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ANÁLISE DOS RESULTADOS TIC EDUCAÇÃO 2017

No documento ICT IN EDUCATION (páginas 127-130)

APRESENTAÇÃO

Em 2009, o pesquisador americano Henry Jenkins conduziu um estudo juntamente com outros autores para a The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, no qual ele apresenta os principais elementos que constituem o conceito de cultura participativa, tais como: maior liberdade de expressão artística e de engajamento cívico, a criação e o compartilhamento de conhecimento, a troca de experiências e aprendizados, o respeito e a atribuição de importância às ideias dos outros membros da rede, entre outros (Jenkins, Purushotma, Weigel, Clinton, &

Robison, 2009).

Ao mesmo tempo que enaltece os benefícios trazidos pela presença de crianças e adolescentes na cultura participativa, o pesquisador chama a atenção para a necessidade de intervenções por parte de formuladores de políticas públicas e da comunidade educacional para que os jovens tenham acesso às habilidades e experiências necessárias para que se tornem atuantes na sociedade. Também é importante que estejam cientes das formas pelas quais a mídia molda suas percepções e, também, éticos, no que concerne à sua atuação em comunidades e na influência que exercem sobre outros membros. O autor ressalta a importância de os agentes políticos e educacionais buscarem estratégias para evitar a ocorrência de três barreiras à experiência dos jovens na cultura participativa:

• A lacuna de participação: garantir que haja maior equidade nas oportunidades, experiências, habilidades e conhecimentos à disposição dos jovens para a sua plena participação na sociedade;

• O problema da transparência: auxiliar os jovens a reconhecer as formas como as mídias se articulam para formar a percepção de mundo de seus usuários;

• O desafio da ética: as novas formas de socialização demandam preparo para que os jovens possam se posicionar enquanto participantes de comunidades e formadores de opinião.

Em meio a esse debate, a pesquisa TIC Educação chega à sua oitava edição, promovendo um ciclo de debates e discussões a respeito do uso de tecnologias no processo educativo. No âmbito nacional, a área de educação passa por uma transição entre políticas públicas em diversos âmbitos, como uma nova política nacional de formação de professores, a definição de

PESQUISA TIC EDUCAÇÃO 2017 ANÁLISE DOS RESULTADOS

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uma base curricular unificada para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio e a implementação de uma nova política de integração das tecnologias nas escolas de Educação Básica.

O Programa de Inovação Educação Conectada (Piec), lançado em 2017 e que tem como principal objetivo “apoiar a universalização do acesso à Internet em alta velocidade e fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais na Educação Básica”(Decreto n. 9.204, 2017) é parte deste contexto. A política integra um conjunto de ações do Ministério da Educação (MEC) para atender às metas do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 (Lei n. 13.005, 2014). As ações do Piec estão alinhadas principalmente com a meta 7 do PNE, na qual são previstas estratégias para que o país consiga aumentar as médias nacionais no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) até o ano de 2021.

Segundo o documento que resume a proposta conceitual do programa, o seu enfoque não está apenas no aprimoramento da infraestrutura de tecnologia das escolas, mas especialmente no desenvolvimento de práticas pedagógicas voltadas para a inovação nas salas de aula (Ministério da Educação [MEC], 2017). Inspirado, em especial, na experiência compartilhada pelo Ministério da Educação da Holanda, a partir do projeto Four in Balance (Kennisnet, 2015), o programa visa ofertar às escolas apoio para o desenvolvimento de ações em quatro dimensões principais: visão, competência, recursos educacionais e conectividade.

Entre as quatro dimensões, destaca-se a conectividade, que ainda é um dos principais desafios ao uso das tecnologias no contexto escolar. Ainda que as tecnologias estejam praticamente disseminadas entre a população, especialmente pelo uso de dispositivos móveis, e que haja um histórico de quase três décadas de políticas nacionais e regionais de incentivo à adoção desses recursos nas escolas, o debate sobre a diminuição das desigualdades de acesso ainda permanece bastante presente e premente na agenda política educacional, especialmente no que diz respeito às desigualdades regionais e socioeconômicas.1

No entanto, a promoção do acesso qualitativo e equitativo às tecnologias nas escolas não diz respeito apenas à disponibilidade de dispositivos e redes. Ela abarca também as oportunidades oferecidas aos alunos de participação nas dinâmicas sociais, culturais, políticas e econômicas por meio das tecnologias, assim como a oferta de subsídios para que os professores estejam preparados para apoiar os estudantes na compreensão e na apropriação de tais dinâmicas.

Ao longo de sua série histórica, a pesquisa TIC Educação tem se dedicado a monitorar alguns desses aspectos, especialmente os avanços, os desafios e as oportunidades de acesso, de uso e de apropriação das tecnologias no processo educativo.

Em 2017, a pesquisa traz resultados de novos indicadores coletados junto à comunidade escolar que visam ampliar ainda mais o escopo do estudo, trazendo outros pontos de vista a respeito das formas pelas quais as tecnologias e a aprendizagem se relacionam, especialmente para além dos espaços e tempos escolares, assim como da ação institucionalizada das políticas educacionais.

1 Dos dez princípios que compõem o programa, três deles mencionam a preocupação com a qualidade e a equidade de acesso às tecnologias: “II – equidade de condições entre as escolas públicas da Educação Básica para uso pedagógico da tecnologia”, “III – promoção do acesso à inovação e à tecnologia em escolas situadas em regiões de maior vulnerabilidade socioeconômica e baixo desempenho em indicadores educacionais” e “VII – acesso à Internet com qualidade e velocidade compatíveis com as necessidades de uso pedagógico dos professores e alunos” (Decreto n. 9.204, 2017).

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Os resultados evidenciam, por exemplo, que o fato de as escolas não possuírem estrutura de tecnologia disponível para alunos e professores, ou de haver uma cultura escolar mais restritiva em termos de uso desses recursos, não significa que as tecnologias não estejam presentes nos espaços de ensino e aprendizagem, inclusive influenciando o cotidiano e o currículo das escolas.

Os dados sobre o uso de recursos tecnológicos e sobre as atividades desenvolvidas por alunos e professores dentro e fora das escolas são exemplos que corroboram essa reflexão. O mesmo acontece com o percentual de professores que já auxiliaram algum aluno a enfrentar situações incômodas ocorridas na Internet, o que demonstra o papel da comunidade educacional no apoio às crianças e aos adolescentes na vivência de experiências on-line. Trata-se também da absorção pela escola dos debates introduzidos pela comunidade no ambiente de aprendizagem.

Outro ponto de vista trazido pela pesquisa TIC Educação 2017 refere-se à coleta de dados em escolas localizadas em áreas rurais. As informações sinalizam para a necessidade de se atentar para as condições estruturais e pedagógicas disponíveis para professores e alunos, inclusive para além do uso das tecnologias. As respostas coletadas junto aos responsáveis pelas instituições evidenciam que elementos básicos, como saneamento, fornecimento de energia e transporte dos alunos, são ainda desafios a serem superados. Em contrapartida, os dados mostram também a importância que as escolas desempenham em suas comunidades enquanto local de acesso às tecnologias.

Com base nessa seleção de indicadores, este relatório de análise está organizado em duas grandes seções, que correspondem aos dados coletados em escolas localizadas em áreas urbanas e aqueles coletados em escolas localizadas em áreas rurais.

AVANÇOS E DESAFIOS DO USO DAS

No documento ICT IN EDUCATION (páginas 127-130)