• Nenhum resultado encontrado

Análise dos volumes residuais: importância e causas

4. METODOLOGIA

5.2 Processo Laboratório de Compatibilidade

5.2.7 Processo – Transfusão

5.2.7.3 Análise dos volumes residuais: importância e causas

Na análise do volume residual, que é o volume não transfundido que permanece no conjunto B-R, a causa comum a todos os conjuntos de amostras avaliadas e que justifica as diferenças encontradas é o momento de interrupção da transfusão. Parte desse volume

permanece na bolsa e parte no equipo de transfusão. A importância desse volume está relacionada ao volume inicial e o que representa para a terapia do paciente.

A média dos volumes iniciais das unidades de CH foi 298 mL, das unidade de CP foi 262 mL e das unidades de PL foi 237mL. A capacidade em volume do equipo de transfusão é de 16 mL. Considerando-se a densidade de cada hemocomponente, o volume residual referente ao equipo cheio corresponde a 14,7 mL de CH, 15,4 mL de CP e 15,5 mL de PL. Assim, considerando-se as médias dos volumes iniciais de cada tipo de Hc, o volume residual do equipo cheio corresponde a 4,9% do volume inicial médio de CH, 5,8% do volume inicial médio de CP e 6,5% do volume inicial médio de PL.

Para avaliar a importância destes volumes residuais para o tratamento do paciente é necessário verificar o que estes significam. A indicação de transfusão de hemocomponentes baseia-se no diagnóstico, nas condições clínicas do paciente, nos resultados de exames laboratoriais e depende da avaliação criteriosa e individualizada feita pelo profissional médico envolvido com o tratamento e que vai indicar a transfusão. Espera-se que uma unidade de CH aumente em até 1 g Hemoglobina/dL de sangue do paciente (Hb/dL), entre outros benefícios relacionados ao tratamento com a transfusão de CH (MS, 2009).

Baseando-se nas normas vigentes (MS, 2014d) foi definido pelo LCQ do Hemocentro que a quantidade média de Hemoglobina (Hb) em cada bolsa de CH é de 60 g.

Neste estudo a média do volume inicial das unidades de CH transfundidas foi de 298 mL. Se cada unidade tem 60 g de Hb, cada mL tem 0,2 g de Hb. Considerando-se o valor 0,2 g de Hb como referência, que o volume residual máximo desprezado nas B-R de CH analisadas foi 33,4 mL, e que a média de volume residual foi de 14,5mL, conclui-se que a quantidade máxima de Hb que não foi infundida foi 6,68 g Hb e a média foi 2,9 g Hb.

Espera-se que a transfusão de uma unidade de CH com 60gHb/dL aumente em 1g HB/dL de sangue do receptor (MS, 2009). A quantidade máxima não transfundida, 33,4 mL com 6,68gHb aumentaria 0,13 gHb/dL no sangue do receptor, o que corresponde a 10% do resultado esperado.

A transfusão de CP é indicada nos casos de deficiência severa destas células e para o controle de sangramentos, e a transfusão de PL é indicada nos casos de distúrbios de coagulação. A transfusão destes dois hemocomponentes é feita tantas vezes quantas forem

necessárias, até que o paciente recupere as condições clínicas a ponto de não necessitar mais do suporte transfusional destes Hc (MS, 2009).

No âmbito deste trabalho é impossível avaliar se os volumes residuais identificados neste estudo são significativos ou não para o sucesso da terapia do paciente. Para isto faz-se necessário a realização de estudos complementares.

Toda transfusão de hemocomponentes tem indicações específicas, portanto o procedimento transfusional deve ser realizado com todo o rigor técnico para garantir o máximo aproveitamento de cada unidade transfundida.

O ideal é considerar que se trata da infusão de um produto terapêutico e que cada gota é valiosa para o paciente, assim como é valiosa cada miligrama de um antibiótico ou cada mL de um quimioterápico.

No entanto é importante reconhecer as dificuldades para que ocorra a transfusão completa dos Hc.

Na inspeção visual das B-R de CH e de CP observou-se que havia resíduo destes hemocomponentes aderidos na face interna de todas unidades avaliadas, em proporções aparentemente maiores do que nas B-R de PL. Isto provavelmente se deve ao fato dos CH e das CP serem mais densos que o PL e da tendência das células de hemácias e de plaquetas se aderirem à superfície da bolsa.

Outro aspecto relacionado à causa do volume residual refere-se ao momento de interrupção da transfusão, que ocorre de acordo com a orientação feita em treinamento e que define que o final da transfusão é o momento em que cessa o gotejamento do hemocomponente na câmara dupla do equipo de transfusão. Quando a transfusão é interrompida no final do gotejamento, o volume residual na bolsa é o que permanece aderido na superfície interna, e observa-se sobra de hemocomponente desde a câmara dupla até a extremidade final do equipo, que corresponde a aproximadamente 16 mL, sendo 14,7 mL para os CH, 15,4 mL para os CP e 15,5 mL para os PL.

Se a transfusão não é interrompida no momento em que cessa o gotejamento, a infusão ocorre normalmente até o momento em que a pressão de infusão é maior que a pressão venosa do paciente. A partir do momento em que a pressão venosa do paciente é maior ou igual à pressão exercida pelo fluxo do sangue infundido, este tende a refluir no equipo e a infusão é naturalmente interrompida.

No Centro Cirúrgico a transfusão é acompanhada pelo médico anestesista, cuja função é manter a sedação e a hemodinâmica do paciente estáveis. As bolsas de hemocomponentes são adaptadas em aparelhos que exercem pressão sobre as mesmas para que o volume seja infundido rapidamente. Nos casos de necessidade de grande volume e da transfusão de vários Hc, estes são transfundidos rapidamente e assim que diminui o fluxo de infusão e cessa o gotejamento, sinalizando o fim da transfusão, as bolsas são substituídas, o que pode gerar, em alguns casos, sobras maiores.

Os recursos técnicos disponíveis para minimizar os volumes residuais são as bombas de infusão e os equipos com respiro.

As bombas de infusão são equipamentos destinados a regular o fluxo de líquidos administrados ao paciente sob pressão positiva gerada pela bomba (ABNT, 1999). Com este equipamento é possível infundir a totalidade do volume dos hemocomponentes existente nas bolsas, minimizando as sobras.

A utilização de equipo para transfusão com respiro provido de filtro de ar permite a entrada de ar no sistema e impede o aparente colabamento das bolsas plásticas, que foi observado em todas B-R, e facilita o escoamento do hemocomponente.

A B-R e o volume residual não podem ser reaproveitados para outros fins, são classificados como resíduo de serviço de saúde biológico e, como tal, a sua destinação final deve ser feita conforme definido na legislação vigente, RDC 306/2004 (ANVISA, 2004) e CONAMA 358/2005 (CONAMA, 2005), e que definem que as B-R com sangue total e de hemocomponentes descartadas sem uso devem ser tratadas antes da disposição final, e as B-R pós-transfusão, com o volume residual mínimo observado neste estudo, devem ser encaminhadas diretamente para o aterro sanitário.