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3 APONTAMENTOS METODOLÓGICOS

QUANTIFICAÇÃO DOS DADOS PARA CADA

4 ANALISANDO E DISCUTINDO OS DADOS

4.1 Apresentação dos dados

A caracterização do Colégio X foi baseada no procedimento de coleta de dados da observação participante. Nesta convivência com o cotidiano escolar, captamos a rotina, as atividades pedagógicas e alguns aspectos da relação professor-aluno, recurso que nos permitiu conhecer e contextualizar a instituição de ensino

4.1.a O Colégio X

O Colégio X abrange o Ensino Fundamental (5ª à 8ª série, com oito turmas) e o Ensino Médio (1º ao 3º ano, com 6 turmas). Completou 50 anos de existência em 2008 e o seu aniversário foi bastante comemorado, com homenagens dos alunos e ex-alunos, docentes e funcionários.

O Colégio surgiu no contexto social e político do final da década de 1950 para o início de 1960 marcado por um período denominado de desenvolvimentista. O Estado brasileiro então governado pelo presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), vive, no início do seu mandato – de 1956 a 1961 -, um momento de confiança e otimismo materializado na criação da nova capital, Brasília, e no crescimento industrial. Crescimento que ocorreu a partir do surgimento da indústria automobilística e da criação da indústria de autopeças, assim como de empresas mistas como a Petrobrás. Transformações macroeconômicas que atraíram milhares de nordestinos para o sul e sudeste do Brasil, formando um contingente de imigrantes nas

capitais que não usufruíam a garantia dos direitos nem as condições de vida social adequada para a sua sobrevivência. No final do mandato do presidente Juscelino, ocorreram inúmeras greves nos centros urbanos e no interior, provocando a emergência de movimentos populares que se manifestavam contra a alta concentração de renda e a voracidade da inflação que corroia os salários (BENITES, 2006).

Surgiram organizações significativas que, na esfera da cultura e da educação, criaram o Movimento de Educação de Base (MEB)44 e o Movimento Paulo Freire de Educação de Adultos45, este originário da cidade de Recife. Todas essas atividades organizadas em educação problematizaram e criaram caminhos para a educação popular de jovens e adultos oriundos daquele contingente de imigrantes rurais e urbanos.

Anterior a estas organizações na educação popular, podemos citar o movimento da Escola Nova como precursora dos novos ideários para a educação no Brasil. A Escola Nova é uma das denominações para uma proposta de ensino que se caracterizava pela centralidade no aluno e no seu processo de aprendizagem. Movimento conhecido também como “Escola Ativa” ou “Escola Progressiva”, estava presente na Europa, América Norte e no Brasil na primeira metade da década de 1950, compondo um ideário de escola que valorizava no aluno o pensamento crítico, as experiências pessoais, a comunicação, a autonomia, a descentralização da figura do professor, a motivação e as competências cognitivas. A Escola Nova adquiriu adeptos no Brasil que penetraram nas instâncias governamentais, provocando amplas reformas na educação46 (BENITES, 2006).

Percebemos como a área da educação estava em ebulição no final da década de 1950 para 1960, as concepções educacionais renovadoras, como a Escola Nova, que promoveram a criação de ginásios vocacionais, assim como de colégios no âmbito das universidades, para experimentação e pesquisa dos alunos das diversas licenciaturas, contrapondo-se à hegemonia das escolas religiosas. O Colégio X surge no bojo deste movimento na educação, para a efetivação de uma escola laica com caráter de laboratório de novas ideias em pedagogia e ligado à área educacional da universidade, que respirava as novas concepções em Educação. Este seria o contexto histórico e político em que surgiu o Colégio X.

44 O Movimento de Educação de Base (MEB) foi um movimento criado e dirigido pela hierarquia da Igreja

Católica (SAVIANI, 2005) e mantém até hoje suas atividades. Site:< http://www.meb.org.br/#home> Acesso: 22.jan.2009.

45 O movimento Paulo Freire de Educação de Adultos possuía autonomia da Igreja, mas recrutava seus membros

no movimento estudantil ligado à Juventude Católica Universitária (JUC), assim como pessoas de outras origens políticas esquerdistas (SAVIANI, 2005). O educador Paulo Freire ficou conhecido internacionalmente e até hoje é bastante citado, por sua Pedagogia do Oprimido, caracterizada por alfabetizar adultos a partir da reflexão sobre palavras geradoras que refletem o contexto social, histórico e político do aluno.

46 Segundo Saviani (2005), na transição da década de 1950 para 1960 estava em debate, nas esferas

Após esta rápida passagem sobre o berço histórico da emergência do Colégio X, podemos retornar à descrição e caracterização deste estabelecimento de ensino.

Retomando a descrição e caracterização deste estabelecimento de ensino, a atual gestão foi eleita pelo voto dos membros da comunidade educacional. O corpo docente é formado por professores concursados e substitutos com títulos de graduação, mestres e doutores.

O ingresso do aluno regular no Colégio X é efetivado através de uma rigorosa seleção na entrada, inicialmente para as séries do fundamental, mas podendo ocorrer para outras séries escolares.

A edificação é formada pelo térreo e primeiro andar. No térreo, encontramos a sala da Coordenação Geral, secretaria localizada na entrada do edifício, sala de artes à esquerda. Há paredes com largos quadros de avisos e, mais adiante, estão quatro laboratórios (de informática, química, biologia – que observamos em funcionamento – e o de física/matemática) e algumas salas de aula e de projeção, assim como uma cozinha que é usada como apoio para servir as refeições e lanches. As refeições são realizadas no pátio coberto do colégio.

O desenho arquitetônico do edifício é retangular, com as salas uma ao lado da outra, estruturando as paredes, e, no centro, um hall onde os alunos se encontram. Há sanitários para os docentes e um pequeno balcão com vendas de souvenir da instituição. No final deste espaço, estão os banheiros dos alunos, uma escada estreita e uma saída para a quadra de esportes. Este espaço é bastante iluminado, pois a luz solar vaza pelas telhas transparentes.

Chegando ao primeiro andar, que segue o mesmo formato retangular, temos um espaço aberto ao meio, protegido com parapeito, que nos permite a visão do andar térreo. Na base da escada do primeiro andar, localizada à esquerda, há uma sala de aula. Colados na sequência da parede desta sala de aula, estão os armários para os alunos e professores. Mais adiante, ao longo do corredor, encontramos os Serviços de Orientação Educacional (SOE) e de Orientação e Experimentação Pedagógica (SOEP). Neste mesmo lado, estão a sala para os professores e, à direita, a biblioteca e duas salas para exibição de filmes, computadores e um acervo adequado de livros e revistas para os estudantes. Ao redor do espaço vazado, encontramos a sequência das salas de aula. As salas são bem iluminadas, com janelas para o exterior e algumas climatizadas.

Do lado externo, há uma quadra, que serve para diferentes modalidades esportivas, e um pátio de recreio ambos cobertos. Próximo deste pátio há outro descoberto com quiosques, propício para as reuniões em pequenos grupos. Estas áreas são higienizadas semanalmente. No recreio coberto, há um pequeno palco, onde ocorrem as reuniões e festas. Ao lado deste

palco, há a sala de música, local protegido com acústica e planejado para guardar os instrumentos musicais.

Pelo estado de conservação – as instalações elétricas e hidráulicas são antigas, mas em funcionamento – tanto do interior quanto do exterior, vê-se que existe uma manutenção regular. Mesmo assim, encontramos cadeiras e computadores quebrados durante o período de observação (permaneceram assim até o final do ano letivo). Em alguns espaços, encontramos mobílias quebradas e entulhadas. Não vimos pichações no interior do colégio, mas percebemos grades em algumas portas de salas (cozinha, secretaria) do térreo e nos laboratórios.

Presenciamos apenas um ato de depredação na estrutura física na sala de aula: foi quando um dos alunos da turma pesquisada chutou a porta para sair da sala. Durante o restante da observação, não notamos vandalismos ou outros atos de depredação fisica do estabelecimento de ensino. Contrapondo-se àquela atitude, notamos outro aluno e um professor tentado consertar a maçaneta da porta da sala de aula que, talvez, tenha sido quebrada com os pés de um aluno.

A sala de aula obvservada era um espaço grande, sem ar-condicionado, com uma parede coberta por janelas, ventilado, com espaço confortável para todos os 28 alunos. O mobiliário estava bem conservado, com um birô para o professor e um largo quadro branco para escrever. As bancas eram de braço e havia um quadro de avisos que era utilizado. Todavia, sempre faltava um apagador para o quadro e, em vários momentos, faltavam apostilas para todos os alunos, pois a máquina copiadora quebrada com frequência, problema que foi solucionado com o passar do tempo.