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Análise dos relatos

No documento 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 17 (páginas 42-61)

Nesta seção, apresentamos os relatos dos sujeitos da pesquisa. Cabe ressaltar que buscamos retratar a familiaridade dos professores em relação aos gêneros textuais, a fim de contemplar os objetivos específicos elencados anteriormente.

a) Transcrição e análise do relato da professora Diamante

Universos: Língua Portuguesa (9ª ano – Editora SM) é o livro adotado por nós professores da rede municipal de ensino. No capítulo 3, encontramos o gênero reportagem. Ele traz um texto sobre a vaquejada, apresentando as características e as polêmicas que envolvem essa festividade. As atividades que sucederam a leitura proporcionaram o estudo da estrutura do texto, a apresentação de vozes diversas, elementos que conferem credibilidade ao texto, a construção de um ponto de vista sobre o tema desenvolvido e a cultura popular. O trabalho foi iniciado com exposição de fatos e experiências dos alunos que já participaram desse evento. Logo em seguida, realizamos uma leitura compartilhada, na qual buscamos envolver a turma no processo trabalhamos as estratégias de formular previsões sobre o texto a ser lido.

Após a leitura, foram formuladas perguntas sobre o que foi lido, esclarecendo dúvidas e resumindo ideias. Vale salientar que nosso livro nos oferece uma interessante estratégia de construção de perguntas a serem respondidas pelo aluno: perguntas de respostas literal, perguntas para pensar e buscar e perguntas de elaboração pessoal. Tais procedimento, nos ajudam a criar, em sala de aula, situações de aprendizagem nos quais os alunos possam pensar, discutir e confrontar ideias referentes à estrutura e construção do texto lido.

Nessas atividades de leitura, vamos avaliando as capacidades de compreensão dos educandos. Para isso, o livro disponibiliza-nos ao longo das atividades essas capacidades.

São elas:

- Compreender globalmente o texto;

- Localizar informações explícitas;

- Produzir inferência;

- Ativar conhecimentos prévios;

- Levantar hipóteses;

- Identificar orientação argumentativa;

- Identificar o objetivo do texto;

- Compreender partes do texto;

- Posicionar-se criticamente diante do texto lido;

- Explorar contextualmente o vocabulário;

- Reconhecer a intertextualidade no nível temático;

- Identificar as relações entre texto verbal e não verbal;

- Reconhecer o efeito de sentido obtido em função do uso de um determinado recurso linguístico. (Transcrição, na íntegra, do relato escrito da professora Diamante, 19 de outubro de 2017).

Com base nesse relato, é possível perceber que a professora trabalha o desenvolvimento de atividades diversificadas. Como ela explora um gênero específico, no caso, a reportagem, o texto proposto pelo material didático foi sobre

“vaquejada”. A professora informa que por ser um dado cultural, os alunos apresentam maior interesse pelo texto por conhecerem o evento. Isso porque os alunos são oriundos do interior da Paraíba, onde o esporte é recorrente.

Segundo Dolz e Schneuwly (2004), na esfera escolar, o ensino dos gêneros está voltado para o desenvolvimento de diversas capacidades de linguagens, e espera-se que o aluno compreenda o motivo de realizar determinada atividade com o gênero trabalhado em sala de aula. Em outras palavras, é importante que o discente compreenda a contextualização em relação à situação comunicativa da atividade.

Diante disso, é possível perceber que a professora Diamante trabalha de forma adequada tal capacidade de contextualização, de modo a levar o aluno a compreender a intenção da produção. Isso porque, conforme citamos anteriormente, há exemplos como o texto sobre a vaquejada, nos quais verificamos, por parte da docente, um cuidado em adotar conteúdos que dialoguem com a realidade e com o contexto de seus alunos.

Conforme pontuam Dolz e Schneuwly (2004), a capacidade de ação (CA) refere-se à adaptação das características do contexto e de seu conteúdo referencial;

envolve as situações de interação de uso da linguagem no contexto compartilhado pelos falantes e permite que eles sejam capazes de adaptar sua produção de linguagem às situações de comunicação e às características do contexto. Segundo os dados apresentados, Diamante estabelece as representações relativas ao meio físico, o lugar onde se realiza a ação, a representação dos sujeitos (alunos), a posição e o lugar social no qual se realiza a interação, bem como os conhecimentos de mundo armazenados na memória e que podem ser mobilizados na produção de um texto.

Seguindo na análise do relato, podemos observar que a professora trabalha as habilidades de leitura dos alunos por meio de exercícios, via leitura compartilhada, como ela declara: “Logo em seguida, realizamos uma leitura compartilhada, na qual buscamos envolver a turma no processo trabalhamos as estratégias de formular previsões sobre o texto a ser lido”. A capacidade discursiva (CD) é a segunda capacidade de linguagem proposta por Dolz e Schneuwly (2004) e está relacionada com a forma como se organiza um discurso e uma determinada ação de linguagem.

Nessa capacidade, espera-se que os alunos compreendam como o gênero trabalhado está organizado, ou seja, quais são suas características. Em seu relato, Diamante expõe de forma transparente o trabalho com essa capacidade de linguagem.

No que se refere a essa capacidade, Bronckart (2006) propõe a escolha da infraestrutura geral de um texto, já que cada gênero é constituído de variantes discursivas e de sequências textuais encaixadas ou justapostas. O professor deve saber escolher essas variantes e sequências conforme as características dos

gêneros, para que os alunos possam compreendê-los. Além disso, a produção de um texto implica a contínua escolha e elaboração dos conteúdos, já que os gêneros se transformam e se organizam quando são enunciados em um momento particular.

A terceira capacidade proposta é a linguístico-discursiva (CLD), relacionada à arquitetura interna do texto, mais precisamente às operações linguísticas que estão implicadas na produção de um texto. Considerando o relato em análise, é possível observar que Diamante discorre sobre o trabalho com as vozes do texto, os mecanismos de textualização e os enunciativos. Por meio dessa prática, a docente busca levar o aluno a compreender quais usos linguísticos são mais adequados para a realização da atividade.

b) Transcrição e análise do relato da professora Safira

O livro utilizado em sala de aula é: português linguagem, de William Cereja e Thereza Cochar. O gênero notícia aparece na unidade 4 (capitulo 1 da unidade). Para trabalharmos o gênero notícia em sala de aula, primeiramente procuro familiarizar os alunos com o gênero, promovo uma sequência de atividades focadas na leitura de diversas notícias; a partir das leituras realizadas procuro identificar se os alunos já conheciam textos parecidos com os quais foram lidos; em um terceiro momento, abro a discussão a respeito da estrutura do gênero; promovo analise dos textos lidos, socializo todas as análises feitas por mim e pelos estudantes. Especificamente, a respeito da atividade do livro didático, que está na página 209 da unidade 4, os alunos, após toda a previa que foi feita a respeito do gênero, os alunos irão ler várias notícias (em jornais e revistas) a respeito de temas atuais para que tenham uma noção do que está acontecendo e começar a produção. Após a primeira produção, fazemos leituras para analisar se o aluno conseguiu produzir, de fato, uma notícia, caso não, procuro novamente familiarizar o aluno com o gênero, quando de fato consigo que o aluno entenda e o texto está pronto passamos para o processo da reescrita. Finalmente, abrimos uma roda de conversa para analisar cada texto produzido e montamos murais com os textos. Vale salientar que toda sequência foi feita depois que o aluno definiu o tema que gostaria de trabalhar que estão nas propostas de produção da página 209 (Transcrição, na íntegra, do relato escrito da professora Safira, 20 de outubro de 2017).

Segundo esse relato, é possível identificar que a professora trabalha com o gênero notícia. Em um primeiro momento, ela familiariza os alunos com o gênero, isso implica dizer que, a princípio, já trabalha as capacidades de ação, referindo-se à adaptação das características do contexto e de seu conteúdo referencial. Esse tipo de capacidade exige que o aluno analise informações para realizar inferências e compreenda a ideia geral ou tema central do texto. Em seguida, a professora faz leituras de diversos textos do gênero trabalhado, isso considera outros contextos de

produção, a análise de informações explícitas do texto, de modo que seja possível fazer inferências para a produção de sentido e significado. Após o trabalho para o desenvolvimento das CA, a professora explora a estrutura do gênero, quando é desenvolvida a CD. Dessa forma, espera-se que o aluno compreenda as características do gênero e seja capaz de se posicionar de acordo com o plano comunicativo, assim como entenda a organização desse gênero, ou seja, quais são suas características, para ser capaz de se posicionar de acordo com o plano comunicativo.

A professora Safira trabalha a progressão das atividades que, segundo Dolz e Schneuwly (2004), envolve definir objetivos de uma sequência de atividades levando-se em conta as capacidades e dificuldades dos alunos. Trata-levando-se de analisar tais capacidades não apenas antes do ensino propriamente dito, mas também durante seu desenvolvimento.

Como relatado, a professora Safira adota o seguinte método: caso o aluno não seja capaz de produzir o gênero solicitado, a professora elabora um novo processo de atividade. Dessa forma, assegura que o discente esteja ciente do gênero abordado em sala de aula para, em seguida, realizar o exercício de reescrita, assim, busca levá-lo à compreensão.

Por meio desse relato, notamos que Safira não explora as CLD, consequentemente, a arquitetura interna do texto não é abordada, assim, a docente se atém mais às operações linguísticas implicadas na produção de um texto.

c) Transcrição e análise do relato da professora Esmeralda

Dados do livro didático: O livro didático utilizado na escola consiste na coleção

‘singular, plural’ dos autores: Balthazar, Figueiredo e Gulart, Editora Moderna.

No que concerne o estudo do gênero reportagem, este está inserido na unidade 2 e capítulo do referido livro. Relato da metodologia utilizada na abordagem do gênero reportagem, a partir da atividade sugerida no livro. A atividade sugerida no material didático está relacionada à pratica de leitura do gênero reportagem. Partindo da relação de sentido entre dois gêneros distintos a partir da abordagem da mesma temática, o livro traz inicialmente uma charge constituída apenas do texto não verbal. Considerando essas elucidações e viabilizando o desenvolvimento e ampliação das habilidades de leitura dos discentes. Promovemos a leitura da charge, utilizando como recurso a ativação do conhecimento prévio dos discentes acerca da temática e do gênero, para isso, levantamos questões norteadoras que propiciaram uma discussão a partir do diálogo questionário. Após esse diálogo pedimos aos discentes que realizassem a atividade de compreensão textual sugerida no material didático. Finalizamos a proposta do livro, comunicamos aos educandos que iriamos realizar a leitura do texto 2, intitulado ‘até onde a mídia

influencia na escolha do gosto musical’ que consiste em uma reportagem, instigando-lhes a perceberem que se tratava de um gênero distinto da charge, porem abordava a mesma temática (Transcrição, na íntegra, do relato escrito da professora Esmeralda, 23 de novembro de 2017).

Segundo o relato, a metodologia utilizada para a abordagem do gênero reportagem baseia-se nas atividades de prática de leitura propostas no material didático. A docente usa a leitura para a ativação dos conhecimentos prévios dos estudantes acerca da temática, com isso, demonstra que sua preocupação primeira está na CA (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004). Tal capacidade, mobilizada pelos conhecimentos de mundo, refere-se à leitura verbal e não verbal, como no exemplo da charge trabalhada no material didático citado. A segunda capacidade de linguagem, a CD, não foi observada no relato, uma vez que Esmeralda não aborda a organização sequencial do texto ou do discurso. O mesmo ocorre com a CLD, mobilizada pelo conhecimento sistêmico (vozes e verbos). Com ênfase no estudo dos itens linguísticos e enunciativos, e nos níveis dos mecanismos de textualização quanto à conexão, coesão nominal e verbal, tal capacidade está igualmente ausente na abordagem da professora.

Conforme Bronckart (2009) assinala, esses mecanismos contribuem para o esclarecimento dos posicionamentos enunciativos assumidos no texto, identificáveis por meio de questionamentos, como, por exemplo: Quais são as vozes que aí se expressam? O que traduzem as diversas avaliações (julgamento, opiniões, sentimentos) sobre alguns aspectos do conteúdo temático? Contudo, observamos a ausência de atividades que tratem da conexão, da coesão nominal e verbal, isto é, dos organizadores textuais (BRONCKART, 2009), cuja conexão marca o discurso no texto. Reconhecemos a necessidade de propor aos alunos atividades que englobassem, por exemplo, os organizadores textuais (conjunções, pronomes, verbos), a fim de levá-los a compreender sua função no gênero textual, entendemos que o desenvolvimento da CD e da CLD não ocorreu de forma satisfatória.

d) Transcrição e análise do relato da professora Rubi

O livro didático utilizado no ano de 2017, na escola já citada tem como título:

‘Singular e Plural: leitura, produção e estudos da linguagem’. Tendo como organizadores Laura de Figueiredo, Marisa Balthasar e Shirley Goulart, o livro apresenta em sua composição a temática que trata do gênero reportagem.

Sendo mostrado já na unidade 2, o assunto vem sendo abordado de forma adequada, uma vez que os textos referentes do gênero são colocados como primeira proposta de leitura e discussão em sala, para só depois abordar as características mais pertinentes do gênero, bem como seu modo de

construção, o que é uma reportagem? Com que objetivo a reportagem é produzida? Para quem ela se dirige? Que adequação linguística é utilizada nessa construção? Dentre outras perguntas norteadoras (Transcrição, na íntegra, do relato escrito da professora Rubi, 23 de novembro de 2017).

Por meio desse relato, notamos que Rubi e Esmeralda utilizam o mesmo livro didático em suas aulas, sobretudo porque ambas lecionam em escolas da rede de ensino estadual da Paraíba. A professora Rubi não esclarece como aborda o ensino de gêneros em suas aulas, apenas descreve o que o próprio livro didático oferece. No conteúdo do livro mencionado no relato, são abordadas as três capacidades de linguagem propostas por Dolz e Schneuwly (2004), tal constatação ancora-se não apenas no relato da professora, mas também no fato de termos analisado o livro didático.

No que diz respeito à CA, destacamos a abordagem do conhecimento prévio dos alunos, de modo a explorar elementos da situação de produção, como quem é o emissor, local de produção, tipo de linguagem, suporte, entre outros. Quanto à CD, que se refere às habilidades de observar os tipos de discursos e de sequências, é possível afirmar que todos os tipos foram mobilizados pelo material didático. Cabe aqui retomar a afirmação de Machado e Guimarães (2009, p. 157), para quem tais capacidades se referem ao “gerenciamento da infraestrutura geral do texto”. Por fim, as CLD dizem respeito às escolhas lexicais, gramaticais e sintáticas presentes no texto, à distribuição de vozes, à construção dos enunciados, ao emprego dos mecanismos de textualização (conexão, coesão nominal e verbal) e modalizações, entre outros aspectos. Como notamos por meio do relato, a professora Rubi não explora essa capacidade.

Pelo que percebemos, o material adotado pela professora permite a realização de um trabalho amplo com as capacidades. Além disso, a docente adota uma abordagem cujo suporte oferece oportunidades para explorar os gêneros em sala de aula. No entanto, cabe destacar que alguns pontos em sua metodologia precisam ser revistos.

e) Transcrição e análise do relato do professor Topázio

Nas atividades referentes à questão 29, trabalhei num primeiro instante a leitura para observar se os discentes entendiam o que a proposta pedia. Em seguida separei a classe em três grupos e observei se a atividade era compatível com a realidade deles. A conclusão foi positiva, pois as atividades

são coerentes com o máximo de exigência para essa turma. Por fim, levei os cadernos para casa, em seguida foi realizada uma correção específica do grupo. Desenvolvi essa prática em três autores (Transcrição, na íntegra, do relato escrito do professor Topázio, 7 de dezembro de 2017).

Conforme relatado, o professor utiliza em suas aulas o caderno do professor, disponibilizado aos docentes da rede de ensino do estado de São Paulo. Em um primeiro momento, ele informa que explora os conhecimentos prévios dos alunos em relação à proposta da atividade, na tentativa de desenvolver a CA. No entanto, notamos que ele se limita a identificar os conhecimentos prévios dos alunos e não explora as características do contexto e o conteúdo referencial. Não faz referência, por exemplo, às situações de uso da linguagem e ao contexto compartilhado pelos falantes, consequentemente, não observa a necessidade de os usuários da língua adaptarem sua produção de linguagem às situações de comunicação e às características do contexto.

Em um segundo momento, o professor separa a classe em três grupos e observa, conforme indica no relato, “se a atividade é compatível com a realidade da turma”. Tal perspectiva de trabalho permite-nos concluir que, na visão do professor, os alunos não apresentam autonomia para realizar as atividades propostas pelo material. Segundo esse docente, as atividades são coerentes com o máximo de exigência para a turma.

De acordo com o relato, a CD e a CLD não foram abordadas pelo professor, isso porque, em sua atuação, não há uma contextualização do gênero, tampouco são exploradas as operações linguísticas implicadas na produção de um texto, como as operações de textualização, de construção de enunciados, as vozes enunciativas e as escolhas lexicais. Dessa forma, a nosso ver, os alunos perdem a oportunidade de ampliar seu conhecimento linguístico e de estabelecer uma comunicação eficiente dos alunos para a aprendizagem da Língua Portuguesa.

f) Transcrição e análise do relato da professora Turmalina

Trabalhar o gênero notícia em sala de aula tem por objetivo estudar alguns recursos linguísticos na análise nas notícias de jornal que contribuam para o entendimento global e promover a progressão discursiva através das análises dos recortes apresentados para a realização de trabalho, o aluno verifica e aprende os recursos linguísticos apresentados e o uso da norma culta, também a coerência e coesão nos textos apresentados na notícia. Com o trabalho de pesquisar notícias em jornais e revistas, livros e recortes o aluno além de trabalhar a leitura verificar como as palavras e orações são colocadas dentro da notícia. Na atividade de fixação apresentar um texto retirado da

folhateen do Jornal Folha de São Paulo. Trata-se de uma carta ao leitor. Foi trabalhado os aspectos do gênero reportagem, para que o aluno percebesse que quem escreve a carta ao leitor são pessoas comuns da sociedade, os leitores do jornal ou da revista que enviam sua carta sobre uma matéria publicada na edição anterior. A partir daí levá-los a refletir sobre o contexto de produção da carta apresentada, para que pudesse entender que se trata de um caderno do jornal destinado ao público adolescente, por isso o uso da linguagem coloquial! (Transcrição, na íntegra, do relato escrito da professora Turmalina, 8 de dezembro de 2017).

Em comparação aos relatos anteriores, neste relato, é possível perceber que a professora Turmalina compreendeu a proposta do questionário desta pesquisa, qual seja, como se dá o trabalho com os gêneros e as capacidades de linguagem desenvolvidas. Em um primeiro momento, ela descreve quais são seus objetivos ao trabalhar com o gênero notícia, em seguida, discorre sobre como o aborda em suas aulas.

Notamos que a primeira capacidade explorada por Turmalina é a CLD, uma vez que ela busca levar os alunos a compreender os elementos linguísticos próprios do gênero reportagem, de modo que eles desenvolvam e aprimorem a leitura e a escrita.

A segunda capacidade, a CD, serve para que a professora promova a progressão discursiva dos alunos. Dessa forma, espera-se que eles identifiquem, percebam e compreendam a estrutura que compõe o gênero reportagem e os elementos necessários para a sua construção.

Um aspecto a ser analisado é o trabalho com a análise linguística. Para realizá-la, o professor tem de ter como ponto básico a concepção de língua como interação, como procedimento metodológico, por meio de atividades epilinguísticas, pois a língua é heterogênea. No nosso caso, notamos que Turmalina toma como base o gênero textual para chegar às unidades linguísticas, considerando a língua como ação interativa entre seus usuários.

A outra capacidade de linguagem que a professora indica explorar é a CA, uma vez que ela informa que trata de aspectos do texto e de seu conteúdo referencial.

Essa capacidade envolve as situações de interação de uso da linguagem no contexto compartilhado pelos falantes, propiciando atividades de entendimento da situação comunicativa envolvida no contexto de produção, como por exemplo: quem fala/escreve? para quem fala/escreve? para que fala/escreve?.

O uso concomitante das três capacidades de linguagem permite a produção de significado e sentido nas interações de comunicação e resulta em uma leitura como prática social, ou seja, prática consciente de produção de sentidos e interação social.

No Quadro 8, a seguir, elencamos as operações de linguagem identificadas nos relatos dos professores entrevistados.

Quadro 8 – Operações de linguagem

Capacidade de linguagem Capacidade de ação Capacidade discursiva Capacidade linguístico-discursiva Aptidões requeridas para o

domínio do ensino dos gêneros textuais com base nas capacidades de linguagem

Contextualização do gênero e compreensão da intenção de produção

Compreensão da organização do gênero,

suas características, estrutura e regras de desenvolvimento

Conhecimento dos mecanismos linguísticos adequados para o ensino

dos gêneros textuais Diamante

Safira Esmeralda Rubi Topázio Turmalina

Fonte: elaborado pela autora.

Conforme dados presentes no quadro 8, as professoras Diamante e Turmalina adotam as três capacidades de linguagem, o que implica dizer que a articulação entre os três níveis proporciona a mobilização dos esquemas de utilização do gênero. As capacidades de ação e a capacidade discursiva são as mais favorecidas nos relatos dos professores.

Em suma, considerando as informações dispostas nos quadros 1 a 8, apresentados anteriormente, observamos que há certa preocupação por parte dos professores em adotar as orientações curriculares educacionais. Nesse âmbito, os gêneros textuais constituem objetos de ensino que possibilitam a aprendizagem da língua orientada a aspectos comunicativos e interacionais, o que vai além do ensino centrado em aspectos formais e estruturais, que nem sempre conduzem o aluno ao conhecimento do funcionamento da língua nas variadas esferas de atividade.

Observamos que há uma articulação verdadeiramente eficaz entre as propostas de orientação curricular e as atividades desenvolvidas pelos professores pesquisados em relação ao ensino de língua e ao trabalho com o texto. De acordo com esses docentes, na prática, nos planos de ensino, os procedimentos didáticos-pedagógicos acabam por direcionar o ensino-aprendizagem para a exploração de aspectos interacionistas, como, por exemplo, o contexto sócio-histórico-cultural. É pela força da linguagem que o sujeito se apropria ativamente do conhecimento social e cultural do meio em que está inserido

As concepções dos professores sobre os gêneros textuais apresentadas neste trabalho indicam que eles detêm o conhecimento sócio-histórico, cultural e discursivo da língua, e por isso entendem que os gêneros são atividades sociocomunicativas e interativas situadas historicamente. Assim, os gêneros são tratados como instrumentos enriquecidos de suas funções comunicativas reais e como materiais adequados para a exploração da estrutura interna da língua.

Se levarmos em consideração que o ensino dos gêneros na esfera escolar tem como uma das razões servir para desenvolver diversas capacidades de linguagens aos alunos, ao categorizarmos as atividades propostas pelos professores, percebemos que eles desenvolvem as capacidades necessárias para o possível domínio do gênero como objeto de ensino.

Ainda que em alguns casos relatados, as capacidades não tenham sido exploradas plenamente ou aparecem de forma bastante parcial, o projeto didático autoral de cada professor contempla de forma plena as capacidades de linguagem, que consideramos importantes para o ensino dos gêneros textuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta dissertação, de maneira a alcançarmos o objetivo geral, qual seja, investigar o trabalho dos professores de Língua Portuguesa com os gêneros textuais, realizamos o levantamento de teorias que justificassem a importância de se trabalhar com os gêneros em sala de aula. Além disso, fundamentamo-nos nos PCNs, que orientam de forma clara a introdução dos gêneros na escola como base não apenas para o estudo linguístico, mas também para o desenvolvimento, nos alunos, da percepção de linguagem e de língua como intimamente relacionadas com o contexto socio-histórico, afinal, não produzimos textos dissociados de uma situação comunicativa. Tal visão possibilita levar o aluno a compreender que os textos, materializados na forma de gêneros, são construtos por meio dos quais é possível socialmente nas mais variadas esferas de atividades.

Nessa direção, entendemos os gêneros como práticas socias, assim, o trabalho com os gêneros permite ao professor ensinar a língua em seus diversos usos no cotidiano. Desse modo, vemos os gêneros como fontes de material linguístico autêntico que permite compreender a língua nas formas como ela é efetivamente usada nas situações comunicativas.

Destacamos que essa visão é proveniente das orientações teóricas de Bakhtin (2006 [1929]), notadamente as concepções de dialogismo e de linguagem como construto socio-histórico, e da abordagem de Bronckart (1999) acerca do interacionismo sociodiscursivo com atenção voltada para a didática de língua materna.

Embora esse autor não defenda os gêneros textuais como objeto de análise, propõe a elaboração de sequências didáticas baseadas nos gêneros textuais. Dolz e Schneuwly (2004) também nos permitiram ampliar nossas reflexões acerca do ensino de gêneros, em especial, em relação ao seu planejamento.

Quanto aos objetivos específicos, quais sejam, caracterizar a formação e a experiência profissional de cada professor investigado; identificar o planejamento individual diante do trabalho com os gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa observando cada prática pedagógica; verificar quais capacidades de linguagem são trabalhadas nas aulas de Língua Portuguesa ao longo do processo de didatização do gênero reportagem/notícia, por meio de relatos de professores sobre o trabalho que realizam em sala de aula, também acreditamos tê-los alcançado.

No documento 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 17 (páginas 42-61)

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