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ESCOLAS LOCALIZADAS EM ÁREAS RURAIS

No documento ICT IN EDUCATION (páginas 149-154)

TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

A coleta de dados em escolas localizadas em áreas rurais é parte das constantes iniciativas do projeto TIC Educação para ampliar o escopo de investigação da pesquisa, produzindo um quadro cada vez mais completo sobre a relação entre tecnologia e Educação Básica.

As escolas localizadas em áreas rurais estão inseridas em um conceito mais amplo, que diz respeito às escolas do campo. Compreende-se como escolas do campo as instituições situadas na área rural, de acordo com os parâmetros definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou as escolas que, mesmo situadas em áreas urbanas, atendam predominantemente a populações do campo (Decreto n. 7.352, 2010). Por conta do plano amostral elaborado para a TIC Educação, que prevê a coleta de dados apenas nas escolas do campo que estejam situadas na área rural, foi adotada a nomenclatura “escolas localizadas em áreas rurais” para se referir às instituições que fazem parte do estudo.

Os dados coletados pela pesquisa visam compreender o cenário atual dessas instituições, considerando sua infraestrutura geral e de acesso às tecnologias, mas também a evidenciar as especificidades e complexidades em que o contexto educacional rural está inserido.

O movimento em torno da educação do campo busca chamar a atenção para as formas de ensinar, de lidar com o conhecimento, de compreender as relações sociais estabelecidas dentro da instituição e em seu entorno, com ênfase no vínculo forte que existe entre escola e comunidade nessas localidades (Molina & Freitas, 2011). Nesse sentido, a pesquisa TIC Educação, no âmbito da abordagem da educação do campo, também tem como objetivo proporcionar subsídios para aprofundar o debate em torno das políticas públicas relacionadas à ampliação de oportunidades de participação social, cultural, política e econômica para tais populações, por meio do mapeamento da disseminação do uso das tecnologias.

ACESSO E USO DAS TECNOLOGIAS NAS ESCOLAS

Uma vez que nem todas as escolas contam com um gestor escolar alocado na instituição, para a realização das entrevistas, a pesquisa TIC Educação em áreas rurais considera como respondentes qualificados os responsáveis pelas instituições de ensino. Nesta primeira edição da pesquisa, a maior parte desses profissionais ocupava cargos de direção escolar (88%), mas também foram entrevistados supervisores de ensino (4%) e outros responsáveis alocados nas secretarias de Educação (3%).

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Segundo os responsáveis, em 2017, apenas 43% das escolas possuíam computador de mesa em funcionamento, 34% possuíam computador portátil e 4% possuíam tablet. Mas uma análise mais aprofundada dos percentuais mostra que os desafios são ainda maiores quando se avaliam os dados de uso pedagógico. Ainda que haja computadores nas escolas, o seu uso nem sempre está disponível para os alunos. Apenas 22% das escolas possuíam computadores de mesa disponíveis para a utilização dos estudantes, 13% possuíam computadores portáteis e 2%, tablet. Nem todas as escolas contavam, em seu espaço físico, com sala para a coordenação, sala dos professores, biblioteca, laboratório, entre outros, mas quase a totalidade delas possuía sala de aula. No entanto, enquanto 23% das escolas possuíam computador de mesa instalado na sala da coordenação pedagógica, apenas 3% contavam com um dispositivo na sala de aula.

Em 2017, 36% das escolas localizadas em áreas rurais possuíam acesso à Internet, ou melhor, segundo o padrão adotado para as análises realizadas no âmbito do projeto TIC Educação, possuíam ao menos um computador (de mesa, portátil ou tablet) com acesso à Internet. Tais porcentagens apresentam diferenças expressivas entre as regiões administrativas, conforme mostra o Gráfico 13.

GRÁFICO 13

ESCOLAS RURAIS COM ACESSO À INTERNET, POR REGIÃO ADMINISTRATIVA (2017) Total de escolas localizadas em áreas rurais (%)

100

Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste Sul

18

73

Com relação aos espaços de uso pedagógico e administrativo, havia disponibilidade de acesso à Internet em maior proporção na sala da coordenação ou direção (57%) e na sala dos professores ou de reunião (43%). Além disso, em 35% das escolas a Internet estava disponível no laboratório de informática e, em 24%, na biblioteca ou sala de estudos para os alunos. Segundo os diretores ou responsáveis, apenas 22% do total de escolas rurais possuíam um laboratório de informática em 2017, sendo que em 16% havia computadores de mesa instalados.

Destaca-se que 46% das escolas com acesso à Internet dispunham de rede na sala de aula.

Possivelmente, isso se deve ao fato de o espaço físico dessas escolas ser mais reduzido, o que acaba por permitir que o acesso à Internet se torne mais distribuído entre os ambientes da

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instituição. Soma-se a isso que 69% das escolas com acesso à Internet contavam com rede sem fio. Em 28% delas, o acesso era livre ou com senha que permitia o acesso aos alunos. Outro dado relevante é que, segundo 26% dos diretores ou responsáveis pela escola, os professores utilizavam notebook e tablet na sala de aula.

Entretanto, conforme indica o Gráfico 14, a velocidade de conexão à Internet ainda era um dos grandes desafios ao uso das tecnologias por toda a comunidade escolar em áreas rurais:

61% das escolas possuíam velocidade de até 3 Mbps, sendo que, destas, 16% declararam velocidades inferiores a 1 Mbps.

GRÁFICO 14

ESCOLAS RURAIS, POR VELOCIDADE DA PRINCIPAL CONEXÃO À INTERNET (2017) Total de escolas localizadas em áreas rurais com acesso à Internet (%)

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

ATÉ 999 KBPS DE 1 A 2 MBPS DE 3 A 4 MBPS

DE 5 A 10 MBPS 11 MBPS OU MAIS NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

16 45 6 7 2 23

2017

Segundo 48% dos diretores ou responsáveis pelas instituições, a falta de infraestrutura de acesso à Internet na região onde se localiza a escola foi um dos motivos pelos quais a escola não utilizou a rede nos 12 meses anteriores à realização da pesquisa – percentual que foi de 62% entre os responsáveis de escolas localizadas na região Norte. Outro motivo recorrente para a não utilização da Internet foi o alto custo de conexão, citado por 28% dos diretores ou responsáveis.

Diante desse contexto de acesso à Internet, foi acrescentada uma questão específica para as escolas localizadas em áreas rurais que não possuíam computadores em funcionamento, assim como para aquelas onde havia computadores em funcionamento, mas eles não estavam conectados à rede. A questão visava investigar a possibilidade de que o acesso à Internet nessas instituições pudesse ser realizado por meio de outros equipamentos. Como resultado, essa investigação específica trouxe que 3% das escolas localizadas em áreas rurais acessaram a Internet por outros dispositivos, grande parte delas por meio do telefone celular.

Nas escolas que não possuíam acesso a dispositivos e redes, ou quando a disponibilidade de acesso ainda era limitada, em alguns casos, a comunidade escolar dispunha de suas próprias formas de acesso e as utilizavam na instituição. O uso do celular é um dos melhores exemplos dessa afirmação: 48% dos diretores e responsáveis declararam utilizar o dispositivo para a realização de atividades administrativas, sendo que, em 42% dos casos, os celulares eram pessoais, não custeados pela escola. O Gráfico 15 mostra que, entre as atividades administrativas realizadas com o dispositivo, destacaram-se: comunicar-se com a Secretaria de Educação (44%), comunicar-se com os pais dos alunos (39%) e acessar programas de gestão escolar (34%).

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GRÁFICO 15

ESCOLAS RURAIS, POR ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS REALIZADAS COM O CELULAR (2017) Total de escolas localizadas em áreas rurais (%)

100 Acessar páginas ou sites da Internet Acessar redes sociais Acessar programas de gestão escolar Enviar mensagens de texto SMS Enviar mensagem por aplicativos Comunicar-se com os pais dos alunos Comunicar-se com a Secretaria de Educação

Ainda sobre as particularidades do acesso e uso da Internet nas escolas localizadas em áreas rurais, a pesquisa TIC Educação 2017 aponta que 46% das instituições disponibilizavam acesso a computadores e à Internet da escola para a comunidade e os familiares dos alunos (Gráfico 16). Um olhar mais aprofundado para esses dados revela que as regiões administrativas com os menores percentuais de acesso à Internet nas escolas foram aquelas com os maiores percentuais de compartilhamento do acesso com a comunidade.

GRÁFICO 16

ESCOLAS RURAIS, POR UTILIZAÇÃO DOS COMPUTADORES E DA INTERNET PELA COMUNIDADE, POR REGIÃO ADMINISTRATIVA (2017)

Total de escolas localizadas em áreas rurais (%) 100

TOTAL Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste Sul

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A PERCEPÇÃO DOS GESTORES ESCOLARES SOBRE O USO DAS TECNOLOGIAS

Devido às especificidades do segmento estudado, em 2017, a pesquisa investigou também as percepções dos diretores e responsáveis em relação a barreiras mais amplas e estruturais existentes nas escolas para o desenvolvimento de atividades de ensino e aprendizagem.

Embora se reconheça a importância do uso das tecnologias tanto para o processo de ensino e aprendizagem como para a gestão escolar, uma maior proporção de diretores e responsáveis pelas escolas estavam preocupados com aspectos mais elementares para o atendimento dos alunos e professores nas dependências das instituições. A TIC Educação 2017 revela que 33%

dos responsáveis pelas escolas rurais declararam que é preciso melhorar a infraestrutura básica da instituição, como saneamento, rede elétrica ou rede de água. Em seguida, o item “Ampliar o espaço físico da escola” foi citado por 21% dos entrevistados (Gráfico 17).

GRÁFICO 17

RESPONSÁVEIS PELA ESCOLA, POR PERCEPÇÃO SOBRE AS AÇÕES PRIORITÁRIAS PARA MELHORAR AS CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO DA ESCOLA (2017)

Total de responsáveis por escolas localizadas em áreas rurais (%)

100 Garantir a manutenção de equipamentos, como TV e aparelho de som Garantir a manutenção dos computadores Investir em segurança geral da escola Aumentar a velocidade de acesso à Internet Melhorar a estrutura do laboratório de informática Aumentar o número de computadores conectados à Internet Ampliar o espaço físico da escola Melhorar a infraestrutura básica da escola, como saneamento, rede elétrica ou rede de água

Tais dados evidenciam que o êxito das políticas públicas de tecnologia no que se refere às escolas localizadas em áreas rurais depende de diversos fatores para além do aumento do número de computadores disponíveis para os alunos e da ampliação da cobertura de conexão à Internet nessas áreas.

Outro fator de grande relevância está na valorização do trabalho do professor. Segundo o Censo Escolar 2017 (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira [Inep], 2018), 15,8% dos professores trabalham em escolas localizadas em áreas rurais.

O levantamento de dados realizado pela pesquisa TIC Educação constatou que 84% dos estabelecimentos de ensino contavam com até 15 docentes.

A ampliação da oferta de cursos de formação continuada para a melhoria das práticas de ensino e aprendizagem na escola é considerada uma ação prioritária por 39% dos diretores e responsáveis pelas instituições, juntamente com o desenvolvimento de novas práticas de ensino

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que envolvam o uso de computador e Internet (36%), e do desenvolvimento de programas de capacitação dos professores (20%). Acerca do tema da qualificação profissional, para 54% dos diretores e responsáveis pelas escolas, a falta de capacitação em geral dos professores dificulta muito o desenvolvimento das atividades de ensino e aprendizagem, e 66% declararam que a falta de capacitação dos professores para o uso da Internet dificulta muito o uso da rede para fins pedagógicos.

A participação de professores em programas de capacitação para o uso de computador e Internet em atividades com os alunos, nos 12 meses anteriores à realização da pesquisa, ocorreu em apenas 13% das escolas rurais, sendo que, na maior parte dos estabelecimentos, os programas de capacitação foram implementados e mantidos pelo governo municipal (10%).

Para além das dificuldades para o desenvolvimento das atividades administrativas e pedagógicas, os dados levam à reflexão sobre os impactos de tais condições de funcionamento das escolas na educação de crianças e adolescentes, que encontram nelas não apenas formas de acesso à informação e ao saber, mas um lugar de construção de identidade sociocultural. Sá, Molina e Barbosa (2011) chamam a atenção para o fato de a educação do campo estar muito ligada à concepção de uma juventude do campo, cujas especificidades devem ser consideradas.

A construção do projeto político pedagógico de formação desses jovens mantém um vínculo bastante estreito com a reflexão sobre as condições de reprodução sociocultural da economia camponesa no contexto da vida rural brasileira. As autoras defendem que a educação do campo deve ser pensada como um processo social de formação humana desses sujeitos, de forma a ser uma referência para essa juventude.

Em consonância com essa linha de pensamento, Belusso e Pontarolo (2017) ressaltam o papel desempenhado pelas tecnologias para fortalecer as relações sociais, as trocas e os conhecimentos da população do campo, proporcionados pela experiência com os meios digitais. Assim, segundo os autores, a falta de acesso às tecnologias de informação e comunicação nas escolas rurais dificulta a comunicação dos estabelecimentos com os órgãos competentes de educação e com a sociedade, mas, acima de tudo, também impossibilita a disseminação dos produtos culturais e educacionais promovidos pela comunidade escolar, bem como das estratégias utilizadas para fortalecer o seu território.

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