• Nenhum resultado encontrado

3 APONTAMENTOS METODOLÓGICOS

ANÁLISE DOS REGISTROS ASPECTOS HISTÓRICO-

SOCIOECONÔMICOS ANÁLISE DOS REGISTROS ASPECTOS POLÍTICOS

ANÁLISE DOS REGISTROS ASPECTOS HISTÓRICO- CULTURAIS

dos dados brutos e objetivos coletados nos grupos, ou seja, as falas e as imagens, para chegar aos sentidos e significações, como, no caso da presente pesquisa, o fenômeno da intimidação.

Inicialmente fizemos a transcrição das imagens do primeiro grupo focal. Contudo, após um tempo da conclusão deste trabalho, retornamos a esta transcrição e descobrimos falhas e lacunas. Pior, o material original e bruto não estava completo no arquivo. Isto resultou em uma nova transcrição das filmagens do primeiro grupo focal, exercício que foi executado após a transcrição do segundo e do terceiro grupos. Mas, enfim, nem tudo são problemas em pesquisa. Esta situação serviu para estudar os dados de modo frio, garantindo uma maior objetividade no tratamento dos mesmos. Corrigimos as falhas e as lacunas do GF I e o complementamos com novos dados rastreados nas imagens revisitadas. Atividade que resultou numa maior atenção, durante as transcrições, aos outros dois grupos focais.

Durante as transcrições, deparamo-nos com a questão de saber qual a forma mais apropriada de problematizar e analisar as imagens. As imagens comunicavam dados importantes para compreender as ações e expressões corporais observadas nesta ou naquela comunicação não verbal, não seria tarefa fácil. Comunicações visíveis, mas de difícil transcrição, pois elas requereriam procedimentos específicos de análise.

Assim, como não encontramos apoio nos autores escolhidos que pudesse indicar caminhos de como abordar as imagens, optamos por privilegiar as comunicações verbais dos participantes, tal qual nos ensinam Aguiar e Ozella (2006), contextualizando-as em sua dinâmica afetiva, interacional e corporal.

Dessa forma, após a transcrição das imagens e a visualização destas várias vezes, debruçamo-nos na leitura flutuante do material redigido, passando do recurso imagético ao recurso textual. Ao lado do texto, realizamos as anotações, ligações e reflexões que nos chamaram a atenção em cada grupo focal. Inicialmente, os grupos foram tratados como unidades independentes para, posteriormente, serem realizadas relações entre os grupos focais.

O passo seguinte foi a organização do material transcrito a partir de critérios sugeridos pelos autores acima e conforme os objetivos da pesquisa. Assim, inicialmente foi criada uma listagem de palavras, denominadas de pré-indicadores. Os pré-indicadores são palavras com significados e preparam os dados da pesquisa para a formação dos Núcleos de Significados. Segundo Aguiar e Ozella:

Tendo o material gravado e transcrito, iniciamos várias leituras ‘flutuantes’, para que possamos, aos poucos, nos familiatizar, visando a uma apropriação do mesmo. Essas leituras nos permitem destacar e organizar o que chamaríamos de pré- indicadores, para a construção dos núcleos futuros. Irão emergindo temas diversos, caracterizados por uma maior freqüência (pela sua repetição ou reiteração), pela

importância nas falas dos informantes, pela carga emocional presente, pelas ambivalências ou contradições e pelas insinuações não concretizadas (AGUIAR; OZELLA, 2006, p.8).

Diante dos critérios de repetição, importância nas falas, carga emocional, ambivalências e contradições, obtivemos uma vasta lista de pré-indicadores para cada grupo focal. Mas não esqueçamos o que os autores sinalizam sobre o critério básico para seleção: fazer a relação daquelas palavras com os objetivos da pesquisa (AGUIAR; OZELLA, 2006). Objetivos que foram impressos e afixados em lugares estratégicos para serem visualizados durante a análise dos dados.

O passo seguinte foi indicar sentidos para as listas de palavras anteriormente compiladas, criando uma organização. Fase denominada pelos autores como Processo de Aglutinação. O processo de aglutinação dos pré-indicadores consistiu numa nova leitura das palavras listadas e que mais uma vez foram organizadas, adquirindo status de indicadores. Aglutinação formatada a partir dos critérios de “similaridade, complementaridade ou pela ambivalência” (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 08). Para a visualização desta nova etapa, fizemos um quadro para cada grupo focal. Neste quadro, havia uma tabela que era identificada com o nome do grupo focal e a etapa da análise – processo de aglutinação e, logo abaixo três colunas. Cada coluna foi nomeada com os critérios acima expostos, ou seja, “similaridade, complementaridade e ambivalência” e preenchida com os novos indicadores (palavras) selecionados nesta etapa.

Obtivemos assim uma redução na quantidade das palavras e um mapeamento condensado dos indicadores. Condensação que nos levou para a etapa de nomeação dos conteúdos inspirados nos indicadores desta fase de aglutinação. Ou seja, chegamos a uma fase em que tanto possuíamos os indicadores condensados quanto seus conteúdos. Com os conteúdos nomeados, voltamos a fazer uma releitura do material para encontrar nas falas dos adolescentes os recortes que os embasavam.

Voltamos a construir uma nova tabela, agora unindo os dados dos três grupos focais, com as seguintes informações: pré-indicadores do processo de aglutinação e os conteúdos correspondentes. Nesta etapa, os critérios para articular os conteúdos foram: semelhantes, complementares e contraditórios, de acordo com Aguiar e Ozella (2006). Desse modo, esta nova tabela recebeu três colunas, nomeadas com cada um daqueles critérios (semelhantes, complementares e contraditórios) e preenchidas com todos os conteúdos e exemplos de indicadores que justificavam o conteúdo.

Os conteúdos nomeados foram: Corpo, Identidade Negociada, Infância, Amigos, Exclusão, Grupos, Classe social, Adultos, Brincadeiras, Intimidação, Homossexualidade, Medo e Competição. Nesta tabela final, cada conteúdo continha seus indicadores coloridos conforme pertencesse ao GF I, II ou III. As tabelas montadas constituíram uma estratégia para visualizar os vários procedimentos de análise dos dados.

Finalmente, após todas estas etapas, os conteúdos foram listados e ilustrados com os respectivos recortes das falas (dos participantes) originárias das transcrições dos grupos focais, fase considerada como início da nuclearização e caracterizada pelo processo de articulação entre os indicadores e seus conteúdos. O objetivo desse processo foi revelar as principais ideias e sentidos subjacentes, expressos pelos participantes, encontrados nesse processo de articulação entre os indicadores e seus conteúdos. Processo de articulação organizado a partir dos critérios de semelhantes, complementares e contraditórios. O resultado desse refinamento foi a criação dos núcleos e sua nomeação. Nomeação que procuramos espelhar seguindo o raciocínio: “os núcleos resultantes devem expressar os pontos centrais e fundamentais que trazem implicações para o sujeito, que o envolvem emocionalmente, que revelem as suas determinações constitutivas" (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 09)

Assim, após todo esse processo, chegamos a cinco Núcleos de Significações, listados abaixo:

1º Núcleo: Os balizadores da identidade adolescente: da imagem corporal à Fera

X como referência para a identidade adolescente;

2º Núcleo: O intimidador: alguém se junta, escolhe um bode expiatório e começa a

tratá-lo mal;

3º Núcleo: No fio da navalha42: brincadeiras e violências no grupo de amigos;

4º Núcleo: A vítima: presa numa apatia infeliz; 5º Núcleo: A próxima vítima.

42 No fio da navalha. É uma terminologia também usada por Heleieth I. B. Saffioti no seu artigo: No fio da

navalha: violência contra crianças e adolescentes no Brasil atual. Apud MADEIRA, F. R. Quem mandou nascer mulher?: Estudos sobre crianças e adolescentes pobres no Brasil. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos, 1997. p.137-211.

Quadro 3. Procedimento de análise dos dados dos grupos focais

TRANSCRIÇÃO GF I - GF II - GF III

LEITURA FLUTUANTE DAS IMAGENS E FALAS