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Esta RI sobre a atenção em anticoncepção pelos trabalhadores da APS reafirma a importância de resgatar a temática da atenção em anticoncepção, com seus variados aspectos relacionados, no contexto da APS, considerando as diferentes realidades vivenciadas pelos trabalhadores de saúde.

Os resultados apresentados pela primeira categoria, que ressalta as percepções e os conhecimentos dos trabalhadores da APS sobre a

atenção em anticoncepção, indicam que, quando equivocadas, percepções e conhecimentos, assim como as experiências pessoais e as crenças dos trabalhadores da APS, em matéria de saúde sexual e de saúde reprodutiva, repercutem diretamente na atenção oferecida; que há certa precariedade do atendimento à saúde sexual e à saúde reprodutiva, em especial, aos adolescentes e aos homens; que há limitações quanto ao conhecimento dos trabalhadores da APS sobre os aspectos relacionados ao tema; e que há dificuldades em realizar formação no contexto da APS. Esses foram alguns dos itens apontados (nos resultados dos estudos selecionados) como fatores que implicam riscos à oferta de uma atenção em anticoncepção adequada.

Quanto à segunda categoria — que trata das ações, intervenções e avaliações de atenção em anticoncepção —, entende-se que os estudos envolvem, em diferentes medidas, os diversos trabalhadores da APS. Entretanto, evidencia-se o diferencial dado ao ACS na atenção em anticoncepção. Alguns resultados apontam para o potencial do ACS em ampliar o acesso dos usuários aos serviços de saúde voltados à saúde sexual e à saúde reprodutiva. Além disso, os estudos fomentam ações para melhoria dos serviços oferecidos; para melhoria da comunicação; para promoção de métodos anticoncepcionais; e para efetivação de ações em nível gerencial e em rede.

Na terceira categoria — que aponta as fragilidades e as potencialidades dos trabalhadores da APS no contexto da atenção em anticoncepção —, observou-se que as fragilidades estão relacionadas às percepções e aos conhecimentos dos trabalhadores da APS e às dificuldades que enfrentam ao exercer a profissão: não se sentir agente promotor da atenção em anticoncepção; não considerar a possibilidade de mudança de suas próprias perspectivas pessoais; o défice de conhecimento dos trabalhadores da APS; a falta de confiança em determinado método anticoncepcional; e dificuldade de acesso aos serviços. Já as potencialidades indicadas nos resultados de alguns estudos relacionam-se com a cooperação de todos os trabalhadores da APS em oferecer atenção em anticoncepção de qualidade; em articular estratégias em rede envolvendo toda a comunidade, em especial, as escolas e os pais dos adolescentes, a fim de garantir os direitos sexuais e os direitos reprodutivos; em realizar ações mais próximas às pessoas (inclusive no domicílio); e no fomento à formação dos trabalhadores da APS.

A síntese dos estudos analisados revela a produção de conhecimento científico que valida a assertiva de que a APS é o lócus fundamental para que a atenção em anticoncepção aconteça de maneira

efetiva, sendo os trabalhadores da APS (adequadamente capacitados) imprescindíveis na oferta desses serviços.

Como recomendações para a prática, os resultados obtidos nos estudos preconizam a formação e capacitação dos trabalhadores da APS sobre os temas que permeiam a saúde sexual e a saúde reprodutiva; o fomento de estratégias de educação em saúde, que envolvam toda a comunidade, incluindo as escolas e os pais de adolescentes; o fortalecimento do vínculo entre usuários e profissionais de saúde; e o respeito aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos.

Vislumbra-se, aqui, a gama de inter-relações que se faz necessária para efetivação da atenção em anticoncepção na APS, e que múltiplos são os fatores que interferem na qualidade da atenção em anticoncepção oferecida. Apesar de os estudos selecionados para esta revisão detalharem diferentes contextos e abordarem diferentes aspectos da atenção em anticoncepção, percebe-se lacuna de estudos diagnósticos da situação da atenção em anticoncepção relacionada aos trabalhadores da APS, sobretudo em relação à formação/capacitação desses trabalhadores referente à temática da anticoncepção, nos mais diversos contextos, até no Brasil.

Realizar esta revisão integrativa permitiu identificar a contribuição das pesquisas desenvolvidas em âmbito nacional e internacional (entre 2009 e 2014) sobre a atenção em anticoncepção relacionada aos trabalhadores da APS, bem como sintetizar o conhecimento produzido e reafirmar a importância da utilização dos resultados das pesquisas para fundamentar a prática assistencial; ao mesmo tempo que retrata a necessidade de que novos estudos sejam desenvolvidos, a fim de compreender melhor os aspectos multidimensionais que envolvem a atenção em anticoncepção pelos trabalhadores da APS.

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