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APRENDER COM AS EXPERIÊNCIAS DOS EDUCADORES DA REDE ANÍSIO TEIXEIRA

No documento ICT IN EDUCATION (páginas 49-53)

compartilhamento de conhecimentos. Juntamente com a coordenação geral, os educadores são responsáveis por gerir e definir coletivamente o formato e o planejamento das ações e dos produtos. Todas as ações e produções são avaliadas e criticadas coletivamente.

Trata-se de uma proposta técnico-pedagógica de articulação e convergência entre formação, produção e compartilhamento de mídias, que tem como base técnica o uso de software livres e de licenças livres. Busca estimular a participação e a construção de vínculos entre professores e estudantes, por meio de processos educacionais lúdicos, autorais e cooperativos. Desta forma, tenta estabelecer um diálogo mais equilibrado entre os aspectos da cultura local e da cultura global na construção dos conhecimentos, que podem passar a ser produzidos/entendidos de maneira mais crítica e contextualizada pelos sujeitos da comunidade escolar (Instituto Anísio Teixeira, 2016b).

APRENDER COM AS EXPERIÊNCIAS DOS EDUCADORES DA REDE ANÍSIO TEIXEIRA

A partir da diversidade das experiências vivenciadas, Wanderley (2017) buscou compreender como os princípios de criticidade, contextualização e colaboração estão sendo apropriados pelos educadores da Rede Anísio Teixeira nos processos de formação, gestão, produção e compartilhamento de mídias e tecnologias educacionais livres desenvolvidos pelo programa.

O princípio da criticidade foi considerado como elemento central da lógica de funcionamento colaborativo da rede. Nesse sentido, a capacidade de problematização, de se autocriticar, de criticar o trabalho de outros e de receber críticas foi colocada como uma condição fundamental para o desenvolvimento da gestão participativa e da produção compartilhada.

Entretanto, o reconhecimento da crítica como parte integrante dos processos é percebida por alguns educadores como um fator de restrição da liberdade individual proposta pelo programa.

Ao mesmo tempo que os educadores percebiam as críticas como contribuições importantes para a qualificação do seu trabalho, eles também as recebiam como ameaças à sua autonomia.

Algumas vezes se sentiam incomodados ao terem suas produções criticadas e as suas decisões questionadas. A depender de quem fosse o autor da crítica e da forma como ela fosse feita, isso poderia provocar diferentes tipos de reações naqueles que tinham seus trabalhos criticados.

Pode-se observar que entre os educadores que conseguiram construir vínculos mais fortes, seja por afinidades pessoais ou profissionais, os processos de crítica coletiva tenderam a ocorrer de

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forma menos tensa e mais produtiva. Isto influenciou diretamente na constituição dos grupos de trabalho que eram responsáveis por gerir os projetos da Rede Anísio Teixeira. Essa relação com a criticidade foi colocada como um dos principais desafios a serem superados pelos educadores no programa, por repercutir de forma direta nas suas dinâmicas de produção e de colaboração.

Alguns educadores observaram nas suas experiências que a proposta de trabalho colaborativo pretendido pela Rede Anísio Teixeira implica em mudanças de hábitos bastante consolidados socialmente, gerando algumas dificuldades em se relacionar nesse novo ambiente, pois ele exige um maior nível de engajamento de todos nos processos. Esses participantes se queixaram do excesso de autonomia, de democracia e de liberdade vivenciado no programa, e consideraram necessário maior acompanhamento, controle e hierarquia por parte da gestão. Já para outros educadores, a proposta de colaboração, motivada pela afirmação do potencial dos professores e dos estudantes das escolas públicas, é um dos grandes diferenciais da experiência vivenciada por eles na rede. Mesmo reconhecendo aspectos que precisam ser melhorados, afirmaram que atuar num contexto de mais autonomia, democracia e liberdade pode contribuir para uma maior qualificação do trabalho e das relações, fortalecendo o pertencimento, o comprometimento e a construção de vínculos entre eles, e deles com o programa.

Os educadores relataram o quanto aprenderam a partir das suas experiências na Rede Anísio Teixeira. Eles mencionaram conhecimentos relativos a questões técnicas, pedagógicas, de gestão, de relação humana e de cooperação; conhecimentos e práticas que eles levaram para outros contextos, outras dimensões de suas vidas. Pesquisar e aprender com as experiências (Macedo, 2015) se apresentou como uma grande potencialidade e, ao mesmo tempo, como um grande desafio da pesquisa e do programa. Ao colocar a experiência como elemento central da aprendizagem, os processos educativos se pretendem críticos e contextualizados, porque refletem sobre suas práticas, as problematizam, consideram os diferentes pontos de vista, respeitam e valorizam os saberes e a cultura dos sujeitos envolvidos. Ao garantir a participação efetiva desses sujeitos nas produções e nas tomadas de decisão, tais processos se pretendem colaborativos, contribuindo para a vivência de relações mais compreensivas e possibilitando a construção de outros tipos de vínculos e aprendizados.

Apesar de ser um programa de difusão tecnológica, pode-se observar, a partir das experiências dos educadores, que a tecnologia não é tratada na Rede Anísio Teixeira como um fim em si, mas como uma linguagem constituída de espaços de comunicações e de relações, um campo de desafios e potencialidades, de oportunidades e ameaças, podendo ser apropriada de diferentes formas nos processos educativos. A proposta desenvolvida pelo programa busca abranger as relações humanas que se estabelecem em torno das apropriações desses dispositivos de produção e de difusão de conhecimentos, por meio do desenvolvimento de estratégias metodológicas que fomentam processos críticos, contextualizados e colaborativos de ensino e de aprendizagem; que valorizam a potência da comunidade escolar; que estimulam professores e estudantes a respeitar e aprender com a diversidade de suas experiências e referências culturais; que garantem o acesso, a liberdade de expressão, a autonomia e a privacidade no uso das tecnologias; que criam vínculos e promovem transformações na vida das pessoas. Apropriar-se das tecnologias, nesse sentido, se coloca como um ato político de afirmação social, histórica e cultural (Wanderley, 2017).

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REFERÊNCIAS

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