agradecimentos

(PASCHOAL, 2004). O moderador deve estar atento para não inferir com frases afirmativas,

negativas, ou conclusivas, não expor opiniões particulares, fechar as questões, propor ideias,

fazer sínteses ou qualquer outra forma de intervenção direta (GATTI, 2005; MELO e ARAÚJO,

2010).

Uma das maiores riquezas do grupo focal é a tendência dos participantes de formar

opinião em meio às interações, contrastando com questionários fechados, ou entrevistas

individuais, nos quais os pesquisados precisam opinar a respeito de assuntos que talvez nunca

tenham analisado anteriormente, pois, quando confrontadas com outras ideias e opiniões, é

possível que mudem seus pontos de vista, e é exatamente esse processo que o grupo focal almeja

assimilar (LERVOLINO e PELICIONI, 2001).

Para a execução dos grupos focais, nesta pesquisa, ocorreu uma reunião com a

coordenadora da escola, no intuito de explicar o procedimento e definir o local, as datas e

horários de sua realização. Em seguida, os alunos da 3ª série foram informados sobre sua

participação na pesquisa, ficando a critério do aluno decidir participar ou não. Antes de realizar

a técnica com os alunos, foi feito um pré-teste com alunos participantes de um grupo de estudo

da orientadora da presente pesquisa, no intuito de verificar possíveis falhas.