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4 REFERENCIAL TEÓRICO

5.6 ANÁLISE DOS DADOS

Para Minayo (2013), a fase de análise do material qualitativo é vista como a parte mais crítica do processo de pesquisa, isso porque os pesquisadores podem encontrar grandes obstáculos ao iniciar a análise dos dados recolhidos no campo. A autora lista três deles: tentativa de interpretação espontânea e literal dos dados como se o real se mostrasse nitidamente ao observador; rendição do investigador às técnicas, pondo- as no lugar da essencialidade dos significados e das intencionalidades; e junção e síntese das teorias e dos achados em campo ou documentais.

Na PCA, pode-se presumir risco maior em relação ao primeiro obstáculo, em razão da familiaridade com o objeto e, aliado a isso, porque se presta a investigar fenômenos do contexto da prática assistencial que, em sua maioria, são complexos e multifacetados (TRENTINI; PAIM, 2004). Entretanto, a imersão gradativa do

pesquisador e a simultaneidade nos processos de assistência, de coleta e de análise de informações, permitirão ao pesquisador refletir sobre como conduzir as interpretações (TRENTINI; PAIM, 2004).

Trentini e Paim (2004) caracterizam a PCA como de natureza versátil, pois abrange processos de assistência e de pesquisa como mencionado no próprio nome da abordagem. Contudo, a PCA vai além disso, porque é um tipo de investigação que permite o uso de métodos combinados não só para coleta, como também para análise de informações. Evidenciam que os métodos para análise de informações são múltiplos, mas optam por apontar quatro processos genéricos da fase de análise que qualquer modelo de pesquisa qualitativa apresenta: apreensão, síntese, teorização e transferência (MORSE; FIELD, 1995 apud TRENTINI; PAIM, 2004).

As autoras dividem a fase de análise de informações em quatro processos: processo de apreensão, processo de síntese, processo de teorização e processo de transferência; de modo que os três últimos são caracterizados como fase de interpretação (TRENTINI; PAIM, 2004).

O processo de apreensão consiste basicamente na coleta de todas as informações e, concomitantemente, início da análise (TRENTINI; PAIM, 2004). As autoras alertam para a dificuldade encontrada nessa fase, em virtude da quantidade de dados a serem analisados (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014). Neste estudo, obteve-se material empírico por meio das entrevistas semiestruturadas e dos grupos de convergência. Pode-se afirmar que o processo de apreensão iniciava a cada entrevista transcrita, a cada grupo de convergência descrito e era reforçado durante a leitura e releitura do material obtido.

Essa apreensão inicial é de total relevância para o pesquisador, devendo ele ficar atento para a saturação dos dados. Na PCA, o quesito saturação dos dados é de fundamental importância, “[...] porque depende dela o alcance do propósito da investigação de introduzir mudanças e/ou inovações no contexto da pesquisa [...]” (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014, p.55). Nesta pesquisa, constatou-se a saturação dos dados já nas 25 primeiras entrevistas, entretanto, optou-se por seguir com mais entrevistas para oportunizar o contato com outros integrantes das eSFs, principalmente por considerar a possibilidade de ampliar e facilitar a participação destes na segunda fase de coleta de dados (grupos de convergência).

Ainda sobre o processo de apreensão, com base na organização do material empírico levantado, foi possível identificar códigos. E, após essa codificação, iniciou-se “[...] a formação de categorias, que consistem em um conjunto de expressões com características similares

[...]” (TRENTINI; PAIM, 2004, p.94).

Para organização e codificação das entrevistas transcritas e dos grupos de convergência descritos, sobretudo a parte das cenas criadas pelos participantes de três dos cinco grupos de convergência realizados, adotaram-se, como ferramenta de apoio à análise dos dados, os recursos do software webQDA. Este é um software de análise de textos, vídeos, áudios e imagens que funciona num ambiente colaborativo e distribuído com base na internet. É um produto desenvolvido pela Universidade de Aveiro/Portugal, pelo Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) e pela Esfera Crítica (Entidade de formação credenciada e homologada) (SOUZA et al., 2013).

Trentini e Paim (2004) advertem que se deve atentar para não reduzir a análise dos dados ao processo de apreensão e, embora seja um processo importante e deflagrador de toda a análise dos dados, deve ser seguido pelos processos de síntese, teorização e transferência, isto é, pela fase de interpretação dos achados.

O processo de síntese analisa subjetivamente as associações e variações das informações, com intuito de sintetizar e memorizar todo o processo de trabalho (MORSE; FIELD, 1995 apud TRENTINI; PAIM, 2004). “É um processo que consiste em reunir elementos diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los num todo coerente. [...] A síntese deve mostrar dados essenciais para o desvelamento do fenômeno [...]” (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014, p.55). Aqui, mediante esquemas e percursos ilustrativos realizados com os códigos obtidos, foi possível alcançar as categorias do estudo, resultando na síntese dos achados. Interessa observar que foi um processo cíclico sob os materiais apreendidos: no início, como um labirinto e com muitas interrogações, mas, ao fim, mostrou-se orgânico/natural, visto que o sentido estava posto.

O processo de teorização consiste em descobrir os valores contidos nas informações, para formular pressupostos e questionamentos. É um trabalho intelectual árduo e deve ser feito com base na fundamentação teórico-filosófica (TRENTINI; PAIM, 2004), que, neste estudo, são alguns documentos (internacionais e nacionais) que norteiam o tema. Para Trentini, Paim e Silva (2014, p. 57-58), o processo de teorização é:

[...] um processo de identificação, definição e de construção de relações entre um grupo de construtos de modo a possibilitar a produção de previsões do fenômeno investigado que leva a denominação de teoria. [...] Teorizar é um processo que envolve

construções, desconstruções e reconstruções de formulações teórico-conceituais para chegar a um esquema que possa descrever e explicar fenômenos reais da vida cotidiana. [...] a teorização só será alcançada por meio de um trabalho intelectual rigoroso [...] que consiste em elevar as informações obtidas a um alto nível de abstração.

Nessa fase de elaboração de temas/conceitos diante dos achados (TRENTINI; PAIM, 2004), precisou-se fazer grande esforço de estranhamento ante o fenômeno encontrado e iluminar os dados com os referenciais teóricos selecionados para este estudo.

Por último, o processo de transferência, que é a socialização dos resultados da pesquisa (TRENTINI; PAIM, 2004). Caracteriza-se como momento em que se pode validar todo o desenho da PCA, isso porque “[...] a PCA mostra um dos pontos complexos: investigar e assistir, assistir e investigar, construir o conhecimento, reconstruir o conhecimento, avaliar os resultados, transmigrar da prática para nova prática e inovar a prática” (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014, p.59). 5.7 QUESTÕES ÉTICAS

A ética da PCA, segundo Trentini e Paim (2004), exige postura de receptividade à discussão e está relacionada à socialização da ideia no âmbito interno da equipe de saúde. Por sua vez, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade são os referenciais da bioética que pautam os artigos da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012c).

O protocolo desta pesquisa foi submetido à revisão ética (via Plataforma BRASIL) do Sistema CEP/CONEP (Comitês de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) para avaliação nos termos da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado pelo Parecer 1.076.501, em 25 de maio de 2015 (ANEXO A).

A coleta de dados iniciou-se após liberação do ofício da SMS de Florianópolis, que foi emitido depois da aprovação do CEP/UFSC, autorizando a realização da pesquisa no período de 1/6/2015 a 1/12/2015 (ANEXO B).

O TCLE foi apresentado aos participantes da pesquisa e nele está explícito o objetivo, a justificativa e a forma de condução da pesquisa. O termo foi assinado em duas vias: uma da pesquisadora e outra do participante da pesquisa. Respeitou-se o direito de participar ou não da

pesquisa, bem como de desistir dela a qualquer momento; a oferta da disponibilização do trabalho sempre que solicitado e das informações acerca da divulgação dos dados obtidos da pesquisa também constam no documento, assim como a manutenção do sigilo da identidade do participante. Para isso foram previstos “[...] procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização dos participantes da pesquisa [...]” (BRASIL, 2012c, p.12). As entrevistas semiestruturadas foram identificadas pela letra (E), seguida do número correspondente à ordem em que se realizou a entrevista e à denominação da função que o entrevistado exerce na eSF, exemplo: E1 – ACS. Os grupos de convergência foram denominados pela letra (G), seguida do número correspondente à ordem em que se realizou o grupo de convergência, exemplo: G1.

O material de áudio, as entrevistas transcritas, as imagens das cenas, assim como os TCLE estão arquivados com a pesquisadora de campo. Permanecerão sob seu domínio durante cinco anos, podendo ser destruídos e/ou apagados ao término desse prazo.