4 POPULAÇÃO ESTUDADA, MATERIAIS E MÉTODOS
6.1 ANÁLISE DOS EXAMES DIAGNÓSTICOS COMPLEMENTARES
Na caracterização da população estudada, analisamos alguns testes diagnósticos
complementares aos utilizados como rotina para confirmação de LTA, no já referido
ambulatório. O critério de inclusão neste estudo foi apenas a positividade dos testes
Montenegro e, ou parasitológico para leishmaniose e indicação de tratamento.
A reação em cadeia da polimerase foi realizada no material de biópsia coletado na lesão dos
pacientes antes do tratamento e novamente nas biópsias de tecido da cicatriz após o
tratamento.
A idéia inicial da realização deste estudo foi baseada nos resultados do nosso trabalho com
histopatologia de tecido de lesão antes do tratamento e de cicatriz depois de diferentes
tratados em 1992/1993 e comparar com os resultados das PCR dos pacientes que participaram
deste estudo, e tratados em 2001 a 2003. Chamamos de grupo antigo (GA), o conjunto de
pacientes tratados em 1992/1993 e de grupo recente (GR), o conjunto de pacientes tratados
em 2001 a 2003 e que participaram deste trabalho. No grupo de pacientes recentemente
tratados com Glucantime®, observamos que 71% dos 10 pacientes apresentaram PCR
positiva antes do tratamento, contra 50% de pacientes com exame parasitológico positivo e
apenas um paciente que apresentou TM negativo. No grupo dos 8 pacientes (GA), tratados
com Glucantime® em 1992 e 1993 a PCR foi positiva em 75% deles antes do tratamento e
62,5% apresentaram parasitológico positivo. Depois do tratamento, a PCR foi positiva em
12,5% dos pacientes recentemente tratados, contra 62,5% dos pacientes tratados há,
aproximadamente, 10 anos.
Cabe, aqui, salientar que o material dos pacientes tratados em 1992/1993 estava parafinado e
a PCR foi processada ao mesmo tempo e no mesmo laboratório que o material dos pacientes
recentemente tratados e analisados.
Os pacientes tratados apenas com Leishvacin® não apresentam grupo de pacientes tratados há
muitos anos. Para os pacientes recentemente analisados, o parasitológico foi positivo em
71,5% e a PCR positivou em 57,1% dos pacientes antes do tratamento. Depois do tratamento
com diagnóstico clínico de cura, observamos 14,3% de PCR positivo.
No grupo de pacientes tratados em 1992 e 1993 com a associação de Glucantime® mais
Leishvacin®, observou-se uma positividade de 57,14% da PCR antes do tratamento e 100%
de positivos no exame parasitológico. Depois do tratamento o percentual de positividade da
tratamento, tivemos 85,71 % de positividade da PCR e do parasitológico. Depois do
tratamento, a taxa de positivos passou a 14,3%.
Daqueles pacientes, atendidos mas que não foram tratados, por apresentarem exames
parasitológico e TM negativos, processamos a PCR das amostras de tecido coletadas na lesão
durante o primeiro atendimento para diagnóstico. Destes 32 pacientes, 8 apresentaram PCR
positiva, ou seja 36,4 %. Procuramos por estes pacientes e, por razões diversas (mudança ou
cicatrização da lesão), apenas três deles foram encontrados e tratados com Glucantime®.
Para Botelho et al (1998) com relação à diferença entre o percentual de positividade da PCR
nos pacientes que receberam o mesmo tratamento em épocas diferentes, podemos considerar,
que com nossos resultados), foi demonstrado que após o tratamento há um processo
inflamatório persistente no local da cicatriz, a análise do processo de cura clínica ficou mais
criteriosa, com uma observação mais atenta da cicatriz e com uma monitoração mais
prolongada em alguns casos.
A PCR na leishmaniose é uma técnica sensível que busca o DNA do parasito e apresenta
como desvantagem a necessidade de um controle rigoroso para evitar a contaminação do
material e um aparato laboratorial de confiança. O Laboratório de Parasitologia Celular e
Molecular do Centro de Pesquisas René Rachou atende a todos os requisitos para um
resultado confiável.
Os dados da literatura mostram um elevado percentual de positividade da PCR depois do
tratamento. Schubach et al (1998) citam 80% de positividade nos 20 pacientes analisados,
em 93,5% das biópsias de cicatrizes depois do tratamento. Considerando o exposto, nossos
percentuais após o tratamento foram bem menores do que o relatado na literatura, mesmo
naqueles pacientes tratados há, aproximadamente, 10 anos. Acreditamos que estes resultados
possam ser o reflexo do esquema terapêutico seriado e monitorado, adotado pelo grupo do Dr.
Wilson Mayrink.
6.2 Caracterização do perfil fenotípico de células do infiltrado inflamatório antes e após o tratamento
No que se refere às células encontradas no infiltrado inflamatório antes e após o tratamento,
observamos que, com relação às células T CD3+, células NK CD57+ e CD16+, houve uma
queda significativa nos seus percentuais depois do tratamento (p<0,05) e as células CD16+
foram as que apresentaram maior diferença (Figuras 2, 12 e 9, respectivamente)
Amato et al. (2002) não observou diferença estatisticamente significativa na análise das
células CD57+ antes e após o tratamento. Neste caso, a diferença de resultados sugere ser pela
forma clínica da leishmaniose estudada, que foi a mucosa. As células NK são fundamentais
para a indução do processo imunológico que leva à eliminação do parasita. Com nossos
resultados, acreditamos que a queda no seu percentual possa estar relacionada com a queda da
carga parasitária, devido ao tratamento.
Porém, quando analisamos as suas subpopulações (CD4+ e CD8+), não observamos mais
CD3/CD20 e linfócito B CD20+. Vale salientar que, com relação à razão CD4/CD8, mesmo
não observando diferenças estatisticamente significativas, ocorreu uma elevação dos seus
valores depois do tratamento em 7 dos 11 pacientes analisados, sugerindo uma tendência, que
pode não ter sido mais claramente evidenciada devido ao tamanho da amostra (Fig. 12).
Os macrófagos do infiltrado inflamatório foram analisados utilizando-se os marcadores CD14
e CD68. Ambos apresentaram diferença estatisticamente significativa com queda da área
ocupada, uma vez que estas células foram analisadas por morfometria, pois se trata de uma
célula com muitos prolongamentos, o que dificultaria a sua identificação para contagem no
microscópio óptico, utilizamos a área ocupada como medida. Os macrófagos CD14+ são
células presentes na pele durante um processo inflamatório, e por isto mesmo, a redução
observada depois do tratamento, foi muito superior àquela vista para os macrófagos CD68+
que, de uma maneira regular, estão presentes na pele como células residentes.
Segundo Vieira et al (2002) macrófagos CD68+ são as células mais freqüentes no infiltrado
inflamatório depois dos linfócitos T. Como o autor não usou o marcador para macrófagos
CD14, fica difícil compararmos os nossos resultados com o referido autor.
Nossos resultados estão de acordo com os da literatura, quando esta relata que os linfócitos T
CD4+ predominam sobre os linfócitos B, encontrados nas lesões de pacientes com
leishmaniose (ESTERRE et al. 1994). Em concordância, Vieira et al (2002) e Lima et al
(1994) relatam que células T são mais freqüentes que linfócitos B.
Com relação à população de células T CD8+ e CD4+, Izasa et al (1996) relataram uma
imunoistoquímica das lesões de pacientes com leishmaniose cutânea. Como também
GAAFAR e colaboradores (1999) registram predominância de células CD8+ nas lesões antes
do tratamento e um percentual menor no sangue, o autor sugere ser por seqüestro destas
células na lesão. Acreditamos que, por encontrar na literatura dados contraditórios, está
observação possa não ser estendida a outras análises.
Após o tratamento com relação ao percentual de células CD4+ e CD8+, observamos a
predominância de células CD4+ em sete dos doze pacientes.
Ao contrário do que foi observado em estudos nas lesões de LTA em macacos, que mostram
um predomínio de células T CD8+ tanto antes como depois do tratamento como ensina
Amaral (2000).
Coutinho et al (2002) relatam resultado inverso ao nosso com relação ao percentual de células
CD8+, onde antes do tratamento observa-se predomínio de células T CD4+ em relação às
CD8+, sendo que depois do tratamento há um predomínio de células CD8+. Porém, o autor
cita que em três pacientes houve o predomínio de células CD8+ antes do tratamento.
Estes dados, juntamente com os nossos resultados, mostram não haver concordância entre os
autores, a respeito do percentual de células T CD4+ e CD8+ no infiltrado inflamatório da
lesão antes e após o tratamento. Sugerimos que esta discordância possa estar relacionada ao
tempo de evolução da lesão ou mesmo da espécie do parasito, bem como as características
genéticas do hospedeiro vertebrado.
Leishmania, observa-se um percentual maior de células T CD4+ e, após o tratamento, o
predomínio de células T CD8+segundo os autores (DA CRUZ et al., 2002 e TOLEDO et al.
2001).